Ao deixar a sala comunal da Grifinória e se deparar com Scorpius, Rose não sabia qual dos dois sentimentos, surpresa ou felicidade, se apossou mais dela, e por isso os dois se tornaram um misto de emoção que fez seu estômago borbulhar de nervosismo e contentamento.

—Scorpius...

—Rose.

O loiro estava parado à sua frente, esperando por ela, e não pôde disfarçar seu sorriso ao finalmente vê-la e observá-la de cima a baixo, mais linda do que nunca, com o vestido que ele lhe havia dado. Scorpius chegou a cogitar a possibilidade de ela não o usar por conta da briga, achou que ela ainda estaria tão brava a ponto de não querer nem chegar perto dele, ou de um presente dele.

—Bom, eu vou... Indo – disse Lily com um sorrisinho no rosto e se virando para ir embora quando nenhum dos dois respondeu. Eles estavam presos demais nos olhos um do outro para prestar atenção em qualquer outra coisa.

—Você está linda. É linda, mas está deslumbrante – ele sussurrou finalmente, após uma longa pausa de olhares que queriam dizer o que nenhum dos dois realmente pronunciou.

—Obrigada – ela abaixou a cabeça, um tanto envergonhada por conta do elogio, principalmente quando se lembrou do brilho pelo seu rosto e corpo.

Scorpius pegou uma de suas mãos e o coração de Rose acelerou instantaneamente ao toque. Ela levantou a cabeça e o fitou, esperando que ele lhe dissesse algo.

—Eu lhe devo desculpas, Rose – ele suspirou. – E uma explicação. Caroline não é nada para mim, ela era, é verdade – a ruiva entortou o nariz em face das lembranças que lhe causavam tanto ciúme e lhe embrulhavam o estomago. Scorpius apertou sua mão e se apressou em continuar após ver sua reação. – Mas não é mais. Ela está e vai ficar no meu passado, eu juro pra você que não quero mais nada com esta garota...

Rose bufou, a cabeça e os olhos dela vagando por todos os lugares que não fossem os olhos dele, irritada com o fato de que um dia os dois já haviam tido intimidades que ela não gostava de imaginar, mas também não podia fazer nada a respeito. Scorpius se perguntou o que estava falando de errado, puxou-a pela cintura e a fez voltar toda a sua atenção para ele.

—Você viu e interpretou algo completamente erroneamente, Rose. Eu nunca dei brechas para que ela pudesse fazer aquilo comigo, ela só fez e não consegui impedi-la porque não tive tempo, quando vi você já estava ali e eu fiquei sem reação pensando que poderia perdê-la novamente... Eu estava indo te encontrar quando aquilo aconteceu.

A expressão da ruiva se afrouxou, ela respirou profundamente e levou as mãos para os cabelos loiros de Scorpius, que sorriu ao sentir o carinho das mãos de seu amor novamente. Ela passeou as mãos por seu rosto, contornando cada traço, parando quando chegou a seus lábios para beijá-lo com tranquilidade.

—Eu te amo, Malfoy – ela bagunçou seus cabelos, sorrindo. – E você definitivamente não vai me perder se não fizer nenhuma burrada, ou se fizer e deixar por isso mesmo – ela estreitou os olhos, esperando que ele entendesse. – Mas eu quero ser a única a te fazer esses carinhos, a única na sua vida, sem exceções.

—Pedido aceito, Weasley – ele puxou-a para si, dessa vez com as duas mãos e tornando a distância entre os dois nula. – Tive uma conversa séria com Caroline, e ela não vai mais nos atrapalhar, e eu não vou nem mais respirar perto dela, tá bem assim? Não faz diferença pra mim.

 -Tá bem – ela assentiu balançando a cabeça. Suspirou, percorrendo os braços de Scorpius com as mãos e prestando atenção no quão arrumado ele estava, de trajes a rigor e todo engomadinho. Embora sua marca registrada ainda estivesse lá, os cabelos louros e bagunçados como sempre, e Rose ficou feliz que ele não o havia arrumado, já que ela amava bagunça-lo sempre que podia. Ela se pegou sorrindo e devaneando sobre isso e sobre as várias características que amava nele.

—Amo o toque das suas mãos em mim, meu amor, que saudade – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a se arrepiar da cabeça aos pés, estremecendo por inteira. – E amo você, mais do que tudo, daqui até a eternidade.

Ela sorriu, um sorriso todo “boba-apaixonada”, o qual só ele tinha a capacidade de tirar dela. Só Scorpius Malfoy tinha a incrível capacidade de fazer a filha de Hermione Granger, racional como costumava ser, se derreter e dar mais valor aos sentimentos.

Ela disse a senha para o quadro da sala comunal, a mulher gorda não ficou nada feliz com Scorpius entrando junto a ela no aposento, mas Rose não ligou. Ele a olhou com cara de confuso, uma expressão que logo após entrarem no quarto dela e Rose fechar a porta, desapareceu.

Não havia mais ninguém em nenhuma parte ali, e ela sabia disso, todos haviam ido para o baile, ela e Lily tinham sido as ultimas a sair.

—Rose, Rose... – ela colocou o indicador em sua boca e fez um som de “shhhh” para que ele ficasse quieto, ele se calou e ela o beijou profundamente, deixando clara suas intenções ali. Scorpius arregalou os olhos para ela, não acreditando no que estava acontecendo. – Você está toda arrumada...

—Shhhh Scorpius – ela sussurrou. – Eu não me importo – e sorriu.

—Mas e...

—Ei – ela colocou a mão em seu rosto. – É você, amor. Você.

Um sorriso se formou em seus lábios, os olhos acinzentados brilhando para ela, ele colocou-a delicadamente na cama, subindo por cima de seu corpo e notando mais atentamente os brilhos que cobriam seu  peito e seu rosto, seu sorriso cresceu com a visão.

—Rose Weasley usando brilho no corpo, essa é nova – ele brincou, e ela lhe bateu levemente, fingindo estar brava e fazendo-o rir. – E está linda, como sempre – ela sorriu timidamente, ele beijou-a novamente, envolvendo-a em seus braços aconchegantes e mornos, e amando-a como ninguém jamais poderia.

***

“-Olha ali sua amiguinha – Lily disse, sentindo o sangue subir pelo seu corpo e a raiva se apossar dela, deixando-a extremamente nervosa com a visão de Alice à sua frente.

Ela e Emma estavam sentadas em um dos bancos ao ar livre. Lily estava com a cabeça no colo da namorada, enquanto ela lhe fazia carinho nos cabelos ruivos e elas conversavam. Mas quando viu Alice passar por ali e Emma a cumprimentar, ela não pôde deixar de entortar o nariz para aquela cena e se levantar, cheia de ciúme.

—Isso mesmo, diga oi, aproveita e vai lá abraçar ela também, fazer cafuné. Vocês devem estar com saudades do natal, né? – completou com uma risadinha irônica e olhando-a com um olhar que se fosse capaz de matar, já teria feito isso.

—Eu só estou sendo educada – ela revirou os olhos e bufou. – Não tem necessidade disso, Lily, a gente já brigou por isso, não precisamos brigar de novo...

—Também não vi necessidade no sorrisinho que você deu quando falou oi, mas isso você não vê, né?

Emma franziu as sobrancelhas, visivelmente irritada e não vendo motivos realmente importantes para aquela briga, mas Lily não recuou.

—Faz assim, por que não vai lá com ela? Tenho certeza que ela não é chata como eu e desnecessária também.

—Lily...

—É sério Emma, vai lá, pode ir – Lily levantou-se do banco e esperou que ela dissesse algo, dissesse que não a queria  ou até mesmo apenas a abraçasse para confortá-la. Não foi o que ela fez.

Emma se levantou, nitidamente brava com o drama de Lily e, após uma longa pausa, finalmente disse, calmamente:

—Não aguento mais isso, se for pra você ficar revivendo o passado todas as vezes que Alice passar, e se eu não puder nem falar oi pra alguém...

—O que? Você não quer mais?

—Não, não quero.

A resposta dela atingiu Lily como um tiro no peito. Seu coração sangrou e seus olhos ficaram marejados ao som do que ela nunca esperaria ouvir de Emma.

—Você quer terminar? – sua voz falhou e ela engasgou com o próprio choro.

—Sim... Preciso de um tempo, Lily, desculpa – ela se virou e foi embora, deixando Lily ali sozinha com as próprias lágrimas e o coração partido em vários pedaços. Ela não conseguiu ver se Emma ao menos também estava chorando, porque ela se foi antes que Lily pudesse ver que as lágrimas também haviam se apossado dela.”

Lily tinha os olhos marejados ao andar e se recordar do acontecimento de alguns dias atrás. Ela se perguntava o que seria dela se Emma não quisesse nunca mais reatar o namoro, se elas nunca mais pertencessem uma a outra e se tudo o que tinham vivido seria jogado no lixo por algo tão pequeno.

Ela tentou evitar que as lágrimas caírem para que a maquiagem não se destruísse, embora soubesse que o que menos importava era isso para ela, não queria encontrar Emma e demonstrar sua fraqueza novamente, com medo de que ela pudesse reagir da mesma maneira e apenas a magoar mais.

—Li..? – ela ouviu uma voz chama-la e se virou, um rosto que ela conhecia muito bem a encarando.

Emma estava linda e Lily não conseguiu não notar isso, era o que ela sempre via nela, a beleza que ela tinha sempre estampada, não importava a situação. Mas hoje ela estava diferente, o vestido de baile azul-marinho realçando todo o seu corpo e fazendo-a brilhar, os cabelos negros presos e arrumados, com fios se soltando do penteado.

—Olá... – seus lábios começaram um sorriso, e ela arrumou a trança em seu cabelo para que ficasse em frente a seu corpo.

Emma se aproximou dela, e Lily viu seus olhos trespassarem todo o seu corpo e seu rosto, brilhando. Ela tinha as próprias mãos enroscadas uma na outra, como sempre fazia quando ficava nervosa e principalmente antes de dizer algo.

—Você está linda – ela falou. – E eu... Preciso lhe pedir desculpas.

Lily puxou-a para um abraço e Emma a apertou tanto que ela sentiu que ia sufocar com tanta pressão, mas sorriu mesmo assim, por poder sentir o melhor abraço do mundo novamente e sentir o cheiro próprio que Emma tinha, como temeu nunca mais fazer.

—Eu te amo tanto, Lily – ela disse quando as duas se separaram, os olhos marejados fitando-a e as mãos entrelaçadas agora com as dela. – Me desculpa, sou tão idiota, nunca deveria ter feito o que fiz. Terminar foi algo que eu fiz por impulso e nunca quis de verdade, não aguento mais ficar longe de você.

Lily se aninhou no peito de Emma, agora não conseguindo mais segurar as lágrimas, que caiam pelo seu rosto, fazendo seu rosto ficar todo borrado.

—Perdão não ter sido compreensiva contigo – Emma sussurrou, os braços em volta dela e os olhos fechados.

Lily, embora também quisesse, não conseguia dizer nada, o peso de perdê-la deixando suas costas a consumiu. Emma entendeu, como sempre a entendia, e a apertou mais forte em seus braços, e as duas continuaram ali, abraçadas e aliviadas como nunca antes.