Agilidade escrita por Diane


Capítulo 10
Capitulo 10 - Morte Merecida


Notas iniciais do capítulo

Enfim, postei.



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— Teve uma época em que você fazia desculpas esfarrapadas melhores que esta — Damien falou rindo enquanto eu contava a ele sobre a cobra flamejante.

Não era uma desculpa esfarrapada. Uma adorável cobra em chamas me atacou! Qual é o problema das pessoas para acreditar nisso?

— Eu não estou mentindo e isso não é uma desculpa esfarrapada por ter destruído o piso da arena! Aquela garota conjurou uma cobra flamejante! — protestei.

Como sempre, ninguém acreditou. Aquilo me deixou furiosa. Quando estou brincando, as pessoas acreditam e acham que é verdade, e quando estou falando a verdade, as pessoas acham que é brincadeira. Simplesmente injusto.

— Não precisa criar desculpas, Ilithya já falou que não vai te punir. Ela disse que é normal ocorrer surtos de poderes — Mary falou calmamente.

— Mas... não foi um surto de poder. Pela milésima vez, sério, uma cobra louca feita de fogo me atacou.

— Mas como foi que só você viu a cobra? Aquela sala estava lotada de pessoas, e só você viu? — Damien retrucou, com aquela expressão presunçosa estressante.

Enfinquei o garfo do pudim na mesa. Todos no refeitório olharam para a minha cara depois que fiz isso. Ah, não há nada que as pessoas gostem mais do que um belo barraco com direito á garfos voadores. Um bando de cretinos.

— Eu vi uma cobra gigante feita de fogo!

— Eu vi apenas uma bola de fogo!

As patinhas daquele projeto de Harry Potter mal feito se dirigiram até o garfo. Eu estava pronta para desviar do garfo voador e jogar o prato na cara dele até que Alec resolveu interromper.

— Parem os dois, meu crânio está quase explodindo.

Ele parecia realmente mau. Estava com os olhos semifechados e parecia estar quase dormindo encima da mesa, e nem parecia se interessar pelo pudim, e olhe que ele adora pudim de morango. Outra pessoa sentiria pena, mas outra pessoa não saberia que ele estava mau assim por que estava usando uma parede mental por tempo demais e que isso exige muita concentração. Por que ele estava usando uma parede mental? Simples, ele queria esconder algo de mim. O que ele estava escondendo? Boa pergunta.

Eu desejava sinceramente que a dor de cabeça dele piorasse e que o crânio dele explodisse, literalmente.

Eu cruel? Nunca.

De repente eu desisti de discutir com Damien e surrupiei o pudim de morango que Alec não tinha nem encostado. Esperei ele protestar, mas ele continuou caído na mesa.

Bom, o pudim é meu.

— Coitadinho do meu irmãozinho lindo... — Vanessa estava acariciando o cabelo daquela criatura, como se fosse uma boa irmã.

Isso me deixava irritada. O que quer que fosse que ele estava me escondendo devia ser importante para ele se empenhar tanto nisso.

Minha vontade era gritar “O que você está escondendo!”, mas talvez me achassem louca, mais do que estavam achando depois que contei sobre a cobra.

Continuei comento o pudim enquanto pensamentos maldosos passavam pela minha cabeça, o tipo de pensamento que é relacionado com pó de mico, pregos e coisas cruéis. Eu estava muito estressada, não dormi a noite pensando naquela cobra dos infernos.

Então o som do microfone sendo ligado chamou minha atenção. Ilithya estava no centro do refeitório, numa espécie de palco que a deixava mais elevada que nós, sentados. Existia apenas uma palavra para definir a expressão de Ilithya naquele momento: assassina. Por um momento temi que tivesse aprontado algo, mas então que lembrei que não aprontei nada nas últimas semanas.

— Detesto discursar, então serei breve: Os corpos sumiram do necrotério — Ela anunciou enquanto apertava o microfone a ponto de rasgar ele no meio.

Larguei o pudim. O que? Sumiram? Que porcaria é essa?

Um segundo depois dela falar o anuncio vários sussurros podiam ser escutados por todo o refeitório. Enganei-me, acho que as pessoas gostam mais de corpos desaparecidos do que de barraco, acho que deve ser mais emocionante.

— Silêncio! Voltando ao assunto, logo depois que acabou a biopsia fui conferir o estado dos corpos. Sumiram os três. As macas estavam vazias, sem nenhuma digital na sala além a dos empregados.

Talvez tivesse um motivo para o assassino matar esses três, mas por que ele sumiria com os corpos. Assassinos somem com corpos para esconder o crime, mas por que um assassino sumiria com três corpos sendo que todos já sabiam do crime?

Confesso, não fazia o menor sentido.

[...]

Depois do almoço fui até a sala de lutas. Lá tinha vários sacos de pancadas presos no teto e eles estavam bem na minha frente. Nada melhor do que um belo saco de pancada para descontar a raiva.

Do que eu estava com raiva? De muitas coisas. Eu estava com raiva da cobra em chamas, por ter me ameaçado e me feito parecer louca. Eu estava com raiva de Alec por estar me escondendo algo que poderia ser importante. Eu estava com raiva dos meus “amigos” por duvidarem de mim. Eu estava com raiva desse assassino patético que estava tirando a paz do Campo de Treinamento.

Mais duas pancadas e o saco caiu no chão. A corrente arrebentou.

Correntes arrebentando... Droga, isso me fez lembrar de Ethan que morreu esmagado por um lustre que caiu por que uma corrente arrebentou. Nem socando algo eu posso ter paz.

Joguei o saco de pancadas na parede. Ele estralou e começou a jorrar areia. Raphael me olhou com aquela cara de “Você vai limpar tudo depois”.

Mostrei o dedo do meio para Raphael. Só para lembrar, eu não estava com um humor bom naquele dia, culpa de uma noite de sono mal dormida e de várias outras coisas. Nada melhor do que um pouquinho de estresse para mandar a boa educação para a China.

Tirei a tabua que recobria a arquibancada e enfiei a mão no meu esconderijo secreto de sorvetes. Naquele pequeno fundo secreto tinha um mini freezer recheado de picolés. Comer picolés em aula é proibido, mas desde quando eu ligo para regras?

Peguei um picolé de milho verde e coloquei na boca. Estava tão bom que até me acalmou.

Okay, admito. Ilithya devia estar certa quando disse que preciso de um psicólogo urgente.

Lá no canto esquerdo da sala, Alec estava reunido com alguns garotos que eu nunca tinha visto antes, provavelmente esses garotos são da Guarda, já que nunca tinha visto eles.

Aproximei-me dele e soquei o ombro dele. Não com muita força, é claro. Tudo bem, talvez eu tenha dado um soco um pouco forte demais.

Ele me lançou um olhar assassino.

— Não basta estar com dor de cabeça, você quer quebrar meu ombro também?

Criatura antipática.

— Se eu quisesse quebrar, já teria quebrado — Sorri angelicalmente.

Então um simples cumprimento vira uma discussão. Já mencionei que sou um imã para discussões?

— Você é a Christine?

Olhei para o garoto ao lado de Alec, o garoto que tinha perguntado. Ele era loiro, e tinha pele bronzeada, igual a desses surfistas que se vê sempre nas praias da Califórnia. Os olhos eram extremamente claros, como é comum nos vampiros, exceto em algumas exceções.

Não gostei do sorriso na cara dele quando ele olhou para mim.

— Sim.

— Me chamo Thomas Kroell. Sou o primo de Alec — Ele estendeu a mão para eu apertar.

Apertei a mão dele com força, minha mãe sempre disse que pessoas fortes tem que apertar a mão com força.

Observei os dois primos. Eles não tinha nenhuma semelhança sequer. Alec parecia um desenho em preto-e-branco com seus cabelos e olhos negros e a pele extremamente branca. Thomas tinha a pele bronzeada e cabelos dourados e era musculoso, excessivamente musculoso.

— Você e Alec não se parecem — conclui depois de compará-los.

Alec sorriu.

— Graças aos deuses.

Thomas não pareceu ficar ofendido. Ele parecia distraído demais olhando para mim. Detesto isso, quando os garotos começam a me olhar como se eu fosse apenas um pedaço de carne ou uma bonequinha bonita.

— Christine... — Thomas falou.

Encarei ele.

— Fala.

— Eu gostaria de ser esse picolé que você está chupando — Ele apontou para o picolé que estava na minha boca.

Como essa praguinha fala isso?

Digamos que fiquei furiosa. Mentira, eu queria pegar a cabeça dele e enfiar na parede, depois que ele estivesse tonto eu daria chutes nas bolas dele até ele desmaiar de dor.

— Já não basta ser fresco, quer ter um palito enfiado no rabo também? — respondi.

No mesmo instante os colegas dele começaram a rir. Se eu tivesse chutado ele não seria tão vergonhoso quanto isso: perder a moral na frente dos coleguinhas.

Ele ficou lá, na minha frente, me encarando de boca aberta.

Toma idiota, pensou que eu fosse uma das vadiazinhas que você pega por aí?

— Olhe, tem uma lança bem atrás de mim — avisei, apontando para a lança na prateleira — É melhor começar a correr, caso contrario eu posso decidir te deixar mais parecido com um picolé do que você gostaria.

Bom, ele correu. E os seus colegas seguiram ele, rindo.

Alec me encarou.

— O que achou do meu adorável priminho?

Sorri angelicalmente.

— Uma adorável praga. Tem uma estranha fascinação por picolés, tanto que talvez eu o deixe parecido com um.

— Acho que agora ele vai ter medo de você — O vampiro avisou.

Eu gargalhei. Não entendo o motivo, mas alguma parte de mim gosta que os outros me temam. Estranho, não é?

[...]

Algumas horas mais tarde, eu estava deitada na cama com Idia me massageando as costas. As patinhas dela eram pequenas na forma de gata e faziam um bom trabalho em massagear as articulações doloridas. Se um dia eu precisar de dinheiro, vou colocar Idia como massagista profissional.

— Você está irritada hoje — Idia afirmou.

Assenti.

— Isso é estranho — Ela murmurou.

— O que? Eu estar irritada? Bom, eu me irrito facilmente, já pensei que você já estivesse acostumada — disse eu.

Ela deslizou as patas para a parte superior da minha coluna.

— Não esse tipo de irritação. Parece que algum tipo de magia está a influenciando para ficar irritada.

Fiquei quieta, aquilo era confuso e também era estranho saber que alguém estava tentando me influenciar com magia. Mas que vantagem alguém conseguiria me deixando irritada.

Então caiu a ficha. Tem pessoas que fazem besteiras quando estão irritadas.

— Idia?

— Hum, fale.

— Você acredita no que te disse sobre a cobra flamejante? — perguntei.

Ela parou subitamente.

— Nessa vida já vi gigantes, monstros, deuses, ninfas reais, leões gigantes, deuses serem destruídos, mortais virarem animais. Então por que diabos não irei acreditar que uma cobra flamejante te atacou? Se me lembro bem, uma cobra de Trivia já tinha te atacado antes, e eu que a matei.

Bom, pelo menos alguém acreditava em mim. Isso era consolador.

Do lado de fora do quarto, Alec e Vanessa estava discutindo. Pensei em gritar para eles pararem, já que estavam atrapalhando minha sessão de massagem, mas me decidi ficar quieta. Brigas de irmãos são iguais brigas de casal, se você se mete, vai var coisas na sua cara.

Alguns instantes depois, Vanessa entrou no quarto, batendo a porta com força. A pobre porta caiu da parede e se partiu em duas.

— Assassina de portas — sibilei.

Ela estava totalmente histérica. As mãos delas estavam puxando os cabelos ruivos e o rosto dela estava vermelho de raiva.

— Meu irmão é uma praga! — Ela gritou, embora eu não ache que foi necessário gritar.

Sorri.

— Que bom que descobriu.

Ela jogou um travesseiro em mim. A sorte era que Idia estava atrás de mim, e fatiou o travesseiro em dois com as unhas antes dele me atingir.

— Tá louca? — perguntei.

— Aquela praga ignora o nosso pai. Chamou-o de velho idiota. Como aquele serzinho não pode ter respeito por ninguém? — Vanessa continuou a se lamentar.

Pensei em dizer que se Alec chamou Gideon de velho idiota, o problema era de Gideon e não dela. Mas Vanessa era muito ligada ao pai e provavelmente jogaria outro travesseiro em mim.

— Vá falar com ele, por favor — Ela me olhou suplicando.

Apenas ri.

— Por que eu? Isso são problemas familiares idiotas.

— Ele iria te escutar.

Neguei-me a ir e Vanessa ficou choramingando por horas. Eu precisava dormir, então concordei a ir. Eu e Alec não conversaríamos sobre problemas familiares e sim sobre os problemas psiquiátricos de Vanessa, muito provavelmente.

Fui até o quarto da criatura e ele não estava lá. Também não estava junto de Ilithya ou em algum lugar do Campo de Treinamento.

Tive uma ideia instintiva de ir procurar na floresta. Era uma idiotice, mas seria algo que eu faria, ficar escondida na floresta até largarem do meu pé.

Estava noite e escuro, mas não era problema para mim já que vejo tão bem no escuro como se fosse dia. Depois de caminhar alguns minutos floresta adentro, achei-o. Se eu sinto medo de animais noturnos? Claro que não, eles que devem sentir medo de mim.

Ele estava em uma espécie de clareira no lado esquerdo da trilha. Naquela área tinha poucas árvores, deixando um gramado aparecer. Um pequeno laguinho percorria entre as gramas.

Era um bom lugar para poder sentar e pensar, fui obrigada a admitir.

— Vanessa mandou você aqui, Christine?

Nem tinha anunciado a minha presença lá, e apenas de caminhar tão silenciosamente como Idia, a criatura tinha me percebido.

— Na verdade ela pediu para que eu viesse te procurar para dar um sermão sobre modos de tratar seu pai. Mas digamos que no momento temos alguns problemas maiores para resolver do que problemas familiares.

Ele estava sentado em uma rocha que era grande suficiente para ser um banco. Sentei-me no lado dele e o encarei.

— Fale agora — rosnei.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Falar o que?

— O motivo dessa parede mental.

Ele riu e de repente me senti tentada a jogar uma pedra nos dentes dele para ver se ele continuaria rindo.

— Isso não é da sua conta.

Infelizmente não tinha nenhuma pedra grande o suficiente por perto. Realmente uma pena.

— Será? Você nunca me escondeu nada durante esse tempo todo. Se você está me escondendo algo deve ser importante, ainda mais nesse tempo em que estão ocorrendo assassinatos... — Joguei no ar.

Ele me encarou por um tempo e seus olhos se estreitaram.

— Você está me acusando de assassinato?

Sorri maldosamente.

— Talvez.

— Você sabe muito bem que não tenho nenhum motivo para desejar a morte daquelas pessoas. Embora que eu goste da ideia de esmagar Ethan, mas eu não faria isso com um lustre. Faria com as minhas mãos — disse ele.

Lembrei-me que Ethan foi um namorado de Vanessa por uma quinzena, e Alec provavelmente não ia com a cara dele. Na verdade, poucas pessoas iam com a cara de Ethan, para ser sincera.

— Tudo bem, mas eu adoraria muito saber o motivo dessa parede mental — falei — A menos que você tenha algo relacionado com assassinatos á esconder.

Ele sorriu, mas sem nenhum toque de humor nos olhos.

— Na verdade, isso tem a ver com uma tentativa de assassinato, mas isso foi á muito tempo.

— Tentativas de assassinatos? Como?

— A tentativa de assassinato de uma criança.

Então a parede mental ruiu. O choque foi tão grande que senti como se a minha cabeça fosse explodir e fechei os olhos. Quando abri os olhos novamente, eu não estava mais na floresta.

Eu estava em uma sala luxuosa. Tinha uma mulher sentada em um sofá lendo uma revista de arquitetura. A mulher era jovem e tinha por volta dos vinte e cindo anos, pelo menos aparentava isso, quando se trata de seres sobrenaturais não dá para ter certeza plena. Eu podia sentir que ela era uma feiticeira, era até inexplicável. O rosto dela me parecia comum e os cabelos e olhos negros me pareciam ainda mais comuns.

Tinha um garotinho escalando uma estante de madeira repleta de livros e vasos. O garotinho era familiar, tinha uma pele incrivelmente pálida e olhos negros vividos. Alec, mas só que era ele quando tinha seis anos no máximo.

— Alec, sai daí — A mulher falou enquanto tirava os olhos da revista — Você vai quebrar esses vasos!

O garotinho sorriu com um tom irônico demais para uma criança daquela idade. Então deu uma cotovelada proposital em um vaso de cerâmica com o desenho de um dragão de três cabeças.

Os cacos se espalharam pelo chão e um fiapo de fumaça negra foi libertado dele. Esse fiapo de fumaça começou a ganhar consistência até formar uma forma tênue de um dragão de três cabeças tremeluzente.

A mulher levantou sofá sobressaltada e o garotinho se escondeu na instante, tendo dessa vez cuidado para não derrubar nada.

O dragão estava sólido e parecia mais ameaçadora assim do que feito de fumaça. Ainda era cinza, mas os grandes olhos eram de um verde brilhante e ofuscante.

A primeira cabeça lançou uma rajada de fogo na mulher. Por um momento pensei que ela iria virar churrasco, mas um escudo negro apareceu em sua volta.

O dragão sibilou a atacou com os dentes e em seguida os vidros da janela se estilhaçaram. Mas o golpe voltou contra ele, os vidros que caíram no chão se ergueram e voaram contra o dragão, penetrando nas escamas.

Aquela mulher era uma Maga de Telecinésia, aquilo ficou evidente depois que uma espada que estava decorando a parede voou para cima do dragão e decepou as três cabeças com um único golpe.

Felizmente, o dragão não era uma hidra, e morreu.

Então o escudo ao redor da mulher se desfez e ela tombou sobre o sofá. Com o corpo inclinado de lado deu para perceber que o escudo não a protegeu de tudo. Ao lado da cintura, tinha um corte enorme feito por dentes de um dragão.

Depois dessa cena passaram-se vários flashes. Em um deles, a mulher de cabelos negros estava deitada em uma pira funerária e Gideon acendia a pira com a tocha. No canto mais afastado do local tinha duas crianças chorando. Uma delas era uma garotinha de sete ou oito anos, com os cabelos castanhos claros e olhos azuis. Era Vanessa, embora ainda não tivesse tingido o cabelo de ruivo, pude reconhecer. E a outra era Alec.

Então mudou novamente o cenário. O encolhido no canto de uma parede e caiam lagrimas dos olhos. Ele estava com remorso era evidente.

— Por que você fez isso? — Gideon, o pai dele, gritava — Garotinho infeliz! Por que foi derrubar aqueles vasos? — Então Gideon ergueu Alec pela beirada da camiseta e o encarou.

O garotinho encolheu-se.

— Eu não sabia — Murmurou com lagrimas escorrendo — Estava brincando, entende? Pensei que iria quebrar o vaso como se quebra vasos normais, mamãe esbravejaria e diria que eu iria limpar tudo e nada de ruim aconteceria. Mas saiu um dragão.

Gideon gritou de raiva e arremessou a criança na parede. O estrondo fez até meus ossos doerem.

A parede tremeu e um punhal que a decorava caiu no chão. Gideon apanhou o punhal com os olhos brilhando. Não gostei daquele olhar. O punhal era de bronze e prata com desenhos de gatos incrustados.

Com um golpe rápido, ele tirou o punhal da bainha e acertou um ponto entre o pescoço e a clavícula com a parte laminada. Depois disso, ele virou as costas, deixando a criança sangrando no chão. Os olhos negros do garoto estavam se fechando.

Então voltei à realidade. Estava sentada em uma pedra, no meio da floresta com Alec ao meu lado. Estava tão chocada que nem consegui abri a boca.

— Seu pai é um monstro! — foi a única coisa que consegui afirmar.

— Sim ele é — Ele abaixou a gola da camiseta e exibiu onde tinha uma cicatriz mais clara que o resto da pele — Mais tarde, tia Ilithya me encontrou morrendo no chão e usou os poderes de cura dela para me salvar. Mas antes de ele me apunhalar, ele já batia em mim, ninguém nunca acreditava quando eu falava. Depois de ver o que ele fez, minha tia me chamou para morar com ela. Vanessa sempre se pergunta por que eu preferi morar com Ilithya do que com nosso pai depois da morte da nossa mãe.

— Vanessa sabe disso? — perguntei cautelosamente.

— Não.

Senti vontade de estraçalhar Gideon. Colocar fogo naquela armadura doura dele e assistir ele cozinhar lá dentro. Seria lindo. Ele era o líder da Guarda, mas não merecia isso, a única coisa que uma pessoa que tenta matar uma criança merece é o Campos de Punição, com direito a chicotada de Erinias.

— Vou matar esse desgraçado — sussurrei.

Levantei-me da rocha e comecei a correr na direção do Campo de Treinamento. Seria simples, era só entrar naquele quarto onde o miserável estava instalado, que era bem fácil de achar, era só procurar o mais luxuoso, e depois era só enfincar uma faca na garganta dele, o que também devia ser fácil, já que percebi que ele tem o péssimo habito de usar armas como decoração.

Alec estava correndo atrás de mim. Apesar de tudo, ele não queria que eu fizesse uma besteira ou que Vanessa ficasse triste com a morte do pai.

Mas eu era mais rápida, cheguei até o salão do Campo de Treinamento e me preparei para subir as escadarias até o quarto de Gideon, mas então parei.

Parei por que Gideon já estava morto. Preso na parede do salão por um punhal enfincado no peito, encima do coração.

Pela primeira vez, senti vontade de parabenizar um assassino.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo :#MorteÁGideonViado.

Sei que o capitulo demorou bastante. Vocês não fazem ideia, primeiro o notbook pifou, depois fiquei com uma gripe infernal que me desmotivava até a levantar da cama.

E aí, o que acharam? Chocante? Gostaram do lindo final de Gideon? Acho que a grande parte de vocês vão estar torcendo para ele levar umas belas chicotadas no mundo inferior huahusausa

O cap ficou grande né, acho que ficar tanto tempo sem escrever causou isso.