Calma, Bia, se controla porque é apenas um garoto, até parece que você nunca viu um na sua frente. Eu tentava dizer a mim mesma. Que droga! Mas que diabos estava havendo comigo? Por que eu estava agindo como uma adolescente boba? Eu não gostava de me sentir vulneravel, não gostava de sentir o coração acelerado por estar perto de um garoto, não mesmo. E me ver nesse estado estava me deixando estressada. Quem esse garoto pensa que é pra me deixar assim? E o pior: Eu nem conheço ele.

Tentei me convencer de que eu estava apenas carente por estar longe do meu pai e uma presença masculina estava me deixando assim. Era só isso. Se recomponha, sua idiota!

– Então, você entrou recentemente para a escola, né? - Tentei puxar assunto para afastar aquelas minhas reações a presença dele.

– Sim! Na verdade eu posso te confessar que estou um pouco assustado com a recepção daqui. Não sei como os veteranos irão reagir. Principalmente comigo que vim do interior. - Ele se perguntou.

"Provavelmente as garotas irão se jogar para você e brigarem entre si." Respondi mentalmente. Não sei porque, mas esse pensamento e trouxe desconforto e me subiu uma raiva. Se controla, porra! Eu não poderia me sentir assim. Iria ligar pro meu pai hoje mesmo para matar a saudades dele, só podia ser isso. Simples! A psicologia com certeza explicaria isso.

– A sorte que já encontrei um novo amigo por alí e o achei super gente boa. É novato também.

Forcei um sorriso.

– Ah! Que legal! É aquele que estava conversando com você perto dos armários? - Nos retiramos dos armários e fomos em direção a coordenação.

– É sim! Seremos colegas de quarto. Você estava observando ? - Ele pergunta curioso e dá um sorriso maroto.

Qual era o problema dele? Ele esperava o que? Que eu fosse cega? É claro que eu notei. Isso não significa que eu estava olhando porque eu estava afim dele e resolvi perder meu tempo observando -o. Tá bom, poderia estar até vendo a beleza dele e tals, mas quem nunca fez isso? Então alguém me explica POR FAVOR por que ele estava se achando? Só poderia estar, olhem para o sorriso dele, sorriso este que era capaz de fazer qualquer garota se perder em pensamentos aleatórios, inclusive eu. Mas comigo as coisas com certeza seriam diferentes.

– É! Eu sou observadora as vezes.

– Bom! E então? As pessoas aqui são legais? - Ele estava tentando ser simpático isso era evidente. Eu não poderia tratá-lo mal só porque eu o estava achando bonito. Isso era uma total falta de maturidade. Tentei me recuperar e dar lugar para a simpatia.

– Vou ser bem sincera com você. Nos primeiros dias aqui nessa escola eu confesso que fiquei muito perdida porque aparentemente todas as pessoas já tem seus próprios grupos e não aceitam muito bem outras novas pessoas neles. Mas com o tempo você vai percebendo que não é bem assim. Que as pessoas te dão lugar para fazer amizade e sem se falar que existem ótimas formas de você interagir com a galera. Existe a piscina, a quadra, o lugar de jogar golfe, existe academia aqui dentro, o jardim. Logo você vai se enturmando com quem tem mais afinidade. - Nossa! Eu falo muito pra caramba!

– Nossa! Acertei em cheio em esbarrar em você. - Fiquei vermelha com a declaração. - Mas e aí? Aqui tem espaço para eu tocar meu violão e cantar?

–Você toca? Que legal! Provavelmente sim! Meu amigo é super fã de músicas e ele canta super bem, provavelmente se vocês forem amigos ele te dirá o lugar que costuma cantar. Ele me disse que não pode me dizer porque é um lugar secreto que só revelaria para quem gosta muito de música e toca, canta ou dança. É o seu esconderijo, onde o acalma. - Falei

– Entendo. É mesmo assim a música para gente. Você tem uma música preferida? - Ele me perguntou

Parei para pensar. Não era o tipo de pessoa que dizia: Nossa! Eu sou fã dessa banda. Na verdade eu sou o tipo de pessoa que adoro musica, mas sou bastante ecletica se tratando desse tipo de coisa. Adorava músicas fofas, romanticas, espanholas, dançantes. Não tinha nem se quer uma música favorita. Talvez tivesse a favorita do momento. Pensei um pouco indecisa e falei.

– Bom, não tenho música favorita, mas ultimamente estou escutando muito no player do meu celular a musica human, da Christina Perri.

– Nossa! É muito linda!

Sorri e parei. Nos olhamos por um bom tempo enquanto nos mantínhamos parados.

– Bom, é aqui! Tchau! - Disse me retirando as pressas.

Eu deveria manter distancia desse garoto.

Coloquei meus fones de ouvido e coloquei bem alto na música blank space, da Taylor Swift. Andei em direção ao meu quarto para ver se encontrava a minha outra amiga que já deveria estar na escola.

.......x.........

Estava no meu quarto, fiquei o tempo inteiro na minha cama escutando música, lendo, escrevendo e desenhando. O sorriso de Felipe me vinha a mente do nada e a cor dos seus olhos me traziam calma. Quanta melosidade! Sorri ao pensar nisso.

A porta do quarto se abre de imediato e dou um pulo da cama. A Suh vinha junto com a Gabi.

– Olá, Bia lindona! - A Gabi doida se jogou na minha cama e me deu um abraço enorme. A Gabi e a Suh são minhas melhores amigas aqui na escola.

– Gabi, que saudadeeees de você! - Eu digo em algo que se parece com um gritinho.

– Ai não, amiga! Esquece tudo o que você tem para me dizer agora porque o que eu vou falar é algo de cair o queixo. - Ela fala afobada. E devo dizer que apesar da Gabi se parecer muito doida, ela não fica afobada por qualquer coisa.

– Ah, então me conta logo porque eu estou curiosa! - Falei

– Só você, Bia? Essa doida não para de falar que a vida dela vai mudar, que agora sim tem a certeza de que é uma nova Gabriela. e blablabla. - A Suh me fala.

– Cala a boca e escutem! Gente, eu finalmente, finalmente, finalmente acho que encontrei o amor da minha vida. Depois de ANOS, dois na verdade, dizendo que não queria mais nada com ninguém porque relacionamentos é perda de tempo eu FINALMENTE e quando eu digo FINALMENTE é FINALMENTE MESMO, encontrei o garoto que eu olhei e disse: É ele! Ai! Ele é lindo e tem um sotaque lindo! - Ela disse quase me batendo.

– SIM,MAS FALA LOGO! - A Suh disse

– Okay! Ele é novato! - Não acredito que minha amiga está apaixonada por um menino! Isso é o marco da história.

– Qual o nome dele? - Perguntei. Por que diabos o meu coração estava apertado e amedrontado? Será que é algum tipo de doença? Estava ficando preocupada.

– Ele se chama Felipe e veio do interior. - Ela falava mas depois disso eu não entendia mais nada porque já não ouvia mais nada. Não será possível que a minha amiga está apaixonada pelo garoto que eu conversei. Eu sei que jurei para mim mesma que não estava sentindo nada por ele, mas não sei porque senti algo estranho depois que a Gabi me revelou aquilo. Eu olhei para ela e não pude deixar de notar que ela estava sorrindo, feliz e pela primeira vez na vida ela estava feliz.

A Gabi não vivia em uma família muito boa e não vivia muito bem depois que seu ex- namorado deu um pé na sua bunda. Ela gostava muito dele e não era para menos, já que ele era a única pessoa que ela tinha ao seu lado. Ela entrou em depressão e se recuperou depois que nos conheceu e desde então jurou nunca mais confiar em homem nenhum e nunca mais se apaixonar por ninguém. A principio fiquei muito preocupada com essa decisão drástica, mas entendo o seu motivo.

Agora vendo a minha melhor amiga feliz pela primeira vez em muito tempo e dizendo que está apaixonada é uma vitória. Mas algo dentro de mim me incomodou. Eu não sei dizer porque.

– Bia, acorda! Terra chamando! - A Suh me chama passando a mao na frente dos meus olhos. - Onde é que essa cabecinha estava ?

Tentei sorrir.

– Por canto nenhum! Acho que estou com saudades da minha irmã e do meu pai. - Isso não era totalmente mentira, mas também não era por onde a minha cabecinha andava. Mas o que eu poderia dizer? Nem eu mesma conseguia entender o motivo da minha mudança repentina de humor. - Então ele é caipira? - Perguntei.

– Ai, bia! Eu sei que parece engraçado, mas ele é fofo. Eu conversei com ele na sala da Eva e o convidei para conhecer o colégio.

– Fico muito feliz por você, Gabi! - Disse tentando soar legal. - Espero que seja recíproco e que dê tudo certo.

Eu não pude falar nada sobre o Felipe para elas, porque a minha melhor amiga estava sendo feliz depois de muito tempo porque tinha se apaixonado por ele. Só não entendi porque eu estava tão nervosa. Esperava que eu não estivesse apaixonada por ele também.

– Mas então? Também está apaixonada? - A Gabi me pergunta. E olho para onde seus olhos estão direcionados. Me deparo com um coração que desenhei e pintei no papel, fiz assim que voltei do " tour " com o Felipe. Será que eu poderia realmente estar balançada? Afastei esse pensamento da minha cabeça. É claro que não! Eu estava muito nostálgica, era isso. Que loucura!

– Saudades da minha irmã! Só isso! Vou voltar para a coordenação e tentar telefonar para ela. - Falei. - Ah! Cuidado! Tem uma doida aqui e vai dividir o quarto conosco.- me retirei.

Eu precisava respirar um ar.

–----x------

Após escutar a voz da minha pequena, resolvi ir para a piscina respirar um ar. Iria dá 18:00 horas e quase não tinha gente na piscina. Umas 4 pessoas no máximo e a maioria lá eram casal.

Coloquei meus inseparáveis fones de ouvido e coloquei no ultimo volume. Deitei na espreguiçadeira perto da beira da piscina, fechei meus olhos e tentei relaxar.

You-ou said hey

What's your name?

It took one look

And now we're not the same

Yeah, you said hey

And since that day

You stole my heart

And you're the one to blame ♪♪♪♪ (Smile- Avril Lavigne)

– oi, o que faz aqui? - Uma pessoa me chama a atenção e eu grito, me levantando com tudo da cadeira e tropeçando nele e consequentemente caindo na água. ótimo, Bia, você tem essas manias mesmo de ser desequilibrada. Olhei para quem tinha caído junto comigo na água e que estava me segurando, acho que tentando impedir de que eu me afunde. Era o Felipe.

– Quem você pensa que é para me derrubar? Você fez de propósito, né? Ai que ódio! - Eu gritei pra ele e tentei me desprender dele até lembrar que eu não sabia nadar.

– Quer que eu te solte? - Ele me perguntou. Quem ele pensa que é? Para me derrubar da cadeira e depois agir como se não tivesse acontecido nada? Nem se quer pode entrar na piscina se não tiver com roupas de banho.

– Não! Me leva primeiro para fora daqui.

Eu venho para cá para tentar raciocinar o que estava havendo com a Gabi e justamente quem eu quero esquecer aparece aqui na minha frente. Essa era a principal razão para que eu tivesse com toda essa raiva.

Fomos para fora da piscina.

– Então? Está de mal humor? - Ele me perguntou

– Não te interessa e se me der licença eu vou me retirar. - Dei as costas para ele e ele me puxou de volta com firmeza me fazendo ficar frente a frente, cara a cara com ele e aquilo estava me machucando.

– Qual o seu problema, garota? Estava me tratando bem alí na coordenação e agora está agindo como aquelas patricinhas idiotas, reclamando de tudo e me tratando como se fosse a ultima pessoa que esperaria me ver. - Ele me olhava de uma maneira que me fez arrepiar de medo.

– Me larga, seu imbecil. E apenas esclarecendo a sua dúvida: Eu não sou uma patricinha frívola. Quem você pensa que é para me agarrar desse jeito? Quem você pensa que é para me segurar até formar marcas no meu braço? - Eu perguntava o encarando. E ao perceber o que ele estava fazendo, me largou.

– Sabe? Eu realmente espero que você não esteja se aproximando da minha amiga para fazê-la sofrer, ouviu? Ela já se machucou muito e não precisa de mais um. Se for para ficar com ela que seja pra valer!

– Do que você está falando? - Ele parecia intrigado.

– Da minha amiga, seu idiota!

Fui embora.

Não me pergunte o porquê de tanta raiva. Aquilo que foi uma magia a primeira vista estava se tornando ódio a segunda vista.

– EI, ESPERA! - Ele gritou ao longe, dei uma olhada para trás disfarçadamente na esperança de que ele não me olhasse. Seria melhor assim!