Meu Inimigo Favorito escrita por David DVD


Capítulo 2
Capítulo 2




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M. Joaquina

Seis e quarenta e três. Foi nessa hora que minha coragem incidiu e eu levantei pra tal “social” da Marcelina. Um banho merecido; um make básico; aquela arrumada no cabelo; meu salto alto e em poucos minutos eu estava a caminho da casa dos Guerra. Mal desci do carro e visão das típicas antigas festas do Paulo: muita gente, copos e garrafas espalhados logo de cara no jardim, umas luzes coloridas refletiam através das janelas e o som estrondeante da música ecoava da casa. Realmente, não sei como os vizinhos iriam dormir com aquilo. Atravessei o caminho de pedras e grama que davam a porta, e assim que entrei fui recebida pelo anfitrião, junto com o ar abafado da multidão.

— Maria Joaquina Medsen, que bom te ver! – falou alto e sorria segurando uma cerveja e um ice em cada mão – Mi casa es su casa!

— Poupe-me dessa gentileza fraca! Já sei que tá tramando algo mesmo, então vamos pular essa parte... – digo me aproximando do ouvido dele pelo fato da música. Ele riu.

— Não preciso disso Majo e já pensou que talvez eu não tenha planejando nada? – respondeu.

Mas qualquer um (ou quem conhecesse o Paulo) perceberia o quão “flor” ele poderia ser e ver a mentira exalando do seu corpo. Ele tomou um gole da sua bebida, um gole bem demorado na verdade.

– Hmm... quer? – estendeu a garrafa para mim. Recusei. Não só o fato daquilo estar cheio de baba dele e de quem sabe lá, mas não estava muito na vibe de álcool – As meninas estão lá na cozinha, sei que você quer encontrá-las mesmo!

Fingi um sorriso enquanto ele inclinou uma das garrafas em minha direção e saiu dando uma piscada de olho. Encarei aquele espaço cheio de pessoas dançando (quer dizer, algumas tentavam mas só conseguiam parecer estar com alguma síndrome do pulo ou do treme-treme e até coceira de tanto que se esfregava) e me recordei que aquilo é, ou era, uma sala. Atravessei-a, mesmo que às vezes tivesse quer dar um empurrãozinho, até chegar na cozinha onde se encontrava o pessoal. Marcelina sorriu para mim assim que entrei, mas logo saiu com umas latas nas mãos junto com Margarida e um garoto que eu não conhecia, restando apenas Valéria e Davi, que se pegavam perto dos armários, Laura e Bibi, fora o energúmeno do Daniel.

— Boa noite e olá, pessoas mal educadas! – digo, só que infelizmente ninguém pareceu prestar atenção, a não ser Daniel que arqueou uma sobrancelha e voltou a beber.

— Acho que tenho coisas mais interessantes para fazer querida... – Valéria respondeu depois de beijar Davi

Ri e me encostei na mesa que estava no centro. A minha frente estava Daniel mexendo em algum aplicativo bostinha no celular dele. Passei a fita-lo nem sei por que, e percebi que ele estava bem diferente do de costume: o cabelo estava até penteado (coisa nova, já que sempre anda meio bagunçado do tipo: acordei, passei a mão, arrumei e acabou), usava uma bermuda caqui, um tênis bem estilozinho e uma camisa azul de botão um pouco apertadinha, pra mostrar que ele passa horas na academia e posta foto com #NoPainNoGain. Fiquei com vontade de rir quando isso me passou pela cabeça, mas ele levantou o olhar e me encarou também. Ai ficamos nessa, um olhando pro outro esperando um desistir e desviar o olhar...

— Algum problema? – ele me indagou

— Você. – respondi pausadamente – Você é o problema!

— Pelo contrário, eu sou a SOLUÇÃO!

Quando eu ouvi aquilo não aguentei e comecei a rir até minha barriga doer e foi tão cômico que até ele mesmo riu. Mas depois acabou, nenhum de nós nos insultamos nem nenhuma indireta e então Mário apareceu colocando a cabeça pela porta e chamando-o.

— Sabe, eu acho que no fundo, a Maria Joaquina sente uma paixão avassaladora pelo Dani, but não é compreendida e por isso implica tanto com ele – disse Bibi me fazendo respirar fundo

— Eu digo justamente a mesma coisa ao Daniel! – Davi completou rindo junto com os outros

— Deus me livre dessa praga! E quer saber, porque vocês não vão procurar o que fazer?

— Ahhh nós já sabemos o que fazer... E como sabemos! – Valéria respondeu com um sorriso diabólico no rosto, enquanto eu e o resto, exceto Davi que também sorria, ficamos boiando na conversa.

Ainda continuamos ali batendo um papo (e segurando vela de Val e Davi, que esqueceram que existia um mundo ao redor deles) e observava as pessoas que viam, pegavam alguma bebida e voltavam, até Alícia chegar e colocar todo mundo pra fora falando coisas sobre “isso é uma festa e a gente estava na cozinha parecendo serviçais” nos empurrando pro meio da festa. E de certa forma foi uma boa, afinal se eu quisesse mesmo ficar conversando com o pessoal do colégio, eu ficava no conforto da minha cama e os aplicativos faziam isso por mim, por isso me juntei a rodinha de galera que eu conhecia e embalei o meu corpo ao som da música assim como os outros.

Esses momentos, com os amigos e pessoas que você gosta, são aqueles que ficam gravados por um longo tempo em suas lembranças mais divertidas, loucas e levam as preocupações pra longe, tampouco deixam tristezas e dadas as circunstâncias, eu estava precisando disto. Volta e meia alguém me oferecia alguma bebida, porém eu recusava. Mas em determinado momento eu olhei a minha volta e todos pareciam estar se divertindo e curtindo cada momento da “vibe terceirão”, por isso lancei um foda-se pro alto, tomei uma garrafa da mão de alguém que não parei para olhar e bebi um longo gole da bebida que desceu congelando a minha garganta. As meninas gritaram e aplaudiram a minha atitude, mas ignorei e voltei para minha dança.

Tudo ia muito bem, até uma Valéria risonha – talvez efeito da bebida ou... não, era efeito da bebida – se materializar do meu lado e me puxar pelo braço no meio da multidão. Franzi o cenho e perguntei onde estávamos indo subindo as escadas e saindo da festa e ela só respondeu um “você vai ver”. Porra, só um você vai ver? Se isso me envolve, acho que é merecido que eu saiba para onde amigas loucas bêbadas (e talvez drogadas, mas só TALVEZ) estão me puxando.

— Ok, fala logo o que foi? A festa é lá embaixo, por que a gente tá aqui em cima? – perguntei puxando o meu braço assim que terminou a escada e entramos num corredor. Ela suspirou...

— Não surta, mas tem alguém querendo ficar com você! E já adianto: é gatooooo... – afirmou segurando minha mão me fazendo segui-la

— Quem é?

— Entra aqui que eu te conto os detalhes... – falou ela me empurrando na direção de uma porta

— Vai Val, fala logo quem é esse... – não completei a frase já que Valéria não se encontrava comigo e o barulho da porta sendo trancada me interrompeu – Para com essa brincadeira idiota!!!

Pus as mãos na cintura enquanto esperava ela acabar com aquela cena de merda e abrir a porta, mas comecei a me preocupar depois de um tempo.

— VALÉRIA? Abre. A. Porta. Ahhhhh ABRE LOGO ESSE CARALHO... – nesse momento eu já esmurrava a porta freneticamente – ABRA LOGO, ou eu juro que vou contar pra todo mundo que você tav...

— Quem tá ai? – uma voz rouca surgiu ao fundo

Arregalei os olhos. Era um homem, e eu reconhecia aquela voz a milhões de quilômetros de distancia.

— Ai. Meu. Deus.

D. Zapata

Estava escuro. A única luz que tínhamos era a que vinha da janela, mas era o suficiente para deixar claro que uma pessoa, ou melhor, “A” pessoa que estava parada em minha frente. Seus longos cabelos castanhos caiam sobre os ombros e os olhos verdes semicerrados brilhavam com a luz noturna. A boca inclinada um pouco para esquerda em sinal desaprovação tinha uma cor meio rosa, meio alaranjado, sei lá... Um blusa branca colada era o que ela usava, junto com uma saia rodada preta que ia até o meio das coxas, e que coxas! Resumindo, ela era gata, ela era minha inimiga, ela era... ESPERA! Retiro o que disse, ela era a Majo! A Maria Joaquina! Mas se bem que apesar de patricinha, chata e tudo mais, ela é gostosa! Ok, retiro o que eu disse que eu retiraria antes de retirar agora. Ahhhhh que confusão é essa na minha mente? Eu acho que eu vou...

— Ei! Acorda!

— Oi?

— Para de ficar me olhando com cara de doente mental e tenta usar esse seu cérebro reduzido... – ela disse suspirando

— Estamos trancados? – perguntei

— Infelizmente! Valéria, aquela vaca, me empurrou pra cá

— Paulo também. Disse que tinha uma garota que queria ficar comigo, me colocou aqui no quarto dele...

— Ah não! – ela falou voltando a esmurrar a porta – ME TIRA DAQUI!!!

— Aconteceu alguma coisa? – digo

— Eles combinaram tudo isso, trancar eu e você aqui! – ela respondeu olhando diretamente em meus olhos o que, vamos combinar, não era nada confiável – Valéria me trouxe pra cá com essa mesma conversa.

Arregalei meus olhos. Que porra é essa? Me trancar aqui com a Maria Joaquina, repito: MARIA JOAQUINA! Paulo dessa vez pisou feio na bola comigo, poxa, essa garota não consegue ficar um minuto sem tagarelar coisa sobre mim e blá blá blá!! Arg... Agora só me restava sentar aqui e esperar um milagre acontecer pra sair deste maldito quarto. Fiquei em silêncio enquanto ela ainda esmurrava a porta, até cansar e sentar-se no chão murmurando um “droga”.

— Deixa eu ver se tem alguma coisa dentro dessa mini geladeira...

— O nome é Frigobar! – ela me corrigiu

— Tanto faz! – abri e peguei um refri, dentre as opções. Ela me olhou e riu – Algum problema?

— Um refrigerante? Sério mesmo?

— Desculpe RBD, pode se servir na mini geladeira...

— Frigobar!

— Ahh caralho, já disse que tanto faz! – falei alto enquanto ela só sorria com aquilo tudo. Mas mesmo assim levantou e foi até o FRIGOBAR e pegou uma garrafa de Big Apple, depois voltou a se sentar no chão dando um gole na própria garrafa.

A música dava pra ser ouvida e eu tinha uma noção da festa que estava perdendo lá embaixo. Porcaria, Paulo é um otário mesmo... Dei o ultimo gole do refri e amassei a latinha atirando-a na parede bem próximo ao rosto de Maria Joaquina. Ela me olhou como se fosse quebrar a garrafa e com o vidro que restasse quisesse enfiar na minha barriga até esfolar meus órgãos internos (o que eu não descartaria, já que tudo pode vir dessa guria louca). Sorri achando graça da cara dela e sentei no chão ao seu lado. Ela mudou sua expressão me olhando estupefata e agora arqueava uma das sobrancelhas.

— Me da um gole? – ela me passou a garrafa e eu bebi. Aquilo puro desceu queimando e deixando meu corpo mais quente cada vez mais. Passei pra ela que bebeu novamente, mas eu fiquei olhando-a atentamente, ou para nós dois (se é que isso é possível), e a situação que estávamos: sentados no chão, perto da porta esperando um milagre acontecer.

Ela fez uma careta quando engoliu o liquido. Eu ri. E então me passou a garrafa, bebi mais um gole e passei pra ela, ela bebeu e passou para mim e ficou nisto. Fizemos até a garrafa acabar, uns 30 minutos depois, que também foi tempo suficiente para nossa consciência ir embora e nos deixar tomar qualquer coisa que tivesse o nome “Bebida Alcoólica” no rótulo.

— Acabou... – Majo disse rindo e totalmente fora de si. Mas logo parou e continuou fazendo beicinho – Eeeeeu quero MAAAAAIS!

— Ahhhhh, você não tem mais nada ai? – falei rindo feito um louco

— Eu? – ela perguntou e eu assenti fazendo um sinal positivo com o polegar – Não! Mas tem algo que eu queria ter feito a noite inteeeeeeeira...

Ela retirou os sapatos desajeitadamente e lançou-os pra bem longe fazendo uma cara de aliviada.

— Odeio eles! Esses saltos estavam me matando... Mas mesmo assim eu amo eles...

— Vocês mulheres são loucas! – digo e logo em seguida, quase do nada, recebo um chute no peito que me fez deitar no chão. Mas não doeu (tanto), então eu ri alto daquilo tudo – Eu cansei...

Me levantei com dificuldade e me joguei na cama que tinha ali perto. Aquele lugar macio e aconchegante me fez fechar os olhos e me virar ficando de barriga para cima, porém quando abri os olhos só senti um vulto que vinha gritando e girando de braços abertos até cair sobre mim. Gemi com o impacto do meu corpo como amortecedor, enquanto a garota dos cabelos esvoaçados ria deitada ao meu lado. Comecei a rir também, e logo éramos dois bêbados rindo e olhando para o teto escuro.

— Por que você me odeia tanto? – ela me perguntou quando parou de rir

— Eu te odeio? Será que eu te odeio?

— Acho que sim... – ela falou e eu comecei a rir, depois ela também, e no fim estávamos rindo olhando para o teto escuro de novo

— Eu não sei por que eu te odeio... – digo me virando para o seu lado

— Tudo bem... Eu também não sei por que te odeio!

— Você me odeia? – perguntei fazendo bico, ela riu mais

— Eu não te odeio! – falou apertando minha boca e balançando de um lado pro outro – Você é bonito, como EU lóooogico, e pessoas bonitas têm...

— PARA! – não aguentei e comecei a gargalhar enquanto ela revirava os olhos e balançava a cabeça – Então você me acha bonitão?

— Eu... não! Hã? – fingia coçar o queixo enquanto sorri vitorioso, porque ela estava confusa de verdade – NÃO! Você é ridículo! Isso, você é ridículo, muito ridíc...

Eu sentia os lábios dela. Foi quase que automático. Pela primeira vez, algo que nunca em meu pior pesadelo imaginaria, eu beijava Maria Joaquina Medsen. Ela correspondeu e então eu pude senti o gosto da sua boca: uma mistura de álcool com cereja, possivelmente o sabor de mais um dos seus importados e caríssimos gloss’s. Entretanto, por mais que estivesse bêbado, eu senti o quão bom era aquele beijo junto ao encontro da sua pele. Não me importei se passávamos o tempo todo discutindo e brigando, se somos inimigos desde crianças. Ignorei isso tudo. A única coisa que eu me importei foi quando ela passou para cima de mim, mas sem parar o beijo.

Eu segurava firme na sua cintura enquanto ela guiava o toque de suas mãos pelo meu abdômen me forçando a tirar a camisa. Afastamo-nos um pouco e nos olhamos nos olhos um do outro. Aqueles olhos verdes, iluminados pela meia luz da janela, quase englobados pelo buraco negro que eram as pupilas. Beijei o seu pescoço e ela passou a morder o lóbulo da minha orelha e segurar meu cabelo. Caralho, eu suspirei com aquilo. Apertei-a contra mim e passei a mão pela sua perna indo até o zíper da sua saia e puxando-a para baixo. Seus peitos eram comprimidos contra o meu corpo, e com a visão dela por cima de mim, eu só imaginava como eles seriam fora de todo esse pano, me deixando cada vez mais excitado.

Voltei a beijar sua boca e ela ainda segurava meu cabelo, só que também apertava e arranhava meu bíceps. Talvez fosse impressão minha, mas a cada minuto e a cada toque dela meu corpo ficava mais quente, como se a temperatura estivesse sendo manipulada por ela. Eu estava ficando louco. Então tudo ficou mais forte, respirávamos pesadamente, e naquele momento eu só lembro-me dela e das roupas que iam parar longe.


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