PDV: AMANDA

Eu sentia a falta dele.Mas a ausência dele era meio que um mal necessário e eu precisava resistir.Ele tinha me dito que eu podia ligar a qualquer hora,mas eu descobri que talvez isso fosse pior do que esperar calada:quando eu liguei para ele,Alec atendeu ao primeiro toque do celular e começou a conversar comigo de um jeito estranho,pausadamente e como se escolhesse as palavras que saíam de sua boca.Além disso,a saudade que eu sentia,parecia se duplicar quando eu escutava sua voz.Ele percebia minha tristeza e isso me aborrecia,não queria que ele ficasse preocupado e estragasse tudo.Por isso eu parei de ligar.Torcia pra que ele voltasse logo,pelo menos eu o veria mais uma vez antes que tudo realmente acontecesse.Como um tempo só pra nós.Nem que esse tempo precedesse o que eu mais temia.Minha morte.

Eu pensava nesse último item toda noite.Pensava se doeria,em como meus pais ficariam,em como ele ficaria.Tinha dúvidas para tudo isso...Mas eu tinha uma única certeza.Na verdade,duas:

Primeira:Eu o amava e isso não faria diferença,mesmo depois de morta.Eu tinha deixado isso bem claro à ele...

Segunda:Nos filmes românticos de quinta,a moçinha sempre morre ao lado do amado.Eu tinha pensado bastante e,diferentemente desses filmes,eu não queria que Alec morresse ao meu lado.Não queria que o sofrimento dele fosse maior ainda ao me ver morrer.Não queria que ele convivesse com esse momento por toda a sua eternidade.Se culpando,se martirizando.Não,definitivamente eu queria fugir ao clichê.

Então os dias foram se arrastando devagar e cada vez eu ficava mais preocupada.Rebecca percebia minha tristeza e tentava me animar.Ela tentava me chamar para sair ir:ir às compras,ao cinema,ir à um show de uma banda que gostávamos.Eu ia mais por ela do que por mim.Eram as últimas semanas com a garota que me fez rir,quando eu tive vontade de chorar,que me fez ficar envergonhada nos momentos mais inoportunos,que compartilhou comigo segredos e momentos felizes,notas baixas.Ela era muito importante pra mim.E cada vez que a Rebecca sorria pra mim,eu podia sentir o quanto ela tinha sido importante pra mim e o quanto eu sentiria falta dela.Jane podia ter aprendido o que a amizade era comigo -agora eu sabia disso-,mas eu tinha aprendido o que é ter uma amiga de verdade com a Rebecca.Ela era como uma irmã para mim e eu queria que ela se lembrasse de mim da melhor forma possível quando eu me fosse...

Uma semana depois do Alec viajar,Rebecca veio até mim empolgadíssima,praticamente quicava no lugar.Tinha algo nas mãos.Sentou-se no seu lugar habitual-ao meu lado-e me estendeu o papel,dizendo categoricamente:

-Não aceito não como resposta...-ela disse num olhar severo,mas o sorriso travesso.

Desviei minha atenção para o papel.Estava escrito em letras vermelhas,de fôrma:

              “1º SHOW DE TALENTOS DO INSTITUTO DE ENSINO 18 DE AGOSTO”

“Data:21 de agosto de 2010.

Local:Auditório superior da escola.

Horário:20:00 hs.”

Embaixo com minúsculas letras pretas dizia:

“Inscrições:Secretaria do Instituto”

Então eu entendi o que ela pretendia:

-Você não está pensando no que eu acho que você está pensando...?-olhei meio derrotada pra ela.

-É claro que eu estou!-ela falou com um sorriso radiante.Vendo minha expressão,seu sorriso murchou e sua expressão se tornou suplicante.-Ah,vamos Amanda!Você é a melhor cantora que eu conheço e eu não toco violão tão mal assim...

Pensei por um segundo.Eu realmente não estava com a mínima vontade de cantar.Mas uma parte do meu cérebro me lembrou de algumas coisas que me fizeram mudar de idéia:já fazia algum tempo que eu não cantava e,sempre que eu fazia isso,eu me sentia melhor.Além do mais tinha feito uma promessa para mim mesma de não magoar ninguém e deixar todos felizes.Isso deixaria  Rebecca feliz-ela adorava quando cantávamos juntas-,os meus pais e,talvez Alec pudesse voltar à tempo de me ver cantar.

Rebecca ainda esperava ansiosa pela minha resposta.Ela se inclinava,suplicante,em direção à minha carteira.A expressão dela era tão engraçada que me fez rir:

-Ah!Tudo bem,sua chata.Você venceu!-falei,depois de me recuperar do ataque de riso que me tomou.

Ela sorriu de orelha a orelha e pulou me dando um abraço de urso.

-Vai ser demais!Você pode cantar,eu toco.E,talvez eu até possa fazer segunda voz já que a minha não é tão ruim assim...-ela continuou tagarelando,quicando na cadeira.

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                                                                                                                  PDV ALEC

Eu fiquei preocupado a viagem inteira.Não conseguia parar de pensar na Amanda,na distância que nos separava:um oceano inteiro.Outra coisa que me deixava inquieto eram os Volturi.Nada do que eu dizia ou fazia parecia ser o suficiente para convencê-los a nos ajudar.Eu precisava escolher bem as palavras.Estava sendo vigiado,analisado.Precisava provar tanta coisa em tão pouco tempo:provar que eu era o mesmo Alec de sempre,que iria cumprir com as minhas funções como sempre havia feito,que valia a pena para eles ter Amanda como uma de nós.

 Cauis parecia mais irritado do que o normal e me olhava com desprezo sempre que nos encontrávamos.Explodiu quando eu e Jane contamos aos anciãos o porquê da nossa “visita”.

Assim que adentramos a sala dos anciãos,Aro desviou sua atenção para nós,saindo de uma linha de pensamento.Sorriu e se levantou:

-Ora,senão é Alec e Jane,meus favoritos!A que devo a honra da visita?-nos olhou severamente-Espero que não tenham voltado definitivamente e sem a garota.-falou as últimas palavras sugestivamente.-Se for essa a situação seria lamentável para vocês

Foi Jane quem se pronunciou:

-Não,mestre.Não viemos definitivamente,e a humana não está conosco.Mas temos planos de trazê-la em breve.-ela falou seriamente,em um tom reverente,como costumava usar antes.

Então Cauis se manifestou,impaciente:

-Então,porquê diabos estão aqui?!-aparentemente ainda não aprovava minha escolha de ir até Amanda.

-Paz,Caius.-Aro pediu ao irmão,paciente.

Contudo ele não olhava para o irmão ao dizer aquilo.Na verdade,durante todo o tempo em que estivemos ali ele me encarava com uma expressão curiosa no rosto:sua cabeça estava pousada de lado,seus olhos me estudando minuciosamente e um pequeno sorriso no rosto.Depois seu sorriso se espalhou.Eu conhecia aquele sorriso:curiosidade,triunfo.

Ele estendeu a mão de papiro na minha direção e eu não precisava de nada pra entender o que aquilo significava.Estendi a mão lentamente na sua direção.Pelo canto do olho vi Jane tentar se explicar desconfortavelmente:

-Na verdade,meu senhor,é sobre esses planos porque viemos até aqui...-ela respirou fundo,nervosa,para continuar,mas era tarde:Aro já havia pegado minha mão e agora lia minha mente altamente concentrado,a testa franzida.Jane parou de falar no mesmo instante.  

Toda a sala tinha sido tomada por um silêncio indescritível.Toda a atenção era voltada para um único ponto.Aro e eu.

Quando terminou,sua expressão se fechou em puro desgosto e ele me olhou severamente:

-Você tem razão,a nossa ajuda é impossível.Não vamos nos arriscar nesse plano fracassado,não vamos tomar partido.

Olhou acusadoramente de mim para Jane:

-Vejo que a humana conseguiu transformá-los ainda mais do que eu pensava.-Depois sorriu.-Mas vejo que de todo,tudo isso não foi tão ruim.Estão mais fortes,principalmente você,Alec.Isso é bom.E parecem mais felizes.-seu sorriso desapareceu.-Mas isso não é uma coisa boa.Quer dizer,fico feliz que realmente tenham conseguido um pouco de paz,meus queridos.Mas eu preciso pensar da perspectiva dos Volturi.E isso não é bom para nós.Apesar de deixá-los mais felizes,a humana conseguiu que fossem mais complacentes com a raça deles e eu temo que essa sua nova característica nos prejudique.Que vocês não voltem a nos servir com a mesma eficiência de antes.Vocês mudaram muito...

Depois ele ficou quieto por alguns segundos,ainda nos estudando.Depois um sorrisinho,brotou em sua face e ele disse:

-Você tem certeza a respeito do dom dela,Alec?-perguntou como se aquilo fosse crucial.

Jane me olhou intrigada.Acho que ela não sabia sobre essa parte.Hesitei por alguns segundos:

-Quase,senhor.Só preciso de uma chance para ter certeza.-assegurei a ele.

-Se ela realmente possuir o dom que você considera,Alec,ela terá um belo talento.-Falou com admiração e um toque de cobiça.-Mas acho que ainda não dei minha palavra final.Vocês terão essas duas semanas que ficarão aqui para provar a todos nós que são capazes de continuar servindo aos Volturi,sem restrições,e que realmente merecem o nosso apoio nesse plano.

Cauis,que escutava a tudo atentamente,se manifestou novamente,indignado:

-Mas isso é um ultraje,Aro!Vai mesmo vai cobertura a dois traidores e fracos como eles!Não vê que não são mais os mesmos?!Não têm mais a capacidade de nos servir!Ficaram totalmente encantados e ludibriados pelos humanos e agora terão piedade!-Ele se levantou e apontou para nós acusadoramente-E  ainda por cima pedem que acolhamos a culpada de tudo isso,como se ela algum dia pudesse ser uma de nós!ISSO É UM ABSURDO!

-Minha decisão não mudou,Cauis.Além do mais,você está analisando a situação sob o ângulo errado,meu irmão.-e se virou para Marcus.-O que acha?

-Eu concordo,mas acho perigoso.Contudo,como o destino de tudo isso ainda está nas nossas mãos,não vejo porque não.-disse,pela primeira vez interessado na conversa.

-Então a decisão está tomada.-anunciou Aro.-Serão analisados e,ao final de duas semanas decidiremos se os apoiamos ou não.

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Aro nos fez voltar à rotina Volturi.E isso incluía tudo.Desde rondas para vigiar o palácio,até a punição de traidores e malfeitores.Cada vez que o tempo passava eu me sentia mais longe da Amanda,como se eu tivesse voltado à realidade e o que acontecera não passasse de um sonho bom.Ela havia ligado apenas uma vez e,foi justamente isso que me fez entender que ela continuava me esperando.Contudo ela não havia ligado novamente e eu sabia o porquê:ela percebeu o modo estranho com o qual eu falava com ela,escolhendo as palavras pelo fato de estarem me vigiando,e ela tinha medo do que poderia significar.Eu não me importava com a ausência dela,contanto que isso me ajudasse a conquistar o apoio dos Volturi.

Depois de 2 semanas uma outra reunião foi marcada e lá estávamos eu e Jane sendo julgados novamente.Um a um os anciãos foram entrando e tomando seus lugares nos tronos.Pela expressão de cada um deles eu podia deduzir que haviam discutido muito sobre a nossa situação.Quando Caius entrou me olhou com o desprezo habitual,mas havia ódio reprimido no fundo de seus olhos.O que me fez temer por nosso destino.

Quando todos já haviam chegado Jane e eu fomos à frente e fizemos a reverência como frequentemente fazíamos.Voltamos aos nossos lugares-no centro do salão-,como réus de um julgamento.Aro disse com seriedade:

-Vocês foram analisados minuciosamente durante todo o tempo em que aqui estiveram.Cumpriram todas as tarefas que costumavam fazer a contento e, devo dizer que agiram como costumavam agir.-Depois sorriu de leve.-Jane...Alec,acho que provaram a quase todos nós...-Cauis ainda me fitava raivoso-que apesar de tudo ainda continuam sendo  como um de nós e foi decidido que a transformação da humana será um ganho muito grande a todos os Volturi.Por isso,decidimos que vocês podem ir em paz e que podem cuidar de todos os preparativos para a execução do plano,porque vocês têm o nosso total apoio.

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Durante o voo de volta ao Brasil eu me sentia incrivelmente leve.Tínhamos obtido o apoio dos Volturi o que significava que agora o plano da Amanda tinha grandes chances de dar certo.

Jane parecia sentir o mesmo,porque,ao meu lado,ela sorria de leve olhando o céu poente que passava rapidamente por nós.

Apesar de toda a calma e o triunfo que preenchiam o meu peito,eu sabia que nada disso ainda havia acabado,ao contrário,a parte mais difícil ainda estava por vir...

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                                                                                                               PDV AMANDA

Eu tinha acabado de jantar e tinha subido as escadas rumo ao meu quarto me sentindo exausta.A escola,combinado aos ensaios para a apresentação,combinados com a falta que eu sentia do Alec ultimamente me deixavam assim e,por isso,eu ia dormir cada vez mais cedo e mais cansada.

Quando eu me deitei na cama com os olhos já fechados,senti algo estranho no meu travesseiro.Ao levantar a cabeça,me deparei com um pedaço de papel com a letra do Alec.Era curto,mas dizia o que eu queria saber:

“Oi,pequena,

Senti muito a sua falta no tempo em que estive fora,mas apesar de já ter saído de Volterra,terei que ficar um tempo longe,preparando coisas para a execução do plano.Pois é...nem eu mesmo acredito, eles resolveram nos ajudar!No tempo certo-espero que não esteja muito longe-volto pra você...

Jane está morrendo de saudades e, é óbvio,eu também:

Alec.”                                      

Sorri.Ela ia voltar pra mim.Os Volturi estavam do nosso lado.Era bom demais para ser verdade...