Eu sou muito jovem para perder minha alma. Eu sou muito jovem para me sentir assim tão velho. Por muito tempo, eu fui deixado para trás. Eu sinto como se estivesse perdendo minha mente. — World So Cold, Three Days Grace.

Uma semana havia sido suficiente para que conseguisse enxergar a maneira como todas aquelas pessoas viviam na prisão. O modo como todos ajudavam um aos outros, independente de serem homens, mulheres ou crianças, eles se esforçavam ao máximo para manter o lugar funcionando. Era algo que havia imaginado nunca mais ver, era a humanidade circulando ali dentro. Lentamente estava me convencendo a confiar de verdade em todos. Tornava-se difícil ignorar o sentimento de defesa o tempo inteiro, não porque queria, mas sim tinha se tornado parte dos meus mecanismos querer manter Savannah e Ian a salvos.

Naqueles últimos dias não havia visto nenhum vez Daryl, ele parecia à pessoa mais fechada do grupo. Poucas vezes o via falando com Carol, ela parecia ser bem próximo dela do que o restante dos outros integrantes. E isso me deixava de uma maneira estranha intrigada, não sabia exatamente como explicar.

Neguei com a cabeça voltando a acertar os errantes do outro lado da cerca. O sol parecia estar mais quente comparado algumas horas antes, o cheiro de sangue misturado à podridão invadiam meu olfato causando náuseas, mas não poderia me dar o luxo de passar mal, afinal, aquela era minha função temporária e deveria fazer direito se quisesse conquistar a confiança deles.

Os infectados pareciam se multiplicar a cada noite, a horda estava se acumulando apenas certas partes da cerca. Por isso a preocupação de todos eram não resistirem à pressão e cedesse complicando ainda mais a situação. Sasha apareceu e apenas balançou a cabeça em um cumprimento discreto, em seguida começando a fazer o mesmo que eu.

— Tinham muitos aqui? — ela perguntou seca, demostrando nenhum interesse de falar comigo civilizadamente.

— Alguns, mas diminuíram com relação à noite passada, mas cada vez mais parecem imigrar para as outras partes da grade. — respondi com educação, mesmo querendo responde-la no mesmo nível de grosseria.

Nossa troca de diálogos morreu naquele momento. Permaneci concentrada por mais alguns minutos acertando-os, quase já não sentindo mais os meus braços devido ao movimento repetitivo. Escutei alguém chamar meu nome e me virei encontrando Carl do outro lado e Savannah ao seu lado, carregando um sorriso contagiante e belo de se admirar.

— Kendall meu pai pediu para chama-la — Carl avisou calmamente.

— Me chamar? — perguntei surpresa, afinal naqueles sete dias que estava ali, não haviam me chamado nenhuma única vez para fazer algo realmente útil. Olhei para a mulher ao meu lado, que nem parecia interessada.

Retirei as luvas e deixei-as junto do avental que estava usando e segui para dentro da prisão na companhia de Carl, Savannah corria um pouco mais a frente. Ela voltou a brincar Lizzie e Mika, segui diretamente para a mesma sala onde havia sido interrogada uma semana antes.

Quando entrei na mesma encontrei Maggie, Glenn, Hershel, Carol, Rick, Tyreese e por fim Daryl, que apenas me lançou um olhar frio. Parei na soleira da porta e cruzei os braços, incomodada com aquela atenção.

— Ian me contou que vocês encontraram alguns galpões de construção no caminho antes de chegar até aqui. — Rick foi diretamente ao ponto, com o sotaque ainda mais forte. — Sabe dizer exatamente o lugar?

Descruzei meus braços e caminhei até a mesa onde um mapa da região estava estendido e com vários pontos marcados. Analisei os nomes da cidade demasiadamente, procurando indicar as coordenadas corretas. Mesmo não me lembrando do ponto muito bem, conseguia identificar graças ao meu pai e sua paixão obsessiva por mapas de todos os lugares.

Pensei em rebater a ideia de Grimes ir para um daqueles balcões porque poderiam abrigar muitos errantes, mas com certeza Ian teria avisado então se insistiam tanto não poderia ser contra a decisão da maioria.

— 2 km ao norte. — indiquei no mapa, mostrando para o xerife. — Podem pegar uma estrada, quando passamos por lá parecia o lugar mais seguro.

— Ótimo. — ele concordou em um aceno. — Daryl e Tyreese preparem as coisas, Maggie e Glenn chamem o Jimmy.

Dixon e Tyreese saíram na frente, em seguida Maggie e Glenn. O xerife voltou seu olhar para minha figura.

— Não sei se o Ian avisou, mas...

— Ele avisou e não se preocupe. — Rick respondeu me interrompendo, mantendo a postura rígida e o maxilar trincando. — Não podemos mais esperar, as cercas estão cada vez mais fracas. Você pode ir junto?

— Eu... — ponderei antes de responder. — Irei.

Voltei a caminhar em direção ao pátio percebendo que Maggie e os outros se preparavam para entrar na caminhonete 4x4. Glenn assumiu a direção e Daryl do passageiro, Eu, Maggie e Jimmy foram à parte traseira.

O percurso inteiro foi completamente silencioso, o sol continuava brilhar com força total no céu azulado. A paisagem poderia ser bela se não houvesse mortos-vivos perambulando pelos campos verdes e floridos. Indiquei a estrada que havia mencionado e confirmando que estava deserta e bem conservada por estar sem reparos há tanto tempo. Reparei a construção metálica ao longe, relembrando da última vez que passamos por ali.

Respirei fundo quando o carro parou, acabei sendo a primeira a descer percebendo o silencio estranho. Nenhum ruído ou gemido foi escutado, o que era improvável. Maggie me entregou uma arma e outra para o namorado, Daryl assumiu a frente com a besta posicionada nos braços.

Vasculhamos o perímetro ao redor do balcão vendo vazio, com apenas alguns corpos cremados e outros em estado avançado de decomposição. Fiz uma careta ao sentir o terrível cheiro invadir meu olfato, cortamos uma parte da cerca que remediava o terreno e adentramos a área externa do galpão.

Daryl começou a explicar o que iriamos precisar e os lugares. A maioria das coisas resumia-se a materiais de ferro para reforçar as grades da prisão. Depois que concordamos em um aceno de cabeça, abrimos a porta principal e uma lufada de ar abafado e mofo nos recepcionou primeiramente. Em seguida entramos um de cada vez com uma lanterna.

O lugar parecia intocável durante todo o período de apocalipse e chegava a surpreender por não estar saqueado. Continuamos caminhando e procurando pelos materiais, Glenn assobiou e indicou com a cabeça o corredor onde ficava que precisávamos rapidamente Jimmy passou na minha frente e também o segui enquanto Maggie e Daryl foram para o outro.

Iluminei as caixas vendo algumas ferramentas e tentei puxar uma das caixas, mas não consegui, tentei mais uma vez e assustei ao perceber o errante no corredor ao lado, mas quando me virei deparei com uma mulher infectada e metade do rosto a centímetros de mim. Pensei em fazer algum barulho, contudo atrairia ainda mais os demais.

Peguei a arma e acertei o cano em sua cabeça e fazendo-a a cair no chão, Jimmy continuava concentrado em puxar outra caixa.

— Jimmy. — o chamei em murmúrio, ele me olhou confuso ainda puxando-a. — Não faça isso!

E antes que conseguisse dizer mais alguma coisa, senti meu corpo sendo prensado contra o chão pelo equipamento pesado. Tentei reprimir um gemido de dor e mexer para livrar das caixas, mas por cima percebi outro infectado tentando alcançar minha perna presa.

Olhei desesperada procurando por minha arma e estava caída do outro lado. Tentei me mover mais uma vez e o ferimento antigo na minha barriga parecia entrar em chamas. Jimmy tentou chegar até mim, porém foi impedido pelo outros infectados. Engoli em seco, sentindo os batimentos cardíacos aumentarem rapidamente.

Eu estava definitivamente encrencada.