O País dos Generais escrita por Redbird


Capítulo 19
Shalom


Notas iniciais do capítulo

Eita que eu voltei ♥

Sinceridade meus lindos? Queria postar um capitulo melhorzinho, mas não aguentava mais esperar. Estava morrendo de saudades. Mas, deixemos de lamentações e das minhas inseguranças e vamos ao capitulo que é o que vocês querem né? Vejo vocês lá em baixo



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"Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer"

 

Dizem que tomar decisões importantes requer alguma dose de cabeça fria e, é claro, uma dose maior ainda de tempo para analisar a situação. A verdade é que na vida não há muito tempo para as decisões importantes. Elas são feitas em segundos ou minutos e modificam sua vida inteira. Eu sabia que minha decisão era a mais perigosa, a mais problemática.  Mas quais são as opções quando tudo está tão obscuro que você não consegue ver onde está pisando?

Enquanto meu pai se apressava em colocar a última mala no carro, verificar se minha irmã não havia esquecido nada e minha mãe ia falando com Peeta sobre o melhor trajeto até a Ponte do Guaíba, eu fingia verificar minha mochila e olhava aquela cena. 

Johana que parecia estranhamente tranquila depois da noite que tivemos parou do meu lado, um cigarro aceso. Ela colocou na boca como se estivesse desafiando a vida a lhe dar mais surpresas.

—Você está certa disso? - Questionou ela.

 Neguei com a cabeça. Era engraçado, mas ela sabia exatamente o que eu estava pensando em fazer sem que eu precisasse dizer.  Mordi o lábio e me envolvi ainda mais na jaqueta de Peeta. Estava frio. Tão frio. Como ela podia querer que eu tivesse certeza de alguma coisa? Eu só tinha certeza de que não era a mesma garota que fora para festa. Nunca mais seria. Culpa, queimando como ácido meu estomago, era a única certeza de que eu precisava.

—Não importa- respondi quando meu pai fechou o porta malas com um estampido e minha mãe chamou meu nome- É o que eu preciso fazer.

Ela assentiu e me entregou os documentos que a resistência tinha preparado para todos nós com uma piscadela. Sorri para minha amiga que apertou minha mão e se dirigiu para o carro que iria nos escoltar.  Senti o ar gelado enquanto respirava fundo e ia até o outro carro que nos levaria embora. Evitei olhar para Peeta. Eu não sabia o que havia acontecido entre nós na última noite, mas sabia que agora, ficando ou partindo, ele estava já estava marcado em mim. E ficando ou partindo ele seria um erro.

Então eu caminhei até o carro sem olhar para ele. Me concentrei no quanto minha irmã parecia nervosa, mas percebi que havia algo de ansiedade e esperança nela. Mamãe sempre dizia que Prim era impossível de se derrotar. Agora eu via porquê. 

—Você está bem Prim? - Perguntei enquanto nos duas esperávamos os outros dentro do carro- Sinto muito que tenhamos que mudar. Não deve ser fácil ...seu noivo e tudo.

Prim deu um sorriso tranquilizador.

— Daniel também estava querendo sair do país. Eu estou feliz. Não acredito que vamos realmente para Paris. Eu sei que tudo está terrível agora....mas... vamos recomeçar não vamos? Vou encontrar com ele lá.  Tudo já foi combinado.

Sorri para ela. Era inevitável. Pensando assim, minha irmã conseguia até transformar o pesadelo que estávamos vivendo no sonho de uma vida.  Quis abraçá-la e com tudo o que acontecera até agora, talvez aquilo fosse o que me desse mais vontade de chorar.

—Prim- falei depois de algum tempo- Você pode me prometer uma coisa?

Senti sua mão apertar a minha mais forte enquanto ela me olhava apreensiva e por um momento me senti incrivelmente abençoada por ter uma irmã mais nova.  Antes que eu pudesse pedir o que eu considerava o pedido mais importante da minha vida, a porta se abriu e meus pais entraram.

—Acho bom irmos logo.  Começou a chover forte agora- A voz do meu pai tinha um tom distante, quase frio. Era quando eu sabia que ele estava se esforçando para não chorar.  A chuva estava forte e, enquanto reparava nela, mal senti o carro começando a andar.  

Eu sabia que, por mais que estivesse com pressa e anestesiada pela noite, algumas coisas ficariam gravadas em mim. O jeito em que minha irmã segurava minha mão enquanto atravessávamos a cidade olhando para tudo na despedida do único lugar que conhecíamos, a sinalização do outro carro que ia na nossa frente dizendo que era seguro avançar, minha mãe falando sobre as pessoas com quem ela teria que falar quando chegasse em Buenos Aires e depois em Paris, suas mãos segurando o casaco enquanto buscava o olhar do meu pai no banco da frente. Meu pai em silêncio, observando a janela e provavelmente o que aconteceria a partir de agora.

E a chuva. O barulho, o cheiro dela. Tudo isso, eu tinha certeza absoluta, ficaria impregnado na minha memória.  Foi quando eu os vi. Dois carros suspeitos na nossa traseira. Olhei para minha família e para Finnick que dirigia. Nenhum deles tinha percebido.  Estávamos praticamente a quase 1 km do local marcado de encontro. Não havíamos chego nem perto da ponte do Guaiba ainda.

—Finnick- falei tão baixo que quase não me ouvi, mas no tom mais calmo que pude- Dê sinal e vire na próxima rua. 

Eu esperava que o outro carro visse o sinal e percebesse o perigo. Para meu alivio, foi o que aconteceu.   O carro da frente foi para uma outra rua enquanto seguíamos diretamente para o outro lado.  Esse era o combinado caso houvesse problemas. Deveríamos nos encontrar em um ponto especifico onde as ruas se bifurcavam, não muito longe da ponte.  Enquanto isso, deveríamos distrair os milicos por 15 minutos, tentando despistá-los.

Eles não eram bobos, um dos carros ficou em nosso encalço enquanto o outro seguia o carro da nossa escolta. Conseguimos despistar nossos perseguidores em uma das ruazinhas próximas ao centro da cidade. Porto Alegre não é muito grande, não é fácil se esconder, mas não é impossível.

A Farrapos já estava começando a acordar a esta hora da manhã, havia inclusive carroças passando por ali e ainda haviam poucos carros.  Conseguimos dobrar em uma ruazinha estreita onde eles levariam mais tempo para nos encontrar.  Minha irmã segurava minha mão cada vez mais forte. Eu não sabia se ela estava com medo ou se estava tentando me acalmar. Com Prim, eu sabia que eram as duas opções.

Continuamos andando por mais uns 200 metros. Minha mãe recitava uma antiga oração hebraica enquanto meu pai mantinha os olhos fixos na estrada

Que seja a sua vontade, Hashem nosso Deus e Deus de nossos patriarcas, que nos guie para a paz e que nos dirija para a paz e que nos oriente para a paz e que nos faça chegar ao nosso destino em paz e que nos leve de volta para a casa em paz e que nos salve de quaisquer intempéries que costumam vir ao mundo e conceda bençãos a nossos afazeres e que sejam do agrado tanto aos Seus olhos quanto aos dos humanos, porque o Senhor é misericordioso e ouve nossas rezas. Bendito seja Hashem que escuta nossa reza

A voz da minha mãe me acalmava. Eu não conseguia evitar olhar para trás para verificar se o carro continuava nos seguindo. Felizmente, quando viramos em outra avenida ele sumiu.

Eu sabia que não estávamos a salvo. Olhei para Finnick, ele parecia concentrado no caminho, mas quando ele me olhou pelo espelho eu sabia que o perigo ainda não havia passado.  Voltamos a seguir em direção a ponte do Guaíba, dessa vez pelo caminho mais longo.

Finnick aumentou um pouco a velocidade enquanto eu não conseguia parar de olhar para trás.   Deixei que a oração da minha mãe penetrasse em meus ouvidos e como uma canção de ninar acalmasse as batidas do meu coração.  Disso eu também lembraria. O exato momento em que chegamos ao nosso ponto de encontro e pude observar a ponte se erguendo imponente.

As árvores pareciam uma cabana, um porto seguro. Um lugar onde eu poderia me abrigar da chuva.  Registrei em algum canto da minha mente, os carros passando em direção a ponte. No nosso ponto de encontro, no entanto, só havia mais um carro nos esperando.

 Fui a primeira a abrir a porta. Meus pais me seguiram correndo, a chuva me ensopava, mas eu não me importava.  Não demorou dois segundos uma camionete verde veio na maior velocidade que poderia.  A urgência era maior do que o medo que eu sentia.

Foi quando olhei para Peeta, entreguei para ele a jaqueta que estava usando e puxei minha irmã para um lado. Não me importei com a força que eu estava usando para puxá-la, eu só conseguia pensar no que tinha de fazer. Finnick deu dois assobios indicando que nossos perseguidores estavam mais perto.

—Katniss-  A voz da minha irmã, duas oitavas a baixo denunciou o quanto ela estava assustada. Olhei para ela e tudo o que conseguia enxergar era a menininha que tinha chorado para aprender a tabuada e começara uma faculdade de economia no verão, a garota que parecia sempre estar pensando em besteiras mas era capaz de simples gestos que mudavam todo o humor da família.

—Prim, você tem que me prometer que vai cuidar deles, certo?

 Havia tanto barulho, a chuva caia nos meus cabelos, praticamente escondendo meu rosto. Agora minha irmã parecia uma criança novamente. De alguma forma, ela era.  Acho que foi ali que entendi o que realmente significava coração partido. O meu agora estava em cacos, como se tivesse sido moído e reconstruído e moído novamente. Até respirar era difícil. Segurei a mão da minha irmã mais forte, se não fizesse isso, acho que teria caído.  Quando a realização finalmente a atingiu, Prim tinha tantas lágrimas nos olhos que elas poderiam encher o Guaíba e talvez a bacia amazônica inteira.

—Prim, por favor, me prometa.

Ela sacudiu a cabeça, querendo correr, querendo ficar. Esta é a outra coisa da qual me lembrarei sempre. O ódio que senti de mim mesma. A vontade que tive de gritar para o mundo que ele era injusto, que eu não deveria pedir isso a ela, que eu não deveria jamais obrigá-la a fazer isso. Tomar conta da família. Eu era a mais velha.  Mais em vez disso só o que eu conseguia era implorar “prometa, prometa

Ela respirou fundo, engoliu em seco, me abraçou com todas as lágrimas que tinha e disse que sentiria minha falta.  No fim ela pediu, não, seu tom não era um pedido mas sim uma ordem. “Não demore e entrou na caminhonete.

Finnick assobiou novamente para que eu me apressasse. A mensagem clara. “Eles estão vindo”.  Eu sabia que sim. Meus pais vieram correndo até mim. Antes de entrar minha mãe parou na porta.

—Katniss...

Não há como dizer sinto muito.  Eu precisava de um século, não de alguns segundos para explicar mas mesmo assim...

—Sinto muito, mãe. Eu não  posso ir com vocês. Não agora.

Duas batidas do coração, mais um milésimo de segundo. Um pouco mais. O tempo para quando se está  a beira do precipicio. Finalmente uma mordida de lábio, uma lágrima teimosa um olhar para a estrada. Parecem anos. Mas tudo isso dura menos de um minuto

—  Minha menina teimosa! - Ela diz porque sabe que chegou a hora de me deixar. Suas mãos estão frias, mas elas ainda me parecem tão quentes como um dia de verão quando seguram meu rosto. Seus olhos são iguais os meus e eles também são um poço profundo. E percebo que ela já me perdoou, por que seus olhos são iguais aos meus. E alma também.

 -Se cuide.  Deus te proteja meu amor.

Meu pai é mais difícil. Ele chega até nós e pergunta o que está  acontecendo. O que me mata é a vulnerabilidade no olhar dele. Deus, quando foi que eles envelheceram assim?

Por um momento estou caminhando com ele em Porto Alegre, tomando um sorvete. Tenho 13 anos de novo e ele está  me explicando algo complicado sobre o mundo. " Massada era o último reduto de resistência contra os Romanos. Eles estavam cercado há anos, sabe. Quando não deu mais, eles decidiram que a morte era mais honrosa do que a escravidão. Desde então  o exército israelense faz um juramento. Massada nunca mais cairá".  

Meu pai está sem casaco. Sinto o frio invadindo meus ossos como se tivesse me afogando em um lago nos polos do mundo.

—Katniss, você precisa vir-  Uma mão segura a porta da caminhonete, a outra mão uma mala. Tão fácil ir embora.... tão fácil ficar.  O difícil é a escolha.

—Amo você pai- E a única coisa que consigo dizer antes de Finnick vir correndo até mim gritando que eles estão vindo- Me perdoe, por favor.

Minha mãe o puxa para dentro da caminhonete.   Me olha mais uma vez, suas mãos seguram as minhas.

—Fique bem, minha família- O que ela não diz, o que nós duas sabemos, é que agora estou sozinha. O motorista dá a partida enquanto meu pai grita meu nome, e grita e grita enquanto o carro vai embora, enquanto vejo a caminhonete os levando para a segurança. E meu coração está quebrado, está aliviado. Mas não há tempo para analisar. Corro para carro mais próximo onde Johanna e Finick estão me esperando.

 Antes de chegar até ele Peeta me encontra.

—- Katniss, o que você está fazendo?

Não há tempo para explicar. Pego sua mão antes de voltar a correr novamente, antes que eles cheguem.

— Me procure na Redenção.  No por do sol, daqui a dois dias.

Johanna está com a porta aberta, corro até lá e entro. Finnick dá partida no carro.

—Para casa de Haymitch, Lá é o lugar mais seguro- decide Johanna. 

Enquanto o motor dá partida a única coisa que consigo pensar antes de cair no sono é na música, a última musica que ouvi minha mãe cantar enquanto fazia as malas e que agora volta para mim como uma prece.

Shalom meu amigo, Deus é contigo até o fim.  Com seu braço de amor te sustenta o Senhor

 


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Notas finais do capítulo

Sim meus lindos... Pais e filhos do Legião. Se você não conhece essa música juro que não sei o que está fazendo da sua vida. Vai ouvir. O titulo do capitulo é uma expressão hebraíca. Significa paz e é um termo bastante utilizado entre os judeus, principalmente, como uma forma de saudação ou despedida. Então, acho que combina. Eu realmente espero que tenham gostado. Vocês merecem os melhores capitulos. Então é isso. Beijos e até o próximo se Deus quiser. Prometo não demorar.



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