O filho do pirata escrita por Eduardo Marais


Capítulo 3
Capítulo Três




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– Ora, ora, ora! Quem eu vejo aqui? Um belo fantasma ou será o Colombo em carne e osso?

– Ah,ah,ah! Conte-me a parte engraçada para que possamos rir. – Andreas sobe ao deque do navio e dá uma bofetada no ombro do Barba Negra. Depois retira um diamante rosa de um alforje e o entrega ao pirata. – É seu pagamento!

– Você me pagou na época. – Barba apanha o diamante e beija a pedra. – Mas pagamentos adiantados são sempre bem vindos! O que deseja agora? Embarcar no navio Holandês Voador?

Todos riem e Andreas exagera na gargalhada, provocando uma súbita raiva no pirata escuro.

– Por que me deu esta pedra? Há algo de podre em sua mente e isso é certo.

– Desta vez eu preciso localizar alguém para conseguir salvar a vida de minha mãe.

Barba espreme os lábios finos e arqueia as sobrancelhas.

– Eu soube da doença de Elisa e sinto muito nisso. Ela é a ladra mais dinâmica que conheci e lamento que não esteja aqui para pelejar comigo.

– Mentiroso! O senhor sempre perdeu as lutas de espada com ela. – Andreas ri com vontade desta vez. – Mas não quero fazer o senhor chorar com tais lembranças. Preciso de uma informação que a ajude a viver um pouco mais. Pode ser?

Barba dá de ombros.

– Caso eu possa ajudar.

– Em ocasião do meu embarque ao navio assombrado, o senhor disse que o Capitão Gancho havia entregado o navio dele em troca de algo que abrisse um portal para sair deste reino. O senhor sabe para onde o Capitão foi?

Barba cruza os braços diante do peito e leva os olhos para a imensidão do mar. Fica pensativo.

– Não posso dar uma informação que não sei. Tenho honra. Porém, posso dizer que ele trocou o navio por um feijão mágico. Queria ir para um reino onde vive atualmente o Sombrio, porque lá estava um amor. Vá para a Floresta Encantada e veja o que sobrou do castelo do Sombrio e talvez ache alguma pista sobre o nome do reino onde estão os dois. Não posso lhe desejar boa sorte em sua jornada, porque estar em um reino junto ao Sombrio e ao Gancho é viver em meio à guerra.

– Sombrio? O que é Sombrio?

– Não é o que. É quem é o Sombrio! É o feiticeiro que matou a mulher que o Gancho amava e cortou a mão dele. O ódio do velho Gancho atravessou fronteiras e séculos. Encontre o Sombrio e encontrará o Gancho! Ou talvez os dois tenham se matado! – Barba Negra acha graça na própria piada, mas para de rir ao ver o rosto de gelo do jovem moreno. O coração do Barba Negra torna-se acelerado ao deparar-se com aquele par de olhos cor do mar. Eram olhos já vistos e tão furiosos quanto antigamente. Eram os olhos do antigo proprietário do Jolly Rogers, bem ali, diante dele e distante ao mesmo tempo. – Espere um pouco! Você...você tem...você é...os seus olhos são...

Andreas dá de ombros e afasta-se sem dizer absolutamente nada. É seguido por Cosme.

Durante vários dias os dois caminham por diversos territórios em busca da longínqua Floresta Encantada. A informação sobre o castelo do Sombrio, dada pelo pirata tinha sido confirmada por aldeões de outros reinos e isso reforçava o desejo de Andreas em continuar sua busca. Estavam no caminho certo.

Naquela manhã, Andreas deixa Cosme preparando a comida e dirige-se para um espaço daquela floresta que abrigava uma cachoeira com quedas pequenas. Decide banhar-se e livrar-se do calor que o incomodava e minava suas forças. Despe-se sem pudores e mergulha nas águas refrescantes e claras daquele pequeno paraíso. Esquecido do resto do mundo, ele permite que sua guarda fique baixa a algum eventual ataque. Mergulha e baila sob as águas cristalinas e sob o olhar atento de alguém que havia se avizinhado, sendo admirado, visto como uma raridade. Emerge gracioso e sorri, inclinando a cabeça para trás num prazer explícito.

Indiferente ao que estava em volta, ele não percebe que é observado e devorado por olhos inumanos e apaixonados. Olhos que o desejaram desde o primeiro encontro e que não o perdoariam pelo abandono. Andreas levanta-se e sai da água, indo sentar-se na beirada da piscina natural, aguardando que o calor secasse a sua pele. Por algum tempo, permanece ali, sendo engolido por aqueles olhos amorosos.

“Nada irá ferí-lo, meu amado. Não posso permitir perdê-lo de novo.”

Andreas afasta-se sob o olhar atento da jovem. Encantada com o que havia reencontrado, a misteriosa menina exibe um sorriso travesso. Aquele seria seu tesouro e amaria tê-lo sob sua tutela.

– O que pretende fazer agora?

– Precisamos encontrar o castelo do tal Sombrio e descobrir alguma pista que nos leve ao local onde ele está agora. Tenho mesmo de encontrar meu pai.

– Você ouviu os relatos das pessoas. E se ele continua ao lado dessa Rainha Cora neste outro reino? E se ele continua com seus crimes e não quiser conhecer você?

– É um risco que correrei, Cosme. – Andreas volta-se para seu pequeno companheiro. – Sei que será perigoso e por isso quero que saiba que não precisa vir comigo. Eu lhe darei as pérolas que tenho e você retornaria para nossa aldeia.

– Andreas, vou com você até onde for preciso para descobrirmos uma forma de abrirmos esse tal portal do qual os aldeões falaram, mas não quero ultrapassá-lo. Ficarei em nosso reino. – o homem com cara de rato diz, observando o moreno sorrir e depois de lutar contra seus cabelos revoltosos, para conseguir tocar o seu ombro.

Sua jornada continua por mais alguns dias. De quando em quando paravam com a terrível sensação de que alguém os seguia. Talvez o cansaço e a fome os estivessem tornando vulneráveis às impressões.

Finalmente encontram o castelo do temível Sombrio ou Senhor das Trevas, como alguns costumavam chamá-lo. Qualquer uma das alcunhas era ruim. Lá dentro somente o silêncio, nada mais. Tudo ali indicava o cenário de uma batalha. Sinais visíveis de saqueadores em busca de algo de valor que pudesse ser transformado em moeda de troca. Estavam juntos na biblioteca e cuidadosamente vasculhavam o que havia sido desarrumado pelos saqueadores.

– O que será que poderemos encontrar no castelo dessa aberração?

– Talvez alguma pista que indique o nome do reino para onde ele foi depois da tal maldição. – responde Andreas sem levantar os olhos da página de um imenso livro.

– Certo, o que poderia ser? – Cosme pergunta timidamente de si para si. Observa cuidadosamente as capas dos livros, tentando organizá-los sobre as prateleiras - Uma palavra, um desenho, algo que se pareça com um enigma...

– Mas por que o Sombrio deixaria enigmas?

– Para confundir algum outro feiticeiro. – responde o homem com cara de rato. – Esse pessoal alquimista gosta dessas baboseiras!

– É sério? Ele sabia que o reino iria ser levado daqui. - diz Andreas. - Ele era parceiro na maldição, então, por que precisaria de enigmas para esconder suas artimanhas? Poderia ter tudo às claras!

– Não sei, Andreas! Estou apenas em busca de algo, qualquer coisa que nos indique o próximo passo!

Cosme deixa os livros e apanha um mediano espelho oval, esquecido num canto da sala. Começa a andar com o objeto apontando para onde imaginava ter alguma letra ou palavra escrita em algum ponto. Aquilo chama a atenção de Andreas, que sorri achando graça. Observa o amigo por longos minutos. Não resiste:

– O que pensa que está fazendo?

– Hum! Usando o espelho em palavras e anotações. Ele pode ter escrito algo ao contrário que refletido no espelho facilitaria nossa leitura.

Um levantar de uma das sobrancelhas é a resposta do moreno. Retoma sua procura e deixa o amigo com seus devaneios.

Um longo tempo depois, Cosme coloca o espelho junto à lareira e fica admirando-se. Queria relaxar um pouco. Sorri ao ver sua figura pequena.

– Olhando bem, não sou tão feio assim! Talvez se eu mudasse o ângulo do olhar...

Andreas acha graça e corre imediatamente para junto do homenzinho e observa a imagem dele refletida no espelho. Os dois riem da brincadeira. Andreas decide brincar também. Solta os cabelos e os ajeita pelos ombros, faz sua melhor pose e sorri.

– Espelho, espelho meu! Neste reino insano, há outro homem com mais beleza do que eu?

Novamente os homens riem desta vez com mais vontade. Mas o som do riso dá lugar ao silêncio quando o espelho começa tremer sem haver tremor na casa. Eles se afastam e Cosme se esconde atrás do corpo de Andreas.

“Não, jovem desconhecido. Sua beleza é incomum neste reino e nos dias de hoje não há outro alguém que esteja pareado com sua aparência. Mas há tempos, neste reino houve apenas um homem com tamanha beleza, mas ele não está mais conosco. Neste momento, a sua beleza é soberana num reino chamado Storybrooke.”

Os amigos entreolham-se, temerosos e curiosos.

“Killian Jones, vulgarmente chamado de Capitão Gancho, não fez conquistas somente com o uso de suas habilidades de pirata, mas por seu poder de sedução e sua beleza singular.”

Silêncio entre os ouvintes.

“Sua beleza e sedução trouxe-lhe fama, paixões e um grande amor. E este amor levou embora sua sanidade e sua mão. Nos dias de hoje, em nosso reino, meu jovem, a sua beleza é incontestável. Assegure-se de sua integridade devido a esta característica. Nada mais posso ajudar, príncipe.”

O espelho torna-se um objeto normal e os amigos permanecem na mesma posição por mais algum tempo.

– O que é Storybrooke? – Cosme fala com a voz fraca.

– É um reino que não sabemos onde fica, nem sabemos como, mas para onde vamos. – Andreas sorri.

– E tem ideia de como faremos isso? – o homenzinho mostra-se animado.

– Temos de encontrar um portal. Os aldeões que sobreviveram ao reinado de Cora e de meu pai, disseram que os dois partiram num portal aberto por feijões mágicos.

– Mas onde acharemos esses feijões? – Cosme dá de ombros. Não estava muito interessado em passar por portal algum.

– Temos a informação mais importante. Para encontrar feijões, temos de encontrar colecionadores, apostadores ou ladrões ilusionistas. – Andreas aperta a mandíbula com uma mordida. Faz um biquinho e sorri depois. – Ciganos sempre têm os mais singulares objetos, enquanto que nós temos à nossa volta, os mais valiosos objetos: utensílios do Sombrio.

– Você quer levar objetos deste castelo horrendo? Para que? Nem pense em carregar este espelho fofoqueiro! – Cosme segura um candelabro e o devolve ao seu lugar. – Além do mais, os objetos devem permanecer onde estão. Se não foram levados pelos saqueadores é porque há algum motivo para continuarem aqui. Talvez estejam protegidos pela magia do monstro e devem ficar aqui para quando ele voltar.


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