Flawless escrita por wendy


Capítulo 23
22. Você não é capaz de suportar a verdade!




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Na sexta-feira à noite, Aria desligou o rádio de seu quarto. Durante a última hora, o DJ local havia falado sem parar sobre a Foxy. Ele fazia a Foxy parecer um lançamento de nave espacial ou uma posse presidencial, em vez de apenas uma festa beneficente idiota.

Ela ouviu o som dos passos dos pais caminhando pela cozinha. Não havia a cacofonia normal — NPR no rádio, CNN ou PBS na TV da cozinha, nem um CD de música clássica ou jazz experimental no som. Tudo o que Aria podia ouvir eram panelas e potes batendo. Então, um barulho de algo caindo.

— Desculpe — disse Ella, seca.

— Tudo bem — retrucou Byron.

Aria voltou-se para o laptop, sentindo-se mais confusa a cada segundo. Desde que a sua perseguição a Meredith havia sido interrompida, ela estava fazendo pesquisas on-line. Quando uma pessoa começava a perseguir outra via internet, era difícil parar. Aria descobrira o sobrenome de Meredith — Stevens — em um cronograma das aulas da Strawberry Ridge Ioga que ela encontrara on-line, e procurara seu número de telefone no Google. Ela pensou que talvez pudesse ligar e dizer a ela, de forma amável, para ficar longe de Byron. Mas, então, encontrara o endereço de Meredith e quis saber o quão longe ela morava, e traçara o caminho até lá no MapQuest. Daí pra frente, as coisas ficaram loucas. Ela vasculhara um trabalho, em hipertexto, que Meredith escrevera no primeiro ano da faculdade, sobre William Carlos Williams. Ela invadiu o portal de alunos da Hollis, para ver as notas de Meredith. Descobriu que Meredith tinha perfis no Friendster, no Facebook e no MySpace. Seus filmes preferidos eram Donnie Darko; Paris, Texas; e A Princesa Prometida, e se interessava por coisas estranhas, como globos de neve, tai chi e ímãs.

Em um universo paralelo, Aria e Meredith poderiam ter sido amigas. Isso tornava ainda mais difícil fazer o que A mandou, na última mensagem de texto que lhe enviara —faça desa-parecer.

Parecia que a ameaça de A estava fazendo um buraco em seu smartphone, e sempre que ela pensava que vira não apenas Meredith, mas também Spencer, no estúdio de ioga naquela manhã, ela se sentia mal. O que Spencer estava fazendo lá? Será que ela sabia de alguma coisa? No sétimo ano, Aria havia contado a Ali sobre ter visto Toby na oficina de teatro dela, enquanto estava relaxando na piscina da casa de Spencer com ela e Ali.

— Ele não sabe de nada, Aria — respondera Ali, calmamente, aplicando mais protetor solar. — Relaxe.

— Mas como você pode ter certeza? — Aria havia protestado. — E quanto àquela pessoa que eu vi do lado de fora da casa da árvore naquela noite? Talvez ela tenha contado a Toby! Talvez ela fosse Toby!

Spencer franziu a testa e olhou para Alison.

— Ali, talvez você devesse...

Ali limpou a garganta, alto.

— Spence — disse ela, em tom de alerta.

Aria olhava de uma para a outra, confusa. Então, ela deixara escapar a pergunta que queria fazer havia muito tempo:

— Sobre o que vocês estavam cochichando na noite do acidente? Quando eu acordei e vocês estavam no banheiro?

Ali inclinou a cabeça.

— Nós não estávamos cochichando.

— Ali, nós estávamos cochichando — sibilou Spencer.

Ali dirigiu outro olhar ríspido para Spencer e se virou novamente para Aria.

— Olhe, nós não estávamos falando sobre Toby. Além disso — ela deu um sorrisinho para Aria —, você não tem coisas mais importantes para se preocupar neste momento?

Aria se irritou. Alguns dias antes, Aria e Ali tinham flagrado o pai dela com Meredith.

Spencer puxou o braço de Ali.

— Ali, eu realmente acho que você deveria contar...

Ali levantou a mão.

— Spence, eu juro por Deus.

—Você jura que o quê por Deus? — gritou Spencer. —Você acha que isso é fácil? Depois que Aria vira Spencer no estúdio de ioga naquela manhã, ela pensara em segui-la na escola e falar com ela. Spencer e Ali haviam escondido alguma coisa, e talvez isso estivesse relacionado com A. Mas... ela tinha medo. Ela pensava que conhecia suas velhas amigas como a palma de sua mão. Mas, naquele momento, ela soube que todas tinham segredos que não queriam compartilhar...

O celular de Aria tocou, arrancando-a das lembranças. Assustada, ela o derrubou em cima de uma pilha de camisetas sujas que havia separado para lavar. Então o apanhou.

— Oi — disse uma voz masculina, do outro lado da linha. —É o Sean.

— Ah! — exclamou Aria. — O que é que está rolando?

— Nada de mais. Acabei de voltar de um jogo de futebol. O que você vai fazer hoje à noite?

Aria se encheu de alegria.

— Hum... nada, pra falar a verdade.

— Quer sair?

Ela ouviu outro barulho no andar de baixo. Então, a voz do pai.

— Estou saindo. — A porta da frente bateu com força. Ele nem sequer ia jantar com a família. De novo.

Ela voltou ao telefone. — Que tal agora?

Sean estacionou seu Audi em um local deserto e levou Aria para um aterro. À esquerda deles, havia uma cerca de arame farpado e, à direita, uma ladeira. Acima, estavam os trilhos elevados do trem e, abaixo, podiam ver Rosewood inteira.

— Meu irmão e eu descobrimos este lugar há alguns anos — explicou Sean.

Ele estendeu o suéter de cashmere na grama e fez um gesto para que Aria se sentasse. Então, tirou uma garrafa térmica da mochila e ofereceu a ela.

— Quer um pouco?

Aria podia sentir o cheiro do rum através do pequeno buraco na tampa.

Ela deu um gole grande, e, então, olhou de lado para ele. O rosto de Sean era extremamente bem esculpido e suas roupas lhe caíam muito bem, mas ele não tinha aquela atitude que parecia alardear sou lindo e sei disso que os outros alunos típicos de Rosewood tinham.

—Você vem muito aqui? — perguntou ela.

Sean deu de ombros e sentou-se ao lado dela.

— Não muito. Às vezes.

Aria supunha que Sean e sua turma, típica de Rosewood, dirigiam por aí festejando a noite inteira, ou roubavam cerveja dos pais, na casa vazia de algum deles enquanto jogavam Grand Theft Auto no PlayStation. E para terminar a noite davam um mergulho na banheira de

hidromassagem, é claro. Quase todo mundo em Rosewood tinha uma banheira de hidromassagem no quintal.

As luzes da cidade brilhavam lá embaixo. Aria podia ver a torre da Hollis, que resplandecia num tom de marfim durante a noite.

— Isto aqui é incrível. — Ela suspirou. — Não posso acreditar que nunca vim neste lugar.

— Bem, minha antiga casa não era muito longe daqui. —Sean sorriu. — Meu irmão e eu pedalávamos por toda esta mata em nossas bicicletas imundas. Nós também costumávamos vir aqui para brincar de Bruxa de Blair.

— Bruxa de Blair? — repetiu Aria.

Ele assentiu.

— Depois que o filme foi lançado, nós ficamos obcecados em fazer nossos próprios filmes de terror.

— Eu fiz isso também! — gritou Aria, tão entusiasmada que pôs a mão no braço de Sean. Ela a puxou de volta, depressa. — Só que eu fiz os meus no quintal.

—Você ainda tem os vídeos? — perguntou Sean.

—Tenho. E você?

— Hum-hum. — Sean fez uma pausa. — Talvez você pudesse vir assistir, uma hora dessas.

— Eu gostaria muito. — Ela sorriu. Sean estava começando a lembrá-la do croque-monsieur que ela pedira uma vez, em Nice. À primeira vista, o prato parecera um simples queijo quente, nada de especial. Mas quando ela dera a primeira mordida, o queijo era Brie e havia cogumelos Portobello picados dentro dele. Havia muito mais lá no fundo do que ela havia imaginado.

Sean se apoiou nos cotovelos.

— Uma vez, eu e o meu irmão viemos aqui e flagramos um casal fazendo sexo.

— Sério? —Aria riu.

Sean pegou a garrafa das mãos dela.

— Foi. E eles estavam tão concentrados que não nos viram, no começo. Eu comecei a me afastar bem devagar, mas tropecei em umas pedras. Eles ficaram assustadíssimos.

— Tenho certeza de que ficaram. — Ela estremeceu. — Meu Deus, isso deve ser horrível.

Sean a cutucou no braço.

— O quê? Você nunca fez em um lugar público?

Aria desviou o olhar.

— Não.

Eles ficaram em silêncio por alguns momentos. Aria não tinha certeza de como se sentia. Meio que desconfortável. Mas também... um pouco excitada. Parecia que algo estava prestes a acontecer.

— Então, hum, você se lembra daquele segredo que você me contou, no seu carro? — perguntou ela. — Sobre não querer ser virgem?

— Lembro.

— Por que você... por que você acha que se sente assim?

Sean apoiou-se novamente nos cotovelos.

— Eu comecei a ir ao Clube da Virgindade porque todo mundo parecia louco pra fazer sexo, e eu queria saber por que as pessoas reunidas ali tinham decidido o contrário.

—E?

— Bom, eu acho que eles estão é com medo. Mas eu também acho que querem encontrar a pessoa certa. Tipo, alguém com quem possam ser completamente honestos, com quem possam ser eles mesmos.

Ele fez uma pausa. Aria apertou os joelhos contra o peito. Ela queria — só um pouquinho — que Sean dissesse: E Aria, eu acho que você é a pessoa certa.

Ela suspirou.

— Eu fiz sexo, uma vez.

Sean pôs a garrafa na grama e olhou para ela.

— Na Islândia, um ano depois que eu me mudei para lá — admitiu ela. Parecia estranho dizer aquilo em voz alta. — Foi com um garoto de quem eu gostava. Oskar. Ele queria, e eu também, mas... não sei. —Aria afastou o cabelo do rosto. — Eu não o amava nem nada. — Ela fez uma pausa. — Você é a primeira pessoa para quem eu conto isso.

Eles ficaram quietos por algum tempo. Aria sentia o coração martelando no peito. Alguém, lá embaixo, estava fazendo churrasco; dava para sentir o cheiro do carvão e da carne. Ela ouviu Sean engolir em seco e mover-se, chegando um pouco mais perto. Ela também se aproximou, sentindo-se nervosa.

—Você quer ir à Foxy comigo — deixou escapar Sean.

Aria inclinou a cabeça.

— F-Foxy?

— A festa beneficente... em que as pessoas usam roupas bonitas? E dançam?

Ela piscou.

— Eu sei o que é a Foxy.

— A não ser que você queria ir com outra pessoa. E nós podemos ir só como amigos, é claro.

Aria sentiu uma pequena pontada de desapontamento quando ele usou a palavra amigos.

Um segundo antes, achara que eles iam se beijar.

—Você ainda não convidou ninguém?

— Não. É por isso que estou convidando você.

Aria olhou de lado para Sean. Os olhos dela não paravam de gravitar para a pequena covinha no queixo dele. Ali costumava chamar aquilo de "queixo de bunda", mas era realmente bonitinho.

— Hum, bem, beleza então.

— Legal. — Sean sorriu.Aria sorriu de volta. Só que... alguma coisa a fazia hesitar.

Você tem até a meia-noite de sábado, Cinderela. Senão... Sábado era o dia seguinte.

Sean percebeu a expressão dela.

— O que foi?

Aria engoliu em seco. Sua boca toda tinha gosto de rum.

— Ontem eu encontrei a mulher com quem o meu pai está tendo um caso. Foi por acaso. — Ela respirou fundo. — Ou não. Eu queria perguntar a ela o que estava acontecendo, mas não consegui. Eu só tenho medo de que a minha mãe... os pegue juntos. Não quero que minha família acabe.

Sean a abraçou por um instante.

—Você não pode tentar falar com ela de novo?

— Não sei. — Ela olhou para as próprias mãos. Estavam tremendo. — Quero dizer, eu tenho um discurso pronto para ela na minha cabeça. Eu só quero que ela conheça o meu lado da história. — Aria arqueou as costas e olhou para o céu, como se o universo pudesse dar uma resposta. — Mas talvez seja uma ideia estúpida.

— Não é. Eu vou com você. Para dar apoio moral.

Aria olhou para ele.

—Você... você faria isso?

Sean olhou para as árvores.

— Agora mesmo, se você quiser.

Aria sacudiu a cabeça com força.

—Agora eu não posso. Eu deixei, hum, o meu script em casa.

Sean deu de ombros.

—Você se lembra do que quer dizer?

— Acho que sim. — Aria quase sussurrou. Ela olhou para as árvores. — Na verdade, não é longe... Ela mora bem ali, depois daquela colina. Em Old Hollis. — Ela sabia disso por causa das pesquisas sobre Meredith no Google Earth.

—Vamos lá. — Sean estendeu uma das mãos. Antes que ela conseguisse pensar muito sobre o assunto, eles estavam descendo a colina gramada, passando pelo carro de Sean.

Eles atravessaram a rua até Old Hollis, o bairro estudantil cheio de casas vitorianas caindo aos pedaços e meio assustadoras. Velhos Volkswagens, Volvos e Saabs estavam

estacionados nas ruas. Para uma noite de sexta-feira, o bairro estava absolutamente vazio. Talvez houvesse algum grande evento em algum lugar de Hollis. Aria imaginou se Meredith estaria em casa; ela meio que esperava que não.

Na metade do segundo quarteirão, Aria parou na frente de uma casa cor-de-rosa, que tinha quatro pares de tênis de corrida arejando na varanda, e um desenho a giz na calçada do que parecia ser um pênis. Era bem adequado que Meredith morasse ali.

— Eu acho que é aqui.

—Você quer que eu espere aqui? — murmurou Sean.

Aria se enrolou no suéter. De repente, estava congelando.

— Acho que sim. — Então, ela agarrou o braço de Sean. — Não posso fazer isso. — É claro que pode. — Sean colocou as mãos nos ombros dela. +Vou estar bem aqui, certo? Nada vai acontecer a você, eu prometo.

Aria sentiu uma onda de gratidão. Ele era tão... doce. Ela se inclinou para a frente e o beijou na boca, gentilmente; quando se afastou, ele parecia espantado.

— Obrigada — disse ela.

Ela subiu devagar os degraus rachados da frente da casa de Meredith, o rum correndo pelas suas veias. Ela havia bebido três quartos da garrafa de Sean, e ele tomara apenas alguns goles, por puro cavalheirismo. Quando tocou a campainha, ela se apoiou contra uma das colunas do pórtico para manter o equilíbrio. Aquela não era uma noite ideal para estar usando as sandálias italianas de salto alto.

Meredith abriu a porta. Ela estava vestindo shorts de flanela e uma camiseta branca com a imagem de uma banana — era a capa de algum disco antigo, mas Aria não conseguia se lem-brar de qual. E ela parecia maior naquela noite. Menos esbelta e mais musculosa, como as garotas num programa de luta livre da televisão. Aria se sentiu fraca.

Os olhos de Meredith brilharam ao reconhecê-la.

— Alison, certo?

— Na verdade, é Aria. Aria Montgomery. Eu sou a filha de Byron Montgomery. Eu sei de tudo o que está acontecendo. E quero que isso pare.

Os olhos de Meredith se arregalaram. Ela respirou fundo e exalou lentamente pelo nariz. Aria quase pensou que uma fumaça de dragão estava prestes a sair.

—Você quer, é?

— É,isso mesmo. — Aria estremeceu, percebendo que estava falando enrolado. Eissmesm. E seu coração estava batendo tão forte que ela não ficaria surpresa se sua pele estivesse pulsando.

Meredith ergueu uma das sobrancelhas.

— Isso não é da sua conta. — Ela colocou a cabeça para fora da porta e olhou ao redor, desconfiada. — Como você descobriu onde eu moro?

— Olhe, você está destruindo tudo — protestou Aria. — E eu só quero que isso pare. Ok? Quero dizer... isso está machucando todo mundo. Ele é casado... e tem uma família. Aria encolheu-se ao ouvir o tom patético da própria voz e seu discurso tão perfeitamente ensaiado que escapara de seu controle.

Meredith cruzou os braços sobre o peito.

— Eu sei disso tudo — respondeu ela, começando a fechar a porta. — E sinto muito. Sinto mesmo. Mas estamos apaixonados.


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