Pretty little liars escrita por wendy


Capítulo 8
7. Spencer tem o deltoide posterior tenso




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— Olha a bunda dele!

— Cala a boca.

Spencer bateu no protetor de sua amiga, Kirsten Cullen, com o taco de hóquei. Elas deveriam estar treinando jogadas de defesa, mas, na verdade, estavam — assim como o restante do time — muito ocupadas avaliando com os olhos o novo assistente da treinadora naquele ano. Que era ninguém menos que Ian Thomas.

A pele de Spencer pinicava de tanta adrenalina. Mas era estranho, ela se lembrava de Melissa mencionando que Ian havia se mudado para a Califórnia. Mas e daí, uma porção de gente, que nem passaria pela sua cabeça, acabara voltando para Rosewood.

— Sua irmã foi uma estúpida por terminar com ele — Kirsten comentou. — Ele é tão gato.

— Shhh! — Spencer deu uma risadinha. — E, de qualquer forma, minha irmã não terminou com ele. Foi ele quem deu um pé na bunda dela.

O apito soou.

— Mexam-se! — gritou Ian, correndo na direção delas. Spencer se inclinou para amarrar o tênis, como se não desse a mínima. Sentiu os olhos de Ian sobre ela.

— Spencer? Spencer Hastings?

Spencer se levantou bem devagar.

—Ah... Ian, não é?

O sorriso dele foi tão amplo que Spencer ficou surpresa que suas bochechas não tivessem se rasgado. Ele ainda tinha aquele ar americano de eu-vou-assumir-a-empresa-do-papai-aos-vinte-e-cinco, mas agora seu cabelo cacheado estava um pouco mais comprido e desarrumado.

—Você está tão crescida! — exclamou.

— Acho que sim. — Spencer deu de ombros.

Ian passou a mão na nuca.

— Como vai a sua irmã?

— Hum... ela vai bem. Se formou cedo. Está indo para Wharton.

Ian baixou a cabeça.

— E os namorados dela ainda se apaixonam por você?

Spencer ficou de boca aberta. Antes que pudesse pensar em uma resposta, a treinadora, sra. Campbell, soprou seu apito para chamar Ian.

Kirsten agarrou o braço de Spencer assim que ele deu as costas.

—Você está completamente louca por ele, não está?

— Cala a boca! — rosnou Spencer.

Enquanto corria para o centro do campo, Ian deu uma olhada para ela por cima dos ombros. Spencer prendeu o fôlego e se inclinou para examinar seus tênis. Não queria que Ian percebesse que ela olhava para ele.

Quando chegou em casa depois do treino, o corpo todo de Spencer doía, de seu traseiro até seus ombros, até os dedos dos pés. Ela havia passado todo o verão organizando comitês, se matando de estudar para as provas da universidade e atuando no teatro comunitário — Miss Jean Brodie, na peça Primavera de uma solteirona, em nossa cidade e Ofélia, em Hamlet. Com tudo isso, ela não tivera tempo de se manter em forma para o hóquei e, naquele momento, sentia as consequências disso .

Tudo o que ela queria era subir as escadas, cair na cama e não pensar sobre como o dia seguinte seria sobrecarregado: café da manhã com o clube de francês, ler os recados da manhã, cinco tempos de aula, testes de teatro, uma passada rápida pelo comitê do livro do ano e outro treino exaustivo no hóquei de campo com Ian.

Ela abriu a caixa de correspondência na entrada de sua casa, esperando encontrar suas notas dos primeiros testes para a universidade. Os resultados deveriam chegar a qualquer momento, e ela tinha um bom pressentimento sobre eles — melhor, na verdade, do que já tivera sobre qualquer outra prova. Mas, infelizmente, só havia uma pilha de contas, folhetos explicativos sobre os investimentos de seu pai e um envelope mais grosso endereçado à senhorita Spencer J. (de Jill) Hastings, da Universidade de Appleboro, em Lancaster, na Pensilvânia. Rá, como se ela fosse para lá.

Dentro de casa, colocou a correspondência sobre a bancada de mármore da cozinha e teve uma ideia: a hidromassagem do quintal. Um banho relaxante. Aaaaah, grande ideia. Ela fez carinho em Rufus e Beatrice, os dois labradores da família, e jogou dois King Kongs de brinquedo no quintal, para eles correrem atrás. Depois, se arrastou pelo pátio azulejado, na direção do vestiário da piscina. Parando um pouco à porta, pronta para tomar uma ducha e colocar o biquíni, ela se deu conta: Quem se importa? Estava cansada demais para se trocar, e não havia ninguém em casa. E a banheira de hidromassagem era cercada por arbustos. Quando chegou perto, a hidromassagem borbulhou, como se antecipasse sua chegada. Ela tirou a roupa até ficar só de calcinha, sutiã e com as meias longas de hóquei, inclinou-se para a frente para relaxar as costas e entrou na banheira. Ah, agora sim.

—Ah.

Spencer se virou. Wren estava perto das roseiras, nu da cintura para cima, vestindo a cueca boxer da Polo mais sexy que ela já vira.

— Opa. — Ele se cobriu com uma toalha. — Desculpe.

— Vocês só iam chegar amanhã. Só amanhã — rosnou ela, apesar de ele estar ali, naquele exato momento, que obviamente era hoje e não amanhã.

— Sim. Mas sua irmã e eu estávamos na Frou — explicou Wren, fazendo uma careta. A Frou era uma loja impressionante, que ficava a algumas cidades de distância e vendia fronhas avulsas por milhares de dólares. — Ela se envolveu em alguma missão por lá, e me mandou vir para cá e me divertir sozinho.

Spencer esperou que aquela fosse apenas uma expressão inglesa bizarra.

—Ah, tá— disse ela.

—Você chegou em casa agora?

— Eu estava no hóquei. — Spencer se recostou e relaxou um pouquinho. — O primeiro treino do ano.

Spencer deu uma olhada em seu corpo difuso embaixo d'água. Ah, meu Deus, ela ainda estava de meias. E com calcinhas velhas de cintura alta e o sutiã de ginástica Champion. Ela se xingou por não ter vestido o biquíni amarelo da Eres que havia acabado de comprar, mas depois percebeu que isso era um absurdo.

— Bem, eu estava querendo relaxar aqui, mas se você quer ficar sozinha, está tudo bem para mim — declarou Wren. —Vou entrar e ver televisão. — Ele começou a se afastar.

Spencer ficou um pouco desapontada.

—Ah, não — disse ela. Ele parou. — Você pode entrar aqui. Eu não ligo. — Rapidinho, enquanto ele ainda estava de costas, ela arrancou as meias e jogou-as nos arbustos. Elas aterrissaram com o barulho de um tapa molhado.

— Bem, se você tem certeza disso, Spencer —Wren concordou. Ela adorava o jeito que ele dizia o nome dela, com aquele sotaque britânico: Spen-saah.

Ele entrou na banheira com timidez. Spencer ficou bem afastada dele, em seu canto, com as pernas encolhidas embaixo do corpo. Wren deitou a cabeça para trás, no deque de con-creto, e suspirou. Spencer tentou não pensar nas cãibras que teria, e em como suas pernas ficariam doloridas por estarem naquela posição. Ela deu uma esticadinha de nada em uma delas, e encostou na batata da perna firme de Wren. Ela puxou a perna para longe dele.

— Desculpe.

— Não se preocupe. Hum, hóquei, hein? Eu era da equipe de remo de Oxford.

— É mesmo? — Spencer esperava não ter soado muito animada ou forçada. Sua paisagem favorita, ao entrar na Filadélfia, era a das equipes dos rapazes das universidades Penn e Temple, remando no rio Schuylkill.

— É isso aí. Eu amava aquilo. Você também adora hóquei?

— Hum, na verdade, não. — Spencer soltou o rabo de cavalo c sacudiu a cabeça, mas então se perguntou se Wren não iria achar aquilo muito vulgar ou ridículo. O clima entre eles que ela sentira no Moshulu devia ter sido só imaginação.

Mas, ora bolas, Wren havia entrado na banheira de hidromassagem com ela.

— Mas se você não gosta de hóquei, por que joga? — quis saber Wren.

— Porque é bom para a minha imagem, me ajuda a entrar para a faculdade. Wren se endireitou, fazendo a água se agitar.

— Sério?

— Ah, sim.

Spencer se contorceu e jogou o corpo para trás quando começou a sentir cãibras nos ombros e no pescoço.

—Você está bem? — perguntou Wren.

— Sim, não foi nada. — Spencer respondeu e, sem motivo algum, sentiu-se invadida por uma onda de desespero. Era só o primeiro dia de aula e já estava em péssimas condições. Pensou em todo aquele dever de casa que tinha que fazer, listas que precisava escrever e falas a serem memorizadas. Ela estava ocupada demais para ter uma crise de nervos, mas essa era a única coisa que a impedia de enlouquecer.

— É seu ombro?

— Acho que sim. — Spencer tentou fazer um movimento circular com um dos ombros. — No hóquei, a gente passa um tempão curvada e eu não sei se dei um mau jeito, ou sei lá...

— Aposto que posso dar um jeito nisso.

Spencer o encarou. De súbito, sentiu um ímpeto de correr os dedos pelo cabelo despenteado dele.

— Ah, não, pode deixar. Mas obrigada, de qualquer forma.

— É sério. Não vou morder você.

Spencer odiava quando as pessoas diziam isso.

— Eu sou médico — continuou Wren —, aposto que é seu deltoide posterior.

— Hum, tá...

— É um músculo do ombro. — Ele se ajeitou para que ela pudesse se aproximar. — Vem cá. Sério. É só relaxar o músculo.

Spencer tentou não interpretar aquilo de forma maldosa. Afinal de contas, ele era médico. Ela estava sendo boba. Spencer deslizou até ele e ele fez pressão no meio das costas dela. Seus dedões apertaram os pequenos músculos em volta da espinha dela. Spencer fechou os olhos.

— Uau, isso é incrível — murmurou.

—Você está com acúmulo de líquido no saco sinovial.

Spencer tentou não dar risadinhas ao ouvir a palavra saco. Quando ele enfiou os dedos por baixo de seu sutiã para massagear melhor, ela engoliu em seco. Tentou pensar em coisas assexuadas: os pelos do nariz de seu tio Daniel; a cara de constipação de sua mãe quando montava a cavalo; quando sua gata, Kitten, carregara uma toupeira morta desde o riacho para deixá-la em seu quarto. Ele é médico, disse ela a si mesma. É isso que os médicos fazem.

— Seus peitorais também estão um pouco tensos — disse Wren e, de uma forma apavorante, moveu a mão para a frente do corpo dela. Ele escorregou seus dedos por baixo do sutiã dela, massageando um pouco acima do peito, até que, de repente, uma das alças

escorregou pelo ombro. Ela perdeu o fôlego, mas Wren não se afastou. Isso é uma parada de médico, lembrou a si mesma, novamente. Mas depois se deu conta: Wren estava no primeiro ano de medicina. Ele vai ser um médico, ela se corrigiu. Um dia. Daqui a mais ou menos dez anos.

— Hum, onde está minha irmã? — perguntou ela, baixinho.

— Fazendo compras, eu acho. No Wawa, talvez?

—Wawa? — Spencer deu um tranco para se afastar de Wren e colocou a alça do sutiã de volta no ombro. — Wawa fica só a um quilômetro e meio daqui! E se ela foi até lá, vai só comprar cigarros ou alguma coisa assim. Ela pode chegar a qualquer momento.

— Não achei que ela fumasse. —Wren inclinou a cabeça de forma questionadora.

— Ah, você sabe o que quero dizer! — Spencer ficou em pé na banheira, agarrada à sua toalha Ralph Lauren, e começou a secar o cabelo com fúria. Estava com tanto calor. Sua pele, seus ossos, até mesmo seus órgãos e nervos, pareciam ter sido cozidos na banheira de hidromassagem. Ela saiu de lá e correu para a casa, querendo um grande copo d'água.

— Spencer — gritou Wren —, eu não quis... Eu só tentei ajudar.

Mas Spencer não deu ouvidos. Subiu correndo para seu quarto e olhou em volta. Suas coisas estavam em caixas, embaladas para a mudança. De repente, quis tudo organizado. Sua caixa de joias precisava ser organizada pelas pedras. Seu computador estava lotado de trabalhos velhos de inglês de dois anos atrás, que, mesmo tendo recebido notas A naquela época, eram provavelmente muito ruins, vergonhosos, e deveriam ser deletados. Ela olhou para os livros em caixas. Eles precisavam ser arrumados por assunto, não por autor. Lógico. Ela tirou os livros das caixas e começou a colocá-los nas prateleiras, começando por Adultério, A letra escarlate.

Mas quando chegou a Utopias que não deram certo, ainda não se sentia melhor. Então, se sentou na frente do computador e pressionou o mouse sem fio, que estava bem fresquinho, em sua nuca.

Ela clicou em sua caixa de e-mails e viu que havia um não lido. Na linha de assunto estava escrito "Vocabulário para o vestibular". Curiosa, clicou nele.

Spencer,

Cobiça não é fácil. Quando alguém inveja alguma coisa, a deseja e fica ávido por ela. Geralmente é algo

que não se pode ter. Mas você sempre teve esse pro- blema, não é? — A

O estômago de Spencer embrulhou. Ela olhou em volta.

Quem... diabos... poderia... ter visto?

Ela abriu a maior janela do quarto, mas a garagem da casa estava vazia. Spencer olhou ao redor. Uns poucos carros passavam ao longe. O jardineiro dos vizinhos estava aparando a cerca viva do portão da frente. Os cães perseguiam uns aos outros no quintal. Alguns pássaros se empoleiraram no topo do poste telefônico.

E então, algo chamou sua atenção na janela superior da casa do vizinho: a rápida visão de cabelos louros. Mas a família nova não era negra? Um arrepio gelado correu pela espinha de Spencer. Aquela era a antiga janela do quarto de Ali.


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