PDV ALEC:

E os dias foram passando...

Eu tinha ficado muito mais próximo da Amanda,nós conversávamos e a cada dia eu aprendia uma coisa nova sobre ela.Era muito bom estar perto dela,sentir seu perfume todo dia,e meio saber que ela sentia o mesmo:quando eu chegava na escola e ela sentia minha presença,ela sorria ainda mais e me abraçava e nesses breves instantes em que eu tinha contato com ela eu me sentia completo e ao mesmo tempo embriagado com seu cheiro...Mas  a Jane também tinha se aproximado dela,tanto que agora elas eram melhores amigas e a Amanda chegava a passar mais tempo com a Jane do que perto de mim...

Então a gente meio que ficava disputando a atenção da Amanda e , quando ela percebeu isso,pra resolver o problema,passou a andar com nós dois ao mesmo tempo.Passávamos horas conversando,rindo,descobrindo mais uns sobre os outros e eu fiquei surpreso ao perceber que,apesar de a princípio eu achar que dividir um tempo meu e da Amanda com a Jane seria estranho,eu descobri que não era que ,ao invés de interromper ou atrapalhar,ela ajudava,completava,era quase natural nossa relação.Fiquei bastante feliz com isso.Mas quem estava feliz mesmo era a Amanda,ela vivia com um sorriso no rosto,pronta pra contagiar quem estivesse perto dela...

Mas as semanas foram passando...

Ok,eu estou definitivamente preocupado com a Amanda.Cadê aquela garota gentil e espontânea que eu tanto adoro?Essa com certeza não é a minha Amanda...

Tudo bem,vou explicar...

A Amanda feliz de semanas atrás ,parece uma flor que vai murchando com a falta de água, a única diferença é que eu não sei o que a entristece...

Semanas atrás ela estava bem,conversava,sorria,mas de uns tempos pra cá ela foi entristecendo gradativamente:primeiro ela ficava pensativa,distante durante horas e, quando se perguntava pra ela o que ela tinha,ela simplesmente respondia sorrindo “Nada,besteira!”e mudava de assunto,depois começou a se distanciar de mim e da Jane,ficava sentada num canto,distante, com o olhar triste e preocupado.Quando eu ou a minha irmã tentávamos nos aproximar,ela dizia que estava com a cabeça cheia ou que estava ocupada e logo arrumava algo pra fazer.

Mas hoje foi a gota d’água...A Jane disse que a viu chorando na hora do intervalo,quando foi procurar por ela,em um lugar reservado aonde ninguém ia.A Jane tentou falar com ela, mas a Amanda deu desculpas esfarrapadas e saiu correndo do lugar onde estivera...

Eu não sei o que está acontecendo,mas eu queria muito poder entender pra ajudar a Amanda nesse momento ruim,mas é difícil porque ela não se abre nem comigo nem com a Jane...

Quando eu cheguei à escola no dia seguinte,a Amanda estava sentada em uma das carteiras com a cabeça baixa apoiada na mesa .Soltei um longo suspiro e coloquei minhas coisas na carteira logo atrás dela.Ela ainda com a cabeça baixa gemeu baixinho de dor.

Epa.Tinha alguma coisa errada ali.Me ajoelhei ao lado da carteira dela e pus a mão no seu ombro:

-Amanda?-chamei.

Ela levantou a cabeça séria mas,ao me ver,sorriu um pouco:

-Ah! Oi Alec!-olhou pros lados e disse-Cadê a Jane?

-Ela estava com muita dor de cabeça hoje e não pôde vir à escola...-Mentira.A Jane tinha ido caçar,ela estava ficando realmente com muita sede...

-Que pena!Eu precisava muito falar com ela...-sua testa se franziu envergonhada-me desculpar sabe,por ontem.Aposto que já soube o que aconteceu ontem,não é?

-É a Jane me contou...-depois eu disse bravo-E por falar nisso eu quero saber o que está acontecendo com você!Você anda distante e triste e eu não gosto disso!E não adianta me enrolar porque você vai falar!

Ela levou a mão à cabeça e sua testa se franziu de dor:

-Ai...Alec,será que dá pra eu te contar depois?Eu também estou com uma dor de cabeça horrível eu não consigo nem raciocinar direito...

Fiquei preocupado,mas perguntei gentilmente:

-Se você está com dor,porque não ficou em casa de repouso?Vir pra escola só vai piorar sua dor de cabeça.Quer que eu ligue pros seus pais pra eles virem te buscar?-sugeri.

Ela arregalou os olhos:

-Não,não!Tô bem!-disse sorrindo amarelo.

Estranha a reação dela,parecia que tinha medo que os pais descobrissem que ela estava doente:

-Tá!Mas...pelo menos vai na enfermaria e toma uma aspirina!-eu já estava ficando desesperado,porque ela estava com dor e se fazia de forte!

-Não precisa,Alec!Mas se eu piorar eu prometo que tomo a aspirina no intervalo,ok?

Nessa hora o professo entrou e eu não pude mais brigar com ela por ser tão teimosa...

                                    -------------------------------------

Quando o sinal do intervalo tocou a Amanda se levantou e saiu rápido,evitando meu olhar preocupado.Não fui atrás dela,porque tinha a estranha sensação de que eu deveria permanecer ali e ela ia voltar.

Dito e feito.Alguns minutos depois ela voltou,mais pálida e ainda com dor.Ao me ver ali ela rolou os olhos e sorriu um pouco:

-Tá!Tá!Ainda tô com dor!...Mas a culpa não é minha,eu fui na enfermaria mas estava fechada!

Fiquei indignado:

-Que tipo de escola é essa que quando os alunos precisam da enfermaria ela está fechada?!

Ela passou devagar por mim,os olhos fechados dando de ombros:

-Não sei...

Depois se encostou na parede e foi deslizando devagar até ficar sentada no chão,ainda de olhos fechados.Eu olhei pra ela.Ela parecia doente:pálida,fraca e com dor .Eu queria poder ajudar de alguma forma,já que ninguém queria fazê-lo.Até que eu tive uma idéia.

Andando devagar até ela pra não assustá-la,me ajoelhei a sua frente e pus a mão fria na testa dela,rezando pra que ajudasse de alguma forma no que ela sentia.Assim que eu pus a mão,ela abriu os olhos de súbito,surpresa com meu gesto,depois suspirou aliviada e tornou a fechá-los:

-Obrigada.-sussurrou,sorrindo levemente.

-Pelo quê?-quis saber.

Ela abriu os olhos de novo e respondeu gentilmente:

-Por sempre estar por perto,por ser a pessoa mais gentil e que mais se importa comigo,por cuidar de mim quando não há ninguém mais pra fazê-lo...-depois sussurrou e um jeito doce.-Você é o meu anjo...

Fiquei chocado com as palavras dela...,eu não sabia que ela percebia tão claramente o modo carinhoso com o qual eu a tratava,porque eu tentava disfarçar...aparentemente em vão.

Naquele instante a expressão dela estava séria,decidida.Ela tirou minha mão da testa dela e se levantou devagar de modo que o rosto dela ficasse no mesmo nível que o meu.Respirando rápido,ela chegou mais perto de mim e pressionou os lábios nos meus.O contato foi imediato e instantaneamente eu queria mais,os lábios dela eram suaves e impossivelmente doces nos meus de um modo que eu nunca tinha experimentado,ela abraçou meu pescoço e entrelaçou os dedos nos meus cabelos me puxando pra mais perto,fiz o mesmo com  sua cintura...

Eu podia sentir meu tênue autocontrole indo embora.Mas eu não me importava por que eu a tinha nos meus braços...Até que foi demais.A sede me dominou e eu tive que interromper o beijo pra não matá-la naquela instante.Eu estava completamente imóvel,sem respirar,os lábios trincados e o olhos arregalados de choque com a intensidade da sede que ameaçava me dominar...

Ela viu meus olhos arregalados e os interpretou mal,ao invés da sede,ela viu raiva, e concluiu que eu estava com raiva por ela ter me beijado.Se encolhendo triste, ela perguntou:

-Você não gostou,não foi?

Eu tinha uma escolha dura a fazer:ou eu respondia a pergunta dela,tomando fôlego e deixando a sede me dominar,pra segundos depois vê-la morta nos meus braços ou não respondia,a deixando viva,mas magoada comigo...

Eram ambas as escolhas cruéis,eu sei,mas matá-la estava fora de cogitação pra mim...

Sentindo as lágrimas se formarem no rosto dela,ela assentiu uma vez e saiu correndo batendo a porta atrás de si,me deixando sozinho com minha única companheira agora:a sede...