Flawless escrita por wendy


Capítulo 31
30. As plantações de milho são os lugares mais assustadores de Rosewood




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Emily tinha se enfiado num quartinho, no fundo do terraço do Kingman Hall, e estava calada, observando todos os fumantes da Foxy. As garotas nos vestidos claros bufantes; os garotos em seus ternos elegantes. Mas quem ela estava observando com mais atenção? Ela não estava certa. Cerrou os olhos com força, então, os abriu bem rápido, e a primeira pessoa que notou foi Tara Kelley, uma aluna do último ano de Rosewood Day. Ela tinha cabelos ruivos, brilhantes, e uma linda pele clara. Emily rangeu os dentes e fechou os olhos novamente. Quando os abriu, viu Ori Case, o jogador de futebol gostosão. Um cara. Lá.

Mas, então, não pode deixar de notar os braços finos, parecidos com os de uma girafa, de Rachel Firestein. Chloe Davis fez uma cara sexy e insinuante para seu namorado, o Chad Fulano-de-tal, que fez sua boca ficar linda. Elle Carmichael fez um beicinho tão bonito quanto. Emily sentiu o cheiro do perfume de Michael Kors — ela nunca tinha sentido nada tão delicioso em sua vida. Com exceção de chiclete de banana.

Não podia ser verdade. Não podia.

— O que você está fazendo?

Toby estava parado, olhando para ela.

— Eu... — gaguejou Emily.

— Eu estava procurando por você em todos os cantos.Você está bem?

Emily ponderou: estava se escondendo num cantinho de um terraço gelado, usando sua pashmina como uma capa de invisibilidade, e fazendo um perigoso jogo de esconde-esconde para testar se gostava de meninos ou meninas. Ela olhou para Toby. Queria explicar o que lhe acontecera. Com Ben, com Maya, com a cartomante — tudo.

—Você vai me odiar pelo que eu vou te pedir, mas... você se importa se formos embora?

Toby sorriu.

— Eu estava com esperança que você pedisse isso. — Ele puxou Emily pelos pulsos. No caminho para a saída, Emily notou Spencer Hastings parada na beira da pista de dança. Spencer estava de costas para Emily, que pensou em ir até ela e dizer oi. Então, Toby puxou sua mão, e ela decidiu não ir. Spencer poderia perguntar alguma coisa sobre A, e ela não estava a fim de falar nada sobre esse assunto naquele momento.

Quando o carro deixou o estacionamento, Emily abaixou o vidro da janela. A noite cheirava deliciosamente. A lua estava enorme e cheia, e algumas nuvens começavam a chegar. Estava tão quieto lá fora, Emily podia ouvir os pneus do carro rolando no asfalto.

—Você está bem? — perguntou Toby.

Emily deu um pulinho.

— Sim, estou bem. — Ela deu uma olhada em Toby. Ele disse que ia comprar um terno novo para a festa e ela o estava fazendo ir para casa três horas mais cedo.

— Desculpe, a noite foi uma porcaria.

— Não tem problema — balbuciou Toby.

Emily virou a pequena caixa da Tiffany que estava no seu colo. Ela pegou uma da mesa, antes de sair da tenda, pensando que também podia ter uma lembrancinha da festa.

— Então, tem certeza de que não aconteceu nada? — perguntou Toby. —Você está tão quieta.

Emily assoprou. Ela viu passarem três plantações de milho antes de responder.

— Uma cartomante veio falar comigo.

Toby franziu as sobrancelhas, sem entender nada.

— Ela só disse que alguma coisa ia me acontecer esta noite. Algo que ia mudar minha vida. — Emily tentou simular uma risada. Toby abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo a fechou.

— Acontece que acabou se tornando verdade — continuou Emily. — Eu esbarrei naquele cara, o Ben. Aquele que estava no corredor da Tank, que estava... você sabe. De qualquer forma, ele tentou... eu não sei. Acho que ele tentou me machucar.

— O quê?

— Não tem problema. Eu estou bem. Ele só... — O queixo de Emily tremeu. — Eu não sei. Talvez eu tenha merecido.

— Por quê? —Toby cerrou os dentes. — O que você fez?

Emily segurou no laço branco da lembrancinha. Gotas de chuva começaram a cair no para-brisa. Ela tomou fôlego. Ia mesmo dizer aquilo em voz alta?

— Ben e eu éramos namorados. Quando ainda estávamos juntos, ele me pegou beijando outra pessoa. Uma garota. Ele me chamou de lésbica e, quando tentei lhe dizer que eu não era nada disso, ele tentou me fazer provar. Dando um beijo nele e... essas coisas. Era isso que estava acontecendo no vestiário.

Toby se mexeu no assento, desconfortável.

Emily acariciou a gardênia que ele lhe dera para prender no vestido.

— O lance é que talvez eu seja lésbica. Quer dizer, eu realmente, tipo, amei a Alison DiLaurentis. Mas eu achei que só tivesse amado a Ali, não que eu fosse lésbica. Agora... agora, eu não sei. Talvez Ben esteja certo. Talvez eu seja homossexual. Talvez eu devesse simplesmente lidar com isso.

Emily não conseguia acreditar que tudo isso tivesse saído de sua boca. Ela virou-se para Toby Sua boca estava estática, uma linha impassível. Ela achou que, se tivesse uma hora para ele admitir que havia sido namorado de Ali, seria aquela. Em vez disso, ele disse baixinho.

— Por que você está com tanto medo de admitir isso?

— Porque sim! — Emily riu. Não era óbvio? — Porque eu não quero ser... você sabe. Homossexual. — E aí, numa voz baixinha: — Todo mundo vai rir da minha cara.

Eles dirigiram até uma placa que indicava "pare", numa via de mão dupla, deserta. Em vez de parar e depois continuar, Toby desligou o carro. Emily estava intrigada.

— O que nós vamos fazer?

Toby tirou as mãos da direção e encarou Emily por um longo tempo. Tão longo que ela começou a se sentir esquisita. Ele parecia chateado. Ela pôs a mão na nuca, então, se virou e olhou pela janela. A rua estava silenciosa e morta, e, do outro lado, havia outra plantação de milho, uma das maiores de Rosewood. A chuva caía forte agora, e Toby não tinha ligado o limpador de para-brisa, então tudo estava borrado. Ela desejou, inesperadamente, ver um pouco de civilização. Um carro que passasse. Uma casa. Um posto de gasolina. Alguma coisa. Será que Toby estava chateado porque gostava dela, e ela havia sido capaz de quase se assumir? Será que Toby era homofóbico? Era com isso que ela teria que lidar, se realmente achasse que era ho-mossexual. As pessoas iam fazer aquilo todos os dias, pelo resto da sua vida.

— Isso nunca chegou a acontecer, chegou? — disse Toby, quebrando o silêncio. — Ninguém nunca riu da sua cara.

— N-Não... — Ela tentou adivinhar o que significava a expressão de Toby, tentando entender a pergunta dele. —Acho que não. Bem, não antes de Ben, de qualquer forma.

Ouviu-se o barulho de um trovão, e ela pulou. Então, viu um raio riscando o céu, alguns quilômetros à frente deles. Tudo ficou iluminado por um instante, e Emily pôde ver Toby fran-zindo as sobrancelhas, mexendo num dos botões do blazer.

—Ver todas essas pessoas esta noite acabou me fazendo perceber como era difícil viver em Rosewood — disse ele. — A galera costumava me odiar de verdade. Mas, esta noite, todos foram tão gentis... todas as pessoas que me sacaneavam. Foi revoltante. Como se nada nunca tivesse acontecido. — Ele franziu a testa. — Eles não percebem que são uns cretinos?

— Acho que não. — Emily se sentia desconfortável.

Toby olhou para ela.

— Eu vi uma de suas antigas amigas lá. Spencer Hastings.

Um relâmpago caiu de novo, fazendo Emily pular. Toby deu um sorriso malévolo.

—Vocês eram uma turma e tanto, antigamente. Aprontavam com todo mundo.

Comigo... com minha irmã...

— Não era de propósito — disse Emily, por instinto.

— Emily. — Toby deu de ombros. — Por que não? Vocês eram as garotas mais populares da escola. Vocês podiam. — A voz dele era extremamente sarcástica.

Emily tentou sorrir, com esperança de que aquilo fosse uma brincadeira. Mas Toby não sorriu de volta. Por que estavam falando sobre esse assunto? Eles não deveriam estar falando sobre o fato de Emily ser homossexual?

— Desculpe. Nós apenas... éramos tão idiotas. Fazíamos o que Ali queria que fizéssemos. Quer dizer, eu achei que você tivesse superado isso, já que você e Ali ficaram juntos no ano seguinte.

— O quê? — interrompeu-a Toby de imediato.

Emily encostou-se na janela. Seu peito queimava de tanta adrenalina.

—Você... você não estava saindo com a Ali no, hum, sétimo ano?

Toby olhou para Emily, horrorizado.

— Era difícil para mim até olhar para ela — confessou Toby baixinho. — Agora é difícil até mesmo ouvir o nome dela.

Ele colocou as mãos na testa e expirou longamente. Quando se virou para Emily novamente, seus olhos estavam escuros.

— Especialmente depois... depois do que ela fez.

Emily o encarou. Um relâmpago rasgou o céu mais uma vez e o vento ficou mais forte, fazendo a plantação de milho balançar. As folhas pareciam mãos, tentando desesperadamente alcançar alguma coisa.

— Espera aí, o quê? — Ela riu, na expectativa, rezando para que tivesse entendido tudo errado. Apostando que, se ela piscasse, a noite ia se endireitar e voltar ao normal.

— Acho que você me ouviu — disse Toby, num tom seco, sem emoção. — Eu sei que vocês eram amigas, e que você a amava e coisa e tal, mas, pessoalmente, estou feliz que aquela vagabunda esteja morta.

Emily sentiu como se algo tivesse sugado todo o oxigênio de seu corpo. Alguma coisa vai acontecer com você esta noite. Algo que vai mudar sua vida.

Vocês aprontavam com todo mundo. Comigo... com minha irmã...

É difícil para mim até mesmo ouvir o nome dela. Especialmente depois do que ela fez...

DEPOIS DO QUE ELA FEZ.

Estou feliz que aquela vagabunda esteja morta.

Toby... sabia?

Uma ideia começava a se formar no cérebro de Emily. Toby realmente sabia. Ela estava certa disso, mais certa do que jamais estivera em toda sua vida. Emily sentiu como se sempre soubesse disso, como se isso sempre estivesse bem na sua cara, embora ela tentasse ignorar. Toby sabia o que elas tinham feito com Jenna, mas A não tinha contado para ele. Toby já sabia havia muito tempo. E ele devia ter odiado Ali por causa disso. E teria odiado todas elas se soubesse que estavam envolvidas.

— Ai, meu Deus — sussurrou Emily.

Ela puxou a maçaneta da porta, segurando a saia com as mãos, ao sair do carro. A chuva a pegou imediatamente e os pingos pareciam agulhas. Claro que havia alguma coisa suspeita sobre Toby sendo tão amistoso com ela. Ele queria arruinar a vida de Emily.

— Emily? — Toby desatou o cinto de segurança. — Onde você...

Então, ela ouviu o motor rugir. Toby estava dirigindo estrada abaixo, na sua direção, com a porta do passageiro aberta. Ela olhou para a direita e para a esquerda, e, então, esperando que soubesse onde estava, entrou na plantação de milho, não se importando de estar ensopada.

— Emily! — chamou Toby de novo. Mas Emily continuou correndo. Toby tinha matado Ali. Toby era A.


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