Vínculo. escrita por Isadora Nardes


Capítulo 5
Time to Pretend


Notas iniciais do capítulo

Como eu imagino o Timothy -- vulgo Tim Vagabundo: http://www.eurweb.com/wp-content/uploads/2014/10/alfred-enoch-twitter.jpg
Como eu imagino a Jacqueline: http://1.bp.blogspot.com/--vcrQlA4NnE/UiEX0tF9msI/AAAAAAAABFk/sk9HC1eAYKo/s640/Super+rich+kid+Alexis+Jordan.PNG
Como eu imagino a Wandy: http://data3.whicdn.com/images/45152302/large.jpg

A música do capítulo é Time to Pretend - MGMT.



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Ethan estava sentado da ponta da rampa de skate, com as pernas jogadas e a mão segurando um baseado. Clarisse estava ao seu lado, sorrindo fascinada para uma maçã. Timothy – vulgo Tim Vagabundo – estava com as pernas enroscadas na grade da rampa de skate, o tronco esticado na mesma direção que os pés de Ethan; o garoto estava de ponta cabeça, com as mãos apoiando a nuca.

Ethan novamente sentia muita fome, mas o baseado ajudava a relaxar. Vestia uma blusa comprida cinza e vermelha, com um pulôver de algodão bege por cima. Os cabelos tinham sido penteados por sua mãe, que havia dito que não o deixaria sair de casa naquele estado “deplorável”.

Já haviam se passado três dias desde que saíra de cada para enfiar-se numa rua fria no meio da noite, e os sintomas da gripe não haviam desaparecido totalmente. Ethan passou o baseado para Timothy, que puxou, expirou a fumaça e disse, fechando os olhos:

–- We'll choke on our vomit, and that will be the end... We are fated to pretend...

–- Hã? – Ethan juntou as sobrancelhas.

–- MGMT, cara – Timothy puxou a maconha mais uma vez. – Nunca ouviu?

–- Uma música ou duas.

–- É uma viagem, cara – Timothy fez gestos sutis no ar.

–- Imagino – Ethan tomou o baseado de Timothy e estendeu-o para Clarisse. Porém, antes que ela pudesse pegar, uma mão veio por trás e arrancou o baseado de Ethan dizendo:

–- Epa, drogas!

Ethan olhou pra trás e viu Katrina já com o baseado na boca, e um meio sorriso nos lábios.

–- Hey – Ethan cumprimentou. A pista era alta, e duas outras garotas seguravam Katrina pelos pés e reclamavam. Ethan perguntou: -- Quem são?

–- A primeira é a Jacqueline – Katrina começou. – A segunda é Wandy.

–- Pode me chamar de Wan – Wandy gritou, lá de baixo.

–- Cala a porra da sua boca – Jacqueline ralhou. Ethan estava com a visão meio embaçada, mas viu claramente quando Katrina se apoiou em seu ombro e subiu na parte mais alta da rampa, sentando-se entre ele e Clarisse. Jacqueline tornou a gritar: -- Sua vaca, me ajude a subir!

Revirando os olhos, Katrina torceu o corpo e ajudou Jacqueline a subir. Ethan olhou para Katrina. Ela vestia uma blusa rosa escura e um short de lavagem clara, rasgado nas pontas. O cabelo estava solto, caindo pelos ombros, exalando cheiro de xampu.

Vendo mais de perto, Ethan percebeu uma expressão de amargura no rosto bonito de Jacqueline. Ela tinha uma pele cor de chocolate, lábios grandes, um nariz arredondado, e olhos escuros. Seu cabelo estava repicado na altura do ombro, seus cachos volumosos e brilhantes, num tom mais claro do que se podia esperar. Ela vestia uma camiseta branca de algodão fino, junto com um shorts acima do umbigo, uma meia ¾ e tênis V.I.P. Jacqueline sentou-se entre Ethan e Timothy.

Ethan olhou pra baixo, onde Wandy esticava as mãos para tentar subir inutilmente.

–- Vai deixar ela ali? – Ethan perguntou para Katrina, que deu de ombros. Ethan se virou para Timothy: -- Tim, seu vagabundo, ajuda a pirralha.

Timothy se levantou, com certa dificuldade, e estendeu as mãos para a garota. Ela subiu desajeitadamente, e se sentou ao lado de Timothy, na parte mais extrema do grupo. Wandy vestia uma camiseta amarela clara e um jeans apertado. Nos pés, uma sapatilha bege com um laço na ponta. Seus cabelos louros lisos estavam espetados em diferentes direções. Ela olhou para Ethan, depois para Timothy e então para Clarisse.

–- Olá – ela disse, animadamente. – Eu sou Wan.

Ethan olhou para Clarisse, depois para Katrina, e os três começaram a rir. Pela primeira vez desde que Marcela havia morrido, Ethan sentiu-se eufórico. A risada era espontânea, sem um pingo de ironia. Mesmo que fosse efeito da droga, Ethan desejou sentir-se daquele jeito o tempo todo.

Katrina passou o baseado para Jacqueline, que fumou e ficou olhando para o outro lado da pista, onde três garotos mexiam convulsivamente no celular.

–- Vagabundos – Jacqueline murmurou. Depois olhou para Ethan, Katrina e Clarisse e deu risada. Por razão nenhuma, Timothy começou a rir também, até que a única pessoa sem rir era Wandy.

–- Não estou entendendo – Wandy murmurou. – O que é tão engraçado?

–- Toma – Jacqueline entregou o baseado para Wandy. – Você vai entender.

–- O que é pra eu fazer? – Wandy perguntou. – Comer?

O grupo explodiu em risadas.

–- Tipo isso – Clarisse disse, incentivando. – Engula.

Ethan olhou para Katrina.

–- Não é como se você realmente fosse deixar ela fazer isso, né? – Ethan perguntou. – Comer o baseado?

–- Por que não? – Katrina sorriu. – Vamos ver o que acontece.

Ethan olhou a reação de Wendy quando ela engoliu um pedaço. Fragmentos de maconha caíram do baseado e ela tossiu convulsivamente. O grupo mais uma vez começou a rir. Até Ethan conseguiu achar graça.

–- Eu pensei que era diferente – Wandy murmurou.

–- Diferente como? – Timothy perguntou.

–- Sei lá... Gosto de bomba de chocolate, talvez? Ou de morangos. Eu adoro morangos.

Timothy fechou os olhos e encostou a cabeça na pista. Ethan olhou para os desenhos pichados na pista de skate. Haviam desenhado garotas magras com peitões e bundões, garotos com calças baixas e bonés que cobriam a cara inteira, símbolos de gangues, elefantes, folhas de maconha, dinossauros e um Mickey na ponta. Do outro lado da pista, uma enorme mancha colorida de óleo havia secado e deixado suas cores ali, em meio aos desenhos. A parte estranha é que a mancha começava bem onde havia uma garrafa de água de um garoto do outro lado da pista, dando a impressão de que o líquido escorria da garrafa.

–- Cara – murmurou Ethan. – Que viagem, cara.

–- Pra muito, muito longe – concordou Timothy. As cores se misturaram e a visão de Ethan ficou turva. Depois, escureceu, e ele tombou a cabeça no colo de Jacqueline, a menina negra que ele nem conhecia.

–- Porra – ouviu Jacqueline murmurar. Sentiu um pequeno tapa em seu ouvido, mas seus pensamentos e memórias se misturavam, sem deixar espaço para ele se preocupar com aquilo. Viu o rosto de Marcela em sua cabeça. Viu o rosto de Rodrigo e de sua mãe, Patrícia. Viu também fragmentos de clipes e de desenhos, mas tudo não passava de ilusão.

–- I’ll miss the playgrounds and the animals and digging up worms... I’ll miss the comfort of my mother and the weight of the world...

Ethan não sabia de onde vinha a música, mas ela simplesmente entrou em harmonia com todo o resto, e Ethan não fez nenhum esforço para recuperar o autocontrole. Sentia a maconha agindo, sentia dor e queria fazer parar.

–- I'll miss my sister, miss my father, miss my dog and my home... Yeah, I'll miss the boredom and the freedom, and the time spent alone...

* * *

–- Ele já tá mais do que alto – observou Katrina.

–- Deixa ele – Clarisse disse, olhando para o amigo com pena. De todos, era a única que estava com Ethan muito antes da morte de Marcela. Até conversava com Marcela algumas vezes. – Ele só quer esquecer.

–- Esquecer o quê? – Wan perguntou.

–- Você não sabe? A irmã dele morreu.

–- Como?

–- Disseram que foi assassinada por um pai de uma colega, porque... Ah, sei lá porque, mas ele tá sentindo falta dela.

O grupo ficou em silêncio por um momento. Ethan grunhia coisas desconectas, se remexia com a cabeça no colo de Jacqueline, e de vez em quando abria os olhos por um segundo, depois voltava a fechá-los.

–- Jac? – Timothy chamou. Jacqueline olhou feio pra ele.

–- Não me chame de Jac – ela repreendeu.

–- É um apelido legal – comentou Katrina.

–- Então eu vou te chamar de Kat – rebateu Jacqueline.

–- Certo – Katrina concordou. – Eu sou Kat, você é Jac, e tem o Tim vagabundo, a Clar...

–- Noiada -- Timothy sugeriu.

–- Clarnoiada – Katrina sorriu, olhando para Clarisse, que estava comendo a maçã. Depois, olhou para Wandy. – Você é a Wan, e ele... – Katrina olhou pra Ethan. – Ele trepa bem.

O grupo explodiu em risadas novamente. Mesmo que Wandy não entendesse, ela riu também. Clarisse terminou sua maça, cuspindo pedaços pela boca enquanto dava risada. Ela olhou para Ethan, e disse:

–- É... Ethan Escudo de Carvalho.

* * *

–- But there is really nothing, nothing we can do, love must be forgotten, life cana ways up anew...

Ethan ouvia risadas e comentários, mas estava muito lento para assimilar tudo. Sentia vontade de rir e vontade de chorar ao mesmo tempo, mas limitou-se a continuar em sua própria cabeça. Ali dentro tinha Marcela, tinha o Ensino Médio antes dos exames finais, tinha a vida antes do Vestibular. Ele não queria sair.

–- The models will have children, we’ll get a divorce... We’ll find some more models, everything must run it’s course...

http://33.media.tumblr.com/38b485bbff3ed05b47cb03420fc562dc/tumblr_mxvrfb1cKz1rxi9lno1_500.gif


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Notas finais do capítulo

Mó viagem esse capítulo :v



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