Meu Amigo Juriscleison escrita por Inuitachi


Capítulo 1
Chegada ao circo


Notas iniciais do capítulo

Olá, caro leitor. Seja bem-vindo ao primeiro capítulo dessa história que deveria ser uma comédia, mas vai se tornando uma bizarrice sem tamanho. Espero que se divirta com o José, ele é um cara muito interessante. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603693/chapter/1

 

 Nada pior que o primeiro dia de aula, minhas férias foram as melhores possíveis, passava o dia jogando no meu Play 2  (melhor que aquele lixo de xbox) e fazendo vídeos de jogos pro meu canal no Youtube, onde eu já tenho 37 inscritos e mais de 500 visualizações!!! Agora não vou ter mais essa mordomia toda de passar o dia jogando pedra na lua, tenho que acordar cedo pra vir pra essa merda de escola onde não conheço ninguém, mas aposto que são todos um bando de babacas (uso essa expressão pra não dizer que são tudo puta e viado). Aposto que vão tirar onda da minha cara de novo, só porque já tenho mais de 15 anos e minhas tetinhas da infância ainda não sumiram. Ou que vão me chamar de ‘‘Zé Suvaqueira’’ só porque tenho um pouco de essência masculina carregada nas axilas, o que posso fazer né? esse é o símbolo másculo que carrego desde que começou a criar pentelho no meu sovaco. Só espero que não me chamem de cara de barroca. Mesmo tentando, nunca consegui me defender desses imundos, sempre eu sou o alvo das brincadeiras nojentas. Oh Deus, porque eu?

               Pelo menos eu tenho em mente uma coisa, não vou ser que nem essas menininhas que se cortam – até porque eu não sou menina, sou muito macho -, e que não sabem nada da vida. Me pergunto porque o vovô teve que morar tão longe da escola, como conheço esse velho mão de vaca sei que ele não vai me dar dinheiro nenhum dia pra eu poder pegar o ônibus, o lado bom é que com minhas caminhadas diárias até o colégio talvez eu perca um pouco da minha barriga, já perdi 15kg ano passado, esse ano quero perder o restante do bucho, pelo menos isso vai me ajudar.

               Me sentia cansado de tanto caminhar e nunca chegar, sai às 6h15 de casa e já eram quase 7h20 em meu relógio. Sentei em um banco numa parada de ônibus e descansei um pouco, suava muito e comecei a sentir um fedor de sebo com limão. Olhei do meu lado e vinha uma moça com uma menininha e logo sentaram no banco, a moça tapou o nariz disfarçadamente e olhou pra mim. Eu já havia entendido o porquê.

 – Co-com licença, - comecei a gaguejar. A menininha arregalou os olhos e se escondeu nas roupas da mãe – a senhora sabe onde fica o colégio Ob-obe... – eu não conseguia falar de tão nervoso.

— Objetivo? – a moça disse com ternura. Acho que esses termos são meio florzinha...

— Si-simm – porra, porquê eu tava tão nervoso?

— Ele fica naquela direção! – ela apontou na direção contrária em que eu estava caminhando. – você está bem atrasado, são uns vinte minutos de ônibus...

— Oh não! – me levantei rapidamente – não vou chegar a tempo!

— Eu sou professora do colégio. Moro bem perto desse ponto de ônibus, estou esperando meu marido voltar pra me deixar lá – ela sorriu pra mim – espere também, ele já deve estar chegando – disse ela segurando minha mão.

— Er... – eu fiquei todo vermelho – não vai ser nenhum incomodo?

— Mas é claro que não, querido. Como se chama? – ela era um doce, eu estava todo nervoso. E o meu cheiro de sebo só aumentava.

— Me chamo José Rego Silveira Fausto – disse rapidamente, não me dando conta da vergonha que estava passando.

— Muito bem José Rego Silveira Fausto, sou a professora de Inglês e Matemática, Rúbia Santos Macapá Maracujá – disse ela rindo. Comecei a rir também, rir de nervoso, não sabia se ela tava me zoando ou não só o meu nome era zoado – Essa é minha filha, Alice. Ela não gosta muito de pessoas estranhas – a professora era muito simpática, me ofereceu a mão para que eu pudesse cumprimenta-la, mas sua filha deu um tapa na minha.

Solta a mão — disse a menina. Eu dei um sorriso sem graça, e achei melhor não ficar de gracinha, ela parecia mais o capeta.

      Parou a nossa frente uma picape de cor vermelha. Era o Marido da professora, ela me convidou pra entrar e eu conheci o cara, era bem grande e bombado, meio índio e meio amarelo, me dava medo só de olhar.  O carro era bem confortável, a pequena Alice foi ao meu lado e por um instante peguei ela fazendo careta pra mim, talvez eu tivesse pesadelos com isso. Fomos o caminho todo conversando sobre o futuro, Rúbia me perguntou o que eu queria ser e fiquei com vergonha de dizer que queria ser um vlogger famoso, então disse que meu sonho era ser astronauta. Começaram a rir, não sei se estavam me zoando, fico imaginando se eu tivesse dito a verdade. Pelo espelho vi a cara do homem, ele parecia que queria me comer na janta, credo. Chegamos ao colégio e agradeci pela carona, pedi ajuda de Rúbia, ela me mostrou tudo e me explicou onde eu ficaria. Finalmente cheguei a minha sala, depois de ficar perdido novamente pelo colégio, que mais parecia um labirinto.

     Bati na porta.

— Entra logo mané – disse alguém la do fundo. Olhei ao redor da sala, muitos rostos estranhos, muitas meninas lindas, eu estava meio perdido.

— Entra meu filho – disse a senhora que estava sentada na mesa maior, provavelmente a professora.  Ela era bem idosa – vou dar mais cinco minutos para os atrasadinhos e logo começaremos. Você pode sentar naquela carteira vazia, ao lado daquela moça de tranças na terceira fileira  – Disse ela, apontando pra mim e depois pra carteira.

             Olhei logo para a menina de tranças, ela estava olhando para seu caderno e escrevendo alguma coisa. Caminhei até lá e sentei ao seu lado. Percebi que a maioria da sala era composta por meninas, era dividida em duplas, cinco fileiras verticais e oito horizontais...

— Ô seu otário, – alguém jogou uma bola de papel na minha cabeça – você tem problema mental? Fica contando as pessoa – uma garota do fundo estava falando. Olhei pra trás pra poder ver seu rosto.

— Mais um rockeiro pra se juntar a turminha – disse um garoto que estava ao seu lado. Como essa primeira semana não precisava usar a farda, fui com minha camiseta do Maiden.

  Olhei do outro lado, onde ele apontava uma turma de rockeiros com fone no ouvido e falando alto, quase gritando.

— Eu sou headbanger seu otário – sussurrei. Vi que esse ano ia ser uma bosta total.

 A garota que estava ao meu lado levantou o olhar e logo depois olhou para o garoto que falava.

— Por que você não cuida da sua vida Jorge? – perguntou indignada.

— Vai fazer seus desenhos de bailarina, ô Karina – disse o cara de nome Jorge.

   A garota que estava a meu lado levantou e puxou uma navalha do bolso. Ela usava umas correntes no cinto.

— Por que você não vai sentar num pau de bananeira? Seu otário – disse com muita raiva.

— Você vai fazer o que com essa Gilette? A barba? – todos começaram a rir

— Vou cortar essa pelinha que você chama de pinto – disse, mordendo os lábios com sarcasmo .

— Como assim gata? Você sabe que ele é bem grande e pelu...

 Puxei a tal de Karina pelo ombro com toda a força que eu tinha. Não queria que fosse formada uma briga desnecessária logo no primeiro dia de aula, ainda mais por minha causa.

— Você não precisa fazer isso, vem. – A professora pareceu nem perceber o ocorrido. Andei com a garota até a cadeira e a fiz sentar – Você tá bem? – perguntei. Ela suava no rosto, estava pálida.

— Você não tinha que se meter – disse ela.

— Você parece ser bem inteligente, não precisa se desmerecer dessa maneira.

— Eu estava tentando te ajudar, seu idiota! – ficou brabinha – lixo fedido— sussurrou.

 

        Depois do ocorrido pude me sentar, a tal Karina virou-se para o outro lado e não olhou pra mim a aula toda. Tantas coisas já aconteceram na minha vida que isso já não significava nada. Descobri que a professora idosa se chamava Waltinsete, que porra de nome é Waltinsete? Depois de saber disso eu me perguntava se era mesmo uma mulher, o que denunciava eram suas tetas enormes. Tetas.

      Acabada a aula da professora idosa de nome estranho, chega um homem – provavelmente outro professor –, apresentou-se como Louis Amarante, dava aulas de Língua Portuguesa e tinha um sotaque esquisito. Fez várias perguntas sobre a vida e o futuro dos alunos, porque é só isso que os professores de ensino médio falam. Tudo que ele dizia me dava sono...

— Hei você! – o professor apontava pra mim.

— Sim? – seja lá o que ele me perguntasse tava de boa.

— Me fale algo sobre macarrão...

— Seu cabelo parece um Nissim Miojo— o cabelo dele era muito feio, parecia uma palha de tão amarelo e seco.

— Repita o que você disse, seu bosta! – me assustei com o palavreado do professor, mas não deixei barato.

— Como sabe? Eu cago muito mesmo, de dia e de noite, aliás, quero cagar agora mesmo! – todos me aplaudiram de pé, alguns até choraram de emoção...  – Sou o rei, e meu trono me aguarda!

 De repente todos abriam passagem pra mim.

— Mas que fedor de bosta é esse? – perguntou alguém.

      Abri os olhos devagar... Todos estavam correndo para fora da sala de aula, eu me perguntava que droga de sonho era esse... Olhei ao meu lado, estava a garota violenta olhando pra mim.

— O que aconteceu? – perguntei.

— Yago cagou no corredor, de novo – disse Karina.

— O que? Como assim? – Ela suspirou e revirou os olhos.

— Tem um garoto aqui na escola que se chama Yago, e ele sempre faz cocô no corredor da escola, e aí todos saem pra olhar. Olha ao seu redor. Não tem ninguém aqui além de mim e a Víviam. – ela olhou para os lados me mostrando a sala vazia.

   Olhei nos olhos de Karina pra ver se encontrava alguma mentira.

— Pe-peraí, cê tá me dizendo que...

— Sim, e antes que pergunte, ele tá no seu juízo perfeito, – ela pensou um pouco – ou não. Acontece que a religião dele prega isso – Comecei a rir, isso só podia ser brincadeira – Se não acredita então vai lá olhar, é bem bizarro.

      Antes que ela dissesse outra coisa me levantei e segui pelo corredor, havia uma multidão. As vantagens de ter o tamanho de um poste é que eu só precisei ficar na ponta dos pés pra poder ver o tal garoto... Muitas pessoas tiravam fotos e riam dele. Era bem difícil de acreditar no que os meus olhos viam, o garoto se encontrava numa posição que parecia meditar, só que suas pernas agachadas prontas pra passar o Fax. Estava no centro do corredor 5, de olhos fechados e parecia bem concentrado, estava sem roupas e apenas uma frauda cobria suas partes masculinas. O mau cheiro se sentia de bem longe, era muito bizarro mesmo.

— Muito bem, muito bem... – falava um homem de terno – vocês se importam de voltar às aulas ou eu vou ter que deixar o colégio inteiro de suspensão?

       Todos começavam a correr de volta para suas salas, eu não conseguia me mexer diante daquele povo todo, saíram em disparada e cada vez mais eu era empurrado e não sabia onde estava, o chão escorregava e logo senti que estava sendo puxado para trás, depois um empurrão muito forte que me fez dar de cara com o tal Yago. Enquanto ele tirava suas fraudas e colocava no centro de um desenho estranho em giz, eu ia caindo de cara naquela bagaça. Sim, isso mesmo.

      Senti um clarão em minha visão, depois senti um cheiro delicioso de massa estragada, bosta humana e de Bom Ar dentro de banheiro após uma cagada.

— Você é retardado? Como isso aconteceu? – disse uma voz familiar. Eu só conseguia ver água vindo na minha cara. Era Karina

— O que aconteceu? – perguntei depois que ela passou a molhar meu pescoço com um jato de mangueira.

— Você caiu numa seita maluca de merda! Eu já vi muitas coisas bizarras nesse colégio, mas isso nunca. Idiota, retardado – enquanto eu ouvia Karina reclamar comecei a lembrar do ocorrido, será que aquilo foi um sonho?

— Por que está aqui?

— Porque eu adoro limpar a cara de pessoas idiotas que caem de cara em merda que nem você! –gritava – Não sei seu idiota, só agradece caralho!

— Valeu! – ela resmungava algo como ‘‘Valeu... valeu?’’ – Obrigado por fazer isso, nunca alguém faria isso por mim – eu disse sorrindo.

— Não faz essa cara pra mim seu idiota, só to retribuindo o ‘‘favor’’ – ela fez aspas com a mão – que você fez pra mim.

— Mesmo assim, eu agradeço.

— Tá, tá, tá! – Comecei a rir, ela parecia o Professor Girafales depois da droga. Tava crescendo até um bigode em seu rosto – O que tá olhando? Eu mereço mesmo – resmungou. Pegou um pano e passou no meu rosto  – O fedor não saiu cem por cento, mas melhorou bastante. É melhor voltarmos pra aula  

acenei com a cabeça

 – E quando chegarmos finja que nada aconteceu se alguém falar alguma coisa, entendeu? – acenei novamente.

     Chegamos até a porta da sala e ela me advertiu sobre não falar nada. A sala estava em silêncio total, achei estranho, alguém sorria disfarçadamente. Nenhum professor estava sentado na mesa.

      Fomos até nossos lugares e nos sentamos. Olhei para as pessoas do fundo, para as pessoas da frente... Nada, silêncio total. Alguns começaram a conversar e puxar assunto, quase se normalizaram, ainda havia algo estranho. Olhei para o cara que tinha arrumado briga assim que cheguei, ele me olhou desconfiado, depois olhou para a garota que estava do lado e em seguida lançou algo em minha direção...

— AGORA GALERA! – Arregalei meus olhos, olhei pra Karina e ela fez o mesmo.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

      Fechei meus olhos e só sentia o mau cheiro horrível. Bolas de papel, melancia, suco vermelho, ovo podre... quando abri meus olhos eu vi fraudas, fraudas! E não estavam vazias, onde caralh... Eu era atingido de todas as maneiras, a coitada da Karina também, ela pegou meu braço com bastante força.

— Vem logo Zé porcaria! Vai ficar aqui sendo idiota de novo? – ela corria e me puxava enquanto todos nos atingiam com muitas porqueiras.

       Nós corríamos pelo corredor e eu ouvia risadas e batidas de mesa, encontramos o professor cabelo de palha e Karina não parou quando o viu, eu não enxergava nada além de vultos, quando paramos percebi que estava do lado de fora do colégio.

— Karina, como assim? A gente tem que voltar pra dentro!

— E fazer o que, contar pro diretor? Você é muito-

— Idiota.

— Aprendeu rápido! – ela respirou um pouco – olha aqui garoto, olha pra gente! No nosso colégio tem um menino que faz ritual com merda, você acha que o diretor vai ligar pra gente? Temos que ir embora, eu não vou aguentar mais isso tudo. A gente ta coberto de porcaria! Olha pra mim e olha pra você, eu mal consigo ver seus olhos. – olhei todo o meu corpo. Karina falava coisas como ‘‘que nojo’’ , ‘‘porcaria’’, ‘‘puta merda’’

— Como vamos nos limpar? – ela olhou pra mim, pareceu pensar um pouco.

— Vamo tomar banho no lago, é bem perto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até a próxima semana!
*O 2º capítulo será adicionado a partir do 1º comentário :)