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Não podia acreditar como ele falou comigo, de como ele falou de mim. Ele não tinha o direito de falar daquele jeito e muito menos dizer o que eu posso fazer e o que eu não posso, tudo graças ao meu problema com o pé. Não conseguia olhar para ele e muito menos ficar perto dele, achei que deveria fazer o que eu quero, pelo menos uma vez na vida.

Assim que ele se virou e voltou a falar com o professor, fui até o lugar inacabado. Depois de alguns passos reparei que tinha uma jaula lá, e estava completamente aberta. Assim que eu fui até ela meu pai começou a gritar para que eu saísse dali, mas não quis dar ouvidos, continuei a andar. Cada passo que eu dava meu pai gritava mais e mais, implorava com a raiva em sua voz que eu voltasse, mas não dessa vez.

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Antes que eu pudesse reagir, Nemo já estava dentro do habitat e quase entrando numa jaula que tinha lá. Mandei que ele saísse, mas fingiu não me ouvir. Cada vez que eu falava para voltar ou não dar nem mais um passo, era como falar com o nada. Ele enfim entrou na jaula e ficou ali, admirando um pouco o lugar. Demorou só alguns segundos para que ele se cansasse e voltasse, ele com cara de desapontamento e eu com toda a frustação do mundo.

Antes mesmo dele colocar ao menos um pé para fora da jaula, um homem apareceu de um ponto cego e escuro e andou até ele. Por um segundo imaginei que era um funcionário ou algo assim, e por um segundo até paralisei diante da cena, e assim que eu voltei a mim esse mesmo homem o agarrou, com uma mão em seu braço e a outra em sua boca e saiu pelo lado mais escuro do habitat.

Corri até lá, sentia a adrenalina correndo por cada centímetro do meu corpo, precisava mais do que nunca alcança-los. Deixei todos para trás, nem ao menos vi se tinha alguém atrás de mim, seja querendo me ajudar seja querendo me impedir, tinha apenas um foco e o único pelo tempo que precisar levar: encontrar e resgatar meu filho.

Assim que entrei no habitat, o lado mais escuro levava para um curto labirinto onde imagino ser onde um possível animal ou tratador percorreria para dentro da jaula, onde o mesmo me levou até perto de uma saída alternativa do zoo. As poucas vezes que enfim consegui ver meu filho, a única coisa que eu podia ver era o pânico do seus olhos e os abafados pedidos de socorro.

Saíram do zoológico e seguiram rumo a um porto perto dali. Nemo era um peso para ele e isso o atrasaria, logo apareceu um outro homem e o agarrou pelas pernas, mesmo que o Nemo se debatesse com todas as suas forças, e ambos o carregaram até um pequeno barco turístico vazio que o esperavam. Antes que eles ao menos entrassem, para a minha desgraça tropecei e cai, assim que consegui me por de pé, o barco já tinha seu motor ligado. Voltei a correr, esbarrando em algumas pessoas, mas o barco já tinha partido.

Ele seguiu pela costa por alguns metros, e tentei segui-lo por terra e assim que se virou e foi em direção a mar aberto, pulei na água fria e num momento de loucura achei mesmo que poderia nadar até o barco, foi a mais amarga ilusão que já tive. Vi meu filho se afastando de mim, sua imagem e o som dos seus gritos desaparecendo no horizonte. Nadei de volta ao porto.

Não tinha ninguém, nem mesmo um alguém com um barco que pudesse me levar até eles. Meu mundo se desfez novamente, bem diante dos meus olhos. Conseguia ver a imagem do meu filho na minha mente, perdendo as esperanças e se confortando que seu pai não podia ajuda-lo. Aquilo me deixou com um turbilhão de sentimentos, um milhão de coisas girando em minha cabeça, de todas as mais ruins que um homem poderia imaginar.

Não podia perder as esperanças e muito menos parar e desistir, mas por um segundo meu corpo desistiu e não tinha forças nem para me manter de pé. Já estava escurecendo e fiquei agachado na calçada implorando por um milagre, implorando que de tudo que poderia acontecer nessa vida, eu tivesse a chance de rever meu filho pelo menos mais uma vez.