Only Dreamers escrita por Prom King


Capítulo 3
Spear – Rue


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, dreamers. Agora é a morte da Rue. Eu particularmente achei o texto interessante, mas talvez ele tenha ficado um pouco pequeno.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/602370/chapter/3

Acabo se acender a segunda fogueira. Katniss planejou muito bem o nosso plano, meu trabalho está quase acabado. Ao longe, posso ouvir os assobios baixos de constantes dos tordos. A música parece triste, mas talvez seja porque tudo aqui parece triste. O ar pesado, as árvores sombrias, o chão irregular, e tudo. Estamos nos Jogos Vorazes. Nada aqui vai ser diferente de triste. Pelo menos para mim. Para alguém que deseja ser morto, deve ser algo realmente incrível. Os passos dos Carreiristas estão bem ao longe, mas é como se eu sentisse-os se aproximando. Começo a correr mais rápido, em pouco tempo eles podem me achar. Subo em uma árvore para me certificar de que a área está vazia, e que ninguém achou a terceira fogueira. Ninguém. Apenas os sons dos passos dos Carreiristas. A fumaça da primeira fogueira está muito escura agora. Seria impossível não reparar. Mas acho que tenho algum tempo até ter de acender a terceira. Katniss já deve estar destruindo os suprimentos.

Continuo o meu caminho, agora pelas árvores. Os galhos parecem tremer apenas um pouco, e nenhum deles fraqueja. Devo ser muito leve mesmo para isso. E sou. Nunca fui bem alimentada, o Distrito 11 é o segundo mais pobre. Por isso eu era capaz de trabalhar nos galhos mais altos dos pomares lá perto de casa. A minha vida era até boa, eu tinha a minha família e todo o amor que sempre precisei.

Pensar na família é triste aqui. Mas não penso muito sobre isso. Apenas vou pulando pelas folhas pequenas. Os Carreiristas já devem ter alcançado a primeira fogueira, e logo verão a segunda. Tenho que ser rápida. Eu consigo ver ao longe alguma coisa, perto da Cornucópia. É uma flecha que voou para a pilha de suprimentos. O que a Katniss acha que está fazendo? Dou uma risadinha. Se ela está fazendo isso, então deve ter algum motivo óbvio, e o nosso plano vai dar certo.

Ouço um barulho muito alto que faz-me desequilibrar. Apoio os pés, tentando firmá-los na madeira, mas acabo caindo. Dou um grito. E de repente me lembro do que aprendi no treinamento. Fico em uma posição meio de lado, meio de costas. Se eu for quebrar alguma coisa, será o braço, parte do corpo que sou menos dependente para sobreviver. Bato no chão com muita força, mais do que imaginava, no entanto acho que o meu braço nem quebrou. O impacto foi todo para o antebraço, e ele proporciona uma dor horrível. Com medo e a dor no braço mais forte do que nunca, eu deixo a cabeça fixada no chão e desmaio.

Mais passos. Passos. Vários passos. O braço não dói mais tanto, mas não posso ignorar a mancha roxa que está nele. Abaixo a manga do casaco para esconder o hematoma. Me preparo para levantar e correr, mas há uma coisa. Uma rede, na verdade, que me prende. A corda está amarrada em duas árvores, e então em um galho de arbusto. Se eu pudesse me mexer, poderia quebrar o galho e me libertar, mas a armadilha é definitivamente muito bem montada, e eu caí exatamente no lugar que deveria para ser presa. Agora eu percebo, são duas pessoas, uma caminhando e uma correndo. Devem estar separadas. Mas continuam sendo tributos que podem me matar, então faço a coisa mais inteligente que posso fazer agora.

– Katniss! Katniss! – grito com a voz mais alta que consigo.

– Rue! – eu ouço a resposta, mas não consigo me tranquilizar, pois ainda há outra pessoa, e agora que ela ouviu o grito, está se aproximando. Eu não paro de pensar na possibilidade de ser um Carreirista. – Rue, estou chegando!

Eu grito mais uma vez o nome dela, e então a vejo. Está com a aljava de flechas balançando atrás do corpo, três flechas a menos do que antes. Quando ela chega até mim, pega a faca e corta as amarras da armadilha e eu consigo me levantar para abraça-la.

– Está tudo bem – ela diz. – Você está bem, viu?

Não está bem, eu quero dizer, porque as folhas de uma planta estão balançando e eu vejo o garoto do Distrito 1, Marvel. Mas apenas olho para ele com medo. Katniss se vira e coloca uma flecha no arco. Mas ele já jogou sua lança, com a intensão de acertá-la. Entretanto, a ponta da arma dele atinge a mim, não a Katniss. Olho para a direção do meu estômago no momento em que o Marvel cai para trás com uma flecha no coração. Pego a superfície fria da arma, e começo a retirá-la do meu corpo, recebendo uma pontada de dor no processo. Então Katniss me segura antes que eu caia no chão.

– Você está bem – ela diz, como se eu fosse uma imbecil. Claro que estou, penso ironicamente. Não estou bem, nunca mais vou estar. Tudo acabou.

– Você explodiu a comida? – pergunto, sabendo que vou morrer em, no máximo, cinco minutos.

– Cada pedaço – ela começa a chorar, e se inclina para pegar a lança e tirar de perto de mim.

– Não vá – quero que ela fique comigo até eu morrer. Ela foi a única pessoa que não me subestimou, ela foi minha amiga. Katniss pega a minha mão.

– Você tem que vencer! – eu sussurro para ela. Meu estômago dói muito, mas não mais do que o pensamento de perdê-la.

– Eu vou. Vou vencer por nós duas – ela coloca a minha cabeça em seu colo.

– Cante – é o meu último pedido. Ela não responde, apenas dá uma tossida e começa.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro

Um leito de grama, um macio e verde travesseiro

Deite a cabeça e feche esses olhos cansados

E quando se abrirem, o sol já estará alto nos prados

Eu conheço essa música, minha mãe cantava para mim quando eu era pequena. É uma canção linda, para crianças dormirem, mas soa muito mais triste do que tudo, porque eu não vou dormir, vou morrer, e para sempre.

Olho para cima. As árvores estão muito verdes, uma visão bonita. Essa floresta me lembra os pomares onde eu trabalhava de sol a sol. Alguns tordos estão empoleirados nos galhos mais altos, eu consigo vê-los daqui. Por muitos anos, eles foram os meus melhores amigos, me faziam companhia.

Tudo parece clarear lentamente, a minha visão fica turva, não consigo mais ver as árvores com tanta nitidez. Ouço o resto da música antes que os tordos voem para longe devido ao som do meu canhão, e eu saio da sociedade e dessa arena infeliz, que tanto me amedrontava.

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo

Aqui as margaridas te protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces

E amanhã serão lei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham um com coração e comentem para fazer o meu dia mais feliz.