Pandora escrita por Corie J


Capítulo 19
Memories




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No dia seguinte, não consegui sair da cama para assistir as aulas. Fiquei dormindo até tarde, mas mesmo assim não senti fome. Vomitei algumas vezes no banheiro do meu dormitório, enjoada. Estava pálida e os meus lábios estavam rachados. Alguns objetos ao meu redor flutuavam pelo quarto enquanto outros derretiam, como o meu lindo óculos Ray Ban. Depois de mais algumas horas, parei de resistir e fui até a ala hospitalar, me apoiando na parede.


— A srta. está com febre. Vomitou? — perguntou a Madame Pomfrey.

— Sim.

— Comeu alguma coisa que pode ter causado isso?

— Bem, na verdade eu não comi... — confessei.

Eu não me lembrava da última vez que havia comido. Talvez tivesse sido no almoço do dia anterior.

— Que menina teimosa! Devia ter me avisado! Vou mandar prepararem alguma coisa...

E ela saiu. Fechei os olhos. O colchão da cama onde eu estava era desconfortável e fiquei tentada a sair dali. Meus cabelos negros estavam amarrados em um coque que já estava se desfazendo. Fiquei olhando para o teto por um tempo indeterminado até que alguém entrou.

— Talvez agora você esteja disposta a conversar — disse uma voz que eu reconheci.

— Fred.

— Como eu lhe disse ontem, eu posso te devolver suas memórias.

— Então faça.

— Devo lhe avisar, Carter. Isso consumirá muita energia. Como sou você, sei que você não tem muita. Você pode apagar por um tempo.

Hesitei. Eu iria querer aquilo?

— Faça.

Ele se aproximou de mim e sua mão tapou meus olhos. Meu ritmo cardíaco diminuiu, minha pele empalideceu, minha cabeça tombou para o lado.

***

Quando eu abri meus olhos, estava de frente para a cela com que venho sonhando desde que acordei do coma. Estava de pé no corredor. Quando me aproximei, notei a presença de duas pessoas: uma garota baixinha, ruiva de olhos azuis e uma expressão de dar pena.

— Coraline Ray... — murmurei surpresa.

Ao lado dela estava Fred. Me surpreendi. Ambos estavam sujos, com os rostos oleosos, mas suas roupas ainda podiam ser consideradas "aceitáveis". Segurei as grades, observando-os. Eles pareciam miseráveis. Quando eu ia tentar entrar, ouvi um barulho e tudo meu dizia para fugir.

Fiquei.

No corredor apareceram dois homens usando paletós carregando uma garota que tentava debilmente se debater, mas parecia estar drogada demais para isso. Mesmo assim, atrás dela estava um homem apontado a varinha para suas costas. Não consegui entender por que aquilo tudo. A garota era magra e pálida enquanto eles pareciam brutamontes.

Eu exclamei ao perceber que aquela garota era eu.

A antiga Carter foi jogada para dentro da cela. Aproveitei para entrar também. Nem Fred nem Coraline tentaram escapar. Antiga Carter se levantou com dificuldade e se jogou contra as grades.

— Não... — sussurrou e então se apoiou na parede, se arrastando até o chão.

Fred me... A olhou com curiosidade.

— É nova por aqui? Os novatos sempre tem a oportunidade de se "voluntariar". O que você fez para eles te jogarem aqui desse jeito?

— Não sou novata.

— O que eles têm contra você? — Coraline tentou novamente.

— Eu não estou nem aí se vou morrer. Pelo menos não estarei sendo controlada por eles.

E não falou mais nada. Talvez a Antiga Carter tenha dormido ou só não estivesse mais afim de falar, mas eu não ouvi mais nenhum barulho da parte dela.

E tudo começou a ficar escuro. Senti uma dor terrível na barriga, como se estivessem arrancando meu fígado com as mãos.

E um clarão repentino.

***

A primeira coisa que senti foram minhas mãos geladas. Lentamente, fui recobrando os sentidos até ter forças para me levantar. Não havia ninguém na ala hospitalar. Quanto tempo eu havia dormido? Não fazia a mínima ideia. Minha febre passou e eu sentia fome. Pra mim aquele foi um sinal de que tudo havia passado. Levantei da cama e me apoiei para equilibrar. Quando consegui andar, fui até um espelho e amarrei meu cabelo cheio de nós, alisei a blusa com as mãos e saí de lá. Pus um bilhete avisando que me sentia muito melhor para a madame Pomfrey e segui para o meu quarto. Nossa, ela ficaria muito irritada comigo.

No meio do caminho, parei. A minha cabeça rodava com as informações. Naquela memória — se é que aquilo pode ser chamado de memória —, a cela só podia ser da Organização. Eles estavam sequestrando gente. Fazia um pouco de sentido. Eles deviam sequestrar gente com o mesmo poder que eu. Foi por isso que eles não quiseram contar o espião deles que me vigiava? Se Sebastian fosse um deles, ele não contaria dos meus poderes, certo? Mas então por que ele me enfrentaria?

Engoli em seco. Minha cabeça rodava de perguntas. Não queria deixar um segredo tão grande para alguém como Sebastian.

Tomei um banho e me arrumei para jantar. Quando chegou a hora, desci as escadas do salão comunal e não encontrei Nick, então saí sem companhia. Fred apareceu ao meu lado. Meu coração bateu rapidamente.

— Deve se perguntar quem são os espiões, não?

— Você bem que poderia me dizer, Fred. — respondi carrancuda.

— Infelizmente, senhorita, eu não tenho todas as respostas. Você nunca descobriu quem seriam, portanto eu também não.

Bufei.

— Você está bem, Carter? — Rose me alcançou, tocando no meu ombro. Fred desapareceu. — Eu soube que você estava na ala hospitalar.

— Estou ótima. Aliás, você sabe quanto tempo eu estive lá?

— Talvez um dia.

Oh. Eu passei a noite e grande parte do dia dormindo. Não foi muito. Não causaria muita preocupação nas pessoas. Eu tremia de nervosismo. Sebastian contaria sobre os meus poderes?

Quando entrei no salão principal, direcionei meu olhar a todos os cantos até vê-lo. Sebastian estava sentado na mesa da Corvinal com seu habitual grupo de amigos. Ele sentiu que estava sendo observado e voltou seu olhar para mim com desinteresse. Não demorou muito tempo em mim, quase como se nada tivesse acontecido naquele corredor quando me atacou. Soltei a respiração. Nem havia percebido que a estava prendendo.

Me sentei ao lado de Nick.

— Oi — segurei sua mão por baixo da mesa.

— Você está se sentindo melhor? — perguntou ele, tocando a minha testa para checar se eu estava quente.

— Aham. O que tem para o jantar?

— Vejo que você sentiu muito minha falta, não?

— Muita — respondi enchendo o prato. — Pode me passar o purê?

Comi tudo rapidamente e repeti. Deus sabia o quão faminta eu estava. Enquanto eu comia, fitava furtivamente Sebastian. Estaria ele fingindo que nada aconteceu para que depois ele... não. Não fazia sentido. Ele me tratava como se nem se lembrasse daquela noite.

Um pensamento começou a me atormentar.

E se quando eu o enfeiticei, talvez tivesse sido mais forte do que eu havia pensado? E se quando eu o atirei na parede, eu também tivesse tirado sua memória daquele momento? Um calafrio correu pelo meu corpo. Se eu estava tão descontrolada, eu poderia ser um risco às pessoas.

Ou pior... E se outra pessoa tivesse tirado sua memória por mim?

— Carter, você está bem? — Nick perguntou, colocando o braço ao redor da minha cintura. Suspirei. Ele era bom demais para mim. Cuidou tão bem de mim quando eu estava necessitando de ajuda e nunca me magoou.

O que eu faço em troca? Escondo as coisas dele. Eu escondi que eu estava morrendo. Não contei sobre a mensagem de Coraline Ray. Escondi minhas memórias que estavam retornando. Fred. Até mesmo a minha briga com Sebastian! Eu tive vontade de jogar tudo o que eu sabia em cima dele, mas algo me impediu. Era uma pontada no coração dizendo que ainda não era hora.

Quando me voltei para seus olhos castanhos, não consegui ver nada. Não pude ver compaixão nem o amor que sentia por mim. Nem preocupação também. Por que eu não conseguia lê-lo? Aquilo era tão irritante!

— Eu ainda estou um pouco tonta. Acho que é melhor eu dormir — sorri amarelo e me levantei, indo beijar sua bochecha. Quando eu estava quase lá, ele virou o rosto na minha direção e beijei seus lábios frios.

Sorri. Só ele conseguia me fazer sorrir quando eu estava preocupada.

Quando segui meu caminho, Fred me acompanhou em silêncio. Afinal, não tinha-se nada a dizer.


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Notas finais do capítulo

Gente, a primeira parte de Pandora está acabando! Mais alguns capítulos e então já já vou começar a segunda parte aqui mesmo. Ansiosos pra saber como terminará tudo? Me digam: como vocês acham que vai acabar? Preferem o Nick ou James? A Carter vai se lembrar do seu passado? Vai descobrir a verdade sobre a Organização?



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