Ilha das Nuvens escrita por Masrani


Capítulo 2
Depois da Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Depois da tempestade, vem a calmaria. Hora de por os pensamentos no lugar e se preparar para os eventos futuros.



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Acordei com o som do equipamento de monitoramento cardíaco. O bipe sequencial estava lento. Não entendo do assunto, mas acredito que o som deveria ser mais continuo e frequente. Algo não estava certo, eu estava respirando com a ajuda de aparelhos. A máscara no meu rosto, me atrapalhava ver se havia mais alguém no quarto comigo. Me sentia mais fraco do que a primeira vez que acordei naquele lugar. Eu só queria uma coisa: sair logo daqui e voltar para casa. Deixei minha mãe no Brasil quando fui a Nova York estudar e.. minha mãe! Será que ela sabe que eu estou em um hospital na Costa Rica? Eu não me lembrei de fazer contato com ela quando acordei aqui e apaguei pouco tempo depois. Espero que ela não esteja preocupada.

   Dormi e acordei poucas horas depois. Eleanor estava ao meu lado. Fiquei feliz em vê-la. Esbocei um sorriso, mas tenho quase certeza que ela não o viu por causa dessa mascará enorme na minha cara.

   __ Bom dia.__ eu sei que ela disse com todo o carinho possível por causa de seu sorriso, mas sua voz soou distante em meus ouvidos. E sei que ela percebeu que algo estava errado pela minha expressão. Eu fiquei surpreso ao escuta-la daquela maneira. __ Calma, esta tudo bem.__ de novo a voz ficou distante como um eco em uma gruta.__ Você deve estar me ouvindo estranho, certo?__ eu balanço a cabeça levemente afirmando.

   Com um sorriso maroto no rosto ela passa o corpo por sobre o meu, o braço estica por sobre minha cabeça, ela tira algo do meu ouvido esquerdo. Ela fica novamente de pé ao meu lado, se abaixa um pouco e tira algo também do meu ouvido direito. Dando risadas ela me mostra duas bolas de algodão.

   __Mosquitos! O ventilador não estava dando conta.__ entendo a tática. Estamos em um país tropical, é normal que por causa do calor haja muitos insetos. E pelo estado do hospital, sei que mosquitos aqui são visitantes comuns.__ Eles poderiam entrar no seu ouvido enquanto esteve em coma.

A ultima palavra da frase fez com o que sorriso que se formava em meu rosto desaparecesse. O bipe nos aparelhos ficaram mais frequentes. Juntei forças e tirei a mascara do meu rosto. A principio não senti diferença alguma, mas poucos segundos depois já senti e entendi o motivo de estar usando aquilo. Minha respiração ficou ofegante, parecia que o simples fato de respirar se tornará um exercício impossível pra mim. Eleanor percebe meu nervosismo e rapidamente coloca minha mascara de volta. Sinto as mãos quentes dela enquanto ela ajusta a mascara em mim. Aquele calor me deixa um pouco mais calmo. Mas ainda não consigo acreditar no que ouvi.

   __Quanto tempo estive em coma?__ Cada palavra consumiu o pouco de força que eu tinha. Espero que ela tenha entendido, pois não conseguiria repeti-las.

   __Três semanas.

   Meu Deus, como posso ter ficado três semanas em coma? O que aconteceu? Avisaram minha mãe? Eu precisava fazer essas e muitas outras perguntas, mas nenhuma palavra saiu de minha boca. Talvez não tenha sido uma boa ideia ter escolhido a Costa Rica como local para minhas fotos. O Brasil tem lugares lindos. Mas o custo seria muito maior. Não adiantava ficar me lamentando por minhas escolhas. Eu podia ter ido para a Floresta Amazônica e ter tido um destino pior.

   Nos cinco dias que se sucederam, eu tive uma grande melhora. Eleanor me visitava todos os dias. Eu já estava me acostumando com a presença dela. Miguel fora me visitar duas vezes. Estranho um guia se importar tanto com um cliente. Ele poderia ter me levado para aquele hospital e me deixado lá para melhorar ou quem sabe morrer. Que diferença faria? Ele não era o culpado. Um animal morder um turista deve ser normal, e não deve acarretar responsabilidades ao guia, eu acho.

   Nas vezes em que veio me visitar, Miguel não falara muito e não ficava mais do que uma hora. Ele parecia preocupado. Parecia que queria falar algo, mas não tinha coragem. Acho que os esquipamentos ligados a mim o preocupavam, talvez por receio de que eu pudesse ter alguma recaída. Quando finalmente eu já não tinha mais nenhum aparelho ligado a mim, em uma tarde enquanto fazia um lanche (um suco sem açúcar e um biscoito que mais parecia ração), Miguel entrou em meu quarto com um envelope nas mãos. Ele estava mais tenso do que o normal.

   __ Lagartos basiliscos não conseguem derrubar um homem adulto.__ ele jogou o envelope sobre minhas pernas.__ Não, eles não são capazes disso.__ eu abri o envelope. Havia fotos dentro dele. Eram minhas fotografias. As que eu fiz no dia que fui mordido.__ Eu fiquei com suas coisas.__ ele percebeu minha surpresa ao reconhecer as fotos.__ Estava as guardando para você. Não dá pra confiar muito nesse hospital. Vá por mim.

   Folheei as fotografias. Estavam ótimas, não querendo me gabar. Mas uma me chamou a atenção. Sobre uma pedra, lá estava ele, de pé sobre as patas traseiras, o maldito que me mordera. Como não o notei enquanto fazia as fotos? Bem, eu notei sim, mas entre tantos outros animais que avistei naquele dia, pensei ser apenas mais um na biodiversidade da região. A Costa Rica tem uma fauna muito extensa e diversificada. Enquanto eu olhava as fotos, Miguel ainda falava. Eu não estava prestando atenção, até que ele disse as seguintes palavras:

   __ Um basilisco não faria isso, mas um dinossauro sim.

  __ Espera, espera.__ pela primeira vez desde que Miguel entrou em meu quarto hoje eu me pronunciei.__ Do que você esta falando? Dinossauros? Você vai começar com esse papo de InGen de novo.

   __ Olhe para a foto.__ eu olhei__ O que você vê?

   __ Um lagarto de pé?__ eu sabia onde ele queria chegar, mas não tinha como acreditar em suas palavras. Dinossauros estavam extintos a 65 milhões de anos. Como um empresa iria traze-los de volta a vida sem que ninguém soubesse? É impossível.

   Miguel mexe nos bolsos. Ele tira um papel dobrado que eu já havia visto alguns dias atras dentro de um pequeno caderno. Miguel se aproxima e coloca a folha ao lado da foto em minha mão.

   __ Olhe bem. É o mesmo animal.

   Não tinha como afirmar, mas eram bem parecidos e isso me deixou com minhocas na cabeça. Era mesmo um dinossauro?

   __ Eu mostrei essa foto a um amigo.__ Miguel ficou entusiasmado e eu sei que foi por causa de minha expressão. Eu preciso tomar cuidado com minhas reações. Elas me entregam demais.__ Ele é louco por dinossauros e tem um amigo paleontólogo. Ele enviou essa foto para esse amigo dele e o cara pode jurar que trata-se de um comp.. comps.. alguma coisa assim.

   __ Um Compsognathus?__ quando criança, assim como muitos eu acredito, eu lia muitos livros sobre dinossauros e adorava ver gravuras deles. Eles atiçavam minha imaginação. Mas pensar que isso na foto era um Compsognathus, era demais pra mim. __Eu não posso acreditar.__ continuei. Mas por dentro já estava quase cem por cento certo de que aquela coisa na foto, a mesma que me mordeu, era mesmo um dinossauro, mas preferi seguir pelo ceticismo.

   __ Aposto que o que feriu o Sr. Levine na Isla Sorna foi um dinossauro e que se ele tivesse sobrevivido ele iria confirmar.

  __ Espere, o Sr Levine morreu?__ me lembrei do cheiro pútrido daquela noite e rapidamente fui olhar meu ferimento e involuntariamente o cheirei. Nada de errado. A aparência não era tão ruim e não cheirava a podre.

   __ Infelizmente. Os ferimentos dele eram maiores que o seu.__ Miguel realmente lamentava a morte de Levine.__ Ele também teve febre, assim como você. Fizeram o que foi possível, mas ele não resistiu.

   __ Se isso realmente for um dinossauro, o Dr. Malcon talvez não fosse tão louco assim.

   Miguel e eu ficamos ali discutindo sobre aquele animal por mais algumas horas. Ele me convenceu a voltar ao local do ataque para tentarmos achar o lagarto e captura-lo assim que tivesse alta. Se for realmente um dinossauro, esse animal valeria uma fortuna. Antes disso tudo, eu fiz contato com minha mãe e contei sobre o acontecido. Claro que ela ficou louca e queria que eu voltasse ao Brasil no primeiro voo. Ela não sabia, mas eu tinha algo para fazer antes de voltar para casa.

 

O que eu não sabia era que ao entrar nessa "aventura", eu estaria traçando meu destino. A febre foi só o começo de minha degradação.


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