Rose acordou de repente, sentindo seu coração quase sair pela boca. Ela se levantou, sentiu sua respiração acelerada e lágrimas escorrerem de seus olhos, seu corpo todo molhado de suor.

Seus olhos se voltaram para o lado, Lily estava sentada na cama ao lado, observando-a com uma feição extremamente preocupada.

—Pesadelo?

Rose afirmou com um gesto. Mas quem dera pudera ter sido apenas um mero pesadelo, que tudo aquilo não tivesse passado de uma ilusão passageira, tão simples como um sonho.

Era real, tudo aquilo tivera sido real, e ainda era tão nítido, ela tinha o pressentimento de que seria assim pra sempre, e embora não quisesse estar certa, a probabilidade era grande.

Mais lágrimas haviam começado a cair dos olhos de Rose. Era como se aquelas mãos nojentas ainda estivessem em seu corpo, como se ela ainda pudesse sentir tudo...

—Rose - era Lily, sentada ao seu lado, lhe abraçando. - Você não tem culpa, sabe disso, não é?

Não era como se Rose soubesse, ou melhor, sentisse que aquilo era verdade. Ela sempre fora o tipo de pessoa que acreditava que a culpa nunca era da vítima, porém acabou constatando que quando algo assim acontece com você, é difícil não se deixar levar pelos sentimentos, ou pela culpa inexistente, mas que te corrói por dentro.

—Eu não sei, Lily... E se eu não estivesse estado ali, naquele horário? Ou e se eu não tivesse criado essa fama de promíscua para mim mesma...?

Lily, claramente indignada com as palavras que sua prima estava dizendo, a interrompeu:

—Pode ir parando por ai, Rose, eu não quero mais ouvir nenhuma dessas besteiras - ela olhou com expressão séria para a mais velha. - Ninguém aqui, a não ser aqueles dois nojentos, tem culpa do que aconteceu a você. Você sabe que nada é desculpa para um crime como esse. Isso foi um crime, ouviu?

Rose se silenciou, refletindo sobre as palavras dela. Ela já sabia disso, sabia de tudo e que tudo era lógico, mas era difícil usar a razão na situação em que se encontrava.

Lembrou-se do que sua mãe lhe havia dito, para ela ser forte e não se culpar por nada, justamente porque sua culpa não existia. Já no dia após o ocorrido, lá estava Hermione na escola, tanto para não deixar passar em branco e fazer justiça, como - e principalmente - para consolar a filha. Rose sabia que tinha sorte por ter uma mãe como ela.

—Obrigada Lily. Por estar ao meu lado nessas horas e em todas, obrigada por tudo... em algum lugar dentro de mim, sei que não devo me culpar, e você, meus pais, todos, me ajudam a puxar essa parte que diz isso, principalmente nas horas em que eu acho que não conseguirei mais suportar.

Rose sentiu aquela necessidade de agradecer dentro dela, e como quase tudo o que sentia, não pôde deixar de expressar.

—Sei que está demorando um tempo para tudo isso passar. Já fazem quase dois meses que tudo aconteceu, mas juro que estou me esforçando...

—Ah, minha flor, não se preocupe, vamos estar aqui sempre por você. E vamos dar tempo ao tempo, ok? Não se apresse, está tudo bem se você precisar de mais um mês ou de mais dez, ou da vida toda... e eu espero que não, mas se precisar, estaremos aqui. Eu, pelo menos, estarei, e estou certa de que todos que te amam também.

Rose abraçou-a, desejando mais do que tudo que houvesse um modo de reverter o ocorrido.

—Eu sei que agora pode não ser o momento mais apropriado, mas... estou com tanto medo que Emma termine comigo, Rose.

—Merlin, Lily! O que aconteceu?

Lily suspirou, formulou sua resposta por alguns segundos e finalmente, disse:

—Alice passou o natal na escola também, assim como Emma, e essa semana eu tive uma crise de ciúme repentina, ou nem tanto, na verdade. Enfim, o ponto é que descobri que elas passaram um tempo juntas, e fiquei morrendo por dentro, até que explodi e falei tanto à ela...

—Lily, acho mais do que normal você sentir ciúme, Alice é ex dela. Não sei se estou certa, mas não acho que a culpa seja totalmente sua, porém também não sei se posso lhe dar completa razão. Você tentou entender o lado dela?

Lily bufou e revirou os olhos. Rose sabia como ela podia ser teimosa quando queria, e orgulhosa também, ainda mais quando tinha certeza do quão correta estava sobre algo.

—Lily, se você quer fazer esse relacionamento funcionar, o diálogo é essecial, assim como a capacidade de entender uma a outra, e o perdão, quando necessário.

—É só que... é a ex dela, estando perto dela novamente, argh! Só de pensar já fico nervosa.

Rose não conseguiu segurar a leve risada que escapou de seus lábios, ver sua prima daquele jeito era, de certa forma, um tanto engraçado.

—Não é engraçado, eu queria era ver só se fosse com você!

Rose sorriu ainda mais com a reação nervosa da prima para com ela. Embora fosse algo sério, a ideia de um ciúme tão possessivo assim a fazia achar um pouco de graça, e logo quando tudo parecia ter perdido isso, Lily mesmo sem querer, a fazia sorrir uma vez mais.

—Desculpe, Li. É que você, tão pequenininha e delicada, toda nervosinha assim, com um ciúme possessivo de matar, me faz até rir um pouco.

A caçula sorriu, percebendo que mesmo com tudo que havia de ruim nessa história, ela ao menos fizera Rose sorrir.

—Vocês vão resolver isso, ok?! Não se preocupe, aposto que o amor de vocês é muito maior do que isso, até mesmo do que esse ciúme louco que você tem.

Ela assentiu fazendo um gesto com a cabeça e agradeceu a Rose, que pensou, de repente, em como sentia falta até mesmo de brigas assim, que nunca tivera sequer a oportunidade de ter, com Scorpius.