Canzone per te escrita por Gryphon


Capítulo 1
Canzone per te


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma fic que fiz com a intenção de ser o final alternativo (final infeliz por sinal) para a minha outra fic MidoTaka "So cold" (veja o link nas notas finais). Quem já leu outras fics minhas, pode até lembrar que amo começá-las com letras de canções de rock, mas Sergio Endrigo é divino, e mesmo não sendo rock, essa música foi a que melhor se encaixou com o enredo da fic. Espero que gostem e como já viram: drama, angst e tragédia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/602476/chapter/1

La festa appena cominciata è giá finita / A festa apenas começou e já acabou

IL cielo non è piu con noi / O céu já não está mais conosco

IL nostro amore era l'invida di chi è solo / O nosso amor era a inveja de quem esteve só

Era il mio orgoglio La tua allegria / O meu orgulho era a tua alegria

È stato tanto grande ormai... non sa morire / Foi tão grande que... não sei morrer

Per questo canto e canto te / Por isso canto, e canto ti

La solitudine che tu mi hai regalato / A solidão que tu me deixastes

Io la coltivo come un fiore / Eu a cultivo como uma flor

[Canzone per te - Sergio Endrigo]

"Eu ainda estou aqui, não vá..."

— Você... você tem certeza que é isso mesmo, Shin-chan?

Minha voz nunca soou tão falha como naquele instante, depois destas ultimas sentenças que viemos trocando até essa pergunta, que traria a conclusão de tudo.

— Sim, não há melhor escolha que esta no momento... eu me retirarei do clube...

Ele me deu as costas e passou a caminhar de volta à quadra, deixando-me ali parado apenas a observá-lo ao longe. Deveria eu estar treinando? Pelo que ele me disse, seria uma escolha minha, mas eu já não via mais necessidade alguma.

Eu não era mais preciso...

Foram dois anos juntos, mas também foram dois anos de derrotas... O que se sucedeu no terceiro ano não foi de meu conhecimento...

Já não estudava mais na mesma escola...

"Talvez tenha sido preciso..."

Um ano... um ano se passou desde então e estava para prestar os exames da universidade... tivemos de acabar o namoro quando meus pais descobriram o nosso relacionamento e ainda não conseguia aceitar. Jamais aconteceria.

Amadureci? Me perguntava sempre que me diziam isso e olhavam-me com aquele semblante... Eles mudaram, não eu... Apenas deixei de fingir que estava sendo feliz; apenas tive de seguir o meu caminho sozinho porque tinha perdido minha luz estando ela tão perto.

"Por que continua aqui então, Takao? Por que não vai embora logo de uma vez?"

— Eu ainda quero vê-lo... Eu não sei se vou conseguir abrir mão do Shin-chan... Eu não sei...

"Ele abriu mão de você... não há nada mais que possa fazer para que ele volte..."

— Eu sei...

"Eu sei..."

E isso eu dizia a mim todos os dias quando me punha frente ao espelho do meu pequeno quarto e foi então que percebi que aqueles que "me diziam isso e olhavam-me" nada mais eram que eu mesmo... Me afastei de tudo e de todos enquanto estive a ter comigo mesmo e a chorar...

Meu próprio eu já não suportava... a mentira já não conseguia mais me substituir, mesmo se eu quisesse que esta chorasse por mim enquanto eu continuasse a sorrir e a fingir que tudo estava bem, mas não estava bem.

Tudo parecia fora de lugar.

E aquele semblante que eu via naquele rosto desfigurado pelas lágrimas nada mais era que pena... Pena de mim mesmo.

"E de novo e de novo..."

— Midorima Shintarou-kun!

E corri com um sorriso bobo no rosto até ele, que virou-se surpreso. A similaridade com o nosso primeiro encontro válido — por assim dizer — trouxe-me um calor no peito e uma vontade de que aquilo tudo fosse mais um recomeço.

Mesma faculdade, mesmo curso... Minha indecisão acabou aqui.

— Takao...

"Por que me olha assim, Shin-chan...?"

O olhar de nossa despedida ainda permanecia e aqueles não eram os olhos do Midorima que eu amava...

— Eu vi o seu nome, Midorima sensei. Hehe... se não sabe onde fica a nossa classe, podemos tentar um pouco a sorte...

Aquelas palavras não eram exatamente uma zombaria...

E então o segurei pela mão, puxando-o como se soubesse onde nossa classe ficava... como se quisesse dizer a ele que tudo estava bem...

E como se segurá-lo pela mão fosse o mesmo que dizer "não se preocupe, você não tem motivos para se sentir culpado. "

Não.

O culpado sempre fui eu, Shin-chan...

"Desculpe-me por ser tão fraco..."

Foram momentos que sempre desejei... Sentia-me feliz por conseguir mantê-lo ao meu lado, mesmo que por este pequeno acidente. Nunca soube em qual sala estivemos desde o começo, mas também não esperava que fôssemos nos perder. Ele olhava seu relógio de pulso nervoso enquanto eu ainda sorria por sentir a maciez de sua mão contra a minha...

"Tão quente..."

— Shin-chan... — Não foi sibilado com a intenção vocativa... era meramente uma de minhas vontades incontroláveis de chamá-lo por seu nome desde que estivemos longe.

"Shin-chan... Shintarou."

Eu conseguia encontrar beleza até mesmo em seu nome... pronunciando-o às vezes em privado, sozinho. A sonoridade me era tão bela, que ecoava em meus pensamentos.

— Por sua culpa perderemos a primeira aula, Takao...

— É belo...

Ele não entendeu a princípio sobre o que falava, mas então deduziu pelo meu olhar que falava do grande campo florido à nossa frente.

Ele suspirou, desistindo de seus argumentos por um instante ao me acompanhar em um de meus devaneios...

— Sim... não sabia que o campus tinha um jardim tão belo, nanodayo.

Ele parecia fascinado com os belos botões de rosa, mas ainda assim eram botões... talvez murchassem antes mesmo de se tornarem belas flores...

— Podemos nos perder aqui quando as flores desabrocharem... vão haver mais abelhas, mas também terão mais pássaros...

Senti que ele me olhava e conhecendo-o como o conhecia, sabia que era a indagar-me. Por alguma razão eu me sentia melancólico e talvez seja por isso que ele esteja me estranhando. Acocorei-me, notando próximo a nós um arbusto com pequenas e delicadas flores brancas.

— São lírios...

Disse como para mim mesmo e então ele deu um passo para trás, obviamente surpreso.

— São seu item da sorte de hoje, ne?

Ele confirmou — já recomposto — e aproximou-se. Levantei-me com três belos ramos e o ofereci.

— Como você sabe, Takao?

Dois anos sem vê-lo e sem tê-lo... mas fosse como fosse, o ainda tinha em mim.

— Eu sempre soube...

E mesmo que suas duras palavras me tivessem afastado naquele dia, permaneci a si como sempre fui... Talvez tenha sido minha voz embargada ou o cheiro das flores... eu realmente não sei... Seja o que for, ele me abraçou e então um "me perdoe" pensei ter ouvido.

Não contive as lágrimas que há muito queriam sair... não tinha coragem de dizê-lo e queria que me odiasse por ter afastado-o.

— Dói...

— Eu sei.

"Eu te amo."

Recordo-me de nosso primeiro mês de aulas... apesar de ser puxado em termos de matérias, ainda me agradavam... Então íamos à biblioteca para estudarmos juntos e confesso que mais notava os movimentos de seus lábios que as palavras em si... Tomava-lhe o tempo por puro egoísmo e mesmo depois das provas ainda estive a pedi-lo por ajuda em estudos... mas ele negou.

— Estou muito cansado, me desculpe...

Então fiz o que há muito não fizera, adentrando o ginásio esportivo para o basquete, mas ele não quis, e o pouco que já falava comigo tornou-se nada...

"Por que?"

Eu o via sentado ao longe com roupas de inverno... sim, tinha se passado pouco mais de meio ano e então tudo me pareceu mais frio... tudo. Assim como naquele dia ele trazia lírios consigo, mas seus olhos não demonstravam o mesmo brilho...

Então ele se agachou, deitando os delicados ramos naquele chão pedregoso.

"Me perdoe..."

Novamente ouvi, mas então quem chorava era ele e por mais que quisesse consolá-lo, não poderia...

Enquanto eu o acompanhava àquela visita ao túmulo, sentia-me com imensa raiva. Por que sentimentos não morrem também?

— Já chega... não estou mais aguentando...

"Você pediu por isso... você escolheu ficar."

— Eu sei, mas... ele não merece ficar sozinho...

"Você não o deixa seguir, não enquanto ele sabe que você está aqui...

Espantei "ele" de minha cabeça e apenas tentei não parecer tão infeliz.

— Eu sei como dói...

Então desde aquele dia estive a me perguntar se ele choraria daquela forma quando eu morresse... quando minha mente o deixasse de vez.

Os dias seguiram-se sem que eu os desse importância... apenas tentei manter-me ao lado de Midorima... eu tentei. E quando eu não mais aguentei, busquei pela voz para que me levasse, mas então não consegui encontrá-la. Sempre fui apenas eu, desde o começo... sozinho.

Minha cabeça parecia confusa e aos poucos faltavam-me peças... tudo parece estar indo embora. Nem ao menos sabia porque estava aqui novamente, mas me aproximei da lápide que ele viera visitar outro dia, caindo de joelhos em um choro contido.

"Me perdoe Shin-chan..."

Eu nunca deveria ter ido embora. Jamais deveria tê-lo feito de forma tão imprudente...

Atravessei a rua, vendo ao longe minha antiga escola... nossa. Aproximei-me sem pensar; era como se me atraísse de volta, mas então tudo aconteceu muito rápido... o carro bateu em mim e jogou-me na rua... senti quando minha cabeça se chocou contra a calçada, tornando minha visão difícil... tornando-me novamente real...

E me tornando novamente o garoto de 17 anos que saíra da quadra indignado pela desistência de seu namorado por algo que este sempre amou...

— Takao! — Ele correu até mim, sendo o meu único expectador naquela rua deserta... Jamais saberíamos quem dirigia o carro...

Ele estava assustado e desesperado, mas ainda assim era ele: a pessoa que acabara de desistir de tudo porque não suportava mais me ver chorar...

Ligara para os socorros, mas eu sabia que seria inútil. Tinhaa muito frio, mas apesar de saber que estava sangrando e ferido, não sentia mais nenhuma dor. Levei minha mão trêmula à sua face para dizer-lhe algo que ele sempre esperaria caso eu não o dissesse agora.

— Você... não teve culpa, Shin-chan."

Deu-lhe um último sorriso antes de partir para sempre. Viveu todas suas vontades, mas jamais seriam realidade... Livrou-o da culpa, mas carregou consigo todos os momentos que passaram juntos sentindo que havia ido embora muito cedo... era como um botão de flor que jamais floresceria.

Nunca saberia o que lhe foi dito sob a chuva naquela primeira vez que havia visto Midorima chorar... também jamais saberia se Midorima lembraria da primeira vez que fizeram amor...

Mas jamais esqueceria de como o amou... jamais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado, e se desejarem, deixem sua opinião e façam uma autora feliz~~

Link para So Cold:

http://fanfiction.com.br/historia/366590/So_cold/