Inside escrita por maradyer


Capítulo 9
In the Name of Love




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Davina foi de assistente do meu pai para um show. Eu estava com muita cólica e decidi ficar na cidade. Meu pai pediu a nossa vizinha que me olhasse uma ou duas vezes por dia, apenas para verificar se eu não havia posto fogo no apartamento.

Durante a noite, enquanto eu improvisava uma janta, George apareceu. Dividi com ele minha omelete gigante cheia de temperos e recheada com calabresa.

— Jack vai dar uma festa depois do desfile - ele conta e caminha até a varanda. - Pelo visto já acabou - ele comenta ao ver as ruas já praticamente vazias.

— Não sei... - digo. - Eu disse que ficaria em casa.

— Seu pai e sua irmã estão viajando, Courtney - ele sorri. - Aproveite.

George estava certo, pelo menos na minha cabeça era uma boa ideia. Sorri para ele e fui me trocar. Esqueci a porta entreaberta após o rápido banho e quando olho para a sala, ele está me encarando pela fresta. E então desvia o olhar.

Bem mais tarde, quando a bebida já tomou conta do meu corpo, procuro por George em meio a multidão na casa de Jack, o melhor amigo dele. O procuro por todos os cantos, mas não o acho.

Ele está dando em cima de uma garota perto da piscina, sorrindo pela ela, colocando uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. A raiva toma conta do meu corpo já não muito sóbrio e eu cambaleio até lá.

— Você me chamou aqui pra ver você traindo a minha irmã? - rosno, o puxando pela camisa. Ele sorri amarelo para a garota e caminha na direção contrária, me ajudando a me equilibrar em cima do salto.

— Você está bêbada. Vou te levar para casa.

Me solto do seu aperto.

— Eu posso caminhar sozinha.

Mas o salto cede e tomba. Sinto meu tornozelo estalar e meu pé já queima. Dou o maior grito de dor que já dei em toda a minha vida.

Tudo aconteceu muito rápido, apesar da dor: George me pegando no colo e me colocando em seu carro, o caminho até minha casa, ele me levando para cima, colocando gelo no meu tornozelo.

O balanço do carro havia me deixado sonolenta. Quando chegamos no prédio, George me pegou no colo e me guiou até o elevador. Lá dentro, ele me soltou com delicadeza, mas eu não podia encostar o pé esquerdo no chão. Cansada, pousei minha cabeça em seu ombro, esquecendo de toda a raiva que havia sentido momentos antes. Uma mecha de cabelo cai no meu rosto e ele rapidamente a tira para mim. Abro os olhos e o encaro. Ele está olhando para mim, sua mão ainda no meu cabelo depositado atrás da minha orelha. Ela desliza para a minha bochecha com suavidade, seu indicador passeia por ela.

— Me desculpa - ele sussurra. - Eu não devia ter te chamado para te deixar de lado. Eu deveria ter ficado com você a festa toda.

Devia mesmo, minha cabeça lateja. Eu me assusto com meus próprios pensamentos. Ele se aproxima, seu dedo ainda em minha bochecha, e o vejo fechar os olhos. Ele não faria isso. Faria?

O elevador apita, anunciando que chegamos no meu andar. Ele se afasta rapidamente e me ajuda a entrar em casa, ignorando nosso momento segundos atrás. Me leva até o quarto e caminha em direção a porta.

— Não - murmuro.

— Vou pegar gelo.

Ele volta rapidamente com gelo envolto em um pano de cozinha. O contato do congelado com a queimação no meu tornozelo é aliviante a princípio, mas depois se torna incomoda, ficando apenas a queimação.

— Está ardendo - sussurro.

Ele coloca o gelo um pouco mais para cima. Ficamos em silêncio.

— Davina não é o suficiente? - pergunto. - O que aquela garota tinha que o fez cogitar trai-la?

— Ela me lembrava sua irmã - ele falou bem baixinho. Então me encarou ao dizer: - ela me lembrava você.

Não lembro de vê-lo largar o pano com gelo no chão ou de se aproximar. Só me lembro de sentir uma de sua mãos em minha cintura, me apertando contra o seu corpo, e da sua outra mão atrás da minha cabeça, puxando o meu cabelo com força enquanto seus lábios tocavam os meus de forma desesperada, porém maravilhosa. Explosões aconteciam dentro de mim nesse momento.

E, naquela noite, eu dormi com o namorado da minha irmã.

—--

Acordo suando frio, mesmo com o ar condicionado ligado na temperatura mais baixa. Vejo o sol já nascendo lá fora, estou dez minutos adiantada do meu despertador. Suspiro e me encaminho para o banheiro. Tomo um banho gelado e visto um cropped listrado colado ao corpo e um short jeans escuro com rasgos, além de um tênis branco nos pés. Apenas passo lápis de olho e nada mais. Sinto o cheiro forte de café vindo da cozinha.

Minha mãe analisa alguns papéis e levanta os olhos para me encarar. Sem dizer nada, volta a encarar seus papéis. Tenho vontade de dizer bom dia pra você também, mas fico em silêncio.

— Você gritou enquanto dormia - ela me fala quando me sento na sua frente com um prato com dois pães de queijo.

Sinto tudo dentro de mim se revirar. De repente, a fome passa.

— E o que eu gritei?

— George - ela toma um gole de café, mas sei que está sorrindo. - Não era o nome do namorado da sua irmã?

— Eu devia estar sonhando com eles - desvio o assunto, não me deixando abalar por ela. - Ultimamente tudo o que eu tenho feito é isso.

— Você sabe que lembranças apagadas pelo seu cérebro para sua própria proteção, as vezes, voltam em forma de sonhos?

Respiro fundo.

— Onde você está querendo chegar?

— O que eu quero dizer é que você pode lembrar daquela noite - ela murmura. - Se é que você realmente esqueceu.

— Chega - me levanto, enfiando um pequeno pão de queijo na boca e deixando o outro no prato. Pego minha mochila e o dinheiro em cima do balcão. - Não me espere para o almoço.

—--

Travis veio falar comigo assim que eu cheguei no colégio. Me fiz um pouco de difícil no começo, como eu e Charlotte havíamos combinado, mas depois cedi e o "perdoei". 

— Harvey vai dar uma festa hoje - ele conta. - Achei que você pudesse querer ir.

Concordo. O que eu menos queria hoje era ir pra casa e encarar minha mãe e suas perguntas. 

— Você está muito quieta - Travis murmura durante o intervalo apenas para eu ouvir. Bad Habit do The Kooks toca no meu fone de ouvido.

You got yourself a bad habit for it

Oh look at you, walking up and down a pole

— Tive um sonho estranho - comento. Não sei porque disse isso para ele quando não contei para ninguém. Apesar de tudo, Travis me transmitia confiança. Eu era muito burra por confiar nele?

Ele pega o meu outro fone e colocou em seu ouvido.

— You know I wish I had it all— cantarola.

Sorrio. Ele conhecia tudo, exatamente como eu.

— Quer falar sobre esse sonho estranho? - ele pergunta.

Olho ao redor. Apesar de todos estarem ocupados com algo, não acho que ali seria o melhor lugar para conversar.

— Vamos dar uma volta - Travis percebe e levanta da grama, me estendendo a mão. Quando eu levanto com sua ajuda, ele me puxa pela cintura e me beija.

— Nada vai nos atrapalhar agora - ele sussurra em meu ouvido e beija meu pescoço. - Eu prometo.

Caminhamos lado a lado em silêncio, mas não está desconfortável. Paramos perto do grupo, mas não há ninguém ao redor para nos ouvir. Sentamos perto de uma árvore, Travis se encosta no tronco.

— Pode falar.

Respiro fundo.

— Tem uma pessoa do meu passado me assombrando em sonhos - comento. - Só isso.

— Hum... ex namorado?

— Não exatamente - franzo a testa. - Tenho um passado complicado. É uma longa história.

— Nós temos tempo - ele sorri. - Não estou com a menor vontade de ir para a aula de física.

Sorrio de volta, mas o alarme toca. E eu precisava tanto das aulas de física por causa das minha notas baixas na matéria quanto precisava fugir daquela conversa. 

— Um dia eu te conto.

—--

Estou com um vestido azul marinho colado ao corpo. Charlotte insistiu para que eu passasse batom bordô. Ela sorriu ao ver o resultado.

— Você está pronta para acabar com Travis hoje.

Sorrio de volta para ela.

— Você realmente acha que ele vai tentar alguma coisa?

— Harvey já havia chamado todos do grupo na semana passada. Se Travis reforçou o pedido pessoalmente, ele está planejando te levar pra cama - ela sorri de forma maliciosa - ou para qualquer outro cômodo.

Estávamos todos de carona. O carro de Charlotte estava na revisão e Enzo que ficou de nos buscar, acabou perdendo a carteira depois das suas últimas infrações. Will, então, estava de motorista.

Ele estava vestido de maneira bem simples, dando a entender que ele estava apenas nos levando e não planejava ficar na festa. De qualquer forma, a camisa branca deixava evidente seus músculos.

Suspiro quando o carro para. Não queria abandonar o ambiente que exalava perfume masculino. Invictus, talvez?

— Não vai descer? - Enzo pergunta e Will nega, mas o carro de Travis para atrás do dele e Aisha desce de lá, sorrindo e caminhando em direção ao namorado. Ela pede para ele ficar, ele diz que está cansado, mas que aceita apenas um drinque. 

Acaba que ele não ficou apenas para um drinque. No meio da festa, eu o vejo puxar Aisha escada acima, um sorriso nos lábios, indo em direção aos quartos.

Sinto alguém segurar o meu braço.

If I told you this was only gonna hurt

If I warned you that the fire's gonna burn

 

Would you walk in? Would you let me do it first?

Ed.

— Olhem o que eu acabei de comprar - ele berra mais alto do que a música.

Do it all in the name of love

Há dois saquinhos em suas mãos. Uma é uma trouxinha, parecendo um cigarro, mas eu tenho certeza que não é. O outro é em pó.

Charlotte agarra o pacote com pó como se sua vida dependesse disso e derruba uma quantia em cima da mesinha ali perto. Sei qual vai ser seu próximo movimento.

Travis pega o pacote com a trouxinha. Sua mão segura a minha, mas eu estou parada, fixa ao chão.

Would you let me lead you even when you're blind

In the darkness, in the middle of the night

In the silence, when there's no one by your side

Would you call in the name of love

— Você não vem?

Eu me lembrava muito vez da última vez que havia experimentado maconha. Foi com George. Na noite em que tudo aconteceu.

Minha mente vagueia até minha casa, onde minha mãe me espera com perguntas. Depois ela volta para a festa, onde Will está lá em cima com Aisha.

Foda-se, penso. Deixo Travis me arrastar para fora da casa.

If I told you we could bathe in all the lights

Would you rise up, come and meet me in the sky?

Would you trust me when you're jumping from the heights?

Would you fall in the name of love?

Estamos em uma rodinha. Há pessoas ali que eu nem conheço, mas depois da terceira rodada, nem me importo.

Sinto a mão de Travis em minha coxa quando chega minha vez no desafio. Havia desafiado Enzo a correr pelado em volta da casa. Ele fez. Agora ele havia escolhido me desafiar.

O olho de Enzo pousa na mão de Travis em minha coxa e ele sorri.

When there's madness, when there's poison in your head

When the sadness leaves you broken in your bed

I will hold you in the depths of your despair

And it's all in the name of love

— Quero que você, Courtney, faça um trio com Travis e Tom.

—--

Não lembro como começou, nem como terminou. Lembro apenas de alguns flashes em minha cabeça, que agora lateja. 

Travis tirando a minha roupa, Tom nos observando. Mãos e lábios em meus seios. Palavras sujas sussurradas em meu ouvido, minha visão piscando colorido, minha mente voando para outra dimensão quando um deles, não lembro qual, está abaixo de mim, e outro está atrás.

Lembro de cair no meio da cama, exausta. Tom vestiu sua roupa assim que terminou e saiu do quarto. Eu acho que peguei no sono também, pois acordo e já está claro lá fora, Travis beijando meu pescoço.

— Ontem foi espetacular - ele sussurra -, mas eu preferia que em nossa primeira vez juntos fosse só eu e você.

Sorrio para ele.

— Podemos recompensar isso agora.

Subo em seu colo. Mais flashes da noite passada estão voltando, mas eu não ligo dessa vez. Não ligo para a dor de cabeça quando os dedos quentes de Travis passeiam por cada extremidade do meu corpo, deixando marcas ali. 

Seus lábios também me marcam. E eu me lembro disso da noite passada. Sua mão entre minhas coxas, sua boca em meu pescoço. Seus gemidos em meu ouvido...

Quando adormeço novamente, não consigo deixar de pensar em como seria se, em vez de Tom, Will estivesse lá para completar o trio.

Esse pensamento me assusta. Todos meus pensamentos me assustam, principalmente drogada. Lembro que, depois da maconha, experimentamos outras coisas. Não me lembro o que era exatamente. 

Eu nunca havia feito um trio. Nunca havia cogitado a ideia. Sempre me pareceu vulgar demais. Porém, eu havia participado e havia gostado. Se eu era capaz de fazer coisas que considerava errada quando estava drogada, eu não seria capaz de matar, como minha mãe afirmava que eu havia feito? Ainda mais: eu não seria capaz de minha irmã e meu pai?

A ideia me faz despertar completamente. Sento na cama, perdida em pensamentos.

— O que houve? - Travis pergunta.

— Eu...

Eu confiava nele. Não sabia o porquê. E, geralmente, eu não me enganava quanto as pessoas.

Estava na hora de Travis saber a verdade sobre mim.

 


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