Unfortunate escrita por march dammes


Capítulo 2
Graveto estranho


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu não morri! Na verdade, tive umas dificuldades e só consegui terminar o capítulo um agora, por isso demorei...mas fear not, que estou inspirada e disposta o bastante pra escrever o dois já de lambada! Vamos ler, então? :3



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Unfortunate

Capítulo I - Graveto estranho

Era um dia chato. Férias de verão, sem nada pra fazer, dia de faxina em casa (leia-se: fui chutado do meu quarto e logo em seguida da sala pra que minha mãe maníaca por limpeza pudesse jogar água e cloro em tudo e deixar o lugar brilhando), o mais sensato era sair pra caminhar. Certo, essa foi uma ideia idiota...eu quase nunca saio, o que significa que o sol machucava meus olhos e bastava andar duas quadras pra ficar morto de cansaço. Talvez eu devesse ter levado modem e computador pra garagem e ficado por lá mesmo, seria melhor que isso...

Já agora, a vida imita a arte. E como nos desenhos animados, quando não pode ficar pior, fica, e frequência dos grunhidos frustrados me levou a não prestar atenção no caminho e tropeçar em uma pedra ou rachadura ou cachorro ou o que inferno fosse, só sei que a próxima coisa que vi bem de perto foi o chão. Oi, chão.

Me levantei rosnando como um vira-lata com sarna. Quem foi o maldito que largou um...no que eu tropecei, mesmo? Olhe pra trás, gênio. O fiz, e o que encontrei foi um graveto muito, muito estranho.

–Mas hein? –soltei, poético como um pensador grego. Confuso, busquei o objeto largado na calçada, enquanto me levantava e espanava as roupas com a outra mão- Que diabos...?

O objeto era claramente feito de madeira, e a julgar pela cor, eu diria que era cipreste. Era fino e comprido, pelo menos uns vinte e cinco centímetros, no mínimo, e ia ficando mais pontudo. Terminava fino, mas arredondado ao mesmo tempo...e no lado mais grosso, um tipo de “cabo”, uns ramos esculpidos ali, como se aquele lugar fosse feito para ser segurado. Como todo curioso, foi o que o fiz.

–Cara...isso é tão estranho. –murmurei, sacudindo o graveto estranho. E o que vi foi um...- Sem essa! –gritei e soltei a coisa. Por acaso tinha mesmo produzido uma faísca?! Hesitante, me abaixei e peguei a coisa de novo. Olhei ao redor. Com o coração na boca, fiz um trejeito com o graveto. Mais brilho, um rastro dele; segurei o grito. O que estava acontecendo?

–Maneiro –sussurrei, fazendo de novo- Parece um sinalizador ou coisa parecida... –tenho que parar de falar comigo mesmo. Sacudi com mais vontade, bati o graveto na palma da mão oposta para ver se a faísca queimava. Houve um clarão de luz branca, uma dor aguda e não me lembro de mais nada.

*

Quando acordei, eu não via cores. O vermelho e o verde do mundo haviam desaparecido e substituídos por um tom estranho de amarelo, como uma foto antiga. O azul ao redor estava mais brilhante do que nunca.*

Tentei me sentar, mas descobri ser impossível. O que diabos...? Sacudi a cabeça, e fui encontrar o graveto estranho ao meu lado. Provavelmente desmaiei, pensei, e estiquei a mão para pegá-lo.

Mas minha mão não era uma mão. Gritei ao perceber que tinha patinhas peludas e mais uma vez ao perceber que meu grito era um miado estridente.

O QUÊ?! Eu não posso ter...NÃO MESMO! Isso é coisa de filme! Não é possível que...

Trêmulo, baixei os olhos. Patas contra o asfalto: felpudas, pequenas e macias. Relutante, olhei para trás, e...

NÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!

...era implausível, mas havia uma cauda marrom e peluda balançando logo atrás de mim, saída da minha coluna espinhal, e eu mal sabia controlá-la.

Certo, agora. Em que tipo de ficção doentia eu estou agora? Um filme? Um livro? Uma fanfiction escrita por alguma garota pateta de catorze anos que grita sobre animes? Como RAIOS isso pode ter acontecido logo COMIGO??

Comecei a miar desesperadamente, percebendo que não conseguia chorar, como se gritasse por ajuda. A sensação mais estranha do universo, olha, vou te contar...

Então, inesperadamente, ouvi passos próximos e apressados. Alguém correndo na rua àquela hora do dia? Era dia de férias escolares, cedo demais para qualquer um, ninguém era esportista naquele condomínio e não poderia ser um trabalhador apressado, uma vez que era manhã de domingo. O lugar estava deserto – então, de quem eram aqueles passos? Virei a cabeça em sua direção, e o que vi, inesperadamente, foi um garoto que deveria ter a minha idade, vestido demais para um dia de verão.

Seus cabelos eram desarrumados e eu os via marrons. Os fios eram muitos, batiam no meio do pescoço, e cobriam parcialmente os olhos que eu enxergava amarelos. Ele usava óculos, e tinha algumas sardas espalhadas pelo rosto. Ofegava quando se ajoelhou à minha frente, então abriu a boca, e eu pude ver seus dentes com uma falha bem entre os dois centrais. Ah, como se chama mesmo? Sim, diastema.

–E-essa não! Essa é a minha—ah, droga! Você...gatinho? Você não mexeu...não é? O que...d-droga, droga! –ele tremia ao pegar o graveto estranho- Desculpe pelo meu vocabulário. Mas, pombas! E agora, o que vou fazer? Será que quebrou? –o garoto que vestia camisa e calça sociais, gravata e mocassins (o que pareceria o uniforme de alguma escola chique se não fosse pelo manto grosso e preto) analisou o graveto, e suspirou profundamente ao perceber que nada havia acontecido com ele- Ah, que s-sorte...ainda bem...o diretor me mataria se alo acontecesse com a minha varinha...

Não estava entendendo nada. Primeiro achava um graveto, virava um gato, agora brotava um garoto que parecia saído dos livros do Harry Potter dizendo que aquela era sua varinha? Gente, o que está acontecendo aqui?!

Foi o que perguntei para ele, tocando sua perna com minhas patas supa dupa fofas:

–Ei, ei, garoto. Garoto, me dê atenção. Desconhecido, olhe para baixo e me explique o que está acontecendo –ouvi sair da minha boca. Então eu era um gato mas falava, genial.

Para minha surpresa, no entanto, o garoto do diastema bonitinho não ficou exatamente espantado por estar vendo um gato falar. Na verdade, acho que ele empalideceu por uma razão diferente.

–Ah, não... –ele fez- Aah, não...n-não...AH, NÃO! –ele agarrou a cabeça e eu me assustei, pulando para trás e arrepiando os pelos- NÃO, NÃO! A-AH, CARAMBA, V-VOCÊ—GATOS NÃO—V-VOCÊ MEXEU---AAH, DROGA!! –ele começou a se bater, repetidas vezes, com a mão livre em punho. Bonk, bonk, bonk.

–Ei, garoto-desconhecido-do-diastema-fofo, acalma essas tetas. –eu disse a ele, me irritando, apesar de não parecer muito ameaçador naquela forma- Eu mexi na varinha sim, mas não posso me irritar com você agora porque nem sei o que está rolando. Dá pra me explicar?

O garoto parou de surtar, em parte, pra esconder o rosto nas mãos e grunhir/choramingar algumas coisas sem sentido. Demorou para que se acalmasse completamente, e quando o fez, tinha os olhos marejados.

–M-me desculpe... –ele fungava, evitando me olhar- Eu sou tão at-trapalhado! Estava distraído lendo um livro de mitologia no caminho pra casa, e d-deixei minha varinha cair aqui! Não tem como simplesmente conseguir outra, uma vez que a varinha escolhe o bruxo, então voltei pra pegar, correndo...m-mas pelo jeito foi tarde demais! Aah, caramba, por que eu sou assim? Deveria ter mais cuidado... –voltou a esconder o rosto, agora pra secar as lágrimas com a manga das vestes.

–Epa, epa, epa –o interrompi- Que história é essa de bruxo?

–Ah... –ele deixou de ocultar o rosto e me encarou, mordendo o lábio nervosamente. E de certo modo, achei isso bem adorável- Meu nome é Alexander Stuart, sou estudante de magia.

Travei. Magia? Aquilo era sério? Considerei estar sendo vítima de uma pegadinha de muito mal gosto, mas não podia falar contra os instintos que me diziam pra comer sardinha e arranhar uma poltrona.

–Bem, olá, Alexander Stuart –falei enfim, com um tom de irritação e certa descrença- Meu nome é Niel Vasquez e eu aparentemente sou um gato agora.

Se eu fosse um pouquinho mais cheio de mim, provavelmente completaria que “gato, sempre fui, mas não no sentido literal”. Mas não tenho uma autoestima tão boa.

Minhas palavras o deixaram igualmente desconfortável, no entanto, como o planejado. Ele agarrou a varinha com as duas mãos na horizontal, como se fosse quebra-la, e tive medo que realmente a fizesse, com o tanto que tremia.

–D-desculpe por isso...de verdade, perdão! E-eu vou achar uma maneira de resolver isso, sr. Vasquez, eu prometo! O senhor vai voltar ao normal logo!

Franzi o nariz diante daquele tratamento. Senhor? Provavelmente tínhamos a mesma idade!

–Olha, o ‘Senhor’ tá lá no Céu –eu disse- Me chama pelo nome, tenho só quinze anos.

–Ah... –ele corou de leve, parando de tremer- Tenho quinze anos também.

–Obrigado pela informação –bufei- Agora, como eu vou voltar pra casa nessa forma? Minha mãe vai me matar!

Alexander desviou o olhar e comprimiu os lábios, pensando. Logo levou a mão à boca para mordiscar o canto da unha, e mesmo que eu também tivesse as minhas manias, o gesto me incomodou profundamente e a vontade foi lhe dar um tapa na mão pra parar com aquilo.

–Aah, acho que você pode ficar na m-minha casa... –ele tirou os dedos da boca, finalmente- Só até resolvermos isso. Preciso checar uns livros...

Pisquei, incrédulo. Ele estava mesmo oferecendo a casa para um estranho?

–Você está mesmo oferecendo a casa para um estranho? –perguntei, não sabendo manter os pensamentos pra mim mesmo ao falar com pessoas- Sabe que eu posso, sei lá, te matar no sono, certo?

–V-você não faria isso –ele me olhou, parecendo assustado- Faria?

–Não, eu, não... –suspirei e virei o rosto (ou cara, já que era um bicho agora)- Mas alguém poderia. Cuidado pra quem oferece estadia.

–Hum, t-tá –ele murmurou. Então colocou a varinha nas vestes e, lentamente, com certa relutância, esticou os braços pra mim- Eu posso te pegar no colo, né? Você virou um gatinho bem pequeno, pode ser perigoso andar no chão...além do mais, não sabe o caminho.

Eu o encarei, desconfiado. Cheirei suas mãos, e constatei que ele cheirava a canela. Hesitante, me aproximei:

–Tá. Mas não pense que vai poder me tocar assim quando eu voltar ao normal.

Ele cautelosamente me envolveu, então me colocando em seu colo e se levantando. Tinha talento com isso, e me senti seguro; Alexander me arrumou em suas vestes para que ficasse ainda mais confortável.

–Tudo certo? –ele perguntou, ao que assenti uma vez. Então, ele começou a andar.

Então eu tinha encontrado a varinha de um bruxo, acidentalmente me transformado em um gato, e agora o dito bruxo me carregava nos braços para sua casa.

E olha que não eram nem nove da manhã.


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Notas finais do capítulo

*Um estudo mostra que a maioria dos gatos não vê as cores vermelho e verde e são mais sensíveis a azul e a amarelo.
Cuidado com a quarta parede :v Mas enfim, foi isso! Alexander entra na história...o que esse bruxinho nos traz? Um novo ponto de vista da história? Uma resolução? Mais confusões? Um love affair? Fiquem ligados, H3H3H3H3.
Por favor, deixem reviews e sugestões, eu vivo disso çwç
Kissus!



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