Capítulo Dois

Entrelaçando Caminhos

Ato Um =>  

            Segunda-Feira: O Trio se Encontra

Para o alivio de Morrigan – que já cogitava a hipótese se ter sido enganada – as outras duas chegaram juntas, às quatro da manhã. Ao que parece, haviam tido problemas no caminho: Um tarado seguira Circe e Emily ficara presa em um engarrafamento durante mais de cinco horas.

Como Morrigan previra, Emily possuía beleza superior à de Circe, embora menos espalhafatosa. Decidiram que resolveriam a questão dos quartos e tarefas após a cerimônia de inicio às aulas, que seria dali a três horas.

Assim sendo, as duas recém-chegadas deixaram suas malas na sala e desceram após arrumarem-se às pressas. Três horas não era o bastante para Circe. Tomariam café na festa, pois não havia tempo para pararem em qualquer local para comprarem. Como iam todas ao mesmo local, seguiram no carro de Emily. Morrigan, anti-social como sempre, sentou-se no banco de trás enquanto Circe ocupava o banco da carona, onde pretendia aproveitar para conhecer melhor a personalidade das novas companheiras.

Ao interrogar Morrigan, esta respondia com monossílabos ou de modo objetivo e direto, não abrindo espaço para especulações ou prolongamento de assunto. Numa última tentativa, Circe virou-se no banco, tirando o cinto e olhando para ela, perguntou:

-Então, minha cara vampira, como você faz para manter esse cabelo lisinho no lugar mesmo em um conversível?

Dessa vez, Morrigan riu com gosto e dispôs-se a conversar mesmo que isso contrariasse sua natureza:

-“Vampira”? Esse foi o apelido mais original até hoje. No Maximo, ouvi alguns “giz de peruca”. Por que escolheu esse?

-Vejamos... – Circe fingiu pensar. – Você é extremamente branca, tem cabelos extremamente negros e seus olhos são extremamente verdes, a ponto de ter quase vida própria. Seu rosto não costuma expressar emoções e você quase não fala. – “Sem contar no refinamento inconsciente e aristocrata” Circe acrescentou em pensamento.

-Poxa, você andou me observando. – Morrigan retrucou.

-Um pouco... – Circe riu feliz consigo por ter conseguido fazer a outra falar.

-E sobre Emily? – Morrigan tentou mudar o foco da conversa.

-Bem... Pelo que vi de Amy, ela é a típica patricinha que cresceu e se tornou um “mulherão” por assim dizer. Tem grana, pois dirige um carro esporte do ano, por isso deduzi que ela não precisa do emprego ou dividir o aluguel. O que não consigo entender é o porquê dela fazer isso quando podia simplesmente curtir.

-Você tem um ótimo poder de dedução. – Emily deu um meio sorriso do volante.

“Parece que Circe simplesmente acerta demais para o próprio bem... Creio que a porta do meu quarto deva ficar sempre trancada.” A ‘Vampira’ pensou.

Amy estava calada por um motivo quase idêntico ao de Circe estar falando. Ela tentava sentir a “aura” das outras duas, mas quando chegava perto de Morrigan, via apenas escuridão, como se fosse uma barreira que Amy não conseguia penetrar, e ela tinha certeza de que era inconscientemente que a Vampira protegia-se. Circe, a uma primeira vista, pareceu superficial, mas Emily podia sentir que cada gesto e palavra dela eram analisados de modo que trouxesse vantagem para a moça loira.

Uma comoção no transito desfez a concentração de Amy. Um motoqueiro atrás delas tentava se aproximar, mas não conseguia. Circe olhava para Amy, que soube imediatamente que a loira sentira algo “barrado”; algo que a motorista vinha fazendo.

As duas se olharam por um momento e um pensamento solitário passou na mente da loira: “O que é você?”.

Mas essa era uma pergunta sem resposta. Pelo menos no momento.

A terceira moça notou que algo estranho acontecia, mas simplesmente não ligou. Quase como uma criança, Morrigan queria permanecer em seu mundinho particular o máximo de tempo que conseguisse.