The Killers II- Interativa escrita por White Rabbit, Neve de Verão


Capítulo 9
08- Fun Time


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, desculpem a demora, mais um capítulo para o desespero de vocês. Espero que gostem.



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Hora da Diversão

“Uma mentira pode salvar seu presente, mas condenar seu futuro”- Buda

I'll Sleep When I'm Dead- Set it Off

Jogou a última pessoa dentro do caminhão, estavam os dezesseis ali. Limpou o suor da testa com um lenço branco e enfiou-o no bolso do casaco. Não poderia demorar muito, com o mundo do jeito que estava e com a poluição a altos níveis, se ficasse muito tempo exposto morreria sem dúvida. E estava anoitecendo- e anoitecer naquele mundo era sinal de perigo eminente- precisava ir logo. Entrou na cabine e ligou o caminhão fazendo um estrondo, a loira o encarou com um sorriso no rosto:

– Obrigado por me ajudar docinho- ela depositou a mão direita por cima da sua.

– Não precisa me chamar de docinho, eu já disse isso antes.

– Tudo bem então, como quer que eu te chame então? Afinal, você também não quer que eu te chame pelo nome não é mesmo? – os olhos azuis da garota faiscaram enquanto ela o encarava de forma doce e macabra ao mesmo tempo, ela sabia como provocar alguém.

– Me chame de Sombra, está bom assim?

– Sim, está ótimo.

– Então, onde você quer que eu deixe a carga?

– No porto, de lá eu vou leva-los até a ilha e começar mais um joguinho. Era o desejo “dela” que eu fizesse isso.

– Isso não é muito perigoso para você Clarabell?

– Não, perigoso seria continuar aqui, com tantos monstros a solta, eu tenho que fazer isso. Não posso descansar até que eles sintam o que nós todos vamos ter que sentir- ela disse irritada batendo o punho na perna do garoto- o desespero nos condena, não é mesmo?

Apenas acenou em afirmativo com a cabeça, o desespero havia condenado todos. Sua turma inteira havia sido dizimada em um “jogo”, todos os seus amigos foram obrigados a matar uns aos outros, mas não fora um “jogo” como o que “ela” havia feito. Foi muito mais macabro. Promovido por alguém que ele ainda não conhecia, apenas jogaram as armas lá e mandaram que eles se matassem, e assim o fizeram. Um a um seus colegas de classe morreram, até que apenas ele restou de pé. Ele ainda estava para descobrir quem fora o estudante que os havia feito jogar aquele estranho jogo- ele esperava por um jogo normal, como o que sua rainha fizera, não aquele massacre- e quando descobrisse se vingaria, por todos os seus colegas.

– Você ainda sente falta deles não é mesmo?- a pergunta foi bastante repentina- eu também sinto sabe. Talvez esse jogo que irei fazer agora será uma tentativa de redenção, por ter fugido e deixado meus colegas serem capturados por aquela fundação de merda. Sabe como é né? Tive medo, mas quem sabe agora eu possa vencer isso tudo... E me render ao desespero.

° ° °

Yuuka Misaki

Ajeitei minha trança em frente ao espelho, joguei um pouco de água no rosto para tentar disfarçar aquela cura de cansada por não ter dormido direito na noite anterior. Mal podia fechar os olhos sem que a lembrança da morte de Kazuyo me viesse a mente, eu sentia como se tivesse matado ela, afinal eu votei para que ela morresse. Mas ela matou Albert, então não sei o que fazer, se sinto raiva ou pena dela.

Balancei a cabeça, não havia sentido naquilo, ela já estava morta e tudo o que eu fizesse ou pensasse dela não iria fazer a menor diferença. Coloquei os óculos e saí do quarto, trancando-o em seguida. Olhei em volta, procurando por alguém. Mas com certeza ninguém iria sair- era como se a qualquer momento alguém fosse pular de alguém para nos matar- comecei a andar pela rua quando vi que todos os televisores foram ligados, mostrando um Monokuma risonho:

– Olá bastardos, como o seu diretor, eu tenho um novo comunicado a fazer... Todas as vezes que um julgamento é encerrado, um novo mundo se abre. Por isso, o portão que fica do lado esquerdo do mercado foi destrancado, reúnam-se para investigar e então vocês podem aproveitar a vontade. Upupu continuem com suas vidas desesperadas.

E então os televisores desligaram e o silêncio se fez na rua. Então podíamos explorar um novo lugar? Isso poderia ser bom, poderíamos ter mais pistas ou quem sabe até mesmo encontrar uma saída. Senti meu bolso vibrar, puxei meu ID e vi que os dados estavam sendo atualizados. Um novo mapa, novas áreas para visitar. Será que teria algo que pudesse nos ajudar? Coloquei meu ID de volta no bolso e comecei a andar pela rua, até que avistei duas figuras:

– Ei, me esperem- gritei a plenos pulmões enquanto corria na direção deles- sou eu Yuuka.

Quando finalmente me aproximei, vi que eram Mikamaru e Miya, ambos tinham expressões sérias- cujo motivo eu já sabia- mas percebi algo estranho, estavam de mãos dadas. Será que aquilo significava alguma coisa? Não pode ser, em meio a situação que estamos eles ainda arrumam tempo para namorar? Nossa Yuuka, porque você quer saber da vida dos seus colegas? Isso não tem nada a ver com você.

– Eu só estava com medo- Miya sibilou me encarando, eu a olhei surpresa- você estava olhando para nossas mãos não era? Não é nada do que está pensando.

– M-mas eu não estava pensando em nada- tentei disfarçar, o que foi uma completa tragédia.

– Você não devia ficar prestando tanta atenção na vida dos outros Misaki-san- Onihiru me reprimiu com um olhar sério, enquanto Miya apenas escondia uma risadinha- isso é algo muito feio. Mas era de se esperar de uma repórter xereta.

– Repórter xereta? O que você pensa que é?- gritei apontando meu indicador em seu rosto, ele apenas ria de mim- pare de rir, não está vendo nenhum palhaço por aqui.

– Nossa, não imaginei que você fosse tão bruta assim- Miya riu- você devia procurar se acalmar mais, isso não fica bonito para garotas como você. Sempre dóceis e amáveis.

– Vou ignorar vocês- falei cruzando os braços e desviando o olhar, como eles conseguiram me irritar com tanta facilidade?

– Tudo bem, chega de brincadeira- Onihiru falou voltando ao seu tom sério- quer ir no mercado? A lista de lá foi atualizada.

– Que lista?- perguntei curiosa.

– Uma que eu recebi do Monokuma, é uma lista que contém todos os produtos que podem ser encontrados no mercado. Deve ser para nos ajudar nos casos. Então vai com a gente ou não?

– Na verdade eu estava pensando em ir dar uma olhada no novo bairro, pode ter algo de interessante lá.

– Concordo, eu vou com você- Miya disse largando a mão de Onihiru e se agarrando ao meu braço- vamos lá. Até mais Onihiru-kun!

Nos despedimos dele enquanto continuávamos a andar pela rua extensa, não vimos mais nenhum estudante no caminho, talvez ele já tenham saído e estejam indo para o novo bairro. Quando chegamos ao mercado, vimos que era a verdade. O portão que ficava a esquerda dele estava escancarado.

– Vamos ver o que tem de novo para nós Misaki-san- gritou Miya arrastando-me para dentro do novo bairro.

Quando entramos lá, pude ouvir uma música quase que ensurdecedora. Era a mesma música que eles geralmente tocavam em carrosséis e brinquedos do tipo. Era uma espécie de pátio imenso, barracas de algodão doce e cachorro quente estavam espalhados por todo o lado, além de bancos e postes, assim como no outro bairro. No centro do pátio, havia a estátua gigante e colorida, mostrando um Monokuma trajado de palhaço segurando um sorvete em suas mãos, e as inscrições em letras bastante chamativas: “Bem-vindos ao Mundo da Diversão”.

– Nossa, isso é realmente uma surpresa daquelas- comentei, enquanto Miya apenas olhava ao redor, reparei então que ela não estava mais usando saltos e sim apenas uma sapatilha rosa, mas mantinha o mesmo vestido do primeiro dia- belas sapatilhas.

– Ah, obrigado. O Mikamaru-kun me deu de presente.

– Vocês estão saindo ou algo do tipo?

– Ah, não, não é nada disso. Ele me deu de presente para me alegrar, pois eu fiquei um tanto abalada com os últimos acontecimentos.

– Entendo, desculpe perguntar.

– Tudo bem- ela falou dando uma alta risada- estou acostumada a esse tipo de coisas, sabe existem muitas pessoas querendo saber mais sobre mim, é a consequência de ser famosa.

Eu ri junto com ela, eu pensava que Miya era uma pessoa arrogante e prepotente, assim como aquelas atrizes água com açúcar que geralmente eu era obrigada a entrevistar, mas não, ela era uma garota comum, como qualquer outra. E fiquei satisfeita em saber disso, os outros estudantes haviam chegado ao pátio, um tanto quanto confusos na verdade, bom, pelo menos eu sabia que todos estavam bem.

– Isso é realmente grande- sibilou Mayu- quanto tempo será que eles demoraram para construir um local como esse?

– Não faço a mínima ideia- Cody comentou- será que aqui tem alguma pista de skate?

– Vamos nos separar para procurar, assim cobrimos mais área de forma mais rápida- sugeriu Percy- como somos quatorze, acho que daria para formar quatro trios e uma dupla. Eu posso ir com o Cody.

Todos assentiram em afirmativo e nos dividimos. Eu fiquei com Miya e Aya- que estava usando o seu kimono outra vez, ela realmente gostava de mudar de roupa- e nós ficamos responsáveis por olhar uma área cujo nome era “Parque Aquático”, com certeza vai ser interessante. Mayu ficou com Nathan e Watashima, para olhar o Fliperama. Percy e Cody foram dar uma olhada na loja de fantasias e a de presentes. Onihiru, Kocho e Mikazuki foram olhar o parque de diversões- Onihiru foi com eles a contragosto, embora Mikazuki fosse esperta ela era calada em demasia e Kocho não era uma companhia excelente para se dizer- e por fim para olhar a biblioteca e uma chamada sala de informática ficaram Annie- que não estava a fim de fazer nada- Kon e Aru.

– Porque eu tenho que ir com esses idiotas? Não posso voltar ao meu quarto?- Annie retrucou cruzando os braços.

– Você quer sair daqui?- Aru disse em tom irritado, a ruiva apenas sibilou um “sim”- então vai ter que colaborar, a menos que queira ficar aqui o resto da sua vida.

Eu segurei um riso ao ver a cara de Annie, mas fiquei quieta, não queria mais confusões. Depois de nos dividirmos, fomos cada um para nossos respectivos lugares. Miya estava estranhamente animada com tudo aquilo, e Aya voltou ao seu estágio exageradamente quieto. Sentia-me perdida em meio as duas. Quando chegamos à entrada do parque, não pude deixar de soltar um grito de admiração. Era uma espécie de portão de madeira azulado, no qual estavam enroscadas algas sintéticas, em meio às algas estavam grudados cavalos-marinhos, tubarões, polvos e outros seres marinhos de borracha. Os muros também azuis tinham pinturas de praias, e acima do portão havia um letreiro vermelho que dizia: “Aquário da Esperança”.

Entramos e ficamos mais maravilhadas ainda. Havia ali uma imensidade de piscinas de todos os tamanhos, além é claro de escorregas e tobogãs. Em um canto, havia uma espécie de quiosque com roupas de banho, protetor solar, boias e comida, além de muitas mesas espalhadas por um pátio. O quiosque também possuía um identificador de ID, assim como no mercado, então devia funcionar da mesma forma- ou aquele urso chato já teria aparecido para estragar meu dia.

– Isso tudo é realmente incrível- Aya exclamou- e com o calor que esse kimono faz estou louca pra dar um mergulho!

– Ontem você usou uma roupa mais leve- comentei- porque não usou hoje de novo?

– Eu? Bom, são formalidades que tenho que cumprir como sacerdotisa, mesmo estando longe do templo é sempre bom usar isso para me lembrar de casa e de quem eu realmente sou. Tenho certeza que me entende sim?

– Claro.

– Ei pessoal- Miya falou em tom animado- eles tem um aquário aqui, vamos ver como é?- depois de falar isso, ela pegou em nossas mãos e praticamente nos arrastou até o tal aquário.

Era um corredor escuro e fechado, onde lâmpadas azuladas brilhavam no teto, nos lados as paredes eram de vidro e dava para ver o que tinha dentro. Era realmente lindo, como se estivéssemos no fundo do mar, peixes de todos os tipos nadavam em meio a uma imitação de recife, cheio de corais, esponjas e algas. Muitos peixes que eu sequer conhecia. Nós três ficamos olhando para aquilo maravilhadas, não era comum ver algo como aquilo- eu nunca tinha ido a um aquário antes.

– Upupu, vejo que as sereias gostaram de ver água não é mesmo?- Monokuma apareceu inesperadamente ao nosso lado nos dando um pequeno susto- vejo que gostaram dos meus peixinhos, mas sabe, alguém precisa cuidar deles entende? Apertar uns botões, encher uns tubos, coisas simples.

– Se está tentando nos convencer a trabalhar de graça para você aqui pode ir embora- Miya falou subitamente e todos olharam para ela- que foi? Nem fodendo que eu vou virar babá de aquário só por causa desse urso de merda.

– Não precisa se preocupar senhorita boca suja, já deixei um estudante responsável por isso. Só achei que seria legal avisar. Agora vou indo, minha barriga está roncando a horas, ursos também tem que comer.

E ele saiu andando pelo corredor naturalmente como se fosse à coisa mais normal de todas. Toda vez que ele aparecia era ruim, era como se o ar pesasse, como se tudo de bom sumisse do mundo. Era realmente estranho ter um urso de pelúcia nos ameaçando e nos colocando para matar uns aos outros, quero dizer, era quase que anormal.

– Seria bom vermos outras áreas não é mesmo?- sugeriu Aya- eu vou ao meu quarto trocar de roupa, esse kimono está realmente muito quente.

Nós então saímos do parque aquático, Aya foi para o seu quarto trocar de roupa enquanto que eu e Miya decidimos ir a outro lugar. Puxei meu ID do bolso vendo os locais disponíveis.

– Que tal irmos ao Fliperama?- Sugeri- é bem perto daqui.

– Por mim tudo bem.

Andamos um pouco pela rua até chegar ao Fliperama. Era uma espécie de clube, as paredes negras com personagens de jogos desenhados. O letreiro em vermelho com letras pixeladas como as de um videogame. As portas de vidro se abriram com a nossa aproximação. Lá dentro havia um barulho intenso de tiros e monstros, diversas máquinas de jogos- antigos e atuais- se espalhavam pelo local, além de máquinas de sorvete, refrigerantes e coisas do tipo. No balcão haviam tubos cheios de fichas para jogos, havia pistas de dança, máquinas de garra- aquelas máquinas maléficas com uma garra para pegar ursos de pelúcia, que você nunca consegue pegar- e muitas outras atrações.

– Parece um lugar divertido- comentou Miya- embora esse barulho seja um tanto desconfortável. Olha, eles tem sorvete, vou pegar um, já volto!

Acenei com a cabeça enquanto ela corria em direção a máquina. Olhei em volta a procura de alguém, foi quando avistei Nathan em uma das máquinas de jogos, o olhar vidrado na tela, apertava os botões com uma agilidade tremenda, seu olho vermelho parecia cintilar. Era estranho vê-lo assim, era como se ele não estivesse nesse mundo. Os pontos na tela apenas aumentavam cada vez mais, e ele nem sequer olhava para o controle. Aproximei-me um pouco e fiquei observando-o jogar, era realmente incrível, eu nem sabia jogar Super Mario direito, quanto mais daquele jeito.

– Ele está assim a um bom tempo- Mayu apareceu subitamente ao meu lado- não tente nenhuma forma de comunicação, é como se ele estivesse em transe.

– Entendo- sibilei- encontraram algo de interessante por aqui?

– Nada além de jogos e mais jogos, não entendo muito desse universo, e esse som me dá nos nervos. Watashima está no banheiro, quando ela voltar nós vamos dar uma olhada em outros locais, para ver se há algo de interessante para fazer.

– Sabe, no parque aquático aqui perto tem um aquário com muitos peixes- comentei- você parece gostar de animais, talvez possa dar uma olhada lá?

– Aquário? Sério?

– Sim.

– Boa ideia, vou atrás da Watashima e nós vamos olhar lá, depois nós levamos o Nathan- ela falou apontando para o garoto de cabelos brancos que continuava a jogar, sem sequer notar nossa existência ali- até mais Yuuka-san.

E ela foi em direção ao banheiro, Miya chegou ao meu lado, com um sorvete de chocolate em mãos. Ela me ofereceu e eu neguei com a cabeça. Fiz o sinal para irmos embora, mas ela me mandou ir andando. Quando saí do fliperama, puxei o ID do bolso, vendo qual seria o próximo local que eu deveria visitar. Pensei em ir ao parque de diversões e depois na biblioteca. Voltei a andar pela rua me aproximando da entrada do parque de diversões, uma música alta saía de lá, assim como o som dos brinquedos e de pessoas- provavelmente um som de fundo apenas.

A entrada era bastante colorida, cheia de desenhos de palhaços e crianças, e o letreiro- também colorido e com aspecto infantil- dizia apenas “Funny World”. Entrei um tanto confusa, como que alguém era capaz de construir algo como aquilo? Haviam diversos brinquedos espalhados por todo o local. Carrossel, montanhas-russas, rodas gigantes, e muitos outros que eu nunca havia conhecido. Havia também alguns carrinhos com pipoca, cachorro-quente e coisas vendidas em parques de diversão.

Avistei Mikazuki que servia-se de um pacote bem cheio de pipoca, chamei por ela e corria em sua direção, ela me olhou com sua expressão séria de sempre- para uma empregada ela era cheia de segredos e coisas do tipo- olhei em volta procurando por Onihiru ou Kocho, mas não consegui ver nenhum dos dois:

– Está procurando por eles não é?- Onimaru sibilou levando algumas pipocas a boca- Onihiru deve estar investigando por aí, procurando algum painel de controle e o garoto médium está sentado ali- ela apontou na direção de alguns bancos, onde Kocho estava sentado encarando os próprios pés.

– Então, encontraram algo de interessante?

– Não, nada além destas pipocas deliciosas e esses brinquedos esquisitos. Mas tudo bem, não achei que nós fossemos encontrar algo de valor mesmo.

– Entendo, o manda-chuva deve ter cuidado escondendo tudo que podemos usar. Bom, então já vou indo, até mais tarde.

– Até mais.

Sai do parque de diversões com aquilo na cabeça, com certeza o manda-chuva havia sido cuidadoso. Ele não iria nos dar nenhuma pista de bandeja, ele queria jogar conosco, com nossa sanidade, com nossos sentimentos. Tenho certeza de que ele ia jogar na nossa cara nossos segredos, nosso passado, nos torturar até não termos mais esperança. Seja quem for, eu já o odeio. Meu Deus, eu odeio essa pessoa com todas as minhas forças. Ficar aqui sem saber onde meu pai está, ou o que aconteceu com ele só me deixa ainda mais nervoso.

Balancei a cabeça, não queria pensar nisso, não agora. Andei até a biblioteca, era um prédio enorme, devia ter dois ou três andares e tinha uma arquitetura antiga, estátuas de anjos e gárgulas decoravam suas colunas, o letreiro em cinza, lembrava tudo que fosse antigo e imaginário. Devia ser um bom lugar para relaxar. Atravessei as pesadas portas de madeira e fiquei olhando com cuidado para o local. Realmente havia dois andares ali, o chão de mármore tinha desenhos do sistema solar, de heróis históricos e outras façanhas que todos nós ouvíamos falar na escola. Havia uma espécie de balcão para bibliotecário com anotações e um computador, diversas mesas e cadeiras espalhadas pelo local, além de alguns pufes. Mais com certeza o que mais tinha ali- o que era um tanto óbvio- eram livros. Centenas e centenas de prateleiras abarrotadas de livros de diversos tipos.

– Gostou daqui Misaki-san?- Virei na direção da voz, Aru estava no computador e me olhava com um largo sorriso- você não me viu quando entrou.

– Desculpe, acho que fiquei distraída em meio a tantos livros. O que está fazendo aí?

– Olhando os arquivos da biblioteca- ele falou me indicando uma pilha de papéis- não tem na de interessante aqui. E o computador não pega, assim como os do hotel parece que ele foi formatado.

– Estranho, quando pensamos que damos um passo a frente, voltamos a estaca zero- falei dando um sorriso triste- parece que nunca vamos sair daqui.

– Não diga isso- a voz de Kon me deu um leve susto, ele segurava uma rosa vermelha para mim- sempre há esperança enquanto houver vida, e até mesmo depois da morte ainda existe a esperança, pois ela reside em nossas almas. Pegue a rosa!

Estiquei a mão para pegar a flor e esta explodiu em uma cortina de fumaça vermelha, quando recuperei a visão, não havia mais rosa nenhuma apenas uma espécie de livro de capa de couro, Kon sorria para mim de uma forma estranha:

– Achei isso em uma das prateleiras, parece ser um diário, estava praticamente implorando para ser achado se é que me entende. Talvez tenha algo de importante aí dentro. Dê uma lida.

Peguei o diário das mãos de Kon, e o abri. Pelas páginas e pela escrita, parecia ser bem recente- não era um diário antigo de décadas atrás, deveria ter mais ou menos um ou dois anos.

Hope’s Peak Academy- 15 de maio de ......

Querido diário,

Não sei lhe dizer o que está acontecendo. É como se tudo por aqui fosse uma mentira, como se todos mentissem para você descaradamente, um mundo onde a verdade não habita mais. Quando entrei para essa escola eu pensava apenas que poderia mudar o mundo, que poderia acabar com as guerras, com a fome, que poderia simplesmente levar esperança aos perdidos. Eu e meus colegas iniciamos um projeto que duraria durante todo o ensino médio que colocaríamos em prática logo depois de nos formar. Se chamava “Esperança do Mundo”, estávamos recrutando o máximo de estudantes possíveis para usar o nosso talento como uma forma de acabar com o sofrimento da humanidade.

Meu Deus eu estava muito animado com isso, eu poderia pela primeira vez na vida ser útil em alguma coisa. Não depender de nada e nem de ninguém. Mas então “ela” apareceu, estragou tudo, conseguiu recrutar muitos estudantes para sua marcha de desespero. Restamos apenas eu e meus colegas, das quarenta pessoas que havíamos recrutado, muitos haviam se juntado a ela e outros apenas desistiram de tudo e ficado neutros em relação ao resto. Quero dizer, apenas os dezesseis alunos da minha turma e uma garota de outra continuamos com o plano.

E quando aquela loucura começou, nós fugimos, fugimos para um local seguro a procura de uma nova forma de salvar a humanidade. Mas por culpa “dela” e dos seus servos nós não conseguimos. Somos só nos agora, o que restou da esperança daquela escola. Apenas dezessete pessoas, vamos agora à busca de um lugar seguro, procurar uma forma de resgatar os outros estudantes e leva-los a esperança. Talvez mesmo “ela” ainda tenha salvação.

Pelo menos é o que eu espero. A partir de hoje narrarei tudo o que sofremos e vivemos.

– Isso é uma pista e tanto- comentei- fala sobre algo que aconteceu com a escola, mas eu não me lembro de nada relacionado a isso.

– Também não. Talvez tenha algo em um desses livros- falou Aru- Annie está na sala de informática, vamos lá dar uma olhada. Você pode ficar aqui não é Kon?

– Claro.

Aru pegou-me pelo braço e puxou-me para fora da biblioteca. Fomos a um prédio que ficava ao lado, o prédio tinha as paredes prateadas o nome “Centro de Informática” em letras bem grandes, as portas eletrônicas se abriam quando nos aproximávamos. Lá dentro era um verdadeiro centro de pesquisa. Haviam cerca de vinte computadores dispostos em duas filas. Nas prateleiras haviam toda a espécie de material digital que conhecíamos- datashows, mouses, pendrives, cabos e outras coisas do tipo- no fundo havia uma lousa digital e duas Tv’s bastante modernas.

Além é claro de impressoras e fotocopiadoras. Aquilo parecia uma verdadeira sala de aula digital. Vi que Annie estava sentada em uma cadeira, vasculhando algumas gavetas, provavelmente em busca de pistas inexistentes:

– Achou alguma coisa Annie?- perguntou Aru, a ruiva apenas o olhou de relance e vendo que eu estava com ele grunhiu alguma coisa.

– Nada além de toda essa parafernalha eletrônica, não tem anda nos computadores. Esse lugar não tem nada de útil- ela levantou-se- preferia estar no meu navio agora, talvez lá tivesse algo divertido para se fazer.

– Bom, então acho melhor voltarmos a biblioteca- comentei- lá tem pistas com certeza.

– Eu posso voltar ao meu quarto então? – A ruiva falou de forma bruta- vocês já tem ajuda o suficiente.

– Você pode ser útil- comentou Aru.

– Olhe mocinho, não sei se percebeu, mas eu sou uma “pirata”. Isso mesmo, eu levo a vida roubando navios e coisas de outras pessoas. Onde você acha que eu seria útil? Não estamos numa batalha de navios nem nada do tipo, só estamos presos aqui com um filho da puta querendo nos matar.

– Ora, ora. Então a rainha dos mares tem medo de alguma coisa?- eu falei em tom irônico- você pode ser útil em muitas coisas Capitã, basta apenas deixar essa sua brutalidade de lado e se unir a nós.

– Não estou com saco para piadas.

– Não foi uma piada- ela ficou calada por alguns segundos me encarando.

– Tá bom, eu vou para a porcaria daquela biblioteca empoeirada, agora se me dão licença.

Ela saiu a passos duros, Aru olhou para mim com ar de riso. Eu havia usado da ironia para incentivá-la, porque querendo ou não ela é uma das minhas colegas e vamos todos sair daqui juntos. Não podemos deixar que Monokuma nos prenda em suas teias dessa forma.

– Vou dar uma olhada nas lojas que tem aqui na frente- falei para Aru- nos encontramos no restaurante não é?

– Claro!

Saí da sala de informática e atravessei em rua em direção aos últimos locais que faltavam para eu visitar. A Loja de Presentes, era um local pequeno, parecia como uma loja comum, de paredes em um amarelo vivo e uma porta de madeira. Pela vitrine eu via cartões, brinquedos e muitas outras coisas. Entrei no local com cuidado, assim como em outros estabelecimentos tínhamos que usar o ID de estudante para levar alguma coisa. Lá dentro havia prateleiras com todo o tipo de presentes que poderiam ser dados a alguém.

Vi que Cody mexia em alguns bichos de pelúcia de forma concentrada. Andei até ele calmamente, ele levou um pequeno susto com minha presença, mas deu uma leve risada e voltou a olhar as prateleiras:

– Procurando alguma coisa?

– Não, só dando uma olhada. Ver se tem algo interessante aqui, mas parece que não- ele puxou um chaveiro parecido com o Monokuma- seria fofo se não fosse satânico.

– Verdade- dei uma leve risada- onde está o Percy?

– Na loja de fantasias, tem um pequeno corredor que conecta as lojas, atrás daquela estante ali, pode ir- ele disse apontando para uma estante cheia de coisas em formato de coração e caixas de chocolate- estarei aqui olhando se precisar.

– Claro.

Realmente, havia um corredor que ligava as duas lojas, era um corredor vazio e um pouco escuro, mas era mais rápido do que sair de uma loja para entrar em outra. A loja de fantasias era bem mais arrumada. Parecia uma loja de roupas qualquer, mas cheia de fantasias e adereços. Várias roupas penduradas em cabides, e alguns manequins usando fantasias bem conhecidas.

– Tudo bem? – a voz de Percy me fez virar em sua direção, ele estava olhando algumas roupas sem nenhum interesse notado- Cody ainda está na loja?

– Está sim, achou algo de interessante aqui?

– Nada além de fantasias. Bom, mas aquela ali me parece mais assustadora do que infantil- ele disse apontando para um manequim vestido de palhaço logo na entrada da loja, realmente tinha um aspecto bastante maléfico- eu já me fantasiei de palhaço para alguns eventos com meus pais, mas essa roupa me dá arrepios.

– Também, nunca gostei muito de palhaços entende? É como se o seu sorriso pintado tivesse algo de mal por trás.

– Estamos realmente conversando sobre isso?- ele comentou- Desculpe, estou um tanto nervoso.

– Entendo. Mas não se preocupe, estamos a um passo adiante agora, temos mais locais para visitar e mais pistas para procurar, em breve estaremos todos do lado de fora.

– Sim, com certeza.

– Posso fazer uma pergunta? Digamos que é mais uma curiosidade de repórter.

– Claro.

– Você estava envolvido em um grande projeto de genética antes de vir para aqui não é? Qual era ele?

– Ainda estava em fase inicial, era mais uma pesquisa do que um projeto- olhei para ele curiosa e ele continuou- uma forma de descobrir o que define as habilidades com que cada um de nós nasce.

– Entendo, o “gene do talento”.

– Basicamente. Bom, é melhor irmos andando, não tem nada para ver aqui.

° ° °

Os dias passaram e procuramos em todos os locais possíveis e impossíveis do novo bairro, mas não achamos nada de importante. Além é claro daquele diário, mas este não nos proporcionava muitas pistas, mas com certeza deve haver alguma conexão com isso tudo. Estávamos reunidos no restaurante para discutir o que encontramos como sempre fazíamos todos os dias:

– E mais uma vez sabemos que não existe nenhuma saída- Watashima comentou irritada- é como se tivéssemos que explodir as paredes para sair daqui.

– Tem pólvora no mercado- Cody falou e todos o encararam imediatamente- eu estava brincando gente.

– Não interessa, sinto que estamos deixando algo escapar dessa vez- Kocho comentou levando as mãos ao queixo- é como se as pistas estivessem lá, mas ao mesmo tempo não estivessem.

– O que quer dizer com isso?- perguntou Nathan.

– Que elas estão escondidas bem debaixo das nossas fuças- Annie comentou irritada- não há nada que possamos fazer.

– Ei pessoal- Miya levantou-se animada, não vamos nos deixar desanimar, vamos dar um jeito em tudo isso. E agora, que tal darmos uma volta naquela montanha-russa do parque? Estou louca para ir lá desde que a vi- ela falou em tom bastante animado- vamos logo pessoal, eu não quero perder tempo.

° ° °

O carrinho subia lentamente e eu sentia o frio na minha barriga, todos concordaram em andar naquele brinquedo embora muitos tivessem medo. Era a montanha-russa mais rápida do parque. Quando chegamos ao topo, senti a adrenalina pulsar por todo o meu corpo enquanto descíamos a toda velocidade, passando por loops e curvas onde eu era lançada para os lados de forma violenta.

De olhos fechados eu segurava meus óculos entre as mãos com força, enquanto sentia a pressão do ar batendo contra o meu rosto e escutava os gritos dos outros estudantes. Quando abri os olhos, vi que nós andávamos em volta de uma montanha artificial- na qual havia uma estranha mancha negra- eu gritei a plenos pulmões. Enquanto as lágrimas desciam.

Quando finalmente o carrinho parou, eu saí de lá zonza e cheia de medo. Era bom sentir a terra firme, era bom sentir-se segura. Mas devo confessar que foi uma experiência realmente divertida. Todos estavam sorrindo agora, sentindo a esperança fluir em nossos corações, havia sim ainda uma chance de sair dali:

– Foi muito divertido- gritou Miya- eu quero ir em todos os brinquedos.

– Upupu, devia guardar essa alegria para um assassinato- Monokuma surgiu a nossa frente quase que magicamente- vocês são muito chatos, será que seu diretor tem que dar motivos a vocês todos os dias? Essa esperança está me irritando muito.

– O que você veio fazer aqui?- perguntei

– Dar isso a vocês- ele falou lançando diversas pastas ao céu e elas caíram a nossa frente, cada uma delas tinha um de nossos nomes- um novo motivo para assassinato. Eu resolvi fazer algo diferente desta vez. Cada ser humano tem o seu tesouro pessoal, algo pelo qual ele preza mais do que a própria vida. E eu estou com os tesouros de vocês- cada um de nós pegou a sua respectiva pasta e abriu- e se dentro de vinte e quatro horas não ocorrer um assassinato, estes tesouros serão destruídos para sempre. Upupu... quero ver muita vontade assassina dessa vez, matem-me de orgulho..

Lá havia fotos do meu pai e eu em um passeio no parque, então meu pai ainda estava sob custódia dele. Não adiantava ter esperança, pois mais uma vez o desespero estava entre nós.

° ° °

– Upupu... Uma pena que você não conseguiu sua estreia nos holofotes. Mas devemos agradecer a Kazuyo Sakey-chan por ter nos livrado de um trabalho árduo- Monokuma ria enquanto encarava a segunda pessoa com ele naquela sala- sabe, se um impasse surgisse seria muito.

A outra pessoa sentou-se diante dele enquanto o urso a encarava de forma feliz. Eles haviam conseguido muita coisa juntos, eram parceiros naquilo. Para que o jogo funcionasse perfeitamente, era necessário que houvesse alguém dentro do jogo para garantir que as coisas saíssem conforme o plano e que nenhum erro aparecesse:

– Entendo sua aflição, mas não se preocupe, esse nosso jogo tem um objetivo maior, bem maior, maior do que o maior. Sinto meus pelos arrepiarem com isso- o urso puxou uma pasta de arquivos detrás de si- um presente por me ajudar a limpar a cozinha com o corpo do Albert e por me ajudar a preparar o segundo motivo. Saberá o que fazer com isso quando chegar a hora.

A pessoa pegou a pasta com cuidado, sabia que tinha traído pessoas especiais para si, mas havia algo muito maior que a obrigava a fazer o que estava fazendo:

– E ninguém pode saber disso entendeu? Nem mesmo a sua irmã!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Mais um assassinato se aproxima. Quem será a vítima da vez? A propósito gostaria que votassem em um casal. Pode ser qualquer um que vocês shippem da fic. Depois eu explico para que é. Teremos muitas novidades em breve- incluindo uma wikia com os personagens da saga, das duas temporadas.

Planta do bairro 2: https://i.imgur.com/Qa26ieJ.png



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