Meu nome é Niel.

Bem vindo à Nielópolis, população: eu. Vivo solitário porque se aproximar dos outros me parece uma perda de tempo. Amigos? Pra te abandonarem quando você mais precisa? Não, obrigado. Namorada? Pra te trair com o cara que você mais detesta? Não, obrigado. Família? Pra te deixar louco com cobranças e conselhos? Não, obrigado. Na verdade, você acabou de começar a ler isso e eu já estou reconsiderando olhar mais de uma vez e meia pra sua cara. Deuses, como eu detesto pessoas.

Tenho quinze anos e meu aniversário foi uma festança incrivelmente animada: um bolo de sorvete surpresa diante de um Niel sem expressão e um irmão bem mais velho pregado no celular na cadeira ao lado. Mamãe do Niel tentando o fazer sorrir pra foto, papai do Niel viajando a trabalho. Deu pra ver como eu amo festas, hein?

É um dia chato como todos os outros, e eu aproveito o finalzinho das férias de verão caminhando pelo meu bairro. Dá pra acreditar que só faltam duas semanas pra que eu volte praquela câmara de tortura? Ah, não pense que eu detesto a escola, quer dizer, detesto, mas não exatamente a escola...é mais o povo que tem lá. Bando de escroto.

Eu até que gosto de estudar. Sento numa cadeira meio que no meio, onde posso ao mesmo tempo prestar atenção na aula e escrever coisas aleatórias sem ser percebido, e de quebra, fico longe da Galera do Fundão – que por algum motivo adora jogar bolinhas de papel em mim.

Ah, sim, eu adoro escrever. Sou um viciado em Twitter, meu passatempo preferido é expressar o que eu sinto ou contar o que está acontecendo ao redor no papel. Deu pra perceber, né?

Eu mantenho um diário desde sempre. Mas não um daqueles diários de garota (ew), cheio de rabiscos e corações e capa cor-de-rosa com purpurina e cadeado. Não, o meu é mais como um diário de bordo. Levo o caderninho de capa de couro pra todo lugar que vou, e relato nele desde primeiras impressões de pessoas que acabei de conhecer até críticas gastronômicas. E colo várias coisas nele, como ingressos de cinema, fotos, notinhas e embalagens de chicletes deliciosos, pra procurar depois. Acho que isso é o bastante pra vocês notarem que eu sou um obcecado por relatórios.

Mas bem, todas as anotações no diário de bordo costumam ser normais, quer dizer, pro cotidiano de um adolescente antissocial sem nenhum amigo...e acho que por isso estava na hora de alguma coisa estranha acontecer. Lembra que lá em cima eu disse que aproveitava o tempo livre caminhando pelo bairro? Pois é, a loucura começa bem aí...