Meu Inimigo Favorito escrita por David DVD


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura... este ficou bem grandinho (Y)



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M.Joaquina

Acordei com um feixe de luz que vinha de uma maldita janela indo na direção do meu rosto. Uma pontada de dor de cabeça veio. Ai, que enxaqueca! Mas foi ai que eu me lembrei que no meu quarto a luz da janela não conseguia chegar ao meu rosto... Abri os olhos levemente, e senhor, quase fiquei cega com a claridade, mas a parte horrível ainda estava por vir: alguém dormia serenamente ao meu lado, e arregalei os olhos ao perceber quem era esse alguém.

Eu estava paralisada, não conseguia acreditar que eu tinha dormido com Daniel Zapata! O garoto que eu mais odeio no mundo estava deitado de bruços ao meu lado, e pior, ele babava um pouco! ECA... Eu não estava acreditando naquela cena. Eu olhava pra ele, depois pra mim, depois pra ele, e pra mim novamente, até um grito estridente sair do fundo da minha garganta e eu me levantar ignorando aquela terrível dor de cabeça. Daniel acordou com o susto e se sentou na cama me fitando, pela sua expressão ele pareceu ter a mesma reação que a minha. Eu estava tão nervosa e com vergonha de mim mesma que só conseguia usar as mãos para tapar minha boca. Foi então que eu o peguei olhando para todo o meu corpo a mostra. Ai. Meu. Deus! Eu estava nua! PELADA! Tipo, meu mundo caiu agora! E não sabia se o fato dele estar nu do mesmo jeito que eu, me deixava mais confortável ou o contrário.

— Idiota! – digo puxando o lençol e enrolando em meu corpo. Ele só franziu o cenho, mas logo recebeu um balde de realidade e apoiou os cotovelos nas pernas e sustentava a sua cabeça baixa. Ouvi ele dizer baixinho um “que porra é essa?” – Ai, eu bebi demais...

— Meu pai vai me matar! – disse ele

— Nem me fale... O meu também! – falei sentando na cama também. Fechei minhas mãos em forma de concha, aproximei-as até a boca e soprei meu hálito – Arg, minha boca ainda exala álcool!

— Com certeza a gente exagerou – ele afirmou e eu assenti

Ficamos em silencio e aquele barulhinho irritante do ambiente abafado só veio a comprovar o que eu sentia e o que vi nos olhos dele quando nossos olhares se encontraram: dúvida. De tudo que existisse nessa vida!

Na verdade, eu poderia ficar aqui nesse clima depressivo e deixar o arrependimento me consumir sem que ninguém soubesse, mas tenho pais – um pai que vai me matar quando eu chegar em casa e uma mãe que vai me matar de novo depois que meus ouvidos sangrarem de tanto que ela vai falar – aos quais eu infelizmente ainda devo satisfações forçadas sobre a minha vida. Como se não bastasse, depois de tudo que aconteceu, minha cabeça estava cheia, quase explodindo de coisas, medos, ideias, lembranças e muita, mas MUITA vontade de matar minhas “amigas” que foram as responsáveis por isso tudo. Devido tais motivos, levantei e passei a catar os meus pertences que estavam espalhados pelo chão assim como os de Daniel, algo que percebi quando pisei na sua cueca (vermelha) pensando que era um tapete. Peguei-a com a ponta dos dedos e joguei na cabeça dele, que murmurou algo que realmente não era bom eu ouvir.

Pra começar, o Paulo tinha um banheiro no quarto (para minha sorte) onde me vesti. Tomei um susto com minha aparência ao me ver no espelho: meu cabelo estava parecendo um ninho de passarinhos, cara de sono meio amassada, eu estava com olhos de pessoa doente e quase com olheiras, além de estar terrivelmente suada. No cabelo eu dei um jeito prendendo-os e fazendo um coque. Já no rosto, eu joguei uma água para amenizar um pouco, mas meu hálito ainda continuava numa situação deprimente, o que me levou a pegar uma das escovas (uma roxa, aparentemente pouco usada) e um tubo de pasta que tinha ali. Antes de colocar aquilo na boca me deu aquela sensação de nojinho, porém era por um motivo de força maior.

Não prolonguei muito e fiz aquilo parecer o mais rápido possível. Sai do banheiro e calcei meus sapatos. Daniel estava de bermuda ainda deitado, mas com as pernas fora da cama (como se antes estivesse sentado, só que cansou e jogou o corpo para trás). Ele mantinha os olhos fechados, talvez com pensamentos pesados sobre tudo que aconteceu, e estava sem camisa e NOSSA! Acho que o fato dele estar com a boca fechada e não falar nenhuma asneira me fez vê-lo de uma forma... diferente. Ele havia mudado muito com certeza, e estava até com um corpo saradinho. Pra minha má sorte, ele abriu os olhos e olhou diretamente para mim (juro que o vi esticar um pouquinho a boca com aquele sorrisinho vitorioso irritante), senti meu rosto pegar fogo, mas revirei os olhos e dei uma disfarçada. Ele se levantou e me seguiu até a porta, que imaginei já estar aberta, mas antes de girar a maçaneta me virei e quase me bato de frente com ele.

— Escuta uma coisa... – olhei bem para ele, porém desviei o foco para uma mancha roxa, uma mordida ou sei lá, no pescoço dele e aquilo me fez engoli seco, já que é impossível ele mesmo morder o pescoço. No entanto acho que demorei mais do que senti, já que despertei com ele me olhando com o cenho franzido – Então, absolutamente NADA aconteceu aqui!

— Nada aconteceu! – ele sorriu sem mostrar os dentes

Fazia um barulhinho tipo clac-clac enquanto descíamos a escada. Mesmo assim consegui ouvir o barulho de gente conversando sendo substituído por ruídos de silêncio, risos e uns “cala essa boca”. Nem preciso dizer que a casa estava um desastre de tanta bagunça, bem ali, no meio daquele chiqueiro que era a sala, vendo TV estavam Carmem largada em um sofá, e no outro Alícia e Paulo, que tinha em cima das pernas um prato com uns 4 pães, além de mastigar um quase inteiro dentro da boca. Todos tinham o cinismo estampado no rosto.

— Bom dia flores do dia... – Paulo disse rindo e cuspindo os farelos do pão, aquele que ele não mastigou e nem engoliu antes de falar. Daniel soltou um “vai se tomar no cu” mudo e eu balancei a cabeça negativamente.

— Olá Carmem! – eu ia dizendo – Pra quem não iria vir, você tá aproveitando até demais!

— Digo o mesmo para você! Aproveitando até demais... – ela retrucou se referindo a Daniel. Mostrei o dedo do meio para ela que apenas riu.

— E Marcelina, onde está? – perguntei

— Quase morta no quarto dela... – Alícia respondeu enquanto trocava os canais da TV

O clima ficou meio tenso, já que ninguém se pronunciou e ficamos apenas secando as imagens da televisão. Daniel se sentou ao lado de Paulo e tentou pegar um dos pães que ele comia, mas Paulo não deixou, então eles começaram aquelas brincadeiras idiotas de garotos com socos e empurrões, o que fez eu e as meninas suspirarmos com o quão infantil eles estavam sendo. No entanto, parece que a força não era de brincadeira, já que Daniel deu um soco em Paulo que o fez gemer.

— Ai caralho, meu peito!!! – ele disse passando a mão no local. Mas depois ninguém conseguiu segurar e começamos a rir dele, rir tanto até ficar sem folego – Que foi? Doeu!

— Ai parem de viadagem vocês... – Alícia bradou

— Quer saber? Vocês são loucos! – me levantei – Vou para minha casa que ganho mais...

— Mas já best friend? – Paulo me dirigiu a palavra

— Primeiro, não sou sua best friend. Segundo, – abri a porta e olhei para ele antes de sair – vai cuidar desses seios sensíveis que você ganha mais!

[...]

Em pleno sábado, aquele sol escaldante queimava o meu rosto enquanto o porteiro (um tanto quanto lento) do prédio da Valéria interfonava pacientemente. Poderia pedir para ele demorar mais, eu adoraria ficar e torrar ali mesmo. Entrei assim que ele liberou a minha entrada, apertando umas 300 vezes o botão do elevador antes dele chegar. Entrei e até o 7º andar eu estava treinando mentalmente meus argumentos para quando olhar naquela cara de cu dela. Já não bastou ouvir minha mãe falar até não acabar mais.

— VALÉRIA! – eu gritei batendo (lê-se arrombando) o mais forte possível. Pude ouvir ela gritar um “já vai” de dentro e aquilo me irritou mais ainda – Abre logo essa...

— Coisinha, vá DE-VA-GAR! – disse ela ao abrir a porta

— COMO VOCÊ... Seus pais estão aqui?

— Não – respondeu enquanto se jogava no sofá me deixando plantada na porta

— EU VOU TE MATAR!!! – ela riu da minha cara me fazendo ficar mais “P” ainda – COMO VOCÊ TEM CORAGEM DE ME TRANCAR NAQUELE QUARTO COM ELE! TÁ MALUCA, DROGADA?

— Mais o que? Vocês dois já estavam me dando nos nervos... – afirmou suspirando

— PARA COM ISSO! – joguei uma almofada bem no meio da “fuça” dela – Já passou pela sua cabeça que eu dormir com ele?

­— MENTIRAAAA! Sabe que até passou, mas pensei que vocês não fossem tão além! E ai, conta, foi legal?

Meu queixo quase caiu naquela hora. Minha amiga, repito: AMIGA, planejou aquilo, me pergunta como foi e não está nem ai pra como eu me sinto.

— LEGAL? Valéria você é retardada ou o que? Você me prende em um quarto me colocando em situações com um garoto chato, acha que tudo isso é suuuper normal e age com se depois eu iria chegar aqui agradecendo pra depois eu te contar tudo depois de fazermos trancinhas no cabelo uma da outra? Pelo amor né... Agora vejo que você não está nem ai pra como os outros se sentem e acha que tudo na vida é só diversão para você... CRESCE!

— EPA, EPA, EPA! Primeiro que eu não forcei você a fazer nada, como você mesma disse eu só te tranquei no quarto. E fiz isso porque essa viadagem entre você e Daniel já deu faz tempo. Você diz pra eu crescer, mas quem deveria era você que está presa nessa infantilidade com ele. E só pra te informar, ninguém aguenta mais vocês, isso foi um favor pros dois!

— FAVOR? – dei um risada alta, que me deixou um tanto com a garganta seca – Eu não ouvi isso... Favor você faz quando pega a porra de uma caneta que caiu no chão para uma pessoa. Isso ai é... eu nem sei que merda é essa. Você Valéria, entrou na minha vida intima, coisa que você sabe que eu nunca faria contigo e...

— Maria Joaquina você veio fazer o que aqui, mesmo? – ela me interrompeu

— Ok, não precisa me escorraçar da sua casa e ignorar as verdades que eu estou lhe dizendo!

— Ahhhh vai procurar o que fazer!

— Vai você e da próxima vez que você quiser “dar”, abra as pernas pro SEU namorado, e não fique criando ceninhas pra “outras” pessoas! – Bati a porta atrás de mim e deixei ela falando sozinha (tesc tesc, no vácuo).

Já estava em casa, e aquele calor lá de fora, um calor estilo microondas, tinha sido amenizado pelo ar-condicionado do meu quarto. Estava jogada ali pelo resto da tarde. Olhava para o teto e tentava esvaziar a cabeça e ignorar o resto – principalmente as inúmeras ligações de pessoas inconvenientes, que mesmo eu ignorando a ligação ainda insistiam naquilo – e até que isto me aliviou um pouco, depois eu até ri só de pensar que aquilo estava parecendo cena de filme de drama. Mas para cortar essa minha cena quase digna de Oscar, veio uma ligação da Bibi, a única que eu tive paciência para atender. Até conversamos por um tempo, ela riu de mim, depois falou tudo que aconteceu – tecnicamente – sem a minha presença, riu de mim de novo até chegarmos em assuntos banais e um tanto quanto chatos e eu ter que cortar o assunto pra poder desligar a ligação. Acho que em vão, já que assim que larguei o celular ao meu lado ele voltou a tocar.

— Que foi agora Bibi? – digo irritada

— Mas calma migs?

— Não me enche Valéria!

— Jamais gatona, esse corpo de sereia que você tem é difícil de encher... – revirei os olhos com essa bajulação de quinta

— Acabou? – ironizei – Ótimo, já vou indo...

— Não, você não vai! Se quisesse já tinha desligado ou nem atendido, mas está na linha, esperando LOU-CA-MEN-TE eu te pedir desculpas pra depois você esfregar na minha cara que eu errei, pisar em mim e depois voltar com a cara de santinha alegre e feliz que você faz! – pausa – É, mas eu não vou fazer isso neeeeeem que me paguem!

— Neste caso, tchau! – respondi

— Ai Majo, qual é? O que você tem?

— Tou procurando o que fazer! Você não me mandou?

— Ownt que fofinha! – ela riu alto e escandalosamente, como sempre faz – Agora bora parar de frescura! A última vez que a gente discutiu assim éramos duas fedelhas, mas no outro dia já estávamos com a cara mais lavada uma rindo com a outra! Então, já que nenhuma vai pedir desculpas, apesar de achar que você que deveria pedir, bora logo botar a fofoca em dia que tu sabe que tá doida pra isso e sabe também que amo você nessa porra!

— Okay? Okay! Agora para de chorar bebêzona... – sorri entre a fala – Mas vou avisando: SE VOCÊ ME APRONTAR OUTRA DESSAS, EU JURO QUE TE BATO TANTO QUE NÃO VAI MAIS SOBRAR VALÉRIA NENHUMA PARA SERMOS AMIGAS! ETENDEU?

— Hahaha, isso tudo depois que eu te descesse a porrada, né querida! Mas tanto faz, vamos a pergunta que não quer calar: Como foi? Foi legal? – ela disse e eu arregalei os olhos

— Legal? Foi tenso, confuso...

— E divertido, louco, prazeroso?

— Valéria! – ela riu mais uma vez

— Para de drama! Só disse a verdade

— Meio difícil com o garoto mais irritante...

— E gato, inteligente, fofo? – ela me interrompeu de novo. Mania ridícula essa

— Pera que acho eu não é a mesma pessoa. – digo – Falei do Daniel, aquele da nossa sala!

— E eu também! Vai negar que ele bonito? – ela esperou eu responder, mas fiquei em silêncio – Tá vendo! Era o que eu achava... – suspirei profundamente

— Por que vocês fizeram isso? – falei eu – Sério, por quê?

— Ué, eu sei que você gosta dele! Que eu me lembre, faz bastante tempo mas eu lembro, você até já sonhou com ele e assumiu que gostava dele!

— Eu tinha 9 anos!

— Não importa! – Valéria rebateu

Talvez importasse... talvez não. Até porque se tem uma pessoa nesse mundo que eu odeio do fundo do meu coração é o idiota do Daniel Zapata. Realmente não foi sempre assim, e por algum motivo acho que agora não será mais.

— Infelizmente, eu não imaginava que fosse com ele a minha primeira vez...

Involuntariamente eu dei um pulinho na cama. Meu coração acerou a mil por hora e aquele arrepio que sai da espinha se espalhou pelo meu corpo quando o barulho da porta se abrindo ecoou pelo quarto e eu enxerguei a imagem da Sra. Clara.

— AI QUE SUSTO MÃE! – coloquei a mão no peito e quase gritei. Dispensei Valéria do celular e disse que ligaria mais tarde – Não bate mais na porta não?

— Nunca ninguém aqui em bateu na porta antes de entrar! – ela respondeu

— Mas deveria! – afirmei. Ela estava em pé, a olhei de relance e ela estava séria. Voltei a atenção para seu rosto que olhava para mim sem parar, o que foi meio tenso. NÃO! Ai senhor, ela ouviu a conversa com Valéria! Alguém me ajuda, é hoje que eu morro – Algum... problema?

— Não, nada! – ela disse agindo como sempre age e soltei um suspiro, o que poderia ter me entregado, mas tou nem ai – Eu e seu pai vamos ao casamento de um amigo nosso...

— Hummmm...

— E você vai conosco! – ótimo, mais tédio acaba de ser plantado na minha vida. Afundei meu rosto no travesseiro me lamentando

— Eu tenho que ir mesmo? Eu juro que não saio daqui, mas por favor...

— Filha, você sabe que a situação não está boa para o seu lado. – minha mãe falou andando de um lado para o outro – Seu pai ainda não está satisfeito com você! Aliás, ele mesmo disse que você DEVE ir.

— Tá, tudo bem... – suspirei fitando o teto. Minha mãe piscou algumas vezes e depois se sentou na cama bem próxima a mim

— Você anda meio lerda. Aconteceu alguma coisa Maria Joaquina? – tipo: lerda? Quase me senti ofendida. Mas talvez fosse verdade.

— Se aconteceu alguma coisa? – ela assentiu. Pensei em contar pra minha mãe o que realmente me incomodava, contar sobre Daniel, sobre tudo desde o inicio e esperar que ela me aconselhasse. Só que lembrei que não seria tão fácil assim, e que era mais provável ela gritar, pirar, depois gritar comigo de novo, então melhor deixar em off – Não, nada...

— Tem certeza? – perguntou e eu sussurrei um sim – Tudo bem então. Esteja pronta às 18:00 e não se atrase.

— Digo o mesmo pela senhora! – respondi rindo

Depois de quase meia hora bem tensa dentro do carro e uma espera de mais de meia hora sentada dentro de um espaço lotado, a gente ainda esperava. Isso mesmo, não tinha começado droga nenhuma, eu tinha que sorrir a cada 10 minutos quando algum amigo dos meus pais aparecia, e eu já tinha jogados todos os joguinhos do meu celular. Já estava ficando estressada, mas uma luz divina intercedeu por mim quando meu celular tocou com uma ligação da Val. Levantei quase instantaneamente e fui para uma área mais tranquila e foi nesse momento que eu vi. Poderia achar que era coisa da minha imaginação, que eu estava ficando louca e obcecada pelo que ocorreu na festa de ontem, mas o momento em que nossos olhares espantados – digo, pelo ao menos eu estava espantada – se encontraram eu concordei que a realidade é cruel.

Caminhavam perfeitamente bem, como se fosse o modelo ideal e feliz de da família contemporânea. Sr. e Sr.ª Zapata, juntamente com o filho prodígio Daniel Zapata passaram por mim seguiram para onde estavam as pessoas. Valéria já tinha gritado no celular umas 20 vezes, fora um ultimo bem agudo quando eu contei que Daniel havia acabado de chegar e ela me orientava que aquilo era obra do destino querendo que a gente se pegasse de novo! Mas ignorei tais comentários. Fiquei na linha até quando deu, mas tive que voltar para o meu lugar uma hora. Não sei por que eu estava fazendo aquilo, no entanto eu tive uma curiosidade enorme de saber onde o Daniel estava, e acho que o encontrei também olhando para mim. Talvez – Talvez! Acho que eu tenho dito esta palavra com bastante frequência ultimamente... talvez, quem sabe? – aquilo tenha durado uns cinco segundos, mas pareceu muito mais e tive que sorri para não parecer uma stalker. Acenei discretamente também. Ele sorriu de volta e também piscou para mim, e é provável que tenha corado.

— Aquele não é seu amigo do...

— É. – respondi mesmo sem nem minha mãe ter terminado – Ele mesmo.

Tudo ia muito lindo, muito bem, mas casamentos podem ser verdadeiros eventos chatos. Constatei isso depois de me ver sozinha numa mesa com 6 lugares, olhando toda a festa rolar, enquanto mastigava mais um docinho (dos vários que já tinha comido) e despedaçava as pétalas de uma flor que arranquei do grande arranjo no centro da mesa.

Eu já tinha concluído todo o meu script para momentos chatos como esse: já tinha mexido no celular, lixado as unhas, mascado chiclete e mascado chiclete lixando as unhas. Então, como não me restaram escolhas, me levantei para ver se encontrava algo mais, digamos... interessante para fazer. Por um instante pensei em procurar a única pessoa com que eu poderia (ou não) ter uma conversa, e Daniel poderia ser a minha salvação. Mas isto não iria acontecer, não depois do que vi, pois parecia que meu colega de classe já tinha arranjado algo para passar o tédio e o tempo, afinal o que é melhor do que uns beijos e uns amassos pra fazer tudo – isto inclui um casamento entediante como este – ficar mais interessante? Pois é, diante da garota loira – um loiro meio gasto, já que dava pra ver uma raiz castanha em destaque, mas era loiro – com corpo de quem mora em academia, mas que pelo ao menos tinha um bom gosto para estilo (era relativamente bonita. Depende do ponto de vista), e eu não iria ficar ali segurando vela!

Então dei meia volta e sai em direção ao jardim que chamou minha atenção pelas luzes coloridas iluminando as árvores que balançavam com a brisa noturna. Sentei em um dos bancos rodeado de florezinhas da qual eu arrancava uma ou outra pra despedaças as pétalas até sobrar só o miolo. Aquele momento estava um tanto quanto agradável. Estava fresco, sem muitos barulhos e era um cenário bonito, pensei até que estava feliz com tudo na minha vida... mas isso logo passou. Quais as chances de encontrar Daniel aqui? Tipo, quase nenhuma! Porém aqui estamos, e a vontade que eu sentia era de ir até ele, arrastá-lo da sua pegação com a loira e sentar aqui para ter a oportunidade perfeita de acertar a relação mais que confusa com meu arqui-inimigo Daniel Zapata. Sei lá, poderíamos ser amigos! Ou voltar ao normal – e por normal eu digo brigar como antes – pra ver se essa onda de emoções e sensações se esvaia do meu corpo.

Porém isso era só um lapso de fantasia da minha cabeça do qual eu não teria coragem de fazer, porque eu tinha o momento perfeito e ele havia acabado de se sentar ao meu lado.

— Oi! – ele falou dando uma cotovelada de leve no meu braço e sorrindo

— Hm, oi. – respondi

— Sentada aqui, sozinha, sem mexer no celular... Nem parece a mesma Maria Joaquina do colégio! – disse tentando puxar assunto

— A loira não vai sentir sua falta? – perguntei

— Hã?

— Nada, esquece... – digo enquanto rolava os olhos. Daniel ficou alguns minutos sem responder

— Pelo jeito você não tá curtindo muito a festa, não é?

— Não te interessa! – não sabia o que estava acontecendo comigo, mas vê-lo ali agora e antes ter visto o beijo com a garota loira não saia da minha mente e já chegava a me irritar com o jeito “estou de boa, nada aconteceu” dele – Provavelmente você está fugindo da loira não é? O que foi? Ela queria casar? Apaixonar e ter a história de amor mais épica de todos os tempos?

— Como... E daí? Deixa de ser sem educação!

— Esquece! Não tem como ser sua amiga...

— Oi? – perguntou Daniel enquanto eu já me levantava

— Eu querendo algo mais, só que você é um idiota que só merece patada!

— Algo mais? – ele perguntou

Merda. Eu e minha boca... Mas espera: nem eu sei o que quis dizer com “algo mais”.

— Deixa pra lá Daniel! Isso já não interessa – respondi e dei as costas já dando alguns passos para deixar ele ali, mas ele me segurou pelo braço me fazendo rodar até encostar em seu corpo

— Ahhh, interessa sim! – meu rosto estava na altura do dele – Você não me respondeu!

— Eu queria fazer as pazes com você! – pensei o mais rápido que eu pude – Parar de brigar, de discutir, ter uma melhor... convivência, entende?

— Pazes? – Daniel perguntou sem entender.

— Arg! Você é um idiota mesmo! – eu disse me virando, mas ele me puxou mais uma vez e me prendeu contra o seu corpo.

— Não sou não! – ele rangeu com raiva

— Então me solta!

— Também não!

Ele não me respondeu. Só se aproximou cada vez mais do meu rosto e me beijou. No inicio era só um toque suave contra os meus lábios, mas evoluiu para um beijo molhado que eu... (pausa dramática para a bomba que está vindo) que EU CORRESPONDI.

Ele conseguiu me amolecer de dentro para fora, e aos poucos eu já não mostrava resistência alguma contra o abraço de urso que ele me dava. Era incrível como o beijo dele combinava tanto comigo, como as línguas eram sincronizadas e o toque perfeito. Talvez fosse por isso que ele era famoso entre as meninas do colégio, era Daniel Zapata: inteligente, gentil (não comigo), o garoto perfeito, um príncipe encantado com capa e tudo mais. Só que, como dizem que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”, nem precisa ser tão inteligente quanto ele para saber que era um pegador que as descartavam logo depois, assim como aquela loira e o que aconteceria em breve comigo. Entretanto, isto estava fora de cogitação.

Me desgrudei de seus lábios antes que quisesse avançar mais.

— Por que fez isso? – perguntei com raiva

— Eu só... Ahhh Maria Joaq...

— Não, Não! Não pense que só porque transamos uma vez você pode vir me beijar quando bem quiser. – eu dizia enquanto ele estava de braços cruzados e me olhava sério, mas com o cenho franzido – Isso você faz com as putas lá da escola e depois joga fora como bem entender, igual a loira que você “pegou” lá dentro. Cara, não faz nem meia hora que você estava com ela. Porra, para de ser um galinha!

— Ok, vai quere bancara a boa samaritana agora?

— É. Talvez eu queira bancar a boa samaritana!

Ele riu olhando fixamente para mim

— Você toma todas, depois dá pra um cara numa festa e agora quer fazer um cu doce bancando a santa só pra não ficar com fama de rodada, sendo que...

Não esperei mais uma palavra sair da boca dele, e nos próximos segundo a única coisa que eu ouvi foi o som do estalo da minha mão contra o seu rosto. Eu deferi um tapa nele com plena certeza do que estava fazendo. Ele me olhou de volta e na bochecha uma vermelhidão começava a surgir. O moreno me olhava com os olhos semicerrados e parecia estar furioso com tudo.

Eu dei um passo na direção dele para poder olhar bem de frente da sua cara.

— Você pode estar pensando, mas eu não sou uma qualquer pra você falar comigo deste jeito! – encostei o dedo indicador no seu peito, contudo ele segurou meu pulso com força e desfez o contato. Continuou com seus dedos rodeando meu pulso. Aquilo estava doendo e era uma forma de descontar o tapa que eu dei, mas não iria me render as jogadas dele – Meça sua palavras para falar de mim, porque você não é ninguém. NIN-GUÉM!

Puxei meu braço de maneira bem rude e dei as costas deixando-o sozinho, parado e imóvel com a mesma expressão. Mas ainda faltava uma coisa: acertar a relação mais que confusa com meu arqui-inimigo. Me virei e suspirei olhando de volta para ele.

— Quer saber? Vamos ignorar isso tudo! Me esquece, não fala comigo, não olha para mim e eu vou fazer o mesmo com você. Finge que eu nunca existi. – ele olhava na minha direção e assim com eu, já não estávamos com raiva, mas sim pensativos – O que aconteceu ontem foi um erro... Um grande erro.

E assim foi a ultima vez que eu olhei para ele antes de começar a seguir as minhas próprias instruções. Virei e comecei a andar para longe dali.


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