Segredos de Clarisse escrita por Jéssica Belantoni


Capítulo 3
Capítulo3




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Meus dias passaram a ser tortuosos, Constance não me perdoava o que eu não fazia questão que acontecesse, mas ela não me deu descanso, em dias tão gelados meu trabalho ordenado por ela foi, lavar todos os carpetes, lavar as loucas, esfregar as escadas externas, ordenhar todos os dias, meu corpo já estava refletindo os serviços tortuosos quando Rogers me liberou de meus serviços.

—Pode descansar por hoje. —Disse ele percebendo meu cansaço.

—Eu estou bem, posso ajudar Helena na cozinha.

—Helena não precisa da sua ajuda Clarisse. —Disse Miguel entrando na sala.

—Você tem que deixar ela aprender a fazer as coisas Clarisse. —Aconselhou me Rogers.

Rogers se aproximou um pouco de mim quando tentei protestar, engoli cada palavra que já estava na ponta de minha língua quando a luz que entrava pela janela iluminou os olhos de tom vermelho que o homem trazia em seu rosto.

—Ela está bem, já percebemos que além dos seus serviços você faz os dela, o fato é que duas meninas voltaram para casa e não mandaremos ninguém embora então pode deixar Helena aprender as coisas sozinha no seu próprio ritmo.

—Ela é meio lenta. —Resmunguei.

—Sua ordem já foi dada Clarisse não teime com a nossa ordem. —Pediu Miguel sorrindo carinhosamente.

—Me perdoe Senhor. —Pedi notando um sorriso estranho surgir aos lábios de Rogers.

—Pode se retirar querida. —Disse Rogers.

Caminhei com dificuldade até meu quarto onde tomei um delicioso banho quente, agora meu joelho latejava muito, nem percebi o momento em que ele havia se tornado roxo, até mesmo o meu toque provocava muita dor.

—Trouxe uma sopa pra você. —Iluminou Helena assim que entrou em meu quarto.

Eu estava escrevendo a minha família quando a loira entrou com uma bandeja em mãos.

—Obrigada. —Respondi me levantando e pegando a bandeja.

—Não me agradeça afinal você passou por tudo isso por minha causa.

—Eu que derrubei o leite Helena, não tinha nada à ver com você.

—Era o meu trabalho, eu não pude fazer tudo sozinha.

—Eu não quero falar sobre isso Helena, mas se quer se redimir poderia postar minha carta?

—Claro! —Sorriu Helena fechando o papel dentro do envelope.

—Faz dois dias que não escrevo, minha madrinha vai ficar nervosa.

—Você contou pra ela como está sendo difícil? —Perguntou Helena corando.

—Eu só disse como eu estou gostando de tudo e como nossos patrões são bondosos.

—Você não devia mentir a ela.

—Eu não menti, Constance não é nossa Patroa, confesso que não me dou muito bem com o Victor, mas Rogers e Miguel me tratam bem, especialmente Miguel.

—Como assim especialmente Miguel? —Perguntou Helena sentando em minha cama.

—Eu não sei explicar, ele me envolve, no dia que chegamos eu estava exausta e acabei adormecendo na biblioteca, ele esteve lá o tempo e nem me deu um sermão.

—Será que pela primeira vez eu vejo esses olhos brilharem por um homem?

—Não se anime, afinal quem não se sentiria atraída por ele?

—Eu não me sinto atraída por ele! —Respondeu Helena sorrindo.

—Você não tem concerto mesmo Helena, só sabe seduzir e não se deixa ser seduzida.

—Você não é diferente de mim Clarisse. —Respondeu Helena ofendida— Tenho que ir qualquer coisa me chama.

—Desculpe, não foi exatamente isso que eu quis dizer.

—Eu sei. Nos vemos amanhã!

Sempre que minhas palavras pulam de minha boca eu acabo magoando as pessoas, isso é fato, Helena era a última pessoa no mundo que eu gostaria de magoar, desde muito pequenas éramos amigas, nossos mundos eram diferentes galáxias distantes e mesmo assim o universo conspirava a nosso favor, apenas o fato de poder olhar nos olhos azuis de Helena já me acalmavam, minha melhor amiga seriamos eternamente assim, seriamos.

A noite caiu com a companhia de uma forte tempestade me despertando rapidamente ao lembrar dos tapetes no varal. Nem me importei com a forte dor em meu joelho enquanto corria escadas abaixo, a grande porta se forçava a não abrir, usei toda força presente em meu corpo até passar pela pequena fresta, corri pegar os três tapetes ainda úmidos, estendi separadamente na ala do estabulo que estava mais perto, tentei correr o mais rápido que pude de volta ao palácio, mas o vento era insistente jogando as gotas geladas sobre meu corpo, assim que consegui entrar novamente a cozinha eu já estava ofegante, tirei o casaco ensopado e coloquei ao lado do grande fogão a lenha, tentei aquecer minhas mãos mas meu cansaço implorava pela minha cama, subi as escadas até chegar no longo corredor para minha surpresa encontrei Victor que assim que notou minha presença deu meia volta.

—Senhor. —Chamei, por um instante pensei que seria ignorada, me surpreendi o momento em que o mesmo parou ao meio do corredor—Me desculpe pelo acidente aquele dia.

Victor apenas me olhou por cima do próprio ombro e voltou a andar.

—Espere! —Clamei.

—O que mais você quer? —Perguntou ele virando em minha direção.

O corredor estava muito escuro, quase não podia ver o rosto que carregava duas esmeraldas, me aproximei, minhas pernas pareciam pesar toneladas e o frio que percorria em meu corpo me deixava exausta.

—Obrigada. —Agradeci quando pude ver de perto seus olhos.

—Você está molhando o chão.

—Muito Obrigada, eu preferia morrer se você não estivesse lá, talvez eu tenha feito algo errado para que ele me trate daquela forma, pra mim somos irmãos, eu precisava sair de casa antes que o pior acontecesse —Comecei sentindo um nó se formar em minha garganta se desfazendo no momento em que as lagrimas começaram a rolar— Se eu nunca me relacionei com homem algum a culpa é dele, eu tenho medo que todos sejam iguais.

Eu continuaria a me lastimar, mas fui interrompida pelos dedos de Victor limpar minhas lagrimas, seus olhos brilhavam como estrelas fazendo meu coração bater destruindo a parede de gelo em meu interior, não me lembro de muita coisa apenas de minhas pernas amolecerem e tudo se apagar acordando com o amanhecer em uma cama desconhecida com roupas que não eram minhas.

—Fique quieta. —Ordenou Victor ao lado da cama torcendo um pano em uma pequena bacia com agua.

—O que eu estou fazendo aqui? —Perguntei sentindo minha cabeça girar.

—Você desmaiou eu te trouxe até aqui quando percebi que você estava queimando de febre. —Respondeu ele sentando-se ao meu lado de costas para mim.

Ergui meu corpo próximo de Victor que se encontrava atento a uma quantidade de chá que havia colocado em uma xicara.

—Tome isso vai... —Victor se surpreendeu ao se virar e encostar seu nariz ao meu.

Senti a mesma sensação de meu coração explodir, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa o mesmo se afastou entregando a pequena xícara sem dizer uma só palavra.

Assim que terminei de tomar o maravilhoso chá Victor olhou meu joelho e me passou alguns chás para que eu tomasse durante a noite.

—Lembre se Clarisse por hoje quero que descanse. —Ordenou Victor antes que eu saísse em direção ao meu quarto.

Permaneci em meu quarto o dia todo, Helena trazia minhas refeições ao decorrer das horas, eu estava me acostumando com suas batidas de leve na porta e sua expressão sorridente a me contagiar, pequenas batidas soaram na porta novamente me assustei ao ver que não se tratava de Helena e sim de Miguel, assim que Miguel entrou me levantei de minha cadeira tentando alcançar meu casaco ao pé da cama sentindo uma forte dor em meu joelho impedindo meus passos de continuar. Miguel assim que percebeu minha dor caminhou em minha direção me apoiando até a cama onde me sentei constrangida.

—Você está bem? —Perguntou Miguel com seus olhos azuis como céu.

—Sim. —Respondi sentindo meu rosto queimar.

—Victor me contou que você passou muito mal essa noite, eu nem imaginava que Constance te tratou tão mal, nem sei como me desculpar.

—Está tudo bem. —Tornei a responder apertando os dedos.

Miguel tomou uma de minhas mãos entre as suas me causando um grande desconforto, eu estava envergonhada demais para questionar tal ato, o pior só aconteceu quando Victor entrou pela porta sem bater encontrando me em uma situação tão intima, meu coração estremeceu quando vi seus olhos se apagarem.

—Victor. —Resmunguei.

—Só vim ver se estava bem, vejo que já melhorou. —Respondeu ele saindo imediatamente.

—Eu perdi alguma coisa? —Perguntou Miguel um pouco irritado.

—Eu não entendo o que quer dizer. —Respondi grosseiramente.

—Você e Victor?

—Ele é apenas meu patrão. —Respondi me levantando e caminhando até a janela— Assim como você.

—Eu não te vejo como minha empregada, pensei que tivesse percebido isso. —Respondeu ele se aproximando de mim.

Estremeci no momento em que Miguel se colocou frente a frente a mim, seus olhos azuis causavam um calafrio em minha espinha, eu não sabia bem qual era a sensação que percorria meu corpo.

Miguel não me deixou digerir o que ele próprio havia me dito, sua mão rapidamente laçou minha cintura puxando meu corpo para cima enquanto seus lábios comprimiam os meus com delicadeza, sua língua ensinou a minha como se dançava a música que ele regia, entrei em transe, aos dezenove anos esse havia sido meu primeiro beijo de forma informal e desrespeitosa como era taxado naquela época.


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