Insecurity escrita por NicaAngel


Capítulo 1
Insecurity


Notas iniciais do capítulo

É recomendável que você, leitor(a), tenha lido os comics e assistido a série Toons (especialmente Propiganda e Chucked Out), ou vou sem querer lhe dar um belo spoiler com essa fic. Mas se você quiser ler mesmo sem conhecer a série, pode fazer sem medo. A fic é autoexplicativa.
Como não sabemos direito a cronologia entre os quadrinhos e a série animada, estarei assumindo que Propiganda aconteceu depois da segunda temporada da série Toons, em especial do episódio Chucked Out. Há, aliás, a leve menção de alguns outros episódios para a temática: Run, Chuck, Run; Full Metal Chuck; Boulder Bro; Dragon Year; Oh, Gnome; The Bird That Cried Pig, Bomb's Hiccups; Static Cling; e meu favorito pessoal, Chuck Time. Red também mencionará levemente suas impressões sobre Chuckmania, Thunder Chuck e Transformers 1 (bem leve e só sob o ponto de vista de Red).
PS: Propiganda, Dragon Year, Static Cling, Transformers e Bomb's Hiccups são comics, precisam ser procurados na internet e só encontrei em inglês. Os outros são Toons, e podem ser assistidos em todos os jogos da série Angry Birds ou no youtube.



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A noite fria caiu, e uma grande fogueira ardia alegremente no centro do acampamento dos pássaros, com todos os seus habitantes reunidos em torno dela. A tarde daquele dia havia sido caótica, com mais um ataque dos porcos, seus inimigos de guerra. Mas dessa vez, o ataque foi diferente: Ao invés de bombas, pacotes e mais pacotes de doces, cada um deles com um belo desenho, foram lançados sobre suas cabeças.

Os doces eram deliciosos e a arte era bonita, mas o propósito era muito mais sinistro: Cada desenho mostrava situações em que os pássaros brigavam entre si, se rebelavam, se traíam.

Red sempre acreditou que a força de seu bando estava no trabalho em equipe. Trabalhavam como uma única unidade, e não apenas para destruir as fortalezas que os porcos criavam. Não raro, uma situação aparentemente impossível de ser resolvida tornava-se fácil com o esforço conjunto de todos.

Por isso, o apavorou perceber o quão rápido havia acreditado naquele belo desenho, em que Chuck era coroado líder do bando enquanto o próprio Red era deixado de lado com um chapéu de burro. E o quão perto esteve de ir tirar satisfações com o próprio Chuck e coloca-lo em seu lugar.

Se não tivesse encontrado Bubbles e seu medo aparentemente inexplicável pelo caminho, teria cometido um erro que acabaria destruindo o bando inteiro.

Foi quando entendeu o plano dos porcos: Dividir e conquistar. Uma estratégia militar antiga, porém brilhante. E devastadora.

Olhou para seus amigos que se aqueciam ao redor da fogueira. Todos haviam sido atingidos de alguma forma:

Matilda quase perdeu sua confiança no julgamento de Red.

Bomb quase acreditou que Terence era um porco disfarçado.

Os Blues quase foram separados, cada um deles acreditando que os outros dois lhe falavam mal pelas costas.

Bubbles quase teve medo de Red, pensando que seria atacado pelo líder.

O único que pareceu ter saído intacto foi Chuck, e Red teve um imenso orgulho dele por isso. Ao perceber a situação, seu segundo em comando havia imediatamente assumido as rédeas do bando, tentando fazer com que todos enxergassem a realidade, passando o mais longe possível dos folhetos. Naquele momento, no entanto, essa atitude corajosa quase confirmou suas primeiras suspeitas com relação ao desenho que encontrou.

Mas agora, via o ato como o que realmente era: O leal canário selvagem havia mantido todos juntos e controlados, permitindo assim que Red chegasse e consertasse a situação de uma vez. O jovem líder tremeu nas bases ao pensar no que teria acontecido se não o tivesse por perto.

Red, por outro lado, havia desconfiado de Chuck, seu segundo em comando, seu melhor amigo, logo no início. Tudo por causa de um desenho de um porco.

Estava morto de vergonha. Honestamente, achava que sua amizade valesse mais do que isso.

A ave amarela ainda não sabia do que por pouco não aconteceu, mas Red estava disposto a ir se desculpar na primeira oportunidade que tivesse.

Mas por ora, os pássaros estavam enfim relaxando. Haviam passado a tarde toda procurando pelos “pacotes de mentiras”, como haviam apelidado, e combinaram de não abrir mais nenhum até aquele momento. Estavam agora, diante de todos, abrindo e compartilhando os desenhos. Isso deixou claro para todo mundo o quão grandes eram as inverdades ali colocadas.

– Aqui temos... vamos ver... – Bomb abria o próximo pacote, tendo sido a vítima do último desenho (os porcos o desenharam explodindo toda a ilha e matando a todos. Era, como o próprio Bomb garantiu, um tremendo exagero e claro, nunca faria isso). – Oh, neste, Hal está usando os ovos para afiar o bico! Hal, Hal, como você poderia fazer uma coisa dessas? – Bomb terminou, em um gesto dramático e uma piscadela. Todos gargalharam.

E o desenho passou de pássaro em pássaro até chegar à vítima. Hal revirou os olhos, sorrindo.

– Já pensaram no desastre? Esses porcos não entendem nada mesmo! Não acho que um ovo seja um bom afiador de bico! Uma lixa é melhor, muitíssimo obrigado!

E as gargalhadas rolaram soltas, enquanto Bomb esvaziava o pacote e distribuía os doces entre todos do círculo.

– Minha vez! – Disse Hal animado, abrindo o próximo pacote da pilha que haviam juntado e tirando primeiro o papel lá de dentro. – Wow, Chuck, aqui você aparece acertando os Blues e mandando-os longe!

– Deixe-me ver isso! – Bomb gargalhou, mas Chuck foi mais rápido e pegou o papel.

– O que esses porcos pensam que eu sou, uma bola de boliche? – Chuck exclamou com falsa irritação ao contemplar a si mesmo voando e acertando os trigêmeos, as expressões de dor dos pequenos morbidamente realistas. – Ou talvez um psicopata?

– Pelo sorriso maníaco que eles desenharam em você, meu amigo, eu não duvido. Mas você é o professor de Jim, Jake e Jay. Devem ter desenhado isso para nos colocar medo de deixa-los com você, ou, se os Blues o encontrassem, fazer com que eles tenham medo de você... – Disse Bomb sabiamente, tendo mudado de lugar para olhar o desenho por trás de Chuck. Foi quando percebeu algo estranho. – Ei, o que é isso?

Chuck virou-se depressa, bem a tempo de ver Bomb pegar um papel que estava parcialmente escondido por sua pilha de doces.

– Isso o que? – Perguntou Red, alarmado. Não gostava de surpresas, por razões óbvias. E as de Chuck sempre eram seguramente piores do que as outras. E dessa vez não foi diferente. Arregalou os olhos ao reconhecer o papel que Bomb segurava como parte de um pacote de mentiras. Um que, por alguma razão, não estava sendo jogado no fogo com os demais, e muito provavelmente não havia sido compartilhado com o restante do grupo.

Chuck imediatamente se pôs em ação e tentou arrancar o papel de Bomb, mas este, já prevendo essa reação, jogou a folha para Red, que antes que a ave amarela pudesse mudar de direção, desdobrou e abriu o papel, expondo o conteúdo.

– Pronto, o que...? Oh... – Foi a única coisa que saiu quando viu o desenho.

Pintado no papel, com impressionante realismo, estava Chuck sendo expulso do bando pelos outros. A expressão aterrorizada da ave amarela contrastava violentamente com as de seus companheiros, que entre o escárnio e a fúria, se uniam em uma verdadeira barreira para atacar e perseguir.

Viu movimento pelo canto dos olhos e percebeu que todos haviam se amontoado atrás dele, tentando ver o que havia deixado até mesmo Red tão chocado.

Todos menos Chuck. Derrotado, ele havia baixado os olhos, sabendo que não havia qualquer chance de esconder o nefasto desenho dos olhares dos outros. Agora apenas esperava por um veredito.

As risadas que antes ocupavam o acampamento haviam sumido completamente, e agora um silêncio sepulcral caiu sobre todos. Red voltou a baixar os olhos para o papel, e o realismo daquele desenho em particular parecia zombar de todo o bando naquele momento. Pois aquilo havia acontecido na vida real. Diferente dos outros desenhos, não era uma mentira.

– Não foi exatamente assim... – Chuck pareceu ler os pensamentos de Red, mas o protesto fraco pouco pôde fazer para desviar sua atenção da assustadora peça de arte diante dele.

Não haviam estado todos naquele dia, verdade. A expulsão de Chuck não foi tão violenta, tampouco.

Mas poderia facilmente ter sido”, disse uma vozinha traidora em seu subconsciente.

Chuck havia estado praticando sua nova técnica, que podia quebrar madeira e até mesmo pedras, dividindo-as ao meio em um único golpe. Na época, haviam concordado que seria uma ótima forma de combater os porcos e derrubar suas fortalezas.

Mas algo deu errado, e isso terminou com uma avalanche de grandes pedras sobre o acampamento, quase destruindo os ovos e matando Red e Bomb no processo.

Por sorte, tudo acabou bem.

Mas...

Não importava que Chuck tivesse sorrido aliviado ao vê-los a salvo. Não importava o quão acidental fosse a formação daquela avalanche. Não importava que o leal canário selvagem tivesse, até aquele dia, estado ao seu lado em todas as ocasiões.

... Red viu vermelho.

Furioso, ele ordenou que Chuck fosse embora, e proibiu os outros pássaros de o procurarem ou tentarem interagir com ele. Se o vissem, ordenou Red, deveriam trata-lo como o inimigo exilado do bando que agora era.

Chuck, ficou sabendo depois, havia se escondido na passagem entre o território deles e o de Mighty Eagle. O vento na montanha era gelado e as pedras não ofereciam qualquer tipo de abrigo ou proteção. A comida era escassa, e uma simples chuva podia fazer tudo desabar.

Mas Chuck sobreviveu, mantendo-se imóvel o suficiente ao se proteger nas pedras, se aquecendo não sabia como. Comia o que encontrava e usava o resto de seu tempo para observar seu antigo bando do alto. Não sentia raiva deles, apenas o intenso desejo de estar com todos novamente.

Foi esse hábito que salvou o bando no dia de sua readmissão. Do alto das pedras, durante a difícil missão de tentar comer uma raiz, Chuck pôde ver o ataque dos porcos acontecendo e, usando toda a sua velocidade e energia acumulada, atacou os inimigos com uma ferocidade que poucos conheciam. Nenhum porco saiu ileso, e o ataque literalmente partiu a maior árvore do território ao meio, das raízes até a copa. Mas os ovos, assim como seus antigos companheiros, terminaram sem um único arranhão.

Red por fim readmitiu Chuck de volta ao bando e a ave veloz, agora com uma feia ferida sob o bico e com suas penas imundas e desbotadas, havia comemorado como se tratasse de um gol em final de copa do mundo.

Depois disso, Chuck pareceu... normal. Em poucos dias, a ferida desapareceu sob as penas (que recuperaram seu esplendor original depois de um intenso tratamento, cortesia de Matilda), e a ave amarela continuou vivendo sua vida a 100 milhas por hora. Continuou a arrumar um novo hobby por dia, e reassumiu suas responsabilidades como protetor do ninho, treinador dos Blues e parte da linha de frente na guerra contra os porcos.

Algumas diferenças eram visíveis, no entanto: O canário voltou ainda mais zeloso com os ovos, chegando ao nível de Red e Matilda. Guerreava com a fúria de um gladiador, em diversas ocasiões ostentando feridas que os outros não tinham. Havia reassumido o treinamento dos trigêmeos com uma paixão que deixava as pobres crianças esgotadas ao final do dia. Também treinava a si mesmo ainda mais forte, mais rápido, mais certeiro, até a completa exaustão. Não raro, encontravam-no inconsciente no campo de treinamento, completamente esgotado depois de treinar por dias sem comer ou dormir.

E havia aceitado Red de volta em seu coração sem pestanejar, agora, mais leal do que nunca, fazendo tudo para merecer seu próprio lugar de volta no de seu melhor amigo.

E até aquele momento, Red não havia visto nada de errado com isso.

Não entendia como pôde ser tão cego.

Chuck parecia normal. Parecia ter aceitado o que o destino atirou contra ele e saiu vitorioso. Mas ainda assim, escondeu aquela terrível peça de arte.

Desviando os olhos para a ave tímida e insegura diante dele, Red sentia como se uma venda tivesse sido tirada de seus olhos.

Não, Chuck não havia voltado normal de seu período no exílio, e agora observando sua reação, finalmente havia entendido. Como um quebra-cabeça, todas as peças que possuía se encaixaram e fizeram sentido.

Se tivesse encaixado certo, o cenário seria muito mais assustador.

Se o que estava percebendo fosse verdade, então seu zelo com os ovos não se justificava como uma simples aquisição mágica de responsabilidade, mas como algo muito mais deprimente: Seria uma tentativa, praticamente desesperada, de recuperar a confiança do bando, e uma forma mais sutil de afirmar para si mesmo que aquilo nunca mais se repetiria. Afinal, o próprio Red nunca havia lhe dado qualquer garantia.

A forma como Chuck passou a lutar e a treinar tampouco podia voltar a ser atribuída a uma vontade maior de proteger o ninho. Assim como o zelo com os ovos, era uma forma de se afirmar perante o instável grupo e seu volátil líder. Ninguém poderia culpa-lo por alguma coisa ruim que acontecesse em meio a uma batalha se Chuck retornasse com o dobro de ferimentos, depois de treinar sem parar até a mais completa exaustão, e de lutar colocando sua vida em risco. Se estivesse ferido o bastante, não poderiam acusa-lo de negligência e sua posição no grupo estaria a salvo. Mas seu melhor amigo não estaria a salvo por muito tempo se isso continuasse, o cardeal concluiu horrorizado. Alarmou Red nunca ter percebido o conteúdo perigoso dessa atitude, e duvidava que os outros, até mesmo o próprio Chuck, tivessem percebido a sutil mensagem suicida.

O estado emocional fragilizado do canário selvagem também podia ser percebido no treinamento dos Blues sob este ponto de vista. Afinal, a ave mais velha desejava de todo o coração que os três algum dia pudessem, realmente, gostar dele. Chuck era sedento por afeição, por carinho, e por qualquer forma de proximidade. Podia ser visto até conversando amigavelmente com os porcos se estes lhe dessem a oportunidade e lhe fossem gentis (já havia acontecido, e Red passou a ser extra-cuidadoso com as companhias de Chuck depois disso). O último relato dessa característica, que coincidentemente chegou pelos próprios Blues, foi o de Chuck conversando com uma simples pedra com um rosto desenhado.

Uma pedra...

Uma simples pedra idiota...

Não importava de que ângulo olhasse a situação, uma pedra era uma substituta pobre para um melhor amigo.

Minha substituta”, Red se corrigiu, sentindo-se o pior pássaro do mundo.

Depois de seu retorno, Chuck passou a manter uma distância segura de Red. Ainda era grudento e chato, mas decididamente deixava o volátil cardeal em paz. Sumia de suas vistas por horas, e aí reaparecia, com alguma coisa interessante para mostrar aos Blues, ou Hal, ou Bubbles... Mas com ele mesmo, Red havia percebido um... Medo de se aproximar, talvez?

Definitivamente.

Aliás, parecia que todas as atitudes de Chuck se baseavam em medo de alguma coisa:

Medo de desagradar ou fazer qualquer bobagem que merecesse sofrer algum tipo de represália do grupo e ser expulso de novo;

Medo de não ser querido pelos Blues;

Medo de incomodar Red (e com isso ser expulso de novo);

Medo de não ser bom, rápido e forte o suficiente para merecer ficar ao lado de sua família...;

Que cruel...

Medo, medo, medo, medo...

De repente, algo sinistro clicou na mente de Red: Sob esse ponto de vista, até mesmo as outras atitudes de Chuck ganhavam novas perspectivas: Sua extrema necessidade de se provar mesmo quando os outros nunca exigiam, por exemplo. Ou fazer tudo o que Red poderia esperar e mais um pouco, tanto como segundo em comando quanto como seu amigo, mesmo quando Red não merecia, como hoje? Seria também uma consequência dessa mesma insegurança?

Se for, então o problema vinha de mais tempo do que Red podia contar. Conhecia Chuck há anos, e ele sempre foi assim.

Nesse caso então, o exílio havia aprofundado ainda mais o problema, abrindo ainda mais suas feridas.

Red se sentiu péssimo. Ao invés de confortar Chuck, havia feito o exato oposto e mandado o pobre canário lidar com suas inseguranças longe de qualquer um que pudesse ajuda-lo. E pelo que pôde ver, sua resposta havia sido se esconder sob uma pesada máscara de força.

Mas uma máscara era apenas uma máscara, e o antigo medo ainda estava lá, logo abaixo, talvez agora mais poderoso do que nunca.

Era esse medo que havia impedido Chuck de compartilhar aquele desenho em particular. Finalmente nivelando seus olhos aos de seu melhor amigo, Red podia ver em formas claras como água que a máscara havia trincado, expondo as feridas de sua expulsão do bando e de seu tempo no exílio, que continuavam abertas e dolorosas mesmo depois de todos esses anos.

Quis bater em si mesmo. Apostava qualquer coisa que se fossem feridas físicas, estariam sangrando e infectadas, visíveis para todos os olhos. Como seu extrovertido melhor amigo havia conseguido esconder aquilo?

Ou Chuck era um ator digno de um Óscar, ou Red e todo o bando haviam sido cegos. Tinha uma forte impressão de que sabia qual dos dois seria mais próximo à realidade.

Chuck ainda estava tentando consertar a situação, agora decididamente nervoso diante do silêncio e olhares acusadores de todos.

– P-provavelmente os porcos nem sabiam, e desenharam isso aleatoriamente. Esse desenho é t-tão mentiroso quanto os outros. – O silêncio perdurou, e Chuck ficou com mais medo ainda, inconscientemente começando a tremer e a se afastar. – N-não sei por que guardei isso, é m-muito melhor jogar f-fora! Está t-tudo bem, vamos apenas c-continuar a comer esses doces m-maravilhosos! Ei, B-Bomb, se imp-porta se eu p-pegar esse? É m-meu preferido...

Red percebeu, horrorizado, que o Chuck recuando na sua frente começou a se parecer mais e mais com o Chuck desenhado sobre o papel. Foi quando se tornou consciente de sua própria postura, a do grupo, e a de seu melhor amigo. Em sua preocupação e curiosidade, todos haviam se aproximado de Red, sem perceber que estavam isolando o canário e tornando o desenho mais real ainda.

E aquilo estava aterrorizando Chuck tremendamente.

Por sorte, não havia sido o único a perceber. Todos estavam pensando a mesma coisa.

– Oh, Chuckster... – Matilda, agindo rápido, correu e abraçou a ave apavorada, facilmente sentindo os fortes tremores que atravessavam as penas amarelas. O uso do apelido infantil, tão raramente usado, chocou o mais jovem por tempo suficiente para que ele não fugisse do contato usando sua super velocidade. Algo lhe dizia que essa seria exatamente a atitude que Chuck tomaria se o momento perdurasse mais.

Matilda apertou-o contra seu corpo, sentindo-se terrível. A decisão de exilar Chuck havido sido, em boa parte, sua. Na época, havia pensado que seria o melhor para a segurança dos ovos (uma teoria que se provou, no dia de sua readmissão, completamente equivocada), mas nunca havia parado para pensar no que isso faria à ave amarela, que agora temerosamente se apoiava de volta em seu torso.

Ele nunca contou o que houve durante seu tempo no exílio, mas havia voltado desnutrido e doente, com sinais de pneumonia e sendo devorado por parasitas... mas havia sobrevivido e Matilda acreditou que estaria tudo bem depois de curá-lo. Mas agora percebia que sua cura havia sido incompleta. Nunca imaginou que aquele pássaro doido e inocente, que em tantas ocasiões fizera tudo para deixa-la feliz (ao ponto de se vestir de gnomo e cantar alegremente para ela por uma semana inteira... sem pausas), pudesse ostentar uma fissura emocional daquela magnitude, e só podia culpar-se a si mesma.

Os trigêmeos Blues agiram em seguida, juntando-se a Matilda no abraço, tomando cuidado para não encurralar Chuck e deixa-lo mais estressado ainda. Apesar de não haverem compreendido toda a situação e de sua pouca idade, haviam visto o suficiente. Seu professor era forte e corajoso. Se não se mostrasse em uma dessas duas formas, ou nas duas ao mesmo tempo, algo estava errado. E apesar do amor aos caos que os três irmãos compartilhavam, um Chuck triste não era uma imagem que lhes fazia sentido.

O episódio da pedra pintada havia sido um grande sinal de alerta para os três. Se Chuck precisava de alguém para aplaudir suas façanhas, que esse alguém não precisasse ser um simples rosto desenhado. Na hora haviam rido, mas depois perceberam que a imagem de seu invencível professor fazendo os galhos (os braços da pedra) baterem como se estivessem batendo palmas havia sido uma das cenas mais tristes que já haviam presenciado em suas vidas.

Depois disso, decidiram passar mais tempo com o canário, e não mais apenas durante os treinamentos, evitando deixa-lo sozinho por longos períodos. Acabaram descobrindo que passada a fase dele querer impressionar, Chuck era alegre, divertido e inteligente, e sempre procurava por novas maneiras de fazer as coisas, essa em particular sendo uma característica que os Blues adoravam. Seu hábito de, a cada dia, criar um hobby diferente podia ser difícil de acompanhar no início, mas mantinha a vida interessante e afastava o tédio. E o engraçado era que Chuck ainda os matava durante os treinos, e continuava como o professor severo e rígido dos trigêmeos, mas com isso agora também era um amigo com quem podiam contar sempre. E isso também funcionava no sentido inverso, decidiram ao se apoiar carinhosamente na sedosa plumagem amarela.

Bomb precisou controlar suas próprias emoções antes de unir-se, ele mesmo, ao abraço coletivo. Como Red e Matilda, havia sido um dos responsáveis pelo exílio de Chuck. A avalanche quase o matou, o mesmo com Red (e o jardim de Matilda, que não teve tanta sorte), então assumiu que o castigo havia sido justo. Mas suas feridas haviam melhorado em questão de um dia ou dois. As de Chuck, por outro lado, haviam persistido até hoje, e o pior, sem que nenhum deles percebesse. A noção de que havia sofrido sozinho e calado durante todo esse tempo lhe esmagou o coração, e a culpa imediatamente o assolou.

Apesar da competitividade exagerada, o canário era um bom pássaro e um excelente amigo, que o apoiou nos melhores e piores momentos, suportando inclusive suas explosões sem reclamar e nem sair de seu lado, mesmo tendo a velocidade para escapar de cada uma delas. Havia perdoado Chuck logo, poucos dias depois do incidente. Mas quando foi procura-lo, a ave amarela não estava em lugar algum. Seu medo era que tivesse fugido para algum país distante (com sua velocidade, era bem possível), e se surpreendeu ao descobrir que estivera, o tempo todo, bem ao lado do território do bando e escondido de qualquer olhar, mas cuidando de longe de seus antigos companheiros como se fosse um anjo da guarda. Não conseguia imaginar Chuck ali no alto, com fome, com frio, doente, sozinho, silenciosamente observando-os de longe, ouvindo suas conversas, sentindo o cheirinho das refeições, e desejando voltar com todo o seu coração, mas com o medo e a vergonha o mantendo congelado no lugar.

Olhou para o desenho, que Red segurava como se fosse rasga-lo a qualquer momento. Os porcos haviam chegado perto. Não havia visto a expressão de Chuck depois que seu sorriso aliviado desapareceu, mas a semelhança entre sua expressão no desenho e a de agora a pouco era imensa. Lembrou-se da satisfação que sentira diante da paz e tranquilidade nos primeiros instantes sem a presença do hiperativo canário por perto, e se perguntou se sua expressão seria também parecida com o sorriso assustador que seu “eu-desenho” exibia. Precisou se controlar para não explodir quando a culpa voltou a assola-lo. Quando por fim conseguiu, uniu-se ao abraço, com cuidado extra para não perturbar a sensível ave do meio.

Hal não conseguia entender o que estava acontecendo, e quase ficou irritado e pediu por explicações. Quase, até ver a expressão de Chuck, Red e dos outros. Aquilo sozinho lhe disse, em alto e bom tom, que este era um assunto muito sério e que deveria ser tratado com todo o cuidado possível.

Lembrava-se de um dia ter voltado e Chuck simplesmente não estar lá. Mas sempre atribuiu esse fato ao espírito aventureiro da ave veloz, que nunca podia se concentrar em uma única coisa por muito tempo. Na época, imaginou que o canário tivesse viajado para algum lugar, e que voltaria logo. Demorou um pouco, mas em sua visita seguinte, Chuck estava de volta e Hal não sentiu a necessidade de perguntar. E quando finalmente se mudou para o acampamento com os outros, ninguém disse nada a respeito.

Baixou os olhos para o papel. O Chuck do desenho era atacado e perseguido pelos demais enquanto fugia para a segurança de... Onde? Onde se abrigaria se não com seu próprio bando? A realidade da situação o atingiu como um balde de água gelada. A cena de alguma forma havia sido real, e o pior, nunca havia ficado sabendo. Considerava o canário como um amigo, mas ele havia passado por isso e Hal nunca soube. O que isso queria dizer? Um pouco frustrado consigo mesmo, cuidadosamente o tucano se apoiou do outro lado de Chuck. Isso poderia ser resolvido depois. Primeiro tinha um amigo que precisava de consolo urgente.

Terence, por um momento, ficou indeciso se deveria unir-se ao abraço ou não. Sabia perfeitamente o quanto a irritante ave amarela tinha medo dele, havia visto o pavor em sua expressão ao olhar para cima, numerosas vezes. Entendia o quanto seu tamanho podia intimidar, e normalmente não fazia nada para cortar esse efeito (era bom contra os porcos). Mas o que o velocista demonstrou agora era bem diferente, havia notado. Era um tipo de medo vulnerável que desesperadamente aceitaria qualquer coisa, de qualquer um, para ser consolado. Terence não duvidava que ele aceitaria ajuda até do Rei Porco se este aparecesse agora e oferecesse.

Sabia quem seria uma opção muito melhor, no entanto: Red era amigo da ave amarela, e poderia confortá-la muito mais facilmente do que qualquer outro. Mas seu irmão estava congelado, olhando do desenho para a cena diante dele, com crescente horror e culpa pintados em seu rosto. Deu um leve cutucão, tentando fazer com que Red saísse do transe, mas não obteve sucesso. Terence suspirou, antes de se aproximar do grupo de pássaros, com cuidado para não assustar a nenhum deles, especialmente o canário. Se ele se assustasse e fugisse, o gigantesco cardeal sabia, ninguém mais poderia alcança-lo.

Bubbles se esgueirou entre os outros para alcançar aquele que estava procurando. Não estava entendendo nada, mas tio Chuck estava triste. E não deveria estar. Ele não combinava com tristeza, pois era amarelo como o sol, quente e alegre.

Sempre pensou em Chuck como o sol depois das tempestades. A cor viva de suas penas ajudava, mas não era só isso. Chuck era o único que entendia seus medos, e o fato de ser um pássaro tão forte o confortava. O pequeno tinha medo de um monte de coisas, mas o canário nunca se recusou a consola-lo, nem sequer uma vez. Era perigoso, ambos sabiam. Bubbles poderia inflar a qualquer momento, joga-lo longe ou esmaga-lo, e isso acontecia sempre que levava um susto, mas mesmo machucado Chuck continuava ali ao seu lado até a tempestade passar. Foi ele quem lhe ensinou que coisas boas podiam vir de coisas ruins, e que ao final de certas chuvas fortes um arco-íris poderia aparecer. E isso acalmou seu medo. Depois, ao final de cada tempestade, a diversão dos dois passou a ser sair ao sol que despontava das nuvens, à procura do esquivo fenômeno. Se encontrassem, Chuck rapidamente pegava Bubbles e saía a toda velocidade para encontrar o local onde o arco-íris tocava o chão, e ficavam brincando na chuva colorida até que sumisse.

Acomodando-se nas penas brancas de seu peito, ficando logo abaixo de um de seus olhos, e escutando o coração sempre acelerado, Bubbles sentiu uma coisa molhar sua cabeça, mas ficou quieto enquanto suas penas absorviam e escondiam a lágrima. Apoiou-se com um pouco mais de força, e novamente a sabedoria inerente às crianças se fazia presente. O sol novamente estava escondido pelas nuvens de tempestade, e Bubbles precisaria ser o forte agora, até que esse sol pudesse sair de novo e um belo arco-íris se formasse. Esperaria ansiosamente por tio Chuck para irem procurar juntos depois.

Matilda também sentiu as lágrimas, com Chuck estando apoiado em seu torso. Não podia contar quantas vezes havia visto o canário durão chorar, mas sabia que todas haviam sido há mais de dez anos. Tentou baixar seu corpo e erguer o rosto dele, mas assim que o fez, sentiu o encanto do momento se desfazer.

Todos sentiram, na verdade. Do nada, Chuck ficou tenso, e se desvencilhou do abraço, sentindo-se encurralado novamente. As lágrimas ainda escorriam enquanto tentava trancafiá-las de volta, piscando e movendo sutilmente seus olhos, espalhando-as sob suas pálpebras.

Red, de seu lugar privilegiado fora do abraço, pôde claramente ver a máscara ser colocada de volta no lugar. No início do abraço, seu medo se transformou em uma espécie de transe, como se o canário estivesse se desligando de tudo só para absorver ao máximo aquele raro carinho. As lágrimas sem dúvida vieram sem que ele tivesse tomado qualquer conhecimento delas. Seus olhos simplesmente as derramavam, mas estava tão trancado dentro daquela sensação que nem percebeu. Mas quando uma Matilda preocupada tentou ver as lágrimas, foi como se o “despertasse” para o medo e a vergonha novamente.

Chuck sacudiu de leve suas penas, recolocando-as no lugar e apagando qualquer traço do que havia acontecido, enquanto se endireitava em uma posição quase desafiadora.

– N-não precisavam fazer isso. – Disse, desviando os olhos, com as bochechas coradas.

Aí estava. Novamente, o medo de parecer fraco.

Céus...

Que bando era esse, que um de seus membros tivesse medo de demonstrar fraqueza diante dos outros?

Aparentemente, o deles.

Muito disso, Red admitia, era culpa dele. Diante da guerra contra os porcos, lágrimas podiam significar fraqueza. Ninguém queria ser o elo fraco, a maioria dos pássaros dentro de seu bando havia sido treinada desde filhote para ser o mais forte possível diante de qualquer ameaça. E para o líder, mostrar fraqueza era algo proibido no grupo. Não com palavras, mas de forma velada, havia instaurado essa regra.

Que injusto...

Chuck tinha muitos medos, e não apenas o de perder seu lugar dentro dos muros do território do bando. Red teve certeza, durante aquela última noite de tempestades, que vira seu segundo em comando tremer sob as cobertas a cada trovoada, antes de enrolar o tecido nos ovos para protegê-los. Como se estivesse tentando disfarçar. Na hora, Red não deu muita importância.

Não havia sido cego.

Havia visto.

E Chuck não era um ator.

Havia demonstrado.

Mas Red havia ignorado os sinais.

Por que não havia prestado mais atenção? Qual seria o problema de ir lá e consolar Chuck?

Provavelmente o mesmo problema que o impediu de se unir ao abraço coletivo ainda há pouco.

Medo.

Mas este era do próprio Red.

Red era parecido com Chuck em alguns aspectos, apesar de muitos discordarem. Um deles era o fato de que não gostava de se mostrar fraco diante dos demais. Era o líder do grupo, afinal.

Mas seu segundo em comando estava sofrendo, e ele de novo não fez nada.

Isso não o qualificaria como um mau líder?

E um péssimo melhor amigo?

Red se forçou a baixar os olhos, encarando o desenho que agora estava amassado onde havia segurado. Não havia percebido que seu nervosismo transpareceu daquela forma.

Voltou a olhar para o grupo, e percebeu que Chuck estava olhando de volta, esperando. Por um veredito, uma acusação, uma nova expulsão, uma sentença de morte...

Oh, Chuck...

O vulnerável canarinho havia usado aquele momento para se blindar e esperar qualquer coisa. Red tremeu diante de sua expressão.

Você não deveria precisar de uma blindagem só para esperar seu melhor amigo falar!

Seus olhos, estranhamente conformados, conseguiram o que nem Terence conseguiu: Quebraram o gelo, a barreira que o mantinha imóvel...

Você nunca deveria ter medo de passar um pouco de tempo ao lado de dito melhor amigo!

... E Red se moveu...

Ninguém deveria manter feridas abertas sem que ninguém soubesse!

... Correu mais rápido do que qualquer um jamais conseguiu...

Ninguém deveria esconder suas lágrimas!

... Mais rápido do que Chuck...

Ninguém deveria ter medo!

... E naquele momento, diante de todos...

E se tivesse...

... O desenho foi esquecido ao chão...

... Não deveria ser proibido!

... E Red abraçou Chuck.

– Eu fui um idiota.


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Notas finais do capítulo

Observações finais da autora:
(MUITOS SPOILERS - vão estar marcados -, e praticamente uma segunda fic, desculpem por isso... ^^)

Confesso, chorei MUITO escrevendo essa história! Mas espero que tenha ficado razoável?
Sou veterana na escrita de fics (meu antigo apelido era Fallen Angel, sou uma das primeiras escritoras de fics de Saint Seiya no Brasil, isso trezentos anos atrás), e fiquei um bom tempo sem postar. Mas nunca deixei de ler. Essa é uma das primeiras fics que posto em um período de mais de dez anos.

Início dos SPOILERS, e praticamente um psicodiagnóstico dos episódios mencionados na fic (antes que perguntem, sim, sou psicóloga):

Desde que comecei a acompanhar os passarinhos em suas aventuras (culpa do meu sobrinho Samuel), eu notei esse detalhe esquisito na amizade de Red e Chuck: Engraçado que perto dos outros, Chuck é forte, destemido e irritado, mas sozinho com Red ele parecia um filhotinho de cachorro. O primeiro episódio dos Toons que eu vi foi Chuck Time, e qual é, galera, só eu fiquei com raiva do Red pela forma como ele tratou o Chuck no início?
Mas me emocionei escrevendo suas conclusões. Red é o único que tem todas as peças, mas por uma ou outra razão se recusa a montar esse quebra-cabeça amarelo durante a série, pelo menos até agora. Ele vê a amizade de Chuck como garantida, e muitas vezes o trata super mal. Por isso, fiquei tão aliviada ao ler Dragon Year e Transformers 1, e ver seu desespero para tentar compreender e ajudar seu melhor amigo. Com isso, Red provou que a amizade não era tão unilateral quanto parecia, e me permitiu escrever essa fic.
Depois disso, diversos episódios tiveram nosso querido canário doido como protagonista, e vários pontos diferentes de sua personalidade foram explorados. Ele é bem mais rico do que Red nesse quesito, e me surpreendeu.
Chuck é super competitivo e até invejoso, mas diferente de como todos o colocam, ele faz sim tudo para tentar ajudar os outros. Em Oh, Gnome, por exemplo, ele fica tentando agradar Matilda de todo jeito, e fica horrorizado quando ela chora. Aliás, quem viu o episódio sabe o quanto ela deve ter gostado do presente mencionado na fic. Me diverti MUITO escrevendo aquele "sem pausas", só imaginando a cara dela!
A relação entre Bomb e Chuck é particularmente complexa: Chuck o adora, tem inveja de seu poder e da atenção que recebe, tem ciúmes da amizade dele com Red, e morre de medo dele, tudo ao mesmo tempo. Tanto em The Bird That Cried Pig quanto em Moon Festival, Chuck parece incomodado com a atenção que Bomb recebe, comparada à dele. Mas em Bomb's Hiccups há uma peculiaridade interessante: Desde o início, Red e Chuck levaram todas as explosões da história na cara, mas em momento algum se afastaram (Bomb até tentou, mas os dois foram atrás). No entanto, quem viu Chuck Time deve ter percebido que Chuck poderia ter desviado de cada uma delas. Ele permaneceu e suportou (apesar de admitir que doía pra caramba), se dispondo a ser ferido para procurar uma cura para Bomb.
A poética parte de Bubbles na fic foi inspirada em uma história real, minha e do meu pai, e na fic eu me inspirei nele para escrever a parte de Chuck. Eu, como Bubbles, morria de medo de raios e suas trovoadas quando pequena e meu pai contornou o meu medo dessa forma. Duvido que ele mesmo se lembre disso, mas até hoje, se o sol sai depois de uma chuva, eu olho pela janela procurando pelo arco-íris.
Voltando aos Angry Birds, chamou-me a atenção que é exatamente Chuck quem consola Bubbles durante a tempestade criada pelos porcos em Static Cling. Quem viu Thunder Chuck, no entanto, sabe que o próprio canário morre de medo das trovoadas também.
Esses simples atos em que Chuck coloca os outros antes dele mesmo provaram pra mim, mais do que qualquer biografia, que a imagem de pássaro egoísta que os outros têm dele é falsa. Provavelmente é uma simples defesa, nada mais.
Por esse motivo, achei Chucked Out super injusto, e até ler Propiganda, estava achando muito esquisito que um episódio como aquele não trouxesse nenhuma consequência para Chuck e sua tão conhecida insegurança. Mas o quadrinho final de Propiganda, em que um Chuck temeroso esconde um desenho com a mesmíssima temática de Chucked Out, fechou tudo. Não importa qual episódio aconteceu primeiro. O fato é que ele morre de medo de ser expulso e ficar sozinho, e faria qualquer coisa para evitar que aquilo acontecesse de novo. Se Propiganda for antes de Chucked Out, o episódio de seu exílio serviu para confirmar e piorar ainda mais seu medo; Se veio depois, é a confirmação de que Chuck definitivamente não saiu intacto de tudo isso, carregando com ele uma dolorosa ferida emocional que persistiu através da série. Não duvido que, se os roteiristas forem espertos, vão explorar isso mais a fundo nos futuros episódios, especialmente em relação à sua amizade com Red, Bomb e Matilda, que deve ter sofrido algum abalo.
Ah, antes que eu esqueça: A noção de que Chuck esteve doente durante seu período no exílio é fruto de um monte de pesquisas e perguntas ao veterinário. Vários detalhes mínimos em Chucked Out indicaram isso. Vamos por partes:
1 - Chuck é um canário selvagem, e qualquer canário é MUITO sensível ao frio, ao vento e à chuva. Uma pneumonia seria inevitável naquelas condições, e isso se prova na cena da chuva, em que o abrigo improvisado sai voando. A voz de Chuck está bem mais rouca nessa hora, um sintoma comum em canarinhos com essa enfermidade. Sua respiração ruidosa e cheia de gemidos também é outro sinal de pneumonia. Duvido que o dublador tenha feito isso de propósito (a não ser que ele tenha um canário de estimação que tenha tido algum problema, é pouco provável que ele saiba desse detalhe), mas fez e agora usei isso na história.
2 - Outro detalhe é o fato de as penas de Chuck terem claramente desbotado no final do episódio, lhe dando uma aparência envelhecida e cansada. Tudo que é escuro ficou acinzentado e seu amarelo normal perdeu um pouco do brilho. Notem que nenhum outro pássaro do bando mostra essa característica, então, não foi Chuck que "envelheceu". Eu pesquisei, e descobri que canários anêmicos e/ou com muitos parasitas têm esse mesmíssimo sintoma. As penas ficam disformes (o topete e a cauda, no caso dele) e desbotadas. Como Chuck não parecia estar se alimentando direito (ele estava tentando comer um galho, caramba!), ambas as hipóteses são bem prováveis.

Pronto, fim dos SPOILERS!

Honestamente espero com todo o meu coração que você, leitor ou leitora, goste tanto de ler quanto eu gostei de escrever essa história. Me diverti e chorei muito na sua criação. Deixem-me suas reviews dizendo o que vocês acharam. Se quiserem uma continuação (com uma reconciliação mais profunda entre Chuck e Red) e fics semelhantes com os outros birds (a do Hal já está no forno), aliás, é bom que deixem seus comentários, pois sempre precisei deles para me inspirar!



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