O País dos Generais escrita por Redbird


Capítulo 21
Passados e futuros


Notas iniciais do capítulo

Olá seus lindos!!!
Eu aqui mais uma vez. Gente,eu realmente espero que vocês gostem deste capitulo. Ele é totalmente dedicado a Bex Valdez pela linda recomendação. Menina, você me emocionou até os osso. Obrigada mesmo! Eu fico muito feliz que esteja curtindo! E é claro, a minha maravilhosa Re ♥ ♥ Já havia dedicado o outro capitulo a você, mas esse também é seu. Obrigada pela recomendação amor. Te adoro. Seu apoio é tudo.
Enfim... aqui vai o capitulo, espero que gostem.



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  "Quem se importa quando o tempo de alguém acaba
Se um momento é tudo que somos?
Somos passageiros, passageiros
Quem se importa se mais uma luz se apagar?
Bem, eu me importo"

 

O frio foi o que fez com que eu acordasse. O mundo parecia suspenso, como se eu não devesse abrir os olhos. O vento da noite trespassava a janela completamente aberta e, por incrível que pareça, não me importei com isso. Até fiquei grato por todo o meu corpo estar paralisado com aquele gelo. Também não me surpreendi em ter acordado no quarto da Melanie. Era para lá que eu ia toda vez que precisava desesperadamente de conforto ou clarear as minhas ideias.  

Hoje fazia 12 anos que a tinham internado na clínica. Cinco dias depois ela estava morta. Um acidente. Foi o que eles disseram. Só que eu sabia, com toda a certeza da minha alma, que isso era uma mentira.  Me lembro do sorriso de Melanie, sua vontade de acreditar que tudo poderia ser melhor.  Isto era simplesmente impossível. Pior do que isso, era saber que ninguém além de mim iria se importar com a morte dela.  

Como se não bastasse, eu ainda não conseguia parar pensar no que acontecera ontem. Katniss não fora embora. A necessidade de ver ela era quase aterradora. O gelo que impregnava minha pele não era suficiente para matar a vontade de sair correndo e o comichão que eu sentia quando lembrava que ela estava em um perigo maior ainda do que antes. E eu sabia que não poderia entrar em contato com ela pelo menos por alguns dias. Senti gosto de sangue ao morder ao lábio. Deus! Isso era ainda mais assustador do que eu imaginara. Tudo saíra completamente errado.  

Desci as escadas e encontrei Cato lendo um livro calmamente. Senti meu estômago revirar ao pensar que, por hora, ele poderia ser um dos meu maiores aliados. Meu irmão levantou os olhos com curiosidade.  

—Ou você está treinando para ser um soldado e criar resistência ao frio ou realmente está tentando pegar uma pneumonia.  7 graus e você está vestindo apenas uma camiseta. Muito bem irmão! 

Não respondi. Ao invés disso fui até cozinha pegar um café. Detestava café. Chimarrão era outra coisa com a qual nunca consegui me acostumar. Não meu tipo de bebidas. Sou o mais tipo de pessoa que preferia chá. Mas, eu precisava acordar. Acima de tudo, precisava de algo forte. Quando voltei para sala Cato me encarou. Os olhos azuis faiscando de curiosidade.  

—Então, o que deu em você dessa vez? - Perguntou. 

Sentei no sofá e escondi minha surpresa por ele ter reparado. Cato nunca reparava nas minhas mudanças de humor. Para ele, eram uma constante na minha personalidade. Ele eu nunca fomos próximos. O garoto nunca deu a mínima para mim.   

Me lembro do dia que anunciaram que eu iria para os Estados Unidos. Eu não chorei. Não reclamei. Na verdade, naquela época, eu me importava com pouca coisa para ligar que eu estava sendo mandado embora pela minha própria família. Eu não tinha lar. Tanto fazia morar em Porto Alegre, na China ou nos Estados Unidos. O clima era o mesmo nas regiões temperadas do país, para onde eu seria mandado. Não precisaria de muitas roupas novas. Foi a única coisa que minha mãe me falou sobre o assunto.  

Cato me encontro no quarto de Melanie, brincando com o violão dela, um dia antes de eu partir. Eu adorava tocar, Melanie começou a me ensinar antes de morrer. Depois que ela morreu, não pude mais aprender. Papai nunca ia querer um dos filhos homens tocando violão e eu era muito novo para ter meu próprio dinheiro e muito menos para conhecer alguém que tocasse. As poucas notas e acordes que ela me ensinara eram um presente precioso e eu guardava comigo como se fosse o maior tesouro do mundo.  

Meu irmão, que do alto dos seu 15 anos parecia muito grande e assustador para mim, tirou o violão das minhas mãos. 

—Peeta, pare de fazer isso. Você precisa se comportar como um homem. Acho bom você arrumar essas coisas. Este ano fora vai fazer bem para você. 

Não sei o que aconteceu comigo. Eu nunca enfrentava Cato. Mas o soco que eu dei nele logo em seguida continha toda a raiva que eu guardara nos últimos dois anos. Ele caiu com um baque surpreso eu sai do quarto sem olhar para trás. Fiz minha mala, escondi um dos cadernos de música dentro de uma mochila, e não falei mais com ninguém. Dez horas depois eu estava em um avião para a Califórnia.  

Era incrível como eu sentia que nada havia mudado.Eu ainda era aquele garotinho assustado.Olhando para Cato agora, 11 anos depois, ainda tinha vontade de socar a cara dele e sair gritando por Melanie.  

—Katniss continua em Porto Alegre- falei rápido, aproveitando que ele parecia relaxado. 

 A confusão dele foi um presente que saboreei apesar do gosto amargo. Achei que ele fosse gritar comigo, mas para minha surpresa ele apenas passou as mãos pelos cabelos em total rendição.  -Isso pode ficar muito feio 

Tive vontade de rir. Cato poderia ser muito óbvio de vez em quando.  Apenas dei de ombros. Era fácil fingir que não me importava com ele, isso o irritava. E eu ainda não entendia o porquê. Sua paixonite por Katniss já havia sido superada.  As longas noites na casa de Clove deixavam isto bem claro.  

—Bom, a amiga é sua. Tentei fazer o que me pediu- Tomei o último gole do meu café.  Café... precisava me lembrar de nunca mais tomar isto- Se descobrir onde ela se meteu, aviso você.  

Eu podia dizer que o garoto ainda estava chocado. De um jeito todo Cato de ser é claro, com o olhar perdido e a maldita postura impecável.O que ele falou no entanto, enquanto eu subia as escadas par tocar de roupa fez com que o medo se apoderasse de cada célula do meu corpo.  

—Vamos torcer para acharmos ela antes que papai ou os militares a encontrem não é mesmo? 

Saí de casa meia hora depois, sem falar com ninguém. Coloquei uma roupa quente e sai apenas com um café no estômago. A clínica onde haviam internado Melanie não ficava muito longe dali, mas parecia ser em outro continente. Como não era caminho para o bonde tive que ir andando.  

 O prédio era uma construção em forma de U e parecia muito com uma antiga prisão colonial. Imaginei um filme antigo onde heróis se rebelavam contra a coroa e iam parar ali. Eu me sentia como eles. O próprio Edmund Dante, saído de sua prisão para descobrir a verdade. E se vingar.  

Além do prédio, tudo o que eu podia distinguir era campo. Árvores, bancos, até estátuas. Era como se o local quisesse dar a impressão de ser acolhedor. Falhara miseravelmente. Não funcionava como casa de internação há muito tempo, mas era como se eu pudesse sentir os gritos dos desesperados. Abandonados naquele lugar a própria sorte. 

 -O senhor precisa de alguma coisa?- Perguntou um dos soldados simpáticos que cuidavam do local.  

Não percebi que estava parado, gelado como uma estátua até encarar o guarda. Eu não tinha sido interno ali, mas frequentara o prédio do lado que era administrado pela mesma corporação. “ Depressão, caso de histeria grave”. Esse foi meu diagnostico. Papai ficara louco quando o psicólogo me diagnosticara com uma “doença de mulher”. Mais um dos motivos para mandar o filho mais novo e indesejado embora.  

— Preciso falar com o responsável pelos arquivos, senhor. Estou fazendo um trabalho de pesquisa. Estudo medicina. 

O soldado me levou ao encarregado. Não deu 20 minutos eu estava nos arquivos. Palavras chaves como Mellark, filho de, medicina e pesquisa abrem portas neste lugar. Apenas um dos soldados ficou no recinto comigo, seus olhos escaneando a janela preguiçosamente. Eles realmente confiavam em um estudante de medicina. Um estudante de medicina com o sobrenome Mellark.  

Eu fiquei um tempo parado no centro do local, olhando para todas aquelas gavetas que estavam cheias de arquivos empoeirados, tentando acalmar meu coração. Era isso o que sobrara dos internos daqui. O que sobrara de Melanie. Eu já deveria ter vindo aqui há meses, mas vamos combinar, eu não sou a mais corajosa das criaturas.Mas era hora de começar a encontrar as respostas e voltar para o caminho que eu me propusera. Hora de esquecer Katniss e focar nos meus próprios problemas.  

Demorei um pouco para achar o arquivo de Melanie. O sistema era mais ou menos fácil. Os arquivos estavam separados por ano e ordem alfabética.  O Ano de 1952 tinha muitas pessoas com sobrenome começando com M. Fiz o possível para não comemorar quando encontrei o que procurava. 

A pasta estava coberta de pó. Sem esperar abri sabendo que, o que quer tivesse ali, seria melhor do que o filme de terror que  estava na minha mente. Não era. Comecei a ler e tive que morder minha mão para não gritar.  

Mellark, M 

Idade: 18 anos. 

Entrada: 07/08/ 1952 

Diagnóstico:  Histeria, Homossexualismo 

Condições da paciente na data de entrada: Traumatismo craniano, três costelas esquerdas quebradas e fratura no ossos dos dedos (Falanges) .  

Procedimento: Lobotomia emergencial. Procedimento, segundo o psiquiatra de plantão, de alto risco. Cirurgia promovida pelo médico Edgar Soares Betes.  

Desenvolvimento do paciente: Paciente foi a óbito durante o procedimento cirúrgico.  

  Aproveitei que o soldado estava distraído e peguei a última folha do arquivo. Anotações do médico. Não percebi que estava tremendo até colocar  a pasta de volta no lugar. O soldado voltou sua atenção para mim.  

—O senhor está bem? - Me perguntou. Seus olhos castanhos treinados pareciam preocupados quando me encarou- É um pouco difícil essa seção. É onde ficam os casos irrecuperáveis. Você precisa ver. Meu chefe diz que é ai onde vão parar todo o tipo de aberração que eles não conseguiram tratar.  

Senti uma vontade enorme de gritar que a "aberração intratável" era minha irmã. Queria gritar ela gostava de música, sol, praia e coisas bonitas. Que ela uma vez chorou quando papai não deixou que ela entregasse o casaco para um morador de rua que estava com frio. Mas eu já tinha sofrido demais por um dia. Agradeci e sai dali o mais rápido que pude.  

Só quando cheguei no jardim consegui voltar a respirar. Me atirei na sombra de uma árvore. Não me importando com o papel estranho que estava fazendo. Era horrível tudo aquilo. Era mais do que eu poderia suportar. Mas eu tinha que saber.  Desembrulhei a última folha do arquivo e quase a deixei cair. Tive que me controlar.  

Havia uma foto de Melanie. O contorno de um olho estava completamente roxo e eles estavam fechados. Havia um corte feio em sua testa.  Me esforcei para tirar meus olhos da foto depois de 5 minutos e ler o que o médico havia escrito.  

Melanie Mellark iniciou seu tratamento comigo há cerca de 4 meses. A paciente não estava respondendo a terapia falada.Mellark estava se tornando cada vez mais tímida e arisca.Houve uma ligeira mudança no seu quadro nos últimos 2 meses. A paciente parecia mais tranquila e até mesmo mais confiante. Foram utilizados métodos de analise da psicanálise.  

Durante a ultima semana de seu tratamento a mãe da paciente reclamou que a filha ainda estava tendo comportamentos homossexuais. Foi trazido até mim um bilhete da paciente com uma moça que segundo a mãe  era responsável também comportamento desviante de Melanie Mellark. A paciente também demonstra atitude paranoica e defensiva, agravada por seu interesse recente em política. 

O caso progrediu a tal maneira que Melanie sofreu um grave ataque na rua. O caso é grave e recomenda-se a lobotomia urgente.Embora o estado fisico da paciente seja grave, a Lobotomia de urgencia ainda é o mais indicado. 

 Edgar Soares Betes.  

Porto Alegre, 7 de agosto de 1952 

Abri o bilhete anexado naquela pagina. Era curto, simples. A letra de Melanie flutuava pela pagina enquanto  eu me ajustava a esse mundo novo. 

“Querida E 

Há um pássaro que me acorda toda manhã. Ele me lembra você. Aquela vez em que me disse que pássaros engaiolados morriam um pouco a cada dia. Quando vi você foi a primeira vez que me senti livre. Eu ainda estou engaiolada aqui, mas é diferente agora. Basta lembrar do seu sorriso e das canções que me ensinou e me sinto livre. Não importa o que eles digam. O que sinto por você é real. Antinatural é o medo que senti até agora. Eu amo você E.  Não tenho medo mais. Amo você. esta sempre será a melhor parte de mim

Com amor, M."

 

Me segurei na árvore enquanto o mundo parecia girar em uma velocidade sobre humana. O parco  conteúdo do meu estômago se espalhou pelo chão. Tentei me recompor enquanto as imagens do que acontecera com Melanie e as novas perguntas preenchiam meu cérebro. Eu precisava encontrar essa garota. Precisava encontrar E.

Acima de tudo, precisava enfrentar meu pai. Mais do que nunca eu tinha certeza. A morte da minha irmã não foi um acidente, como minha família levou todos a acreditarem. Pelo contrario,  Melanie fora assassinada.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Eu to com pena da Mel e da E, to com pena do Peeta, assustada pela Katniss. Gods! Gente a opinião de vocês é tudo. Me digam o que acharam, o que tem de melhorar e vou ouvir todos com muito carinho ♥ Tia R ama vocês. A música do capitulo é "One more Light" do Linkin Park, porque é, ainda não superei a morte do Chester. Beijos de luz a todos ♥



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