All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 35
Orientation 01 of 02 - Return to Sender


Notas iniciais do capítulo

Hei!

Olá pessoal! Como estão?

Dessa vez eu atrasei um pouquinho, mas compensarei com a postagem de dois capítulos de uma só vez! Isso mesmo, AOW em dose dupla! Um presentinho do Filho de Kivi aos corajosos leitores que chegaram até aqui! Hehehe...

Quero dedicar esse capítulo a uma leitora muito especial, que vem simplesmente devorando seguidamente os capítulos dessa humilde fic, e ainda por cima deixando assertivos, divertidos, inteligentes e engrandecedores comentários... Sami, esse capítulo é dedicado a vossa senhoria! Obrigado por acompanhar a fic, e é claro, muito obrigado por sua RECOMENDAÇÃO! Belíssimas palavras! Kiitos! Estou realmente muito feliz com o reconhecimento!

Outro agradecimento especial que preciso fazer é para as leitoras Menta e Maritafan, que seguem firme e fortes, comentando em todos os capítulos! Obrigado, meninas! O apoio de vocês é essencial para o andamento desse projeto! Kiitos!

Não quero estragar a surpresa, então só o que posso dizer é que esses dois capítulos estão repletos de respostas para as inúmeras dúvidas criadas no capítulo anterior...

Lembrando que a continuação já está postada, portanto, não se espantem com o final, basta clicarem naquele botãozinho no fim da página para ler imediatamente a segunda parte...

Espero que gostem...

Boa leitura!



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Retorno ao remetente... É tudo o que diz o bilhete dessa suposta Imperatriz – Rick Grimes puxara um banco, a sala escura mal deixara que Hall visse o seu rosto – Então, Vincent... O que isso quer dizer?

O nariz do cirurgião voltara a sangrar. Hall tentara mexer os dedos, mas as cordas que o prendiam na cadeira – muito bem amarradas por Tom Price, inclusive – não permitiam que ele fizesse mais do que dobrar e esticar as falanges.

A mão de Rick de aproximara de seu rosto, a uma velocidade que só fora possível enxergar sua sombra. Punch. O soco lhe trincara um dos dentes, e um novo corte no céu de boca fora gerado.

— Achei que teríamos uma conversa, Rick... – O cirurgião cuspira um bom bocado de sangue para o lado – Eu já falei tudo o que sei, xerife... Essa Imperatriz, que nada mais é do que a liderança maior de uma comunidade há... – O médico fizera uma cara feia, limpando o restante de sangue em sua boca com a língua – Alguns quilômetros a oeste daqui. Esse grupo me encontrou no meio da estrada, me interrogaram por dias... Eu nem sei dizer ao certo o que disse a eles...

O xerife abrira um sorriso sarcástico.

— Pelo visto o bastante para saberem exatamente onde fica a nossa comunidade – Ele puxara o banquinho mais uma vez, ficando ainda mais próximo do médico – Eu não acredito em uma só palavra que você me diz... Não confio em você, e nada pode me garantir que não está trabalhando para eles! Eu não vou deixar você sair daqui, Vincent. Não até descobrir tudo sobre essa Imperatriz e a mensagem endereçada a mim.

...

— Pelo que você falou, Alexandria possui padrões muito específicos de segurança – Destacara Hanso, observando o mapa, onde Desmond circulara com caneta a localização de sua antiga comunidade – Como acha que poderemos contornar tudo isso?

Hall meneara a cabeça.

— Enquanto eu estava lá lembro de Rick ter desenvolvido um sistema de trincheiras, para tentar afastar os errantes... – O médico apontara para o mapa com o indicador, circundando a área já demarcada – Eles cercaram um grande perímetro com carcaças de carros, tentando criar um labirinto que impedisse qualquer aproximação... Ah, e é claro, eles também tem observadores em uma torre e sobre os muros...

Eloise, que até então apenas observava as palavras de Hall, manifestara-se pela primeira vez.

— Você será o nosso cavalo de Tróia, senhor Desmond... Iremos distrair Rick Grimes, criar uma incógnita em sua cabeça, fazer com ele imagine que o perigo possa surgir a qualquer momento! Assim que ele reforçar a segurança, você nos passará exatamente todas as posições de suas defesas, e então o restante do grupo irá agir.

Hall coçara a testa.

— Não sei... – Por pouco ele não tropeçara nas palavras, pronunciando o nome de Eloise – Minha Senhora... Não irão acreditar em mim... Grimes mandará que me prendam, e provavelmente utilizará de seus métodos particulares de interrogatório... Para o seu plano funcionar, eu precisarei estar livre.

Eloise voltara-se para ele, fitando-o com objetividade.

— Senhor Desmond... – Ela piscara duas vezes, limpando a garganta antes de prosseguir – Primeiro de tudo o senhor deve se lembrar que precisa ganhar a confiança de Rick Grimes. Se ele acreditar em você o deixará livre, e aí tudo ocorrerá exatamente como planejado.

Hall seguira nervoso, não parecia nada confiante.

— Eu não sei... Já faz um tempo... Eu não era próximo ao Rick, não sei se ele conseguirá confiar em mim, eu...

A Imperatriz segurara a mão de Hall por baixo da mesa. O médico assustara-se, olhando para ela imediatamente.

— Tem certeza que já me contou absolutamente tudo sobre sua antiga vida em Alexandria? Senhor Desmond... O senhor está ciente da gravidade de nossa situação, então, por favor... Conte-me tudo.

...

— Rick, por favor... – Vincent tossira mais algumas vezes. Sua garganta parecia estreitar-se e a cada vez que tentava engolir um pouco da própria saliva, era como se estivesse ingerindo um pedaço de concreto – Você não vê o quanto isso é loucura? Eu não represento mal algum, nunca representarei... Olha para mim, acha que eu poderia fazer alguma coisa?

O xerife apenas o fitava.

— Eu fugi daqui porque estava com medo... Eu não sabia o que fazer. Eu só sou a porra de um covarde... – O médico respirara profundamente – Olha para o meu rosto. Não foi você que fez isso comigo, foram eles! Eu não lembro ao certo o que aconteceu, mas provavelmente devo ter dito a localização dessa comunidade em meio à tortura...

Hall abaixara a cabeça, ofegante.

— Eu não sei o que essa mensagem quer dizer... Eu não consigo me lembrar da Imperatriz, eu... Preciso que confie em mim, Rick. Por favor...

O policial seguira calado. Rick estava diferente, parecia mais odioso, mas tenso e preocupado do que Hall conseguia se lembrar. O cirurgião sabia que seria bastante difícil dobrá-lo, mas precisava tentar. Precisava completar sua missão.

Rick cerrara os punhos, erguendo-se do banco em que sentara e olhando fixamente para Vincent Hall. O médico se preparara para receber mais um de seus socos, que comparados aos de Hanso, até que eram leves. O policial o fitara por alguns segundos, antes de dar as costas e sair da saleta, fechando a porta e o deixando na total escuridão.

Vincent tentava se mexer, tentava de alguma forma afrouxar o nó que prendia os seus punhos na cadeira de madeira. Dez, vinte, trinta minutos e nada. Hall já estava estafado, e até então estava longe de conseguir se libertar.

A sensibilidade em seus dedos diminuía cada vez mais por conta do corte do fluxo sanguíneo naquela região. Seu rosto não doía mais, parecia anestesiado após tantos golpes recebidos. Por um breve segundo Vincent lembrara-se de Lizzy, e imaginara o que estaria se passando com a garota, sozinha outra vez no Garden.

Faça. Abandone. Outra vez.

As vozes. As malditas vozes haviam retornado após breves momentos de paz dados ao cirurgião. Julia, como sempre a porta voz de sua loucura, não tardara em se manifestar mais uma vez.

Você mente tão bem, Vincent! Parece que finalmente encontrou algo em que é realmente bom! O que pretende fazer depois? Deixar que matem todos eles? Acha mesmo que terá coragem de fazer isso?

Dessa vez não havia como tapar os ouvidos. Hall então fechara os olhos, pressionando-os com força contra as próprias pálpebras.

Faça. Mate. Outra vez. Não foi assim que você fez com Annette?

Vincent estava dispneico. Tentara puxar a respiração somente pelo nariz, buscando acalmar-se lentamente.

Não foi assim que você fez comigo?

A porta da saleta se abrira repentinamente. As vozes desapareceram no mesmo instante. Em meio às sombras, Hall detectara uma conhecida silhueta. Alguém que ele já esperava que viesse ao seu encontro.

...

— Mas quem diria... – Eloise sorrira de forma irônica, ainda encarando Hall, que buscava evitar o seu olhar – É difícil acreditar que o Doutor Desmond aqui tenha quebrado tantas normas éticas e morais... Interessante, muito interessante.

— Acha que a garota irá até você? – Agora fora Hanso que o encarara.

Vincent estava hesitante, sentia-se traindo os seus próprios princípios. O médico se encontrava extremamente confuso, sem saber ao certo o que fazer. Ele queria fugir, queria mais uma vez abandonar as responsabilidades. Mas dessa vez era diferente, não havia como escapar.

— Sim... Ela vai querer falar comigo, temos assuntos pendentes...

A Imperatriz seguia sorrindo, parecia admirada de alguma maneira.

— Bom... – A mulher aprumara-se – Use-a como o seu plano B. Faça com que ela a liberte... Você vai saber o que fazer! – Ela lhe lançara um olhar, de cima a baixo. O médico novamente fugira, evitando encarar Eloise – Ao que parece, pelas histórias que nos contou, há alguma coisa em você extremamente irresistível! – Hall percebera o sarcasmo seco – Assim que estiver livre precisará encontrar alguma forma de avisar o grupo tático, para que eles possam agir.

Hanso, que permanecia de braços cruzados, voltara a falar.

— Sua prótese pode escamotear esse pequeno rádio comunicador... – O gigante austríaco colocara sobre a mesa um pequeno walkie talkie – E esse sinalizador, para efetuarmos a segunda parte da missão.

O homem de confiança de Eloise colocara ao lado do rádio, uma pistola sinalizadora náutica.

— Estaremos em um caminhão, apenas aguardando o seu sinal – A Imperatriz voltara a mostrar total seriedade outra vez – Quando o grupo tático tomar a comunidade precisarei que você acalme as coisas, e os impeça de fazer qualquer besteira. Depois nós assumiremos.

Vincent suava frio. Parecia estar imerso em um pesadelo, um do qual não havia como acordar. Não importava o quanto se martirizasse, qualquer decisão que tomasse naquele momento representaria um grande risco a um grande número de pessoas.

— Será fácil, Desmond! – Exclamara Hanso. Os olhos semicerrados encarando o médico – Não se preocupe, tudo dará certo! Basta seguir todas as nossas instruções.

...

— Leah... – A voz do médico saíra quase como um suspiro, um sopro em meio à exaustão de seu corpo, um alívio ao ver a imagem da doce jovem Fisher.

Já fazia algum tempo, tempo demais. Mais parecia que anos haviam se passado desde que Hall vira a menina loira pela última vez. Com uma bandeja em mãos, a garota utilizara o mesmo banquinho em que Rick Grimes sentara-se para se achegar próximo ao cirurgião, ainda calada.

Os olhos cintilantes, brilhando a meia luz da fresta da porta do depósito, que iluminava parcamente a sala onde Vincent encontrava-se aprisionado, fitavam o médico de uma forma indescritível. Hall sorrira, aliviado por vê-la outra vez, nem que fosse uma última vez.

Vincent não mais acreditara que aquilo fosse possível. Quando fugira de Alexandria, jamais imaginou que um dia voltasse a se encontrar com Leah Fisher. O seu coração palpitava, pulsava em um ritmo descompassado e acelerado.

Havia tanto o que falar, tanto pelo que se desculpar. Se não estivesse amarrado, preso a cadeira pelos nós de Tom Price, Vincent provavelmente pularia nos braços da adolescente, abraçando-a de uma maneira que nunca fizera.

Ele não tinha mais dúvidas. Pela primeira vez ele sabia exatamente o que queria.

— Eu pedi a Rosita que me deixasse trazer comida e água pra você... – A menina piscara algumas vezes, respirando profundamente em seguida – Muitas coisas mudaram desde que você foi embora...

Hall abaixara a cabeça. Notara a amargura nas palavras da jovem Fisher.

— Leah, eu preciso...

A adolescente ignorara suas palavras, prosseguindo, segura de si mesma.

— Carl desapareceu essa tarde. Rick passou a noite procurando por pistas, mas só o que encontraram foi você... Abandonado na floresta. Ele não está em seu estado normal... Ele vai matar você se te considerar uma ameaça... Apesar de tudo – Pela primeira vez ela se mostrara relutante – Eu sei que você não é uma ameaça.

As palavras pesaram na consciência do confuso médico. Ele já imaginava que fraquejaria diante da presença de Fisher, mas não imaginou que vê-la outra vez o afetaria tanto. As vozes que o perturbavam já haviam cessado, mas sua loucura intrínseca seguia martelando sua mente. Como se quisesse se libertar de um casulo.

Ela então colocara a bandeja no chão, retirando da cintura uma faca, magistralmente utilizada para libertar Hall das amarras. Agora livre, o médico finalmente conseguira recuperar a sensibilidade na ponta dos dedos, praticamente perdida por conta das cordas em seu pulso.

— Eu sei de uma rota segura para te tirar da comunidade – A menina retomara a fala – Você conseguiu sobreviver uma vez, vai conseguir de novo – Antes mesmo que Vincent a questionasse, Leah se adiantara – Rick não fará nada comigo, além de questionar os motivos de eu ter te libertado... Quanto a isso eu tenho um álibi.

Ela seguira.

— Rick está ocupado demais traçando rotas para seguir procurando por Carl. Essa é a prioridade dele!

Vincent percebera o quanto a menina conseguira evoluir, mais até do que ele próprio imaginava. Leah parecia mais madura, mais segura de si, mais pronta para o cruel novo mundo. Havia algo de diferente nela, algo que ele não havia conseguido identificar.

— E ainda tem o Negan...

Hall arregalara os olhos. O seu coração acelerara ainda mais.

Negan também havia subjugado Alexandria. Agora tudo se modificara, o plano inteiro não parecia mais fazer sentido.

...

— Me chamou, senhora?

Vincent adentrara o escritório de Eloise, o já conhecido cômodo dentro da choupana imperial. Com sua prótese engenhada, ela sinalizara para uma cadeira, posicionada exatamente a sua frente, separada apenas por uma mesa de madeira.

— Sim... – Respondera. Ela parecia cansada – Nossa conversa ontem me pareceu bastante proveitosa. Pelo que percebi, Alexandria é um reduto seguro, comandada por um homem inteligente e que aparentemente deseja prosperar cada vez mais.

Hall apenas balançara a cabeça de forma positiva. Ela então voltara a falar.

— Bom, senhor Desmond, como outrora o senhor me questionara a respeito de nossos negócios com Negan e os Salvadores, acho que é mais do que justo que eu também lhe faça mais algumas perguntas.

Vincent não compreendia onde a Imperatriz queria chegar.

— Eu já lhe disse tudo sobre minha antiga comunidade, e como eu vim parar aqui... Não há nada de novo que eu possa lhe contar.

— Sempre há, senhor Desmond... Sempre há. Eu irei lhe confidenciar algo muito particular agora, algo que apenas os meus homens de confiança tem acesso – Ela fizera uma breve pausa – Eu tenho conduzido essa comunidade desde que ela se ergueu em meio a esse bosque, desde quando fazíamos perímetros com latas em arames para sabermos se os errantes estavam se aproximando...

— Erguemos os muros, construímos as casas, aceitamos mais pessoas... O Garden finalmente se tornou um lar! Um verdadeiro jardim, como o próprio nome sugere! O problema é que os Salvadores vieram, mataram três dos nossos, sequestraram a filha de Hanso e nos ensinaram que devemos seguir suas normas, ou então sofreremos as consequências...

Vincent ouvia a tudo atentamente.

— Você já deve me conhecer o bastante para saber o quanto é difícil admitir isso, mas... Eu não posso fazer nada quanto ao domínio de Negan, apenas obedecê-lo, por mais doloroso que seja isso! Mas nos últimos meses, tudo ficou muito complicado... Muito complicado.

Com o gancho de sua prótese, a Imperatriz conseguira pegar um copo que repousava sobre a mesa, levando-o até a boca e bebendo o licor que nele continha.

— As missões até Washington já nos custaram algumas vidas, e os resultados, com os saques de mantimentos não tem sido satisfatórias. O senhor mesmo viu o que ocorreu com Marsha e a Ucraniana...

— Nossas plantações e criações de animais não estão mais dando conta para nos alimentar e ainda fornecer tributos a Negan. Uma doença acometeu os nossos porcos, e o frio já acabou com boa parte dos legumes.

Vincent limpara a garganta, preparando-se para falar.

— Ainda não consigo entender onde eu entro nessa história.

O gancho agora tocara de leve o antebraço do cirurgião.

— Preciso que você me ajude, Desmond. Preciso que me ajude a invadir e saquear Alexandria!

...

Vincent caminhara até Leah, tocando o seu ombro.

— Me deixe falar... Me deixe falar tudo de uma vez – Ela o olhara, permitindo que ele se manifestasse – Quando eu fui embora, eu não estava fugindo de você... Eu queria fugir de mim mesmo, da minha covardia, minha falta de decisão! Eu sei que desapontei você muitas vezes... Na verdade, eu já desapontei muitas pessoas durante toda a minha vida, mas... Eu nunca, jamais quis magoá-la!

Ele precisava fazer, talvez fosse sua última chance.

— Tudo o que eu fiz, todas as vezes que eu te machuquei... Foi por medo. Medo de estragar tudo, medo de que aquilo não passasse de um sonho, como uma bolha de sabão reluzente, que uma hora sempre estoura.

Os olhos de Fisher pela primeira vez desviaram-se.

— Eu queria cuidar de você, eu queria você... Talvez eu seja para sempre o mesmo covarde especialista em fazer uma burrada atrás da outra, mas ainda assim eu preciso que você me perdoe... Eu gostaria muito de poder corrigir todos os meus erros, de simplesmente passar uma borracha por cima de tudo. Mas eu sei que não é possível...

— Eu não sei por que eu me policiei durante tanto tempo, tendo medo de dizer isso, lutando de forma inútil contra algo que eu simplesmente deveria ter aceitado... – Suas mãos tocaram os claros fios de cabelo de Fisher – Eu ainda estava preso à memória de uma pessoa... Uma pessoa que eu perdi por cometer os mesmos erros que cometi com você, e eu não quero que isso se repita...

— Eu estou pronto, sei que estou... Eu te amo, Leah!

Era a primeira vez que tais palavras saíam de sua boca. Vincent sentia-se aliviado, como se tivesse retirado um grande peso das costas. Sentia-se mais leve, mais corajoso por não mais se deixar levar por sua covardia. Ele sabia exatamente o que dizia e o que queria. Agora só faltava a resposta.

Lágrimas escorreram pelos olhos de Leah, que tentara manter-se firme ante a declaração de Vincent. Ela virara de costas, afastando-se de Hall que ainda tentara se reaproximar, sendo refutado por um gesto de mão. Ela então enxugara os olhos, tentando recuperar-se, respirando profundamente antes que voltasse a falar algo, visivelmente emocionada.

— Eu estou grávida, Vincent... Eu estou grávida do Tom – Sua voz tremelicara – Eu segui em frente, acho que você deveria fazer o mesmo!

Hall manqueteara, dando um passo para trás. Sua cabeça girara e o seu coração parecia ter parado de bater. Toda a dor contida em seu rosto, decorrente das inúmeras pancadas pareciam ter sido transferidas para a cabeça, que agora latejava como nunca antes. Suas mãos tremiam, enfraquecidas pela notícia que lhe caíra como uma explosão de uma bomba de hidrogênio.

A cratera que se formara em seu peito parecia ter consumido todo o seu interior, lhe arrancando o coração, de uma forma totalmente vil e cruel. As lágrimas produzidas por seus lacrimais escorreram por seu rosto inchado como o Niágara em seu ápice. Ele não conseguia mais pensar em nada. Era como se não estivesse mais ali. Era como se não estivesse mais vivo.

— Não podemos perder mais tempo... – Fisher olhara para o teto, evitando qualquer contato visual com Hall – Vem comigo, eu vou te tirar de Alexandria... E aí você poderá seguir o seu caminho. Se você ficar, não sei o que Rick poderá fazer com você...

O médico apoiava-se em uma das paredes, totalmente sem chão. Milhares de pensamentos começaram a lhe tomar a mente, em uma sequência de eventos que pareceram conspirar até aquele instante, como se tudo tivesse sido miraculosamente planejado para a sua queda.

— Não... Você não pode me deixar ir... – Leah, virara-se em sua direção, sem conseguir entender sua insistência – Eu sou uma ameaça para você e o seu filho... E você precisa me ajudar a impedir que coisas muito ruins aconteçam!

Hall não deixara que Fisher se manifestasse, precisava contar tudo. Ir até o fim.

— Se você me deixar sair... – Vincent sentara-se, retirando a prótese de madeira de sua perna decepada. Ele retirara do interior da estrutura uma pistola alaranjada e um pequeno rádio comunicador – Eu irei passar uma mensagem para um homem chamado Bill Flood, um excelente atirador que está escondido em um ponto estratégico, em meio à mata próxima aos muros... Eu então vou passar a ele a localização de todos os sentinelas, que facilmente serão exterminados por sua mira perfeita...

— Antes mesmo que haja qualquer tipo de reação – O cirurgião prosseguira, os olhos totalmente sem vida encarando a jovem loira que parecia perplexa – Marsha e J.J. Cheever invadirão a comunidade pelos muros, em um ponto cego, praticamente ao mesmo tempo em que Bill agirá... A essa altura eu já terei passado a eles a localização do arsenal, e sei que não será difícil passarem pela proteção de Olivia.

Vincent colocara novamente sua prótese, encaixando-a no coto.

— Estando com o controle das armas, não será difícil tomar alguns reféns, e então eu irei disparar esse sinalizador – Hall erguera a pistola – Avisando a Imperatriz que o plano funcionou... Ela então virá com um veículo maior, obrigando Grimes a lhe entregar as armas e os mantimentos...

Leah parecia não acreditar nas palavras que os seus ouvidos captavam.

— O Garden está sob o julgo de Negan e os Salvadores, e a comunidade não está mais conseguindo a quantidade suficiente de suprimentos para ceder a eles... A Imperatriz julgou que essa seria a única forma de proteger a comunidade, de impedir que Negan assassinasse mais pessoas, como já fizera antes... Só que agora tudo mudou.

Totalmente anestesiado, Vincent começara a juntar as cordas que outrora o prendiam, enrolando-as em suas mãos.

— Eu não sabia que Alexandria também respondia a Negan, não imaginava que o seu poder havia chegado até aqui. Minha missão era convencer Rick, tentar resolver as coisas sem que nenhuma vida se perdesse, mas logo vi que seria impossível – O médico fizera uma breve pausa, fechando os olhos por alguns instantes – Eu vi o quanto ele estava diferente, o quanto parecia transtornado. Eu sei, pois já vi aquele olhar muitas vezes... Eu não ia conseguir convencê-lo a ceder mantimentos ao Garden, não depois de tudo o que você me falou...

— Era aí então que eu deveria acionar o plano B, executar da forma que Eloise ordenou...

Leah passara as mãos nos cabelos, arrumando-os nervosamente.

— Desde quando você passou a ser tão fiel a essa Imperatriz? – Sua voz exalava indignação – Você ia mesmo matar os nossos sentinelas? Os seus amigos? Pessoas que você conheceu muito antes de fugir para esse Jardim? Pessoas que confiam em você... Ou pelo menos confiavam...

— Eu nunca ia deixar que nada de ruim acontecesse a você, e eu não queria que nada de ruim acontecesse a ninguém aqui, mas... Eu não tive escolha! – Defendera-se – Eu não quero que Alexandria sofra assim como não quero que o Garden sofra! Há consequências para os dois lados, e sempre irá haver... Eu só precisava escolher um deles.

— E qual lado você escolheu? – Indagara Fisher.

Hall fitara o solo.

— Eu fiz minha escolha, mas agora as coisas mudaram... Muitas coisas mudaram – Ele olhara novamente para Leah – Preciso que me ajude a corrigir mais uma das minhas burradas, e dessa vez ninguém além de mim precisará pagar por um erro meu.

[...]

Andrea já estava dormindo. Pegara no sono tal qual uma pedra, como sempre. O dia fora bastante cansativo e parecia não querer acabar. A madrugada fria acusava que aquela seria uma longa noite para Rick Grimes. Uma noite em que ele estaria totalmente refém de seus próprios pensamentos.

Olhando fixamente para o teto, o policial não conseguia retirar de seu peito a angustia pelo desaparecimento de seu filho, ainda sem explicação. Durante as boas horas em que os dois grupos de buscas vasculharam a região próxima, nenhuma pista fora encontrada. A não ser é claro, por um estranho pacote enviado pela autointitulada Imperatriz do Garden.

O que agora se tornara sua mais nova preocupação.

Já não bastava Negan e seus Salvadores, Rick precisaria agora atentar-se a mais uma ameaça de invasão? Ameaça essa vinda de um inimigo totalmente incógnito, do qual nada sabia, com exceção do médico que fora devolvido junto à enigmática mensagem.

Retorno ao remetente.

O xerife ainda não sabia o que fazer com o Doutor Vincent Hall, mas com toda a certeza, se o mesmo representasse qualquer tipo de ameaça a sua comunidade, seria morto sem que fosse necessário pensar duas vezes. Afinal, confiança não era algo que Rick distribuía gratuitamente, e o médico perneta não havia recebido tal regalo.

Todo cuidado era pouco.

Enquanto seguia encarando o teto, o policial notara uma aproximação em meio às sombras, deslizando rente a parede de seu quarto. Antes que tomasse qualquer medida defensiva, ouvira um sussurro lhe chamar a atenção.

— Rick, acorde.

Grimes erguera o tronco, encarando o rosto de Jesus, que agora se mostrara diante da pouca luminosidade do cômodo. Paul parecia cansado, o rosto estava sujo de poeira e os longos cabelos totalmente arrepiados.

Rick o encarara, pedindo silêncio com o indicador sobre os lábios, e em seguida verificando Andrea, que seguia dormindo, sem perceber a chegada de Monroe. O xerife então sinalizara para que os dois saíssem do quarto, evitando despertar sua companheira.

A porta do quarto fora fechada com cuidado, Rick e Jesus caminharam alguns passos no corredor, dirigindo-se até a escada.

— Desculpe Rick, eu não queria acordá-lo, mas imaginei que gostaria de saber o que eu descobri...

Grimes puxara o diplomata pelo colarinho, empurrando-o com força contra a parede. Seus olhos raivosos o fitaram antes de esbravejar.

— Como entrou aqui?

Jesus segurara a mão de Rick, tentando acalmá-lo.

— Isaiah abriu os portões para mim... Sua porta estava destrancada, mas, se isso te faz sentir melhor, posso dizer que bati três vezes antes de entrar! – O xerife seguira o fitando, cerrando os dentes enquanto tentava controlar a respiração – Rick, eu achei o Negan... Eu descobri onde os Salvadores se escondem!

O policial o soltara, abismado. Um filete de esperança começara a crescer em seu peito.

— Você viu o Carl, sabe onde ele está?

Paul arqueara uma sobrancelha, parecia confuso.

— Onde? No quarto dele? – Questionara Jesus.

Rick suspirara profundamente. Por breves instantes o policial acreditou que Monroe tivesse encontrado o seu filho, trazendo-o de volta para ele. Todo o misto de preocupação e tristeza viera à tona novamente. Ele sabia que precisava ser forte.

— Negan veio até aqui... Recolheu os tributos, exibiu toda a sua força e depois foi embora... Logo depois disso, Carl desapareceu. Acho que ele o levou, de alguma forma ele... – Grimes levara a mão esquerda até a cabeça, passando os dedos sobre os cabelos – Eu não disse nada a ninguém a respeito disso, montei dois grupos de busca e mandei um deles até a floresta, para despistar... Andrea, eu, Michonne e Isaiah seguimos até a estrada, estava tentando encontrar alguma pista que pudesse me levar até ele, mas... Não consegui nada.

O policial soltara um riso nervoso.

— O grupo que estava na floresta foi presenteado com um pacote, e por mais absurdo que pareça havia um homem dentro dele, um ex-membro do nosso grupo que havia desaparecido já há algum tempo... Junto com ele estava um bilhete que dizia apenas “Retorno ao remetente”, e era assinado por um pseudônimo... Imperatriz do Garden!

Jesus coçara a barba, aquele título lhe parecia familiar.

— Eu conheço o Garden – Dissera, retirando o gorro logo em seguida – Eu representava o Hill Top em negócios com aquela gente, assim como fazemos com vocês... Imperatriz é a chefe do lugar, mas eu não tratava diretamente com ela... Eu era sempre recebido por um cara grandão... – Paul meneara a cabeça, parecia tentar recordar-se de algo – Como era mesmo o nome dele... Ah, sim, Hanso! Ou algo desse tipo...

O diplomata seguira.

— Nós cortamos os negócios recentemente, pelo que sei eles estavam com problemas nas plantações...

Três batidas na porta de entrada da residência cortaram imediatamente a conversa entre os dois homens. Rick e Jesus desceram as escadas, direcionando-se até o local. O policial girara a maçaneta, e percebera que as surpresas daquele insano dia ainda estavam longe de cessar.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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