Pov Katniss


É revigorante sentir os braços da minha irmã em volta do meu corpo. Ficamos abraçadas sem dizer nada, apenas aproveitando.beijo sua cabeça e logo a frente está a minha mãe chorando. Ela toca meu rosto com carinho e me abraça. Um pouco distante está ele, gale. Ele acena e vai embora.


Perto de onde Gale estava está Madge, minha amiga. Ela move seus lábios e formo a frase “Estarei na sua casa”. Prim pega minha mão e andamos  entre as pessoas. Bem a frente está o padeiro e dois garotos. O pai do Peeta e seus irmãos, Fox, o mais velho, e Alec, o mais novo. Ambos fortes e loiros. Os três abaixam suas cabeças, não consigo falar nada e continuo andando.


Minha casa não mudou, estou longe a poucas semanas, o que poderia mudar? Talvez um detalhe em cima da mesa de centro, um vaso com flores brancas enviadas pelo  presidente Snow com o cheiro que deixa enjoada. Quero contar para minha mãe o que está acontecendo, uma hora vou ter que contar ou inventar uma mentira, quando descobrimos a gravidez ela ficou muito animada, já que a tendência era que eu nunca tivesse filhos e ela netos.

Quero meu pai aqui, ele tinha a habilidade de transformar meus problemas em nada. Quero sentar no seu colo e contar o que está acontecendo, ouvir que vai ficar tudo bem e que não é preciso me preocupar pois ele dará um jeito de resolver as coisas. Quero que um dia minha filha sinta essa segurança, mas seu pai está morto.


Madge e Prim ficam comigo enquanto devoro um pacote gigante de biscoitos. Não conversamos muito mas quero que Madge fique. Quero perguntar onde Peeta foi enterrado, mas não sei como falar. Madge sabe o que fazer, sabe que não quero falar sobre os Jogos ou sobre bebês. Aproveitamos a companhia uma da outra apenas. Ela vai embora um pouco antes de escurecer e fico a sós com a minha família. Na hora do jantar prim faz várias perguntas e tento responder todas (inclusive as que não quero responder), é quase uma entrevista com Caesar.

Prim pega no sono na minha cama, não quero acordá-la mas não quero dormir. Preciso pensar em tudo que está errado na minha vida, todos os meus problemas sem solução e os traumas. Preciso de um plano mas não consigo pensar em nada. Levanto da cama devagar, pega meu casaco e tento sair sem fazer barulho. Descer as escadas sem fazer barulho não é fácil. Preciso pensar, sair dessa casa. Não posso ir na floresta por um motivo bem óbvio.

Ao abrir a porta da frente encontro Gale. Ele se assusta e fica me observando por alguns segundos.

— O que você está fazendo aqui? Essa hora? - pergunto

Ele abaixa a cabeça e me olha com aquela expressão que faz com que eu sinta vontade de matá-lo algumas vezes.

— Precisava ver você.

— Jura? Você não apareceu o dia inteiro!

— Tinha muitas pessoas na estação e a Madge estava com você. E para ser sincero, não sei o que falar.

As pessoas estão assim comigo, talvez porque assisti várias pessoas morrendo novamente, ou porque perdi uma pessoa especial. É sempre assim quando perdemos alguém especial, as pessoas ao nosso redor não sabem como agir ou o que dizer. Minha raiva passa subitamente e sento em frente a casa. Gale faz o mesmo. descanso minha cabeça em seu ombro.

— Sei que está tudo uma grande merda,mas…

— Não diga que vai ficar tudo bem - interrompo - Nós sabemos que não vai, as coisas só vão piorar, então não adianta fantasiar que vai da tudo certo.

— Espero que saiba que pode contar comigo, o Peeta não está aqui, mas eu estou, posso ser bom para eles, as crianças. Você não está sozinha.

Sim ele pode. Posso contar com ele. Talvez eu aceite essa ajuda, ele pode ajudar a proteger meu filho. É claro que ele nunca vai substituir Peeta, Peeta é o pai deles. Talvez contar a situação com o presidente snow seja uma boa idéia, mas não agora. Preciso do meu amigo, meu companheiro de caça, aquele que me ajuda a enfrentar os problemas.

— Obrigada - é tudo que respondo.Gale pega minha mão e nossos dedos se entrelaçam.


— Não precisamos ficar aqui. Podemos ir na floresta, os pacificadores não estão nem aí agora.


— Acho que não é uma boa idéia, descolamento de placenta… e acho que não vou conseguir passar pela cerca.


— Ah fala sério! Nem dá para perceber - ele para e observa o meu corpo - okay, dá sim. Eles estão crescendo.


Ele começa a rir.


— O que é tão engraçado?


— Quem é que nunca teria filhos mesmo? - Ele ri e debocha.


— Cala a boca Gale.


Começamos a rir e aproveitamos a noite em silêncio sentados em frente a minha casa. O silêncio não é constrangedor e sim agradável. Ficamos até 2 ou 3 horas da manhã talvez, ele vai para casa já que amanhã precisa trabalhar nas minas. Tenho um novo problema para a minha lista e posso por ele no topo: Gale nas minas. Elas podem explodir a qualquer momento e não posso perder o Gale, não suporto perder mais ninguém que amo. Ele não vai aceitar meu dinheiro. Preciso achar uma forma de ajudá-lo financeiramente sem que ele perceba.


Tento dormir um pouco e consigo. Sou acordada às 9 da manhã por fortes batidas na morta. Levanto mas deixo prim na cama. Quando chego perto da porta minha mãe já está lá e ela está chorando. Passo na frente e vejo Gale desesperado, ele está meio bravo e apavorado ao mesmo tempo. Minha mãe entra e fico a sós com ele.


— O que aconteceu? - Sei que aconteceu alguma coisa, algo bem ruim. Antes de responder gale começa a andar de um a lado para o outro com as mãos na cabeça.


— As pessoas da costura. As pessoas da costura. Elas perderam tudo! E eu também… perdi tudo. Meu irmão está machucado - ele quer chorar mas tenta evitar, sua voz está tremendo e alterada.


— O que aconteceu - repito a pergunta.


— Os malditos pacificadores colocaram fogo nas casas. Em todas elas Katniss - seus olhos estão tristes e tenho certeza que sua vontade é de chorar - eles colocaram fogo em todas as casa da costura e no prego, feriram pessoas e deixaram mortos. Todos na costura estão sem moradias inclusive eu. Meu irmão está com queimaduras, consegui chegar a tempo de tirar todos. Mortos, pelo menos 13 mortos queimados e dezenas de feridos pelo fogo. Covardia. Sabe o que os pacificadores falaram Katniss? “Ordens do presidente Snow, ele a acha que essa gente e principalmente uma pessoa em especial precisa aprender o seu lugar”


A culpa é minha. Eu sou a pessoa em especial. O Snow está colocando todos contra mim, inclusive meu próprio povo que agora está desabrigado.


— A culpa é minha - lágrimas brotam em meus olhos, não aguento mais isso. Eu tenho duas pessoas bem pequenas dentro de mim e é por elas e pela minha irmã que vou tentar ficar contratada.


— A culpa não é sua Katniss.


— Não é isso que as suas expressões estão dizendo, a culpa é minha - tentei não chorar e falhei. Minha mãe é Prim aparecem na porta prontas para ajudar os feridos, gale olha nos meus olhos e percebo que elas também concorda que a culpa é minha, seus olhos estão decepcionados e tristes. Eles vão embora e fico sozinha.


Escolho um lugar seguro e escuro na casa para chorar. Um lugar no escritório. Fico o dia inteiro nesse lugar chorando, não faço nada, nem tomar banho ou comer, apenas choro. Não sei que horas elas voltaram mas minha mãe praticamente me deu banho, vestiu uma roupa linda e me colocou na cama. Durante 3 dias ela e Prim ficaram na costura, durante esses 3 dias não sai da cama e não comi nada. Gale não veio me vê, ele deve ter percebido que para manter sua família segura precisa se afastar de Katniss Everdeen.