Inside escrita por maradyer


Capítulo 2
Até que a morte bata em sua porta


Notas iniciais do capítulo

hi!! estou muito feliz, espero que estejam também. um ótimo dia para todos. espero que gostem.



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Dias atuais

Me olho no pequeno espelho e suspiro. Minha aparência está horrível. Os cabelos castanhos mal penteados, os olhos verdes que costumavam ser tão vivos agora estavam mais do que mortos, cobertos por uma grossa camada de terra. Por ter tomado pouco sol esse ano, estou mais branca do que costumava ser.

Minha mãe vem me ajudar com as malas. Ela pega-as sem dizer uma palavra sequer e coloca-as no porta-mala do táxi. Vamos para o aeroporto sem trocar nem um olhar e o caminho seria silencioso se não fosse pela música de mau gosto do taxista.

Despachamos as malas, fazemos check-in e esperamos. Decido então olhar para a mulher que me gerou.

Seu cabelo liso e loiro está mais claro do que eu costumava lembrar e mais curto, logo abaixo dos ombros; seus olhos tem o mesmo tom verde forte e entediado; o nariz minusculo, o corpo tão magro que os ossos da escápula saltam um pouco com a blusa que deixa seu colo à mostra.

Nunca fomos parecidas. Só tínhamos três coisas em comum: o pequeno nariz, os olhos verdes e o sangue que corria pelas nossas veias. Tirando isso, éramos estranhas.

Mesmo quando eu era pequena, nunca fui apegada à ela. Para mim ela não era minha mãe e sim Greer, a psicóloga da cidade. Meu pai me salvou da sua penosa companhia e me arrancou daquele inferno como um anjo. E então, como toda pessoa na minha vida, ele partiu. O perdoo, porque não foi por escolha, mas ele foi recolhido. Um terrível acontecimento arrancou ele e minha irmã de mim e desde então tudo tem ido de mau à pior.

Vejo minha mãe me encarando no caminho para "casa".

– Quando chegarmos em Alastair, quero que você se comporte. As pessoas podem ter esquecido seu comportamento rebelde, mas eu não esqueci. Se fizer qualquer coisa que manche a minha imagem novamente...

– Não se preocupe, Dr. Greer Donaghue ex-Westerforth, sua filha desobediente ficará o tempo todo trancada no quarto fingindo que não existe.

Ela respira fundo e balança a cabeça, mexendo na bolsa.

– Já a matriculei no colégio. Espero que faça formatura, já que perdeu o último ano. Uma garota não é nada se não faz festa de formatura antes de entrar para a faculdade.

– Me poupe. Como se você se preocupasse se eu serei alguém ou não. Na verdade, você se preocupa com o que eu possa escolher, pois pode manchar a sua imagem - me irrito. - Grandes coisas essa sua maldita imagem. O que adianta ser rica e bonita por fora e podre por dentro?

Sinto meu rosto queimar no mesmo instante. Demoro um tempo para digerir que levei um tapa que estalou ardido na minha bochecha.

– Eu a gerei dentro de mim. Se eu sou podre por dentro, você é tão podre quanto eu, abusada. Eu deveria tê-la deixado naquele buraco sujo, mas estou te dando uma chance de voltar à sociedade.

– Minha avó morreu e eu sou beneficiária no testamento. Você não fez favor algum, apenas cumpriu as exigências dela para receber a sua parte.

Vejo seu olhar fulminante sobre mim.

– Vamos fazer o seguinte? Cada uma pega sua parte e some - digo. - Eu já tenho dezessete. Posso me cuidar sozinha.

– Estou de total acordo.

–--

Bato no volante e a buzina soa alto. Porra!, xingo mentalmente.

Saio do carro. Se minha mãe já não gostava de mim, agora vai me odiar. Deixei seu carro morrer no meio da estrada.

Suspiro. Me encosto no capô. Nessa cidade minúscula, é capaz de ninguém aparecer por horas e sinal aqui é algo milagroso. Tem mato para todo lado e já está escurecendo... então percebo que realmente se passou horas.

Quando já está escuro, alguém se aproxima. Faço sinal e o carro para no acostamento.

– Graças a Deus! - brado. - Ei, você pode me ajudar aqui?

– O que aconteceu?

– Não é óbvio? - sibilo. - O carro morreu.

– E você não ligou para o seguro?

Me irrito. Quem esse estranho pensa que é?

– Eu ligaria, se o sinal dessa maldita cidade prestasse.

Ele dá risada. É inacreditável. Ele ri da situação! O que só me deixa mais irrita. Ele se aproxima, ficando debaixo do poste de luz e eu finalmente vejo seu rosto.

Ele deve ser apenas alguns centímetros mais alto do que eu. Cabelos loiros, olhos azuis e sorriso divertido. Veste a típica jaqueta de couro dos cafajestes e tem os dentes irritante e perfeitamente alinhados.

– Não precisa se irritar - ele me diz, estendendo a mão. - Sou Lorenzo. Enzo, por favor.

Olho para sua mão grande e branca e depois olho para seu rosto. Não a pego, apenas digo:

– Courtney. Não Court, obrigada.

Ele sorri para mim.

– Então, Courtney, tem uma oficina aqui perto. Podemos ir no meu carro.

Enzo vê que não gosto da ideia, pois logo seu sorriso some.

– Ou podemos ir a pé, como você preferir.

Analiso minhas opções. Estou exausta demais para caminhar sequer alguns metros. Minha única escolha é confiar nele. Bom, não totalmente. Pego a arma no porta-luva do carro da minha mãe e enfio no cinto. Enzo recua dois passos.

– Por que você anda com uma arma?

Hello, estamos nos Estados Unidos. Quase qualquer um tem permissão para ter uma - sorrio diante do medo dele. - Então, Enzo, sobre aquela carona... eu aceito.

–--

Minha mãe fica furiosa, como esperado.

– O meu carro, Courtney. O meu carro!

– O motor falhou, calma. Eu por acaso bati o seu carro? Não. Então fica calma.

– Calma - ela pressiona os dedos contra as têmporas e ri ironicamente. - Calma... eu não vou ficar calma, Courtney. Você prometeu se comportar e até agora tudo o que fez foi incomodar.

– O carro poderia ter falhado na sua mão, cacete! Eu não tenho culpa.

– Sinceramente, eu não sei porque a sua avó insistiu tanto para que você fosse beneficiada. Está claro que você continua a mesma desequilibrada de sempre.

Me aproximo, irada, o dedo apontado para seu rosto.

– Se você ousar tocar um dedo sequer em uma moeda do que minha avó me deixou, eu acabo com você.

Ela se afasta e ri.

– Você acha que eu estou brincando, né?

– O pior, Courtney, é que eu acho que você realmente o faria. Por que foi exatamente o que você fez com o seu pai e sua irmã, não é mesmo?

– Do que você está falando? - rosno.

– É o que todos falam: a louca assassina.

Balanço a cabeça repetidas vezes, indignada. Eu nunca jamais em toda a minha vida faria algo como isso. Nunca, nunca, nunca! Jamais seria capaz de matar alguém, quem dirá o sangue do meu sangue. Eu os amava, eles eram tudo para mim... eu nunca...

– Você os matou, Courtney. Todos sabem disso. Eu sei disso - ela se aproxima. - Você sabe.

– Eu já disse que não lembro de nada daquela noite.

– É o seu cérebro a protegendo, a condicionando ao esquecimento para você não lembrar do sofrimento que causou. Mas você os matou - ela aponta para mim - e jamais será perdoada por isso.

– Eu não preciso do seu perdão - digo com lágrimas nos olhos.

– Quem disse alguma coisa sobre o meu perdão? Estou falando do seu. Você irá se culpar a vida toda por isso até que a morte bata na sua porta e ela entrará mesmo sem a sua permissão, porque uma vez que você a convidou para a sua vida quando matou seu pai e sua irmã, ela será para sempre bem-vinda.


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Notas finais do capítulo

muitos conflitos, hum? o que acharam?



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