Eles ficaram um longo tempo em silêncio, Marko levara um copo de água com açúcar para Tony tomar, demorou para que ela se sentisse mais calma, ficaram sentados em frente a lareira, apenas pensando no que poderia ter acontecido.

– Pode ter sido alguma ideia maluca do Howl – Disse Calcifer.

– Não acho que Howl faria uma brincadeira dessas com a filha sozinha em casa.

– Mas e se ele quisesse – Calcifer começou mas foi perdendo o argumento com o tempo.

– Eu não sei se a intenção de vocês é me dar esperança ou tê-las para vocês – Disse Tony finalmente se manifestando – Mas eu sei que algo pegou os meus pais.

Calcifer e Marko olharam para ela atentamente, pareciam meio nervosos com a situação. Tony se levantou lentamente e levou o copo de volta para a cozinha, no mesmo ritmo começou a subir as escadas da casa, em direção ao quarto de poções do Howl. Marko a seguiu com curiosidade, ela andava de um lado para o outro e pegou alguns frascos, saiu dali e foi para o próprio quarto. Antes que Marko pudesse entrar a porta se fechou e ela ficou ali por um tempo. Quando saiu, estava com uma bolsa.

– Onde vai? – Marko perguntou.

– Procurar meus pais – Ela respondeu sem olhar para ele, passando direto em direção a cozinha.

– Enlouqueceu? – Ele falou, se jogando na frente dela e a fazendo parar – Você não tem ideia de onde eles estão!

– E não é ficando aqui que eu vou descobrir – Ela falou deixando Marko um pouco intimidado – Agora saia da minha frente!

Tony era uma pessoa baixinha, chegava no máximo a altura do peito de Marko, sendo que ele tinha exatamente a altura de Howl. Mas ela tinha um tom forte e autoritário na voz, muito semelhante ao de Sophie, isso trazia as pessoas uma reação comum de obedecer seus comandos, e conhecendo Sophie do jeito que Marko conhecia, ele obedeceu.

– E você acha que os encontrara do nada? – ele exclamou jogando as mãos para o alto, ela sequer pareceu ouvir, procurava mantimentos na cozinha e os jogava na mala – Me responda!

– NÃO! – Ela gritou fazendo com que o garoto se sobressaltasse – NÃO ACHO, MAS ACHO QUE O QUE ESTÁ ATRÁS DELES PODE ESTAR ATRÁS DE OUTROS MAGOS, OU PODE ESTAR ATRÁS DE NÓS E SE NÃO ESTIVER TEM QUE ESTAR EM ALGUM LUGAR E NEM QUE EU TENHA QUE VIRAR O MUNDO DE CABEÇA PRA BAIXO, EU VOU ACHAR MINHA FAMÍLIA!

Marko e ela ficaram se encarando por um longo tempo, olhavam fixamente para os olhos um do outro e quando percebeu que o tempo estava passando Marko se virou e pegou o casaco de Tony e o dele.

– Vamos então – Ele falou vestindo o casaco.

A garota o observava com os lábios entreabertos.

– O que? – Ela perguntou em um tipo de sussurro.

Ele arqueou as sobrancelhas e elevou os ombros.

– Não quer achá-los? – Ele perguntou inocentemente – Então vou te ajudar, porque sozinha não é uma opção...

Ela lhe mandou um sorriso quebrado e colocou o casaco, pegou a mochila e andou em sua direção, prestes a sair, uma voz surgiu da lareira.

– Ei! E eu? – Calcifer falou magoado.

– Você tem que ficar aqui para o caso de eles voltarem Calcifer – Tony falou para o demônio do fogo – Tem essa possibilidade e se isso acontecer você é o único que vai conseguir nos encontrar onde quer que estivermos.

Calcifer pareceu um pouco magoado, mas Tony sorriu para ele e se aproximou um pouco das chamas, colocou bastante lenha perto dele e continuou.

– Preciso encontrá-los e você pode encontrar conosco quando quiser, mas alguém tem que cuidar do castelo, além disso, Ren vai ficar com você – Ela falou e olhou para o cachorro que parecia querer chorar – Não é Ren?

Um forte latido pode ser ouvido.

– Ok! – Disse Calcifer – Vou provar que sou bem mais do que pensam.

Ele sorriu e Tony lhe mandou uma piscadinha.

– Vamos? – Disse Marko.

– Vamos...

Viraram juntos a maçaneta para a direção das terras abandonadas. Foram andando para a direção das neblinas daquele lugar, era noite, uma magia de fogo resolveu o problema, mesmo assim, era um pouco tenebroso.

– Como sabia que eu viraria para esse lado? – Tony perguntou.

– Eu não sabia – Ele respondeu – Mas era o mais óbvio para começar a procurar.

– O que tem ai?

– Tem um mago que pode nos ajudar e um que pode estar com eles, mas com esse não vamos nos meter, até termos poder o suficiente para isso.

– Este que pode nos ajudar?

– Vai gostar dele – Marko disse sorrindo – Ele foi aprendiz ao lado de seu pai.

Continuaram andando, seguindo uma estrada de terra que parecia não ser percorrida há séculos, paravam de vez em quando, com algum baralho, as vezes parecia ser algum animal, mas nada aparecia. Ficaram caminhando por horas e horas, até surgir o primeiro raio de sol.

Marko olhou para Tony, não piscava longamente ou tinha olhos cansados, não parecia cansada e sim magoada, completamente diferente da menina que conhecera há alguns dias.

– Quer parar um pouco? – Ele perguntou – Já andamos bastante.

– Meu pai esteve aqui – Ela falou de repente e apontou.

O casaco quadriculado de Howl estava bem a frente deles, se apressaram para chegar a peça de roupa, parecia um pouco queimada, mas era dele, definitivamente.

– Marko – Tony falou – Onde meu pai está.

– Ele está com Perilum...um mago...

– Isso é bom?

– Não...Nem um pouco...