Procura-se um garotinho ruivo escrita por Kalena Danvers


Capítulo 4
Capitulo 4




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Era a primeira vez que eu entrava em um ônibus escolar. O cheiro era ruim, as crianças corriam e ficavam de pé em cima dos bancos e todas falavam ao mesmo tempo, mas tudo era muito emocionante. Não me lembro da ultima vez que estive em um zoológico, se é que meu pai me levou lá algum dia. Ele tem medo exagerado de certos lugares, como farmácias, zoológicos e banheiros públicos, sempre há uma resposta bem exagerada pra tudo isso.

O tal do Tio Raia adorava cantar, e mesmo que soubesse a letra das musicas, eram rápidas demais e era quase impossível acompanhar. Não andávamos muito de ônibus, taxi ou outro meio de transporte, somente para um fim muito importante ou que seja longe demais. Não sei se me pai ama caminhar ou é mais uma das paranoias dele, mas estar dentro de um ônibus, rodeado de crianças quase todas da minha idade, era uma coisa divertida.

A viajem foi curta, admirando o asfalto e as arvores e pessoas que passavam por nós tão rápidos que pareciam mais um borrão. Chegamos ao zoo.

–Tudo bem, crianças. –O professor começou a falar. –Aqui não tem aquela historia de “cada um por si”, o que quer dizer que ficaremos JUNTOS o tempo todo. Quem reparar que alguém se afastou do grupo, avisem e vamos parar de fazer o que estamos fazendo e procurar pelo danado.

Enquanto o professor falava, as mesmas três crianças de mais cedo se afastaram e começaram o passeio sozinhas. Eu deveria ter avisado alguém, mas em vez disso, decidi segui-los. Vimos vários animais enquanto andávamos, e as vezes tacávamos algumas pedrinhas neles por brincadeira, até que chegamos numa parte onde estava mais calmo, com pouco movimento. Um lugar mal iluminado e com uma placa amarela escrita com preto :”Obras em andamentos. Não ultrapassar”.

**

Tentava apressar o motorista do carro, mas o infeliz parecia mole demais e não se importava em dirigir entre o devagar e o parado. Depois de uma eternidade, com o coração na garganta chegamos ao zoo. Senti um alivio ao me deparar com o professor logo na estrada do zoo, perto da área dos mamíferos. Ele estava ditando algumas regras do passeio e andei o mais depressa até ele.

–Ei, paizão. Não esperava te encontrar aqui. É funcionário? –Ele me recebeu, acho até que ouvi alguma criança comentando que eu era catador de cocô dali.

–Me...me desculpa, é que não esperava que iria levar as crianças para o zoo, bem, não no primeiro dia de aula delas.

–Bem, achei que alguém tinha te avisado, é que fazemos isso todo ano. É quase uma tradição.

–Não, não me avisaram.

–Você parece um pouco ansioso, quer nos acompanhar no passeio?

Nem ouvi sua ultima frase, na hora reparei que faltava algumas crianças, entre elas o Nemo.

–ONDE ELE ESTÁ? –Perguntei, falando alto demais mas me segurando com todas as forças de não gritar com ele.

–Co...como assim, paizão?

–NÃO ME VEM COM ESSA HISTORIA DE PAIZÃO. MEU FILHO, ELE NÃO ESTA AQUI!

Ele olhou para a turma, contou as cabeças das crianças e regalou os olhos.

–Faltam quatro crianças!

–Não me diga.

Antes que eu desse um soco na cara dele comecei a procurar por meu filho. Enquanto passava um pente fino naquele lugar, fazendo questão de até mesmo olhar por dentro das jaulas dos animais, me vinha aquele sentimento de culpa de achar que poderia ter confiado meu filho a um estranho. Não importa o que acontecesse hoje, não importa o quanto Nemo me implorasse, ele nunca mais voltaria a pisar em uma escola.

Meu peito se apertava, minha garganta doía e minha cabeça girava, cada segundo pareciam horas sem ao menos ter sinal do meu filho. O professor e as turma fazia questão de me acompanhar, e eu parava de vez em quando e perguntava se alguém vira um garotinho ruivo que andava estranho.

Uma mistura de alivio e terror me veio ao encontrar ele, com mais três crianças, perto de um habitat não acabado.


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