Flawless escrita por wendy


Capítulo 38
37. De qualquer forma, pulseiras de amarrar estão tão fora de moda




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Emily colocou o cabelo atrás das orelhas e olhou para Jenna. Os óculos de sol que ela usava iam do osso da bochecha até acima da sobrancelha, mas Emily ainda pôde ver algumas cicatrizes ro-sadas e enrugadas — cicatrizes de queimadura — na testa dela.

Ela pensou naquela noite. Em como a casa de Ali cheirava a velas de menta. No jeito como a boca de Ali tinha gosto de batata frita sabor sal e vinagre. Em como seus pés roçavam nas reentrâncias do piso de madeira da sala de jantar dos DiLaurentis, quando estava parada em frente à janela, vendo Ali correr pelo gramado da casa dos Cavanaugh. O barulho dos fogos de artifício, dos paramédicos subindo a escada da casa da árvore, em como a boca da Jenna parecia um retângulo de tanto que ela chorava.

Jenna entregou a ela o pedaço de papel sujo e amassado.

— Eles acharam isto com ele — disse ela, sua voz falhando na palavra ele. — Ele escreveu para todas nós. Sua parte está em algum lugar pelo meio.

O papel era a lista do leilão da Foxy; Toby tinha rabiscado algo atrás.Ver como as palavras do Toby não estavam sobre as linhas, que ele quase não tinha usado nenhuma letra maiúscula e que tinha assinado o bilhete como Toby, com um garrancho de letra cursiva, fez Emily se contorcer por dentro. Embora ela nunca tivesse visto a letra de Toby antes, isso parecia trazê-lo de volta à vida ao lado dela. Ela podia sentir o cheiro do sabonete que ele usava, sentir sua mão enorme segurando a dela, pequenina. Naquela manhã, ela tinha acordado não no balanço da varanda, mas na sua cama. A campainha estava tocando. Ela desabalou escada abaixo, e havia um cara vestindo calção de ciclista e um capacete, esperando na porta.

— Posso usar seu telefone? — perguntou ele. — É uma emergência.

Emily o encarou, zonza, ainda não tinha acordado. Carolyn apareceu atrás dela, e o ciclista começou a se explicar.

— Eu estava pedalando pelo seu bosque e achei um garoto. Primeiro eu achei que ele estava dormindo, mas...

Ele parou, e os olhos de Carolyn se arregalaram. Ela correu para dentro para pegar seu celular. Enquanto isso, Emily ficou parada na varanda, tentando entender o que estava acontecendo. Ela pensou em Toby na sua varanda na noite anterior. Em como ele tinha batido violentamente na porta de vidro corrediça, depois corrido para o bosque.

Ela olhou para o ciclista.

— Esse garoto do bosque, ele estava tentando machucar você? — sussurrou ela, seu coração disparado. Era horrível que Toby tivesse acampado lá fora, no bosque, a noite toda. E se ele tivesse voltado para a varanda depois de Emily ter caído no sono?

O ciclista segurou o capacete junto ao peito. Ele parecia ter mais ou menos a mesma idade do pai da Emily, com olhos verdes e barba grisalha.

— Não — disse ele, gentilmente. — Ele estava... azul. E agora, aquilo: a carta. Um bilhete suicida.

Toby parecia tão atormentado, correndo para o bosque. Teria ele tomado os comprimidos lá mesmo? Será que Emily poderia tê-lo impedido? E Hanna estaria certa? Toby não era o assassino de Ali?

O mundo começou a rodar. Ela sentiu a mão de alguém pesar no meio de suas costas.

— Ei — sussurrou Spencer. — Está tudo bem.

Emily se endireitou e olhou para a carta. As amigas se debruçaram também. Lá, bem no meio, estava o nome dela.

Emily, três anos atrás, prometi a Alison DiLaurentis que guardaria o segredo dela, se ela guardasse o meu. Ela jurou que o segredo nunca vazaria, mas acho que vazou. Eu tentei lidar com isso — e esquecer — e, quando nos tor- namos amigos, achei que eu poderia... pensei que eu mu- daria — e que minha vida tinha mudado. Mas acho que nunca podemos mudar o que somos. O que eu fiz com Jenna foi o maior erro que já cometi. Eu era jovem, con- fuso e burro, e nunca quis machucá-la. E não posso mais viver com isso. Já chega para mim.

Emily dobrou o bilhete novamente, o papel estalando em suas mãos. Aquilo não fazia sentido — eram elas que tinham machucado Jenna, não Toby — do que ele estava falando? Ela devolveu a carta para Jenna.

— Obrigada.

— De nada.

Quando Jenna se virou para ir embora, Emily limpou a garganta.

— Espere — grunhiu ela. —Jenna.

Jenna parou. Emily engoliu em seco. Tudo o que Spencer tinha acabado de contar a ela, que Toby sabia e que Ali mentira, tudo que Toby dissera na noite anterior, toda a culpa que ela tinha carregado por tantos anos... tudo isso extravasou.

— Jenna, eu preciso me desculpar com você. Nós éramos... nós costumávamos ser tão más. As coisas que fizemos... os apelidos, não era engraçado.

Hanna deu um passo à frente.

— Ela está totalmente certa. Não era engraçado mesmo. —Emily não via Hanna com uma expressão torturada havia muito tempo. — E você não merecia isso — adicionou.

Jenna tocou na cabeça do cachorro.

— Está tudo bem — disse ela. — Eu já superei isso.

Emily suspirou.

— Mas não está tudo bem. Não está tudo bem mesmo. Eu... eu nunca soube como... como uma pessoa se sente... quando tiram sarro porque ela é diferente. Mas agora eu sei. — Ela contraiu os músculos dos ombros, na esperança de que isso a impedisse de chorar. Parte dela queria contar para todo mundo o que a estava atormentando. Mas ela se segurou. Não era o mo-mento certo. Havia mais coisas que queria dizer, também, mas como ela conseguiria? — E eu sinto muito pelo seu acidente, também. Eu nunca cheguei a dizer isso para você. Ela queria acrescentar: me desculpe pelo que nós acidentalmente fizemos, mas estava com muito medo.

O queixo de Jenna tremeu.

— Não foi culpa sua. E, de qualquer forma, não foi a pior coisa que me aconteceu. — Ela puxou a coleira do cachorro e andou de volta para a frente do jardim.

As meninas ficaram quietas até que Jenna não pudesse mais ouvi-las.

— O que poderia ser pior do que ficar cega? — sussurrou Aria.

— Teve uma coisa pior — interrompeu Spencer. — O que a Ali sabia...

Spencer ostentava aquele olhar de novo — como se tivesse um monte de coisas para falar, mas preferisse ficar calada.

Ela suspirou.

—Toby costumava... tocar... Jenna — sussurrou ela. — Era isso que ele estava fazendo na noite do acidente. É por isso que a Ali mirou os fogos de artifício por engano na casa da árvore.

"Quando Ali chegou à casa da árvore do Toby", continuou Spencer, "ela o viu na janela e acendeu os fogos de artifício. E aí... ela viu que a Jenna estava lá, também. Tinha alguma coisa esquisita na expressão da Jenna, e sua blusa estava desabotoada. Então, Ali viu Toby subir em cima dela e colocar a mão no seu pescoço. Ele moveu a outra mão para debaixo da blusa da Jenna e por cima do sutiã. Ele puxou a alça do ombro dela. Jenna parecia apavorada.

"Ali disse que ficou tão chocada que desencaixou os fogos de artifício. A chama subiu rápido pelo pavio e soltou o foguete. Então, houve um clarão confuso e brilhante.Vidros espatifaram. Alguém gritou... e a Ali correu.

"Quando Toby veio até nós e contou a Ali que a tinha visto, Ali disse ao Toby que ela o tinha visto... fazendo aquilo Jenna", falou Spencer. "O único jeito de ela não contar aos pais do Toby, era ele assumir que tinha acendido os fogos de artifício. E Toby concordou." Ela suspirou. "Ali me fez prometer que não contaria sobre o que o Toby tinha feito, junto com todo o resto."

—Jesus — sussurrou Aria. — Então, Jenna deve ter ficado feliz quando Toby foi mandado para outro lugar.

Emily não fazia ideia de como reagir. Ela se virou para olhar para Jenna, parada do outro lado do jardim com a mãe, falando com um repórter. Como será que ela se sentia, com o meio-irmão fazendo aquilo com ela? Havia sido ruim o bastante quando Ben veio pra cima dela — e se ela tivesse que morar com ele? E se ele fosse parte da família dela?

Isso a dilacerou por dentro, também. Fazer isso à própria meia-irmã era horrível, mas também era... patético. É claro que Toby estava querendo deixar isso para trás, para seguir com a vida dele. E ele estava conseguindo... até Emily assustá-lo, fazendo-o pensar que tudo estava voltando à tona para assombrá-la.

Ela ficou horrorizada, cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo várias vezes, engolindo em seco. Eu acabei com a vida do Toby, pensou. Eu o matei.

As amigas a deixaram chorar um pouco — todas elas estavam chorando, também. Quando as lágrimas de Emily secaram, ela ficou reduzida a soluços convulsivos e olhou para cima.

— Eu não consigo acreditar nisso.

— Eu acredito — disse Hanna. — Ali só se importava consigo mesma. Ela era a rainha da manipulação.

Emily olhou para ela, surpresa. Hanna deu de ombros.

— Meu segredo do sétimo ano? O que só Ali sabia? Ela me torturou com ele. Toda vez que eu não concordava com alguma coisa que ela queria que eu fizesse, Ali ameaçava contar para todas vocês. E para todo mundo.

— Ela fez isso com você também? — Aria parecia surpresa. —Houve vezes em que ela disse coisas sobre o meu segredo que o tornavam tão... óbvio. — Ela baixou os olhos. — Antes de o Toby... tomar os comprimidos, ele falou sobre esse segredo comigo. O segredo que Ali sabia, e aquele com o qual A, Toby, estava me ameaçando.

Todas elas prestaram atenção.

— Que seria...? — perguntou Hanna.

— Eram... só uns lances de família. — Os lábios de Aria tremeram. — Eu não quero falar sobre isso agora.

Todas ficaram em silêncio por um tempo, pensando. Emily olhou para os pássaros pulando para dentro e para fora do comedouro que o pai instalara no quintal.

— Faz o maior sentido que Toby seja A — sussurrou Hanna. — Ele não matou Ali, mas ainda queria vingança.

Spencer deu ombros.

— Eu espero que você esteja certa.

Tudo estava claro e calmo novamente na casa da Emily. Seus pais ainda não estavam em casa, mas Carolyn tinha acabado de fazer pipoca de micro-ondas, e toda a casa estava impregnada com aquele cheirinho característico. Para Emily, pipoca de micro-ondas tinha um cheiro muito melhor do que o gosto, e, apesar de sua falta de apetite, o estômago roncou. Ela pensou, Toby jamais sentirá cheiro de pipoca de micro-ondas de novo.

Nem Ali.

Ela olhou para o jardim da janela do seu quarto. Há algumas horas, Toby estivera parado ali, implorando para Emily não contar para os policiais. E pensar que o que ele queria dizer era: por favor, não conte a eles o que eu fiz com a Jenna.

Emily pensou em Ali de novo. Como Ali havia mentido para elas sobre tudo.

O mais engraçado e triste de tudo isso era que Emily tinha certeza de ter começado a amar Ali na noite do acidente de Jenna, depois que as ambulâncias foram embora e Ali voltou para dentro de casa. Ali estava tão calma e protetora, tão segura e maravilhosa. Emily estava desesperada, mas Ali estava lá para fazê-la se sentir melhor.

— Está tudo bem — sussurrara Ali para ela, coçando suas costas, seus dedos fazendo grandes e vagarosos círculos. — Eu juro. Tudo vai ficar bem. Você tem que acreditar em mim.

— Mas como pode estar tudo bem? — Emily soluçou. — Como você sabe?

— Porque eu sei.

Então, Ali pegou Emily e a deitou no sofá, arrumando a cabeça dela em seu colo. As mãos de Ali começaram calmamente a fazer cafuné. Pareceu imensamente bom. Tão bom que Emily se esqueceu de onde estava, ou do quão assustada se sentia. Em vez disso, ela estava... nas nuvens.

Os movimentos da Ali ficaram cada vez mais lentos, e Emily caiu no sono. Emily nunca esqueceria do que aconteceu depois. Ali se curvou e beijou a bochecha de Emily. Emily ficou estática, apesar de ter acordado com o gesto. Ali fez de novo. Estava tão gostoso. Ela voltou a se sentar e começou a fazer cafuné em Emily de novo. O coração de Emily bateu loucamente. A parte racional do cérebro de Emily afastou essa lembrança de sua mente, achando que Ali tinha feito isso para consolá-la. Mas sua parte emocional deixara o sentimento florescer como as pequenas cápsulas que seus pais colocavam em suas meias natalinas que aumentavam lentamente, fazendo a espuma tomar forma quando mergulhada em água quente. Foi como o amor de Emily por Ali, que tomou conta de tudo e que, sem aquela noite, talvez nunca tivesse acontecido.

Emily sentou-se na cama olhando distraidamente pela janela. Ela se sentia vazia, como se alguém tivesse tirado tudo de dentro dela, como quem limpa uma abóbora de Halloween. O quarto estava muito quieto; o único som era o das pás do ventilador de teto girando. Emily abriu a gaveta superior de sua mesinha de cabeceira e achou um par de tesouras velhas para canhoto. Ela posicionou as lâminas entre os fios da pulseira que Ali fizera para ela havia tantos anos e, com um rápido movimento, cortou-os. Ela não queria muito jogar a pulseira fora, mas também não queria deixá-la no chão, onde pudesse vê-la. No final, empurrou-a bem para debaixo da cama com a beirada do pé.

— Ali — suspirou ela. As lágrimas rolavam pelo seu rosto. —Por quê?

Um barulho do outro lado da sala a assustou. Emily tinha pendurado a bolsa rosa que Jenna trouxera de volta na maçaneta da porta do seu quarto. Ela podia ver seu telefone piscando, através do tecido fino. Lentamente, levantou-se e pegou a bolsa. Na hora em que conseguiu pegar o telefone lá dentro, já tinha parado de tocar.

Estava escrito no pequeno Nokia: NOVA MENSAGEM DE TEXTO. Emily sentiu o coração acelerar.

Pobrezinha da Emily, tão confusa. Eu aposto que você pre- cisaria de um longo e caloroso abraço de menina agora, hein? Não fique muito à vontade. Não está tudo acabado até que eu diga que está. —A


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