School of Life escrita por Lola Brachovinsk


Capítulo 1
Capítulo 1




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Início

Beatriz


“Isso começou aos doze anos. Acho que foi antes...Não! Com certeza foi antes. Provavelmente nove ou dez anos, mas só percebi aos doze.”

O ambiente barulhento, as risadas altas, as fofocas sobre a vida alheia e a própria vida. Os detalhes sórdidos.
"Sério que vocês fazem isso com treze anos?" pensava. Eram detalhes que deixariam qualquer homem ou mulher adultos parecendo iniciantes.

Beatriz já tinha dito a primeira vez, mas não tinha sido assim tão extravagante.

Mas todas tinham algo em comum, suas relações foram com homens, inclusive a de Bia.
Nada, nenhuma palavra sobre relações, sejam elas românticas, sexuais ou casuais com mulheres ou garotas.
"No que está pensando, Beatriz? Para de pensar nessas coisas! Óbvio que elas não falaram sobre isso, elas são normais! Você tem que parar com esses pensamentos insanos!".

Estudava em um colégio Técnico, assim o período da manhã era reservado as aulas regulares do ensino médio, enquanto o período da tarde era para os ensinos técnicos

A próxima aula era educação física, ou seja, banheiros cheios, barulhentos e várias garotas seminuas. Beatriz odiava aquilo.

- Ei, Bia! Para de viajar e vamos logo! Temos que ir para a quadra ou o professor vai falar um monte!

- Já estou indo, okay? Só estava pensando em umas coisas.

- Sobre o que?

- Sobre o técnico

Não era que não gostava da Daniele, Beatriz gostava e até mesmo confiava, mas pra Bia, a pessoa tinha o direito de ter um segredo em que ela conte somente para ela mesma sem ser julgada de traíra ou antissocial por isso. Beatriz tinha um segredo que queria contar apenas para ela. Na verdade, ela nem ao menos gostava desse segredo.

- Será que entrou garotos bonitos no primeiro ano?

- Não faço ideia, Dani. O primeiro mês para o pessoal do primeiro ano é agitado. Deveria lembrar.

- Eu sei! Falando em meninos gatinhos, o Carlos do 2° C é um deles.

- Então porque não investe?

- Não dá, já marquei de sair com o Izaque da nossa sala. Ele vai ficar chateado. Porque você não tenta?
- Huuum....

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Fernanda

- Já disse que não!

- Qual é, Fernanda! É perfeito!

- Não, não é! Eu não vou fazer isso, Carlos. É ridículo!

- Porquê ridículo?! Eu sei que você também não quer que descubram que você tá no time dos coloridos!

- Na verdade eu nem ligo se descobrirem. Eu só não fico falando sem nem ao menos me perguntarem.

- Óbvio que não vão perguntar, querida! Os garotos dessa escola inteira arrasta um caminhão pra você. Mas né! Acho que não vai rolar

- Minha resposta ainda é não.

- Olha, se você fingir que me namora, as pessoas nos deixam em paz, não corremos o risco de nos apaixonarmos e ainda não disputaremos namorados. Que tal?
- Não.

- Ah! Meu! Como você é chata! Tem palestra antes do técnico, não esqueça. Vamos.

Sim, era verdade que Fernanda não ligava muito se a descobrissem, mas as vezes achava que estaria melhor assim. Carlos se manteve em silêncio até a cantina.

- Vou comprar algo pra comer. Guarda o meu lugar que eu já estou indo.

- Vai rápido, não vou ficar brigando por assentos.

O auditório ainda não estava cheio, era de se esperar, era apenas as palestras chatas do diretor e dos professores do técnico, apresentações e bla bla bla. Ninguém estava animado. Pra falar a verdade ninguém nunca estava animado. Muitos ali estavam na escola porque ela era uma prestigiada escola pública e aquilo significava status, os pais ficavam orgulhosos em dizer que seus filhos passaram no concorrido vestibulinho e empresas pegavam os alunos antes mesmo de saírem da escola para trabalharem.

Fernanda fazia gestão econômica, para ser sincera, não era o que queria, exatas era um saco e ela demorava o dobro de tempo para fazer contas.

O auditório ia enchendo aos poucos conforme o horário da palestra se aproximava. Carlos ainda não havia chegado. Carlos era amigo de Fernanda desde que chegaram ao colégio, no primeiro ano. Por confiar em Fernanda, contou que era gay. Seis meses mais tarde, foi ela que contou a ele que tinha se descoberto lésbica. Éram cumplices. Faziam piadas e se sentiam aliviados por poderem ter alguém para compartilhar segredos. A primeira vista, Carlos parecia egocêntrico e mesquinho, mas Fernanda sabia que se tivesse em apuros poderia contar com ele.
O horário da palestra já estava chegando e ele ainda não havia chegado. Fernanda estava nas últimas fileiras do auditório quando olhou para frente e viu uma garota de cabelos ondulados e castanho claro, do 2° A, Beatriz, acompanhada de um garoto alto, esbelto, cabelos cuidadosamente descabelados do lado dela, sorrindo.

- Carlos! Seu grande filho de uma pu....

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Beatriz

Já não bastava ter feito todos os exercícios solicitados pelo professor, Beatriz ainda tinha que correr para poder pegar um lugar ao qual não fosse percebida durante a palestra de boas vindas do diretor.

Não sabia por que veteranos tinham que participar dessas palestras e apresentações, quase nada mudava. Dani andava a frente, ela era mais baixa, por isso mais rápida.

Estavam perto da lanchonete quando ouviu uma voz:
- Ei garotas! Estão indo pro auditório? Esperem-me!

Era Carlos, do 2° C, um garoto que chamava atenção por ser alto, mas nem tanto, seu corpo era bem definido e ele tinha um senso de moda melhor que o de muitas garotas que favorecia ainda mais seu peito largo e forte. Tinha olhos cor de mel e cabelos castanhos. O sorriso dele é irritantemente bonito. Bia sentiu Daniela ficar inquieta do seu lado.

- Ah! Oi, Carlos. Estamos sim, fazer o que? Aquilo é obrigatório.

- Nem me fale. Porque os segundo ano e o pessoal do terceiro tem que ir? Poxa! É uma cerimônia de boas vindas! Foi o mesmo bla bla bla de quando entramos. Temos que ouvir isso de novo? Você passou blush, Beatriz?

- Não, estava na aula de educação física.

- Você fica bonita corada.

Beatriz sabia que internamente Dani dizia "Eu falei que vocês podem dar certo". Carlos é um homem que definitivamente Bia ficaria. Não falavam tantas vezes assim, mas as vezes que falaram ele era atencioso e bem compreensivo. Era sensível aos assuntos femininos e isso deixava as meninas ainda mais em polvorosa. Um namorado que te compreendesse, gostasse dos seus passatempos e ainda bonito o bastante para receber elogios das amigas: Quem não quer?

- Ei, Carlos! Porque não senta perto da gente? Vamos tentar escapar no meio, né, Bia?

- Hã...??

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Fernanda

- Você me pede para guardar lugar para você e me dá o cano?

- Eu encontrei as meninas do A e elas pediram para sentar do lado. Fiquei sem jeito de recusar.

- Você saiu no meio da palestra!

- Não se faça de estudante exemplar, Fernanda. Aquelas palestras são um saco e eu sei que você acha o mesmo.

- Mas eu fiquei presa lá. Se tivesse sentado do meu lado eu conseguiria sair também.

Em tom debochado e com um sorriso no rosto, Carlos comentou:

- Eu vi. Parecia que estava se divertindo com aquele garoto do seu lado.

- Não fode! O cara não parava de falar coisas sem nexo tentando se fazer de inteligente. O cara chegou a falar no meu ouvindo, velho! Que nojo!

Carlos riu com vontade. A vontade de Fernanda era de tacar a cadeira nele. Estava em uma sala vazia, era intervalo de almoço.

- Ei, Fernanda, o que você acha da Daniele e da Beatriz do A?

- Porque a pergunta?

- Tenho certeza que elas são afim de mim. Não tenho certeza quanto a Beatriz, mas a Daniele é certeiro.

- Não acredito que você vai ser cachorro o suficiente para dar em cima de uma delas.

- Eu to desesperado, cara. Os meninos já fazem piadas sobre mim!

- Claro! Agora isso é motivo para desiludir garotas se fingindo de apaixonado.

- Não to na intenção de namorar. Apenas de flertar com elas. O bastante para o povo parar de desconfiar.

Conhecia Beatriz e Daniele só de vista e de cumprimentos.

Daniele era uma garota com mais ou menos 1,63 de altura, extrovertida e barulhenta. Os garotos gostavam dela porque parecia sempre estar de bom humor e também acabava com a vergonha de qualquer um com o seu jeito.

Beatriz era o completo oposto. Era mais alta de Daniele, algo em torno de 1.72 de altura, um corpo de uma garota que praticava vôlei, cabelos castanhos claros, olhos castanhos e se vestia de forma completamente discreta. Aliás, parecia que Beatriz sempre evitada chamar a atenção para si.

- Acho que vou flertar com a Bia. Ela parece ser mais calma. Se eu tentar com a Dani, com certeza ela vai partir pra cima e vai me comprometer.

- Isso vai dar merda, cara.

- Se você aceitasse ser minha namorada, eu não precisaria fazer isso e o carinha não estaria falando baboseiras no seu ouvido. O que me diz, Fernanda? Vai ou não vai?

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Beatriz

- Ele te deu mó mole, Bia. Vai deixar passar?

- O que você quer que eu faça? Pule em cima dele e arranque um beijo? Ele só me elogiou, Dani.

- E daí? Elogiar é a desculpa perfeita que você tem para partir pra cima.

- Eu não tenho a coragem que você tem, Dani. Caso você não tenha notado nesse tempo que sou sua amiga, eu sou bem tímida. Odeio pessoas me olhando.

- Você tem que mudar isso. O cara mais gostoso da escola tá te dando mole! Quando que você vai deixar de ser assim?

As palavras dela pegaram fundo em Beatriz. Carlos era a oportunidade perfeita para Bia deixar de ser ela mesma. Inclusive a ela que Beatriz odiava.

- Onde a gente pode encontrar ele?

- Na saída! Bia, não gagueja! Pergunta pra ele se ele já viu o filme que está em cartaz.

O dia passou demorado. Bia estava extremamente nervosa com o fato de ter que convidar o Carlos para sair. Mas para falar a verdade, estava mais nervosa com a possibilidade do Carlos ser seu passaporte para uma vida normal.

Na saída da escola, Dani estava ao seu lado, igualmente nervosa. Quando avistamos Carlos na porta da escola, Daniele arrastou Beatriz com pressa ao encontro dele.

- Ei, Carlos! Tudo bem?

Dani empurrou para frente, mas antes sussurrou no seu ouvindo um "vai!"

Bia se recuperou do empurrão que quase a derrubou. Encarou o garoto alto, que no pôr-do-sol tinha uma aparência mais exuberante ainda:

- Carlos, já viu o filme que está em cartaz?

- Ah, não vi, não. Mas estava querendo

- Eu vou ao cinema sábado. Tá a fim de ir?

- Ah, claro! Por mim sem problemas! Mas eu preciso ver primeiro com a...Ei, amor! A Dani e a Bia vão ao cinema sábado. Vamos?

- Hã...?

Olhei para o lado, uma garota alta, de cabelos compridos e com pontas cacheada, olhos incrivelmente verdes vinha em nossa direção me encarando firmemente. Senti a Dani congelada atrás de mim

- Fê, amor! Vamos ao cinema com a Bia e com a Dani no sábado?

“Ah, cara! Eu tô muito ferrada!”





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