Aprecie o Silêncio escrita por MyKanon


Capítulo 1
I - Palavras como violência, quebram o silêncio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/60241/chapter/1

Words like violence, break the silence
Palavras como violência, quebram o silêncio
Come crashing in into my little world
E vem se chocar com o meu pequeno mundo



Lá estava Audrey Cavalcanti, sentada entre seus cinco companheiros, ouvindo as instruções de Fausto, o mentor do Projeto Araucária.
Audrey não concordava com o nome “Projeto”, afinal, para ela, essa palavra dava a idéia de algo passageiro. Algo que depois de realizado, acabava e ninguém mais se lembrava.

E o Projeto Araucária já existia havia trinta anos. Começou com um braço da polícia que investigou o assassinato da filha de um delegado, e encontrando o responsável, em vez de prendê-lo, assassinou-o. O nome do projeto foi revelado ao público que passou a se referir à tragédia como “Projeto Araucária”.

Aconteceu que nem todos os integrantes do grupo foram indiciados. Os dois que não cumpriram pena alguma continuaram secretamente com o projeto. Faziam roubos de documentos, investigação, assassinato, tudo por encomenda. Tinham um preço alto e muitos clientes por conta de terem a proteção de uma certa fatia da polícia.

Fausto continuava falando e gesticulando, passando as coordenadas do assassinato de uma mulher, que havia sido encomendado pelo próprio marido por causa de seu seguro de vida.

_... Ou seja, tem que parecer um assalto, estão entendendo? Levem o que puderem, depois a gente resolve o que faz.

Audrey bocejou. Não gostava das reuniões. Era a melhor e sabia disso. Não precisava de instruções para saber o que fazer, nem como fazer.
Apesar de seu trabalho, considerava-se uma jovem pacífica. Tinha a aparência de uma garotinha a considerar sua pouca estatura. Às vezes pensava se não seria esse o motivo de seu sucesso. Ninguém desconfiava de uma garotinha. Mas tinha vinte e quatro anos.

O rosto era calmo, os cabelos, negros e compridos. Tinha os olhos de um cinza nublado, que acabavam por representar fielmente sua personalidade fria.

Ao seu lado direito estava Taila Marques, oito anos mais velha que a colega. Isso significava que estava na casa dos trinta, e talvez essa fosse sua maior amargura.

Apesar de sua aparência sedutora, Taila sempre ficava em segundo plano quando se tratava de Audrey. Amava secretamente Felipe, mas sabia que este tinha olhos apenas para a mais jovem.

Soltou um muxoxo em reprovação ao desinteresse da colega, mas Audrey se limitou a lhe lançar um olhar debochado.

Ao lado esquerdo de Audrey, estava Felipe Albuquerque, um jovem de vinte e seis anos. Tinha os cabelos castanhos de fios sempre desgrenhados e profundos olhos verdes.

Roçou sua perna na de Audrey, que interrompeu o contato com um chute violento por baixo da mesa percebido por todos, mas que não recebeu maior atenção.

Depois de Felipe estava Ivete Ferbes, uma senhora de quarenta anos que já não tinha idéias próprias.

E depois de Ivete estava Fausto Dias, o único da formação original do Projeto Araucária, explicando o plano.

Sentado ao lado de Fausto estava Jorge Cardoso, seu fiel assistente, gênio da computação, porém não muito brilhante em campo.

Ao seu lado, Cemira Neves, de trinta e dois anos, que sempre gostava quando precisava se disfarçar de namorada de Jorge.

Taila ganhara a confiança desta última, por isso Audrey não tinha amigas em seu grupo de trabalho. Nem em qualquer outro lugar. Não podia ter relações fora de serviço, era sempre perigoso.

Contentava-se em fazer comentários vazios com Ivete e quando estavam sozinhos, fazia confidências com Felipe, com quem namorava às escondidas.
O grupo estava na sala principal do escritório, o Quartel General, como preferiam, ou simplesmente QG.

Era uma sala na cobertura de um centro empresarial, no 25º andar. Todas as pessoas externas conheciam aquele escritório como uma filial da “Pereira e Silva Máquinas Operatrizes”, por isso, na parede havia até mesmo calendários forjados da empresa fantasma.

A sala era arejada e iluminada, por isso era onde Audrey gostava que se realizassem as reuniões, pois quando não era possível, se reuniam até mesmo em encanamentos para discutirem planos.

_ Tudo bem pra você, Cavalcanti? – perguntou Fausto à caçula do grupo.

_ Tá. Tá bom.

_ Entendeu, Marques? Se a Cavalcanti perdê-la, é a vez de Albuquerque, e se isso acontecer a ele também, então você entra. Só então você entra.

_ Claro que entendi. – respondeu Taila infeliz em ser deixada para trás.

_ Cardoso e Neves podem ficar aqui. Se precisarem de algo, eles estarão aqui. É isso. Vou na frente. Quando ela chegar ao shopping, ligo pra cá e quero que estejam todos preparados.

Fausto escondeu sua arma na meia e o silenciador na pasta e a trancou. Saiu da sala deixando os cinco “funcionários”.

_ Fiquei sabendo que anda recebendo propostas, Audrey. Verdade? – perguntou Taila.

Audrey não gostou do comentário. Não era bom receber propostas, muito menos que alguém soubesse a respeito delas. Significava estar em evidência. O que era muito ruim para o serviço secreto que faziam.

_ Isso sempre acontece com os melhores, Taila.

_ Acho que Fausto não vai gostar muito disso.

_ Ele sabe. E ele não quer que eu saia, por isso, não vai se incomodar.

_ Ou é você quem não quer sair?

_ Eu sei demais. Fausto não quer que eu saia.

Dizendo isso, levantou-se e adaptou o silenciador em sua pistola. Guardou-a no cós da calça e colocou um casaco comprido.

_ Eu estou pronta. E vocês? Não querem estar preparados para quando ele chamar?

*=*=*


Audrey entrou no shopping. Andou por algumas lojas fingindo olhar as vitrines, mas na realidade, sua atenção estava em uma senhora que carregava muitas sacolas logo à frente.

Localizou Felipe fazendo o mesmo numa loja de lingeries.

Ao emparelhar com o rapaz que fingia admirar os conjuntos, disse baixinho sem olhar para o parceiro:

_ Você devia disfarçar melhor... Quem vai acreditar que está interessado em sutiãs?

_ Vou comprar para a minha namorada. Se sou eu quem vai admirá-lo, sou eu quem deve escolhê-lo, não? – respondeu no mesmo tom, também sem encará-la.

Audrey deixou a vitrine para não rir.

Apertou o passo, pois o alvo já estava bem distante. Estava indo para o estacionamento. Tinha que acertá-la antes de chagar ao carro, caso contrário, Taila tomaria sua vítima.

Mas diminuiu o passo ao ver uma movimentação estranha.

Um homem de casaco longo observava a vitrine de uma loja de sapatos, mas Audrey conhecia aquele olhar vidrado. Sua atenção também estava no alvo.

Mas ele não era do Projeto Araucária...

Um disparo assustou os transeuntes que se abaixaram tentando se proteger.

_ Homem alto de casaco longo e chapéu! Me entenderam? Ele também está atrás do nosso alvo! Pode ser que existam outros! – disse Audrey no microfone minúsculo tinha na manga – Albuquerque, cuide dele! Marques, não a deixe escapar!

Entre a correria e gritaria, Audrey procurou pelo alvo. Estava se levantando e começava a correr.

O homem de casaco apontou para as costas da mulher. Audrey apontou para ele, tinha de acertá-lo antes que roubasse seu serviço, mas outro o fez na sua frente.

_ Acerte o alvo, Cavalcanti! Deixe os ladrões comigo! – ouviu Felipe dizer pelo ponto em seu ouvido.

Audrey correu no encalço da mulher. Seria difícil matá-la no meio de toda aquela correria...

_ Você vem comigo! – Audrey a agarrou pelo cotovelo e puxou até uma viga do estacionamento.

Jogou a mulher no chão com violência.

_ Devia escolher melhor o marido... Agora vou matá-la para que ele receba todo o dinheiro do seu seguro de vida!

Sem entender nada, a mulher tentou se levantar, mas logo caiu novamente. Fora atingida nas costas.

_ Droga! Essa não! – esbravejou Audrey achando que haviam conseguido roubar seu alvo.

_ Calminha, Cavalcanti... Fui eu... – ouviu Taila dizer no ponto.

_ Você?! Mas... O que pensa que está fazendo!

_ O que você pensa que está fazendo? Estava conversando com ela!

_ E você a matou pelas costas! Você é uma idiota!

_ O que estava dizendo a ela?

A essa altura já não conversavam pelo sistema de comunicação, estavam frente a frente.

_ Acho que o mínimo de dignidade que podemos conceder, é revelar o motivo!

_ Você é louca? E se ela não morresse?!

_ Se ela não morresse com um tiro na testa?! Louca é você que atirou nas costas! Ela poderia agonizar! Que covardia!

_ Não é meio sarcástico você ter crise de consciência?

_ Você é uma idiota. Só pode ser isso.

_ Ei! O que está acontecendo! Entrem logo nos seus carros e vamos dar o fora daqui! – ralhou Felipe chegando ao estacionamento.

Mesmo contrariadas, não pensaram duas vezes para fazer como fora ordenado. Cada um entrou em seu respectivo veículo e partiu.

_ Acontece que ela é louca! Mas o Fausto vai ficar sabendo... – contava Taila para Felipe pelo intercomunicador.

_ Antes eu vou dizer a ele como você a matou covardemente pelas costas! – interferiu Audrey que acelerou e tentou ultrapassar Taila.

Taila por sua vez, jogou o carro para cima da colega, fazendo com que desviasse e diminuísse a velocidade.

_ Sua... – Audrey voltou a acelerar.

Vendo que a cena não terminaria bem, Felipe se colocou entre os dois carros e disse:

_ Parem já com isso! Taila, vá embora! Audrey, pare!

_ O quê?! – perguntou Audrey indignada.

_ Vai logo, Taila! E você! Pare o carro! Estacione!

Taila continuou o trajeto, enquanto Audrey parou no acostamento e desceu, a fim de tirar satisfações. Seria muito injusto que só ela recebesse uma bronca. Ainda mais de Felipe.


Continua

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aprecie o Silêncio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.