The Big Four - A Nova Geração escrita por Excalibur


Capítulo 21
Respostas Entre Dentes




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Assim que passamos pelo portal eu tive que reprimir um grito de desespero. O portal frio nos engoliu e em menos de dois segundos as fortes correntes nos arrastaram para a esquerda. Se eu achava que o castelo da Fada estava no meio de uma tempestade, isso aqui era o fim do mundo.

As montanhas estavam mais cobertas de neve que o normal, e o flocos que voavam pelo ar caiam com tanta força que parecia que elas estavam se mexendo. No meio disso tudo, era possível ver o castelo de pedra do Norte lutar para permanecer visível na frente dos meus olhos.

— Hic! — Exclamei, o apertando mais ainda e tendo que esconder a cabeça no seu ombro para não engasgar com a quantidade de ar que tentava entrar pela minha boca. As palavras seguintes nem eu mesma consegui entender, pois estavam tão abafadas no casaco dele que deve ter saído um "HUNFGH  HJUH  HUASHKO".

Logo Banguela começou a perder a estabilidade do voo, e o único jeito de não cairmos era pousar. Jack e Merida não apareciam no nosso campo visual, mas com certeza estavam melhor que nós, já que não estavam em cima de um dragão que não sabia voar e um era o guardião do inverno. Pelo menos tinha um lado bom nisso tudo, conseguimos o cilindro com o dente.

Senti Soluço contraindo um pouco os músculos por causa do frio, mas logo Banguela entendeu o recado e foi baixando a altitude aos poucos. Assim que pousamos sobre a neve fofa, o vento pareceu dar uma trégua, como se nem estivéssemos no mesmo lugar de uns segundos atrás. Tanto eu quanto Hic soltamos um suspiro alto e nos entreolhamos, dando risada em seguida. A situação tinha sido tão tensa, que até agora meus ombros estavam grudados no meu pescoço e todos os dedinhos do meu pé encolhidos.

— Tá tudo bem, garotão. — O garoto disse, acariciando o dragão nervoso. — Vamos para o castelo nos aquecer e ter uma boa noite de sono.

De alguma forma, mesmo não sendo para mim, a afirmação dele me acalmou. Desci de cima de Banguela e experimentei a neve fria sobre meus pés. Os pinheiros altos quase se fechavam acima de nós, escurecendo a floresta e nos protegendo da nevasca. Realmente, nem parecia o lugar de uns minutos atrás.

Puxei meus cabelos para o lado e franzi de leve as sobrancelhas, levantando uma delas calmamente, sem perceber. Dei uns passos para frente, como se algo me chamasse.

— Hic, vou andar um pouco para aquecer as pernas. Não vou longe. — Disse com um aceno de cabeça. Quando ele correspondeu, só dei um pequeno sorriso e voltei ao meu estranho chamado.

Não havia nenhuma pegada na superfície branca da floresta, nem mesmo folhas secas. Quando dei outro passo, o ar subitamente se transformou, aquecendo e estagnando. Tive que proteger meu rosto com as mãos para que meu olhos não doessem com a claridade. Os fechei por impulso, e quando abri, percebi que o lugar estava mesmo diferente.

Olhei para trás e não vi mais Soluço e Banguela, tão pouco havia neve no chão. Abracei meu próprio corpo e permaneci parada. Congelei com medo de descobrir o que estava acontecendo. Quando ia dar uns passos para trás, acabei me detendo ao ouvir uma voz de criança, ao longe.

— ... certeza, Alteza? — Uma voz feminina e infantil perguntou, com um tom alegre, mas atento. — Sabe que estamos todos preocupados.

Logo duas figuras entraram na minha visão, ambas crianças e loiras. A que estava falando devia ter por volta dos seis anos, possuía cabelos dourados e curtos, presos em marias-chiquinhas. Seu vestido branco parecia com o que uma daminha de casamento usaria, bufante e cheio de babados.

— Sim, tenho certeza, Andrômeda. — A segunda respondeu. Sua aparência era bem mais velha, com uns doze anos. Seus cabelos igualmente loiros estavam presos em uma trança, e seus olhos eram âmbar, quase amarelos. — Vou levá-lo comigo, por favor espere aqui por ela e me encontre assim que puder.

Acompanhei elas com o olhar, e quando fui vencida pela curiosidade, acabei indo atrás delas. Assim que parei no lugar onde as vi, as duas estavam uns metros mais pra frente, olhando para duas pessoas deitadas no chão. Passei a mão no rosto e logo parei atrás delas. Com certeza não podiam me ver, mas fiquei confusa se aquilo se tratava do passado ou futuro.

As duas pessoas deitadas no chão estavam dormin......mortas. Os dois garotos eram bem parecidos, provavelmente irmãos. Andrômeda se abaixou no chão, colocando a mão na testa de um, e em seguida em outro, fazendo um não com a cabeça do que era claramente mais velho e tinha cabelos escuros.

— Esse morreu com ódio no coração, é muito arriscado, Solium. — Ela disse com uma expressão triste e a cabeça baixa.

Por sua vez, a garota chamada Solium, se abaixou também, fechando os olhos e segurando a mão do que Andrômeda estava com a mão na testa. Suas sobrancelhas franzidas mostravam que ela estava concentrada, talvez falando consigo mesma. Provocando um susto em mim e na outra garota, ela abriu os olhos e puxou o ar forte, caindo sentada no chão.

— Alteza! — A mais nova exclamou, amparando-a rapidamente. — Eu disse que era arriscado, sua teimosa!

Me aproximei mais ainda e observei os dois meninos mais de perto. Eles pareciam muito com o Jack, principalmente o mais novo, que era loiro e mesmo sem vida, tinha uma expressão calma e até mesmo sorridente. Eu não precisava ser especialista em morte para saber que ele estava em paz.

— Eu estou bem. — Ela disse levantando a mão e se recompondo. — É uma pena, mas você está certa. Não vou poder mesmo levar esse comigo. — Solium lamentou, enxugando o suor inexistente da testa. — A luz vai abrir caminho por entre essas trevas, eu sei. Mas, até lá, Morte vai tomar conta dele para mim. Dê lembranças à ela.

— Sim senhora. — E como se fosse mágica, Solium segurou a mão do que mais se parecia com Jack Frost e desapareceu em um raio de sol, como se nunca tivesse pisado nessa floresta.

Uma vez sozinha, Andrômeda abriu seus pequenos bracinhos e deixou o corpo cair para trás, como se fosse fazer um anjo de neve. Seus olhinhos azuis logo se esconderam quando ela fechou os olhos, emitindo um suspiro alto.

— Sabe, Jackson, não é tão ruim estar morto. — Ela disse com um tom sério demais para sua idade, tomando toda a minha atenção. Talvez fosse só coincidência, mas ele ter o mesmo nome que o Jack que eu conhecia me deixou com a pulga atrás da orelha. — No início vai ser difícil, vai ser como uma fase de negação, sabe?

Como o esperado, o tal outro Jackson, não deu resposta, por motivos óbvios. Fiquei mexida com a cena e a enorme serenidade da menina, me perguntando se um dia a encontraria. A pequena abriu os olhinhos e olhou diretamente para mim. Abri a boca num arquejo e acabei sorrindo, mas logo vi que na verdade, ela olhava através de mim.

— Ela está chegando. — Sussurrou, se sentando num pulo e batendo a terra do vestido. — Ela é um pouco séria, mas vocês vão se dar bem, você vai ver.

Assim que ela disse isso, senti um arrepio subir pelo meu corpo, e virei lentamente para trás. Uma mulher abria caminho pelo meio das árvores, de um jeito imponente e sombrio. Ela era alta, na faixa dos 1,80m, talvez com seus 30 anos, pelo menos na aparência. Seus cabelos negros com várias mechas brancas caiam pelos ombros, e seus olhos cinzentos cintilavam, criando um contraste com a roupa completamente negra que usava.

— Senhora Morte, Comandante Solium manda seus cumprimentos. — Andrômeda disse com um aceno de cabeça e um pequeno sorriso.

— Igualmente, Pequena. — Morte respondeu, franzindo a sobrancelha e olhando para o garoto morto. — Eu não posso levar ele, não está vendo toda essa luz? — Ela perguntou sem paciência, gesticulando com a mão. — É quase cegante.

— Solium sabe o que faz. Ele morreu com ódio, pode acabar contaminando a luz. — A garotinha comentou, parecendo envergonhada.

— E desde quando as trevas estão sobre o meu comando? — Ela perguntou aumentando um pouco o tom da voz, como um rosnado. A pequena se encolheu um pouco, tão intimidada quanto eu. Com um suspiro exagerando, a mulher de preto passou a mão pelos cabelos. — Não posso correr esse risco também, nunca vi ninguém como ele.

— Mas, se entrega-lo às trevas, a luz vai se perder. — Andrômeda contra argumentou, de maneira corajosa.

— Certo. — Morte respondeu ríspida, cuspindo as palavras. — Mas tenho minhas exigências. Quero os dentes, todos os dentes do garoto.

Eu me senti orgulhosa de ter entendido pelo menos essa parte da conversa. Os dentes protegias nossas memórias caso algo acontecesse, e pelo que me lembro, o normal era todos os guardiões acordarem sem lembranças.

— Você sabe que não pode exigir isso. — A garota disse colocando os bracinhos na cintura e levantando a cabeça.

— Eu sei, e você sabe que não pode me negar nada. É isso ou entrego ele para Trevas imediatamente. — Morte disse, fazendo Andrômeda franzir as sobrancelhas brava.

— Tudo bem, eu mesma levo os dentes de Jackson. — A garotinha admitiu, vencida.

— Perfeito, mas não o chame assim. Jackson não existe mais, isso só deixaria o irmão complicado mais complicado ainda. A partir de hoje, ele é minha primeira Serventia, e será conhecido como Carcereiro.

Pisquei os olhos rápido e levei a mão até a cabeça, me sentindo tonta. Os olhos cinzentos da mulher cravaram em mim, gélidos como a tempestade que enfrentei pouco tempo atrás, ou seria a que ainda ia acontecer?

Dei uma olhada para trás, mas só havia árvores, então ela realmente sabia que eu estava ali.

— Como quiser Morte, sua decisão será comunicada à Comandante Solium. — Ao perceber que ela não lhe dava atenção, a menina cutucou o braço da mulher. — Ei, o que está olhando?

— O futuro, pequena. — Ela respondeu com um sorriso, piscando para mim em seguida. — O futuro.

Uma rajada de ar frio me empurrou para trás, me fazendo cair sentada no chão repleto de neve. Não mais de brisa quente e sol aconchegante. A floresta tinha voltado a ser o que era, fria e sombria.

— Punzie? — Soluço perguntou, já indo até mim e me levantando. — Tudo bem aí?

Eu me permiti ficar de pé e segurei os ombros dele, sacudindo de leve.

— Temos que achar Merida e Jack agora! — Exclamei, olhando em volta. — O cilindro com as memórias tem que ser devolvido.

— Ei, calma aí. Logo vamos estar todos juntos. — Ele disse com uma risada, mas dessa vez sem conseguir me tranquilizar.

— Não, não, não. Não temos tempo. Precisamos esclarecer umas coisinhas com os Guardiões.


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