Flawless escrita por wendy


Capítulo 25
24. Duzentos e cinquenta dólares dão direito a comida, dança... e uma advertência




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A Foxy era realizada em Kingman Hall, uma velha mansão campestre de estilo inglês, construída por um homem que inventara uma máquina nova de tirar leite, no início do século XX. No quarto ano, quando eles aprenderam sobre a casa na aula de história da Pensilvânia, Emily a apelidara de "Mansão Mu".

Enquanto a recepcionista examinava seus convites, Emily olhou em volta. O lugar tinha um jardim labiríntico na parte da frente. Gárgulas faziam caretas nos arcos da imponente fachada da mansão. Pouco à frente de Emily estava a tenda, toda iluminada e cheia de gente, onde o evento seria realizado.

— Uau. —Toby apareceu atrás dela. Lindas garotas passavam por eles em direção à tenda, usando vestidos elaborados, feitos sob encomenda, e carregando bolsas cravejadas de joias. Emily olhou para o próprio vestido, era um tomara que caia simples, cor-de-rosa, que Carolyn havia usado no baile do ano anterior. Ela arrumara o próprio cabelo, colocara bastante do perfume ultrafeminino de Carolyn, Lovely, que a fazia espirrar, e estava usando brincos pela primeira vez em muito tempo, forçando-os pelos buracos nas orelhas, que já estavam quase fechados. Mesmo com tudo aquilo, ela ainda se sentia sem graça comparada a todas as outras meninas.

No dia anterior, quando Emily telefonou para Toby, a fim de convidá-lo para a Foxy, ele pareceu muito surpreso — mas realmente empolgado. Ela estava entusiasmada, também. Eles iriam à Foxy, se beijariam de novo e... quem sabe? Talvez se transformassem em um casal. Com o tempo, eles iriam visitar Jenna na escola na Filadélfia, e Emily poderia, de alguma forma, compensá-la por tudo. Ela cuidaria do próximo cão-guia de Jenna, leria para ela todos os livros que ainda não haviam sido lançados em braille. Talvez, com o tempo, Emily pudesse con-fessar seu envolvimento no acidente de Jenna.

Ou talvez não.

Só que agora ela estava na Foxy, e algo parecia... errado. O corpo de Emily alternava entre sensações de calor e frio, e seu estômago estava contraído de dor. As mãos de Toby pareciam muito ásperas, e ela estava tão nervosa que eles mal haviam conversado no caminho para a festa. A própria Foxy não parecia um ambiente muito relaxante; todos estavam exageradamente arrumados. E Emily tinha certeza de que alguém a estava observando. Enquanto examinava a maquiagem de cada garota e o rosto barbeado de cada rapaz, ela se perguntava: Você é A?

— Sorria! — Um flash espocou no rosto de Emily, e ela deu um gritinho. Quando as luzes brancas pararam de dançar na frente de seus olhos, uma garota loira, num vestido vinho, com uma credencial de imprensa sobre o peito e uma câmera digital pendurada no ombro, estava rindo para ela. — Eu só estava tirando fotos para o Philadelphia Inquirer— explicou.— Quer tentar de novo, sem a caril de pânico, dessa vez? — Emily agarrou o braço de Toby e tentou parecer feliz, mas sua expressão parecia mais uma careta petrificada.

Depois que a moça da imprensa se afastou, Toby se virou para Emily.

— Tem algo errado? Você sempre pareceu tão relaxada na frente das câmeras.

Emily se enrijeceu.

— Quando você me viu na frente de uma câmera?

— Na reunião da Rosewood com a Tate? — lembrou-a Toby. — O cara maluco do livro do ano?

— Oh, sim. — Emily expirou o ar de seus pulmões.

Os olhos de Toby seguiram um garçom que passava com uma bandeja de drinques.

— Então, este é o seu mundo?

— Deus, não! — retrucou Emily. — Eu nunca estive em um lugar como este na minha vida.

Ele olhou em volta.

— Todo mundo parece tão... feito de plástico. Eu costumava ter vontade de matar a maioria dessas pessoas.

Uma sensação assustadora invadiu Emily. Era o mesmo tipo de sentimento que ela experimentou ao acordar no banco de trás do carro de Toby. Quando ele percebeu a expressão dela, rapidamente deu um sorriso.

— Não literalmente. — Ele apertou a mão dela. —Você é muito mais bonita do que todas as outras garotas aqui.

Emily corou. Mas ela estava descobrindo que suas entranhas não viravam do avesso quando ele dizia coisas assim, ou quando tocava nela. E deveriam. Toby era sexy. Na verdade, estava lindo com seu terno e seus sapatos pretos, os cabelos penteados para trás, e seu rosto angulado e quadrado. Todas as garotas estavam olhando para ele. Quando ele apareceu na porta de sua casa, até mesmo a discreta Carolyn havia deixado escapar:

— Ele é tão bonitinho!

Mas quando ele segurou a mão de Emily, ainda que ela quisesse muito sentir alguma coisa, não aconteceu nada. Era como dar a mão à sua irmã.

Emily tentou relaxar. Ela e Toby caminharam em direção à tenda, apanharam duas piñas coladas e se juntaram a um grupo de garotos na pista de dança. Algumas meninas tentando dançar de um jeito supersexy, com mãos para cima, como se estivessem ensaiando para um evento da MTV A maioria estava simplesmente pulando e cantando ao som de Madonna. Técnicos de som estavam instalando um aparelho de caraoquê em um dos cantos, e as garotas estavam escrevendo os nomes das músicas que queriam cantar.

Emily afastou-se para ir ao banheiro, deixando a tenda e caminhando por um corredor iluminado por velas e com o chão coberto de pétalas de rosa. Garotas passavam por ela, de braço dado, cochichando e rindo. Emily checou discretamente o peito; ela nunca havia usado um tomara que caia antes, e tinha certeza de que, a qualquer momento, o vestido iria escorregar e expor seus seios ao mundo.

— Quer que eu leia sua sorte?

Emily se virou. Uma mulher de cabelos escuros, usando um vestido de seda estampado, estava sentada a uma pequena mesa debaixo de um enorme retrato de Horace Kingman, o inven-tor da máquina de tirar leite. Ela usava uma tonelada de pulseiras no braço esquerdo e um grande medalhão em forma de cobra pendia de sua garganta. Um baralho estava à sua frente, junto com uma pequena placa na borda da mesa que dizia: A MÁGICA DO TARÔ.

— Não, tudo bem — disse Emily. A mesa de tarô era tão... pública. Ali, em um espaço aberto, no meio do saguão.

A mulher estendeu uma longa unha na direção de Emily.

— Você precisa saber a sua sorte, mesmo assim. Alguma coisa vai acontecer com você esta noite. Algo que vai mudar sua vida.

Emily enrijeceu.

— Comigo?

— É, com você. E esse garoto que você trouxe? Não é ele que você quer. Você deve procurar quem realmente ama.

O queixo de Emily caiu, e sua mente começou a girar.

A cartomante parecia prestes a dizer alguma outra coisa, mas Naomi Zeigler passou por Emily e se sentou à mesa.

— Eu conheci você aqui, no ano passado — tagarelou Naomi, apoiando-se nos cotovelos, excitada. — Você fez a melhor previsão da minha vida.

Emily se afastou. Sua cabeça estava a mil. Algo ia acontecer com ela naquela noite? Algo... que iria mudar sua vida? Talvez Ben contasse para todo mundo. Ou Maya contasse para todo mundo. Ou A mostrasse aquelas fotos para todo mundo. Ou A tivesse contado a Toby... sobre Jenna. Poderia ser qualquer coisa.

Emily jogou água fria no rosto e saiu do banheiro. Quando ela se virou para voltar para a tenda, esbarrou nas costas de alguém. Assim que viu quem era, seu corpo ficou tenso.

— Oi — disse Ben, em um falso tom amistoso, esticando as palavras. Ele usava um terno cinza-chumbo e tinha uma pequena gardênia branca na lapela.

— O-oi — gaguejou Emily. — Eu não sabia que você vinha.

— Eu ia dizer a mesma coisa. — Ben se inclinou. — Gosto do seu namorado. — Ele colocou a palavra namorado entre aspas no ar. — Eu vi você com ele ontem na reunião com a Tate. Quanto você teve que pagar a ele para vir até aqui com você?

Emily o empurrou e passou por ele. Ela desceu o corredor escuro, considerando que aquela não seria a melhor hora para tropeçar nos saltos. Os passos de Ben ecoavam atrás dela.

— Por que você está fugindo? — cantarolou Ben.

— Me deixa em paz. — Ela não se virou.

— Aquele cara é seu guarda-costas? Primeiro, ele te protege na natação e agora aqui. E onde ele está agora? Ou você só o contratou para vir até aqui com você, para que as pessoas não descubram que você é uma grande lésbica? — Ben deu uma risadinha. — Rá rá. — Emily se virou para encará-lo. —Você é engraçado.

— É? — Ben a empurrou contra a parede. Simples assim. Ele segurou os pulsos de Emily e apertou o corpo contra o dela. — Isto é engraçado?

Ben estava sendo bruto, e o corpo dele era pesado. A apenas alguns passos de distância, alguns garotos passaram por eles, em direção ao banheiro. Será que eles não viram?

— Pare — conseguiu dizer Emily.

A mão áspera de Ben procurou a barra do vestido dela. Ele acariciou o joelho de Emily e deslizou a mão por suas pernas.

— Só diga que você gosta disso — disse ele, no ouvido dela. — Ou eu vou contar pra todo mundo que você é lésbica.

Lágrimas encheram os olhos de Emily.

— Ben — sussurrou ela, fechando as pernas. — Eu não sou lésbica.

— Então, diga que você gosta — rosnou Ben. A mão dele apertou a coxa nua dela. Ben estava chegando cada vez mais perto da calcinha dela. Quando eles estavam namorando, não tinham chegado tão longe. Emily mordeu o lábio com tanta força que teve certeza de ter tirado sangue. Ela estava prestes a ceder e dizer a ele que estava gostando, só para fazê-lo parar, mas a fúria a invadiu. Que Ben pensasse o que quisesse. Que ele contasse para a escola in.teira, Ele não podia fazer aquilo com ela, de jeito nenhum.

Ela pressionou o corpo contra a parede, para pegar impulso. Então, levantou o joelho e acertou a virilha de Ben com força.

—Ai! — Ben se afastou, com as mãos na virilha. Um gemido fraco, como de um bebê, escapou de sua boca. — O que você... — engasgou ele.

Emily arrumou o vestido.

— Fique longe de mim. — A raiva corria pelas veias dela como uma droga. — Senão, juro por Deus...

Ben cambaleou para trás, até se encostar na parede. Seus joelhos se dobraram e ele escorregou até sentar-se no chão.

— Péssima, péssima ideia.

— Que se dane. — Emily se virou para ir embora. Ela deu passos longos, rápidos e confiantes. Não o deixaria ver o quanto estava chateada. Que estava prestes a chorar.

— Ei. — Alguém segurou gentilmente o braço de Emily. Quando seus olhos se focaram novamente, ela percebeu que era Maya. — Eu vi aquilo tudo — sussurrou Maya, apontando com o queixo para o local onde Ben ainda estava caído. —Você está bem?

— Estou — respondeu Emily, depressa. Mas sua voz estava embargada. Ela tentou se controlar, mas não conseguiu. Ela se apoiou contra a parede e cobriu o rosto com as mãos. Se contasse até dez, poderia esquecer aquilo. Um... dois.. três...

Maya tocou no braço de Emily.

— Eu sinto muito, Em.

— Não sinta — conseguiu dizer Emily, o rosto ainda coberto. Oito... nove... dez. Ela afastou as mãos do rosto e se endireitou. — Eu estou bem.

Ela fez uma pausa, olhando para o vestido branco de Maya, estilo gueixa. Ela parecia tão mais bonita do que todos aqueles clones loiros de coque e Chanel que havia visto na festa. Ela correu as mãos pelos lados do próprio vestido, imaginando se Maya a estaria examinando também.

— Eu... eu provavelmente deveria voltar para o meu parceiro — gaguejou ela.

Maya deu um pequeno passo na direção dela. Só que Emily não conseguia se mover um centímetro.

— Eu tenho um segredo para contar a você, antes de você ir — informou Maya.

Emily chegou mais perto, e Maya se inclinou em direção a sua orelha. Os lábios de Maya não a tocaram, mas estavam bem perto. Arrepios percorreram a espinha de Emily, e ela se ouviu respirando pesado. Não era certo reagir daquele jeito, mas simplesmente... não conseguia... evitar.

Você deve procurar quem você realmente ama.

— Eu vou esperar por você — sussurrou Maya com a voz um pouco triste e muito sexy. — Não importa quanto tempo leve.


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