Inside escrita por maradyer


Capítulo 5
The Price To Be Paid


Notas iniciais do capítulo

Olá.



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Acordo com Davina batendo em minha porta. Me encolho embaixo das cobertas e minha próxima lembrança é das janelas sendo abertas e o sol invadindo, mesmo meus olhos estando fechados.

– Bom dia! - ela diz, animada, arrancando minhas cobertas. - Court, vamos. Temos coisas muito importantes para fazer hoje.

– Sim - murmuro. - Dormir.

– Não - ela suspira. - George me chamou para sair.

Me levanto rapidamente. Minha irmã era apaixonada por George desde o colegial. Depois que ela foi para a faculdade, havia desistido, mas eles acabaram se encontrando no campus. Davina estava esperançosa novamente e agora que George finalmente havia a notado, era uma ótima oportunidade.

– Precisamos escolher uma roupa para você - digo, me levantando rapidamente. Me dirijo até o banheiro e escovo os dentes. Quando volto para o quarto, vejo as luzes apagadas e algo pegajoso em meus pés.

Sangue.

Davina está deitada em minha cama, toda cortada, o corpo ensanguentado, os olhos abertos. Morta. Sinto o desespero tomar conta de mim e me apoio na parede enquanto lágrimas enchem os meus olhos e um grito sobe até o topo da minha garganta.

De repente, ela está em pé e me encarando com seus olhos grandes e vidrados.

– Você me matou - ela murmura. - Você matou a minha chance com George.

– Sinto muito, D. Eu não...

– Você acabou com a minha vida.

– Eu não matei ninguém - grito, desesperada.

– Pior: você me traiu. Traiu minha confiança. Dormiu com o único cara que eu amei!

– Eu nunca...

– Pare de mentir. Eu sei que você me matou por inveja. Você sempre quis a minha vida.

– Dav, eu jamais...

– Sim, você sim. Eu sei. Não negue - ela rosna. - Assassina.

Acordo sobressaltada e engulo o choro. Estou suada e me afasto de Will, indo para o banheiro. Tomo uma ducha bem gelada e lavo os cabelos. Saio do quarto e me deparo com ele ainda dormindo. Coloco uma camiseta preta escrito MARVEL e um short jeans claro, além de tênis. Pego minha mochila e cutuco Will.

– Hum...

– Will, eu estou saindo. Você precisa ir embora.

– Mesmo?

– Sim.

Ele respira fundo e se levanta. Coloca a sua roupa de ontem, escova os dentes e volta para o quarto, sorrindo para mim.

– Bom dia.

– Bom dia - murmuro, mesmo que a única coisa boa nele seja a presença de Will.

– Você está bem? - ele me pergunta.

– Sim - minto.

Sua mão pousa em meu rosto.

– Certeza?

– Não - admito.

– O que está acontecendo?

Eu tenho pesadelos com minha irmã morta, que diz que eu sou culpada pelo fato dela estar morta, penso. Além do mais, o cara de quem eu gosto, que por acaso é o cara com quem eu estou ficando, é namorado da minha amiga.

Um mês. Um mês desde que Will havia invadido o meu quarto e me convencido a ficar com ele. Apesar de parecer errado, me parecia uma boa ideia. Agora... parece que havia esfriado. Não sabia se realmente gostava de Will ou se tudo o que eu sentia era uma forte atração. Desejava ardentemente que fosse a última, assim poderia voltar a conviver com Aisha sem me sentir culpada.

– Hoje é a leitura do testamento da minha avó. Estou nervosa.

Desço primeiro. Minha mãe já foi e então subo e aviso para Will que ele pode descer. Tomamos café e ele sai primeiro. Minha mãe deixou dinheiro para o táxi. Seu carro já estava arrumado e portanto ela o usava e eu me recusava a pedir um para ela.

Vou de táxi até o colégio e sorrio ao ver que Tom e Ed sorriem para mim. Me aproximo deles.

– Bom dia - eles dizem ao mesmo tempo.

– Oi - respondo.

Conversamos sobre assuntos aleatórios até que Travis chega. Há um grupinho de cinco meninos com ele e também há uma garota de rosa pendurada em seu pescoço. Ela tem os cabelos compridos e negros, além de serem lisos de dar inveja, os seus olhos são castanhos e levemente puxados e ela é um pouco mais alta do que eu. Se bem que ser mais alta do que eu não é algo muito difícil.

– Nat, olá - Ed cumprimenta e ela sorri.

– Tom - sua expressão muda ao olhar para o moreno. Ele força um sorriso.

– Como estava na capital? - Ed volta a puxar assunto.

– Muito bom. Aquilo lá é um paraíso. Mas Alastair é perfeita.

Ela achava Bismarck um paraíso. Dakota do Norte. Certo. Não consigo controlar o riso e acabo deixando-o sair.

– Do que você está rindo?

– É proibido? - questiono. - Não sabia.

Ela sorri falsamente.

– Eu poderia citar várias cidades melhores do que Alastair.

– Quem é essa? - ela rosna para mim.

– Court - Travis responde, sorrindo diante da minha raiva. - Amiguinha de Enzo.

A morena sorri.

– Sério? Charlotte já sabe disso?

– Não há nada para saber - cruzo os braços.

– É mesmo? Porque para mim há...

– Não há - Thomas intervém.

– Como você pode ter certeza, T? - a morena pergunta.

– Porque... - Thomas me puxa pela cintura. - Courtney está comigo.

–--

Acabei descobrindo que o nome da menina era Natalie e era uma das ficantes de Travis. Depois que eles desapareceram dentro do colégio, Thomas me largou e sorriu extremamente envergonhado.

– Desculpa por isso, Courtney - ele pede. - É só que... Natalie é minha ex e nós mantemos nossa inimizade bem explicita.

– Não tem problema - digo, rindo.

– Natalie traiu Tom - Ed conta. Paro de rir.

– Então ela é realmente uma idiota - digo, abraçando Tom quando bate o sinal. - Tenho que ir - beijo seu rosto e depois o de Ed. - Vejo vocês no almoço.

–--

Enzo não veio hoje. Durante o almoço recebi uma mensagem sua no Kik me pedindo para ir até sua casa para passar a matéria que havia perdido. Concordei.

Mal consegui encostar na comida. Não estava preocupada com o testamento, como havia dito à Will mais cedo. Minha avó me amava e eu sabia que deixaria algo para mi, esperava que fosse o suficiente para sumir da vida da minha mãe. Estava sem fome pois ver Travis com Natalie fazia meu estômago revirar.

Era algo cheio de interesse, puro status. Ele era do time de basquete e de futebol enquanto ela era chefe das líderes de torcida. Era algo esperado.

– Eu odeio essa menina - Charlotte rosnou quando Natalie saiu para pegar sua comida.

– Por quê? - Ed questionou.

– Vocês não veem porque são idiotas que babam em qualquer par de pernas de fora que passa por esse colégio - ela sibilou. - Ela me enoja.

– Será que não é por que ela ficou com o cargo de chefe das líderes de torcida desde que você torceu o pé? - Travis questiona. - Ou talvez o porquê seja o fato de que ela conseguiu ficar comigo definitivamente e você não.

Charlotte ri debochada e continua a falar mal de Natalie até ela voltar a mesa, mas uma garota sabe quando outra está desconfortável. Por isso peço para Charlotte me acompanhar até o banheiro.

Depois de enrolarmos um pouco, ela acaba me contando:

– Eu tinha um crush em Travis desde que éramos pequenos. Ano passado, em uma festa, Enzo estava bêbado. Umas coisas ruins aconteceram e o levaram a isso. Nessa época, ele e Travis também estavam em conflito. Natalie, que eu considerava minha melhor amiga, contou para Travis. Ele, decidido a botar fogo no circo, me fez ficar com ele.

– Te fez ficar com ele? - questiono, desconfiada. - Você não era namorada de Enzo?

– Ainda não. Nós estávamos ficando, mas não era nada sério. Mas eu sabia que Enzo gostava de mim.

– E mesmo assim ficou com o melhor amigo dele.

– Eu era completamente apaixonada por Travis e não me importei com quem se machucaria no processo.

Eu entendia Charlotte. Sabia como era isso. Estava com Will, mesmo sabendo que Aisha se machucaria. A diferença era que eu me importava e isso latejava em minha cabeça dia e noite.

– Enfim, eu só fiz a briga piorar. Então descobri que Travis me usou. Eu tentei ir embora da festa depois de beber demais e acabei torcendo o pé. Aquela noite me custou muitas coisas. Natalie tomou o meu posto de chefe das líderes de torcida, algo que ela sempre quis, e também tomou Travis.

– Pelo menos Enzo continuou do seu lado.

– Sim. Foi aí que começamos a namorar - ela sorri. - Ele foi muito bom para mim. Nós nos ajudamos muito e eu o amo demais por isso. Ele e Travis voltaram a ser amigos, claro, afinal briga de homem nunca dura muito tempo. E isso é o que nos enfraquece. Travis está sempre lá, como uma erva daninha, para me lembrar dos meus erros, tentando me puxar para baixo. Ele não suporta a ideia de que as pessoas possam ser feliz ao seu redor, ele tem que destruir tudo.

Ela passa água na nuca e depois a seca rapidamente, molhando de leve a alça da blusa.

– Ele precisa de alguém. Tentamos dar um jeito nisso, mas ele usa as garotas e as joga fora. Natalie é sua amante oficial, um estepe, sempre lá para quando ele precisa de alguém nas suas armações. Um dia esse estepe vai estar gasto demais e ele também vai a descartar.

Me indigno. Como ele pode usar as meninas desse jeito? É totalmente injusto. Desejo a ele todo o mal que eu consigo. Ele precisava sentir na pele tudo o que ele faz as pessoas passarem, todo esse sentimento ruim, o fato de ser usado, essa insegurança e... é isso!

– Ele precisa pagar - digo. - Precisa que alguém o faça passar tudo o que ele fez as meninas passarem.

– E como vamos fazer isso? Eu fui uma dessas meninas, Courtney. Eu sei como é. Por mais que haja o interesse de estar com alguém do time, nós nos apaixonamos por ele de verdade. Já Travis tem uma pedra de gelo no lugar do coração. Ele jamais vai se apaixonar.

– Temos que dar um jeito de derreter essa pedra - falo. - Precisamos achar alguém que faça Travis perder a cabeça.

– E quem seria essa garota?

– Ainda não sei, mas nós vamos virar esse campus de cabeça para baixo até achar. Ele vai pagar, eu prometo.

–--

Passo para Enzo a parte teórica de física que o professor passou hoje e falo o que ele perdeu não apenas da matéria, mas do que aconteceu durante o dia.

– Tem uma garota - finjo inocência. - Natalie. O pessoal parece não gostar muito dela, mas ela anda com Travis então...

– Travis realmente ainda não aprendeu a escolher suas companhias...

– Enfim, eu acho que eu e Charlotte somos amigas.

Enzo sorri.

– Isso é ótimo.

Conversamos sobre coisas aleatórias quando aviso que deu meu horário. Conto que hoje é a leitura do testamento da minha avó.

– Se você quiser, eu posso te levar. Depois você janta aqui em casa.

– Não quero incomodar.

– Você não incomoda.

Sorrio e aceito.

–--

– Estamos aqui presentes para a leitura do testamento de Claire Judd Donaghue - o advogado de minha avó começa. Ele é branco e tem olhos azuis e cansados, cabelos loiros e uma pele seca, além de algumas rugas, o que o faz parecer ser mais velho do que realmente é.

Quem estava presente? Apenas eu e minha mãe. Meu avô haviam morrido antes mesmo de eu nascer e minha mãe era filha única. Não haviam outros herdeiros.

– Segue-se aqui a vontade de Claire Judd Donaghue, vontade essa garantida pela lei, sendo irrevogável.

Sorrio para minha mãe. Não há como ela recorrer. Antes de morrer, minha avó nos fez assinar um tratado de compromisso, prometendo que não recorreríamos ao que quer que estivesse no testamento.

Começa a leitura.

– A falecida tinha terrenos em Alastair, casas alugadas na cidade, além de dois apartamentos em Malibu, uma casa no Caribe, além de ações, títulos...

E ele começou a citar o valor dos bens, onde estavam localizados e tudo o mais.

– Claire separou seus bens em duas partes: 60% e 40%.

Aí que as coisas ficaram interessantes.

– 40% para sua filha, Amy Greer Donaghue, e 60% para sua neta, Courtney Grace Westerforth.

Minha mãe levanta e bate o punho na mesa, perdendo totalmente a compostura pela qual ela zelava tanto.

– Isso é um absurdo!

– Você assinou um contrato, Greer - o advogado fala.

– Não é justo, Giancarlo. Eu sou a filha dela!

– E ela preferiu deixar a maior parte dos seus bens para a neta - intervenho.

– Há um porém - o advogado diz. - Aqui diz que vocês devem morar na mesma casa por um ano para então receber a herança.

–--

Conto para Enzo. O considerava confiável o suficiente para compartilhar isso. Além do mais, ele sabia que eu e minha mãe não nos dávamos bem.

– Dá para acreditar nisso? Eu e ela sob o mesmo teto por um ano.

– Eu só não entendo porque vocês não se dão bem.

Não havia contado ainda. Para falar a verdade, nem eu sabia.

– Ela não gosta de mim. Então como ela não tem qualquer tipo de sentimento por mim, não me sinto na responsabilidade de dar algo que eu não recebo em troca.

– Foi sempre assim?

– Sim.

– Sinto muito.

– Não tem problema. Eu tinha o meu pai e minha irmã - conto -, mas então eles morreram.

– Courtney, eu s...

– Por favor, não precisa - falo. Havia ouvido muitos sinto muito já.

– Então... você veio para Alastair depois de tudo?

– Não. Eu ainda fiquei um ano em New Orleans, então minha avó morreu. Aí eu vim para cá, para a leitura do testamento dela.

Não consigo deixar de rir pela minha história, do meu fracasso. Eu havia perdido tanto. Perdi tudo, para ser mais exata. E ainda estava ali. Me pergunto em quantos pedaços uma pessoa pode ser partida e ainda continuar de pé.

– Trágico, não? A morte realmente me persegue - digo, virando um gole de coca. - Você deveria ter cuidado.

– Não tenho medo da morte.

– Todos temem a morte.

– Não eu - Enzo fala. - Temo morrer sem ter vivido.

– Todos vivem.

– Viver é diferente de estar vivo - ele me diz. - Você vive ou está viva, Courtney?

Antes que eu possa responder, a porta da cozinha é aberta. Um homem alto, com cabelos negros e incríveis olhos verdes entra na casa. Ele está apenas com uma regata branca, todo suado, com fones de ouvido, cabelo bagunçado e uma sacola de supermercado na mão.

– Will?

Ele tira os fones e me encara surpresa.

– Não-Court! - exclama, surpreso. - O que você faz aqui?

– Vocês se conhecem? - Enzo pergunta. - De onde?

Penso em algo rápido. Minhas mãos estão suadas de nervoso. Se Enzo não estivesse ali, Deus. Will estava lindo demais, apesar de estar totalmente desajeitado. Se a sensação que eu sentia ao vê-lo significava que eu estava viva, então eu me sentia mais viva do que nunca.

– Will - falo - é namorado de Aisha, não é? Então... - percebo a situação em que nos encontramos - e vocês? - olho para Will. - O que você faz aqui?

– Eu moro aqui - ele fala como se fosse óbvio.

Olho para Enzo.

– Mas...

Ele sorri desajeitado.

– Will é meu irmão.


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Notas finais do capítulo

E então?



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