Flawless escrita por wendy


Capítulo 13
12. Da próxima vez, carregue maquiagem na bolsa




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"¿Cuándo es?", dizia uma voz no ouvido dela. "Que horas são? Hora de Spencer morrer!" Spencer acordou assustada. A figura escura e familiar que estivera pairando sobre sua cabeça havia desaparecido. Na verdade, ela estava em um quarto claro, branco. Havia desenhos de Rembrandt e um pôster da musculatura humana na parede. Na TV, Elmo estava ensinando às crianças como dizer as horas em espanhol. O relógio marcava seis e quatro, e ela presumiu que fosse de manhã; pela janela, viu que o sol acabara de nascer e ela podia sentir o cheiro dos bagels frescos e ovos mexidos vindo da rua.

Ela olhou em volta, e tudo fez sentido. Wren estava deitado de costas, dormindo com um braço jogado por cima do rosto, o peito descoberto. O pai dele era coreano e a mãe inglesa, por isso sua pele tinha um tom perfeito de dourado. Havia uma cicatriz acima de sua boca; ele tinha sardas no nariz, cabelo preto-azulado e descuidado, e cheirava a desodorante Adidas e Tide. O anel grosso de prata, que usava no dedo indicador da mão direita, brilhava ao sol da manhã. Ele afastou o braço do rosto e abriu os lindos olhos amendoados. — Oi. — Ele puxou Spencer pela cintura devagar, para perto dele.

— Oi — sussurrou ela, resistindo. Ainda podia ouvir a voz no sonho: Hora de Spencer morrer! Era a voz de Toby.

Wren franziu a testa.

— O que foi?

— Nada — disse ela, baixinho, pressionando os dedos na base do pescoço e sentindo o próprio pulso acelerado. — Só... um sonho ruim.

— Quer me contar?

Spencer hesitou. Ela gostaria de poder. Então, sacudiu a cabeça.

— Bem, então, venha cá.

Eles passaram alguns minutos se beijando, e Spencer sentiu uma energia de alívio e gratidão.Tudo ia ficar bem. Ela estava segura.

Era a primeira vez que Spencer havia dormido — e passado a noite — na cama de um cara. Na noite anterior, ela havia dirigido como uma louca até a Filadélfia e estacionado na rua, sem sequer se preocupar com o Clube; seus pais estavam provavelmente pensando em tomar o carro dela de volta, de qualquer forma. Ela e Wren haviam caído na cama imediatamente e não tinham se levantado dela, a não ser para atender a porta para o rapaz do restaurante chinês que viera entregar comida. Mais tarde, ela telefonou e deixou uma mensagem na secretária ele-trônica dos pais, avisando que passaria a noite na casa de uma colega do hóquei, Kirsten. Ela se sentia idiota, tentando ser toda responsável quando, na verdade, estava sendo tão irresponsável, mas e daí?

Pela primeira vez desde a primeira mensagem de A, ela havia dormido como um bebê. De certa forma, era porque estava na Filadélfia, e não em Rosewood, na casa vizinha à de Toby, mas também era por causa de Wren. Antes de irem dormir, eles haviam conversado sobre Ali durante uma hora — sobre a amizade delas, sobre como havia sido quando Ali desaparecera, saber que alguém a havia matado. Ele também havia deixado que ela escolhesse o som de

"cigarras cantando" no estéreo, ainda que fosse o segundo barulho de que ele menos gostava, depois de "árvores farfalhando".

Spencer começou a beijá-lo com mais intensidade e tirou a camiseta da Universidade da Pensilvânia, grande demais para ela, que usava como camisola. Wren deslizou a mão pelo pes-coço dela e se ergueu sobre as mãos e os joelhos.

—Você quer...? — perguntou ele.

— Eu acho que sim — sussurrou ela.

—Tem certeza?

— Hum-hum. — Ela tirou a calcinha. Wren tirou a camiseta pela cabeça. O coração de Spencer estava martelando. Ela era virgem e tão exigente a respeito de sexo quanto o era com tudo o mais em sua vida, tinha que ser com a pessoa perfeita.

Mas Wren era a pessoa perfeita. Ela sabia que estava ultrapassando o Ponto Sem Volta — se os pais dela descobrissem, eles nunca lhe dariam dinheiro novamente, para nada. Nem prestariam atenção nela. Nem a mandariam para a faculdade. Nem lhe dariam comida, provavelmente. E daí? Wren a fazia sentir-se segura.

Um Vila Sésamo, um Contos do Dragão e meio Arthur mais tarde, Spencer virou-se de costas, olhando para o teto com uma expressão contente. E ela, que tinha pensado em ir devagar. Então, ela se apoiou nos cotovelos e olhou para o relógio.

— Droga — sussurrou. já eram sete e vinte. Ela entrava às oito na escola e ia perder a primeira aula, na melhor das hipóteses. — Eu tenho que ir. — Ela pulou da cama e examinou a saia xadrez, o blazer, a roupa de baixo, a blusa e as botas numa pilha bagunçada no chão. — E vou ter que ir para casa.

Wren sentou-se na cama, observando-a.

— Por quê?

— Eu não posso usar a mesma roupa por dois dias seguidos.

Wren obviamente estava tentando não rir dela.

— Mas é um uniforme, não é?

— É, mas eu usei esta blusa ontem. E estas botas.

Wren riu.

—Você é um amor e uma fresquinha.

Spencer abaixou a cabeça ao ouvir a palavra amor.

Ela tomou uma ducha rápida, lavando o cabelo e ensaboando o corpo. Seu coração ainda estava martelando. Ela se sentia tomada pelo nervosismo, ansiosa porque estava atrasada para a aula, perturbada pelo pesadelo com Toby, mas totalmente feliz com Wren. Quando ela saiu do banho, Wren estava sentado na cama. a apartamento cheirava a café e amêndoas. Spencer pegou a mão de Wren e, devagar, removeu o anel de prata que ele usava no dedo, colocando-o no próprio polegar.

— Fica bem em mim. — Quando ela olhou para ele, Wren estava sorrindo de modo impossível de decifrar. — O que foi? — perguntou Spencer.

—Você é... —Wren sacudiu a cabeça e encolheu os ombros. — É difícil para mim, lembrar que você ainda está no ensino médio. Você é tão... madura.

Spencer corou.

— Não de verdade.

— Não, você é mesmo. É como se... na verdade, você parece mais madura do que... Wren parou de falar, mas Spencer sabia o que ele iria dizer: Mais madura do que Melissa. Ela se sentiu cheia de satisfação. Melissa podia ter vencido a luta pelos pais, mas Spencer havia vencido a batalha por Wren. E essa era a guerra que importava.

Spencer subiu pela longa e pavimentada entrada de sua casa. já eram nove e dez, e a segunda aula em Rosewood Day já tinha começado. a pai dela já teria saído para trabalhar há muito tempo, e, com alguma sorte, a mãe estaria no estábulo.

Ela abriu a porta da frente. a único som era o ruído da geladeira. Ela caminhou pé ante pé até o quarto, lembrando a si mesma de que teria de falsificar um bilhete da mãe justificando o atraso — e percebendo que jamais precisara falsificar um bilhete antes. Todos os anos, Spencer ganhava os prêmios de perfeita assiduidade e pontualidade na escola.

—Oi.

Spencer deu um grito e se virou, a mochila da escola escorregou de suas mãos.

— Jesus. — Melissa estava parada na porta. — Relaxe.

— P-por que você não está na aula? — perguntou Spencer, com os nervos à flor da pele.

Melissa usava calças de moletom rosa-escuras, e uma camiseta desbotada da Universidade da Pensilvânia, mas seu cabelo loiro, cortado curto na altura do queixo, estava preso por uma faixa azul-marinho. Mesmo quando Melissa estava relaxada, ela conseguia parecer impecável.

— Por que você não está na aula?

Spencer passou a mão pela nuca molhada de suor.

— Eu... esqueci uma coisa. Tive que voltar.

— Ah. — Melissa deu um sorrisinho misterioso. Um arrepio desceu pela espinha de Spencer. Ela sentia como se estivesse na beira de um precipício, prestes a cair. — Bom, na verdade eu estou feliz por você estar aqui. Eu tenho pensado muito sobre o que você disse na segunda-feira. Eu sinto muito, também, sobre tudo.

— Oh. — Foi tudo o que Spencer conseguiu dizer.

Melissa abaixou o tom de voz.

— Eu quero dizer, nós realmente poderíamos agir melhor uma com a outra. Nós duas. Quem sabe o que pode acontecer neste mundo maluco? Olhe só o que aconteceu com Alison DiLaurentis. Faz com que as nossas brigas pareçam uma coisa boba.

— É — murmurou Spencer. Era uma comparação estranha.

— De qualquer modo, eu falei com mamãe e papai sobre o assunto, também. Acho que eles estão caindo em si.

— Oh. — Spencer passou a língua pelos dentes. — Uau. Obrigada. Significa muito pra mim.

Melissa sorriu para ela em resposta. Houve uma longa pausa e, então Melissa deu outro passo para dentro do quarto de Spencer, apoiando-se contra a penteadeira de cerejeira.

— Entããããão... o que é que está havendo com você? Você vai à Foxy? Ian me convidou, mas eu não sei se vou. Provavelmente, estou velha demais pra isso.

Spencer foi pega de surpresa. Será que Melissa estava aprontando alguma? Aqueles não eram os assuntos sobre os quais elas costumavam conversar.

— Eu... hum... eu não sei.

— Caramba. — Melissa deu um sorrisinho malicioso. — Eu espero que você vá com o cara que fez isso com você. — Ela apontou para o pescoço de Spencer.

Spencer correu para frente do espelho e viu uma marca enorme e vermelha perto da clavícula. As mãos dela voaram freneticamente para o próprio pescoço. Então, percebeu que ainda estava usando o anel grosso de prata de Wren.

Melissa havia morado com Wren — será que ela tinha reconhecido o anel? Spencer tirou o anel do dedo e o atirou na gaveta de lingerie. Sua pulsação latejava nas têmporas. O telefone tocou, e Melissa foi atender no corredor. Dentro de segundos, a cabeça dela apareceu na porta do quarto de Spencer.

— É para você — cochichou ela. — É um garoto!

— Um... garoto? — Será que Wren seria estúpido o suficiente para ligar para ela? Quem mais poderia ser, às nove e quinze da manhã de uma quinta-feira? A mente de Spencer estava vagando em vinte direções diferentes. Ela pegou o telefone.

—Alô?

— Spencer? É o Andrew. Campbell. — Ele deixou escapar uma risadinha nervosa. — Da escola.

Spencer olhou para Melissa.

— Hum, oi — grunhiu ela. Por um segundo, sem sequer conseguir lembrar quem era Andrew Campbell.— O que é que está rolando?

— Eu só queria saber se você pegou essa gripe que está por aí. Eu não vi você na reunião do conselho estudantil hoje de manhã. Você nunca falta ao conselho estudantil. — Oh. — Spencer engoliu em seco. Ela olhou para Melissa, que estava parada na porta, na expectativa. — Oh, bem, mas eu... eu estou melhor agora.

— Eu só queria dizer que me ofereci para pegar suas lições de casa para as aulas — disse Andrew. — Já que nós estamos na mesma turma. —A voz dele estava fazendo eco; parecia que estava vindo de dentro de um vestiário. Andrew era exatamente o tipo que tentaria matar a aula de ginástica. — Em cálculo, nós temos uma lista de problemas de fim de capítulo.

— Oh. Bem, obrigada.

— E talvez você esteja a fim de comparar as anotações para as dissertações...? McAdam disse que elas vão contar muito para a nossa nota final.

— Hum, é claro — respondeu Spencer.

Melissa olhou nos olhos dela, de um jeito esperançoso e entusiasmado.

— Chupão? — sussurrou ela, apontando para o pescoço de Spencer e depois para o telefone.

O cérebro de Spencer parecia prestes a virar iogurte. Então, de repente, ela teve uma ideia. Ela limpou a garganta.

— Na verdade, Andrew... você já tem companhia para a Foxy?

— Foxy? — repetiu Andrew. — Hum, não sei, eu acho que não tinha nenhum pla...

— Quer ir comigo? — interrompeu Spencer.

Andrew deu uma risada que pareceu mais um soluço.

— Sério?

— Hum, sim — disse Spencer, de olho na irmã.

— Bem, é claro! — concordou Andrew. — Seria ótimo! Que horas? O que eu devo vestir? Você vai sair com suas amigas antes? Tem algum plano para depois?

Spencer revirou os olhos. Era típico de Andrew fazer todas aquelas perguntas, como se ele fosse responder a um teste oral.

— A gente decide depois.— Spencer olhou para a janela.

Então, desligou o telefone, sentindo-se exausta, como se tivesse corrido quilômetros e quilômetros jogando hóquei. Quando ela se virou novamente para a porta, Melissa havia de-saparecido.


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