Eliza Schreave

Querido Diário
Hoje completa um ano. Um ano que perdi uma das pessoas que eu mais amei na vida. Um ano sem Rose.
Rose era minha melhor amiga. Filha de uma das criadas de minha mãe, Emily. Em um ataque sanguinário, Rose estava na cozinha, limpando tudo, para poder subir e descansar comigo. Mesmo sendo criada, nos éramos muito amigas. E meus pais jamais impediram isto, e tratavam Rose, como se fosse parte da família. Quando ela terminou seus afazeres na cozinha, foi ao meu encontro. Quando estava perto do meu quarto foi atacada. Eu ouvi os gritos. Acordei e procurei meus pais em meio ao caos. Ela ficou desaparecida por dias.
Um mês depois, quando demos o corpo por perdido, ele foi encontrado. No meio da mata. Quase decomposto. Ela foi abusada e espancada até a morte. Minha melhor amiga, morreu da forma mais trágica que alguém poderia morrer. Sinto falta dela. Falta de ter alguém para dizer se meu vestido estava bom, para desabafar, me divertir. E o pior, é saber que os anos só vão continuar passando. Um, dois, três, quatro. E ela não vai voltar. Ela vai continuar morta. Nunca mais me falará “bom dia Liz”.
Sinto sua falta, Rose. Como nunca senti de ninguém.
Com amor
Eliza

Alguém bateu a minha porta, me arrancando de minhas lembranças. Passei a mão pelo meu rosto, a fim de retirar as lagrimas e a cara de choro. David entrou no quarto e me abraçou.
–Sinto muito. Sei que dia é hoje. E imagino o quanto deve estar sendo difícil para você.
Realmente ele era o melhor irmão do mundo.
–Difícil sempre foi, e sempre vai ser Davi... Só esperei, que depois de tanto tempo, fosse doer menos. Entende?
Ele aquiesceu.
–Sei que não é o momento, mas queria lhe contar. Vou me encontrar com duas selecionadas hoje. Candrynni e Alissa.
Arqueei a sobrancelha. Porque duas selecionadas no mesmo dia?
–Mas porque duas no mesmo dia, David?
–Bom Alissa me disse uma vez que gostava de caminhar de noite. Então, eu tive uma ótima ideia! Conto-lhe mais tarde. Alias como sei que você esta mal, lhe trouxe uma surpresa.
Henry entrou rapidamente no meu quarto.
–Eu sou a surpresa, docinho! –ele disse sorrindo.
Abracei meu irmão com toda a minha força e sorri.
–Trinta minutos. É o que você tem antes de mamãe lhe procurar, ela acha que você esta relaxando na banheira. De nada, maninha.

David Schreave

Saindo do quarto de minha irmã, fui até o salão principal, encontrar Candrynni. Como havíamos combinado, ela estava me esperando, sentada, lendo uma revista de moda.
–Atrapalho a senhorita?
Ela levantou a cabeça, e sorrindo, disse:
–De modo algum!
Vestia uma calça, botas, e uma blusinha polo, como eu havia pedido. Roupas básicas, para podermos cavalgar.
–E então? Vamos? Os cavalos devem estar a nossa espera!

Já no celeiro, Cand, brincava com Flica, a égua belga. Enquanto isso, eu selava, Hollister. Um cavalo irlandês. De longe, avistei Kali, o mini-horse de Tessa.
–Tudo pronto por ai, David? –perguntou ela, ansiosa.
–Pode ser só Davi, e sim, tudo pronto. Aposto você chegar naquela arvore primeiro! –e assim, corremos juntos em direção a arvore.
Ela chegou primeiro, mas eu dei uma brechinha. Tá, ok, talvez ela seja melhor... Combinamos de ir cavalgar um pouco na floresta, e como era dia, meu pai concordou.
–Cansado?
–De jeito nenhum! A menininha aqui é você!
–A é? Vamos ver quem é menininha, Davi! Aposto você chegar primeiro naquele lago, do outro lado da floresta!
E assim, foi mais uma corrida.
Desta vez, empatou. Mas em legitima defesa, ela só não quer admitir que eu fosse melhor! Ou ela é melhor... Bom, eu não sei quem é o melhor.
–Caramba, que calor. Esta roupa está me sufocando! –ela disse, abanando o rosto com as mãos.
–Podemos tomar um banho no lago, só pra refrescar.
Sem pensar duas vezes, ela tirou as botas e correu em direção o lago. Rapidamente tirei minha blusa, as botas e corri para a agua. Estava ótima. Ela jogou agua em mim, começando uma guerrinha de agua. Eu e minhas irmãs adorávamos aquele lago. Tínhamos até feito um balanço com um pneu, caindo direto na agua.
–Vamos ao balanço que eu e minhas irmãs fizemos?
Ela concordou e me seguiu. Nos balançamos e caímos na agua varias vezes. E então, cansamos. Ficamos apenas dentro da agua, enquanto os cavalos pastavam.
–Como é? Ser da realeza.
Pensei a respeito. Pra mim, era até que uma vida normal.
–Cansativo. Quer dizer, é uma vida normal, porem cansativa. A falta de privacidade... É horrível.
–Amanhã teremos uma entrevista, para o Jornal Oficial. E eu sinceramente, não tenho a mínima ideia de como agir.
–Seja você mesma Cand! Já será o suficiente.
–Obrigada, eu acho!
–Vou te contar uma coisa, que eu acho que não poderia estar contando. Hoje terei mais um encontro. Com Alissa. E então, amanha no Jornal, precisarei eliminar uma de vocês três... Você, Alissa ou Sophia.
–Confio em você. E se eu for eliminada, tudo bem. Este encontro já valeu a pena. Foi maravilhoso!
Depois do banho, comemos alguns sanduiches que eu havia trazido, e voltamos ao palácio.

Alissa me esperava no cinema. Havíamos combinado de assistir um filme de terror, como ela disse que gostava, achei que seria uma das melhores opções. Eu não era tão fã de filmes de terror não. Preferia ações ou comédia romântica.
Ela estava linda. Ela era linda.
–Eu tenho uma ótima sugestão de filme! Dizem que é muito bom.
–E qual seria Alissa? –disse surpreso pela atitude dela, de não me esperar falar ou perguntar algo.
–Mama!
–Mama o que?
–O nome do filme seu bobo! –disse ela entrei os risos.

O filme já estava quase na metade. E sinceramente não estava me dando medo. Porem Alissa estava sentada perto o suficiente de mim. Havia um balde enorme de pipoca entre nós dois. Que devorávamos.
–Você está com medo! –ela disse me provocando.
–Claro que não! Você quem esta!
–Não tô nada.
Ela pousou a mão no meu ombro, e encostou a cabeça. Perdi a cor. Não sabia como agir. Mas por fim, encostei minha cabeça na dela. Continuamos conversando sobre varias coisas, depois do filme. E então, fomos para o jardim. Caminhar.

–Você se lembrou de que eu gostava de filmes de terror e de caminhar de noite, ou foi só coincidência mesmo?
–Eu lembrei. Você esta gostando?
–Demais. Você é um cavalheiro, David.
–Obrigado. Alissa me conte qual foi o motivo para você se inscrever na Seleção?
Ela parou de andar. Segurou minha mão e então disse:
–Já tive dois namorados. Ambos, não me deram valor. Usaram-me e por fim, terminaram comigo. Acho que me inscrevi, para encontrar alguém que pudesse me dar amor. Que também procurasse por amor, e não só por “ficar”.
Sorri em forma de resposta, e minutos depois, deixei ela perto do seu quarto, em segurança, e corri para o quarto de Eliza, e contei como foi tudo.