All Out War escrita por Filho de Kivi


Capítulo 3
Stranger in a Strange Land


Notas iniciais do capítulo

Anteriormente

Aaron e Eric conseguiram convencer o grupo de Tom a juntar-se a eles. Após uma breve viagem de carro, atestaram que a comunidade, chamada Alexandria, era realmente real. Agora o próximo passo será encarar o líder desse lugar, um distinto homem de nome Rick Grimes.



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O detalhe que mais chamou a atenção de Tom, ao ser levado até a residência do senhor Grimes, foi a tonalidade azul marinho das paredes. Ele poderia ter se fixado nas escadas de madeira colonial, nos quadros abstratos e fotos de família pregueados ao redor da lareira, no carpete indiano recobrindo o chão da sala de estar, ou na cozinha extremamente organizada e limpa, mas o que mais o deixara de queixo caído, estranhamente, foram as cores das paredes. Durante todo o trajeto de sobrevivência, era comum arrombar casas em busca de abrigo e alimento, e depois de meses e meses se habituando a isso, entrar em uma como convidado, pela porta da frente, era algo que já parecia fora do comum. Ver um lugar tão organizado, com a tinta das paredes ainda viva, era o mesmo que entrar em um vortex temporal, como se Alexandria fosse uma bolha de civilização dentro de um mundo inteiro derretendo sobre o próprio caos.

Seus passos lentos ecoavam pelo assoalho, o seu olhar arregalado e perdido, assemelhava-se a uma criança tentando entender um novo brinquedo. Depois de tanto tempo sem contato com algo que lembrasse minimamente a civilização de outrora, Tom parecia ter se tornado um selvagem, e a dificuldade agora, seria fazer com que esse lado animalesco e predatório fosse esquecido, pelo menos por hora. Sem saber como se portar diante dessa nova situação, o soldador apenas seguiu escaneando com os olhos toda a dimensão da residência, aguardando que algo ocorresse, esperando por um sinal.

O som oriundo do andar de cima denotava que alguém estava se aproximando, os passos, compassados e firmes, pareciam avizinhar-se da escada, alguém estava se dirigindo até ele. Tom não sabia como agir, por exigência de Aaron, todos precisaram entregar suas armas, apesar de que sua ruger sem balas não faria muito efeito naquele momento. De guarda armada, Price seguia firme, tentava passar confiança para si mesmo e naquele momento, mil coisas rondavam sua mente. É fácil imaginar centenas de formas diferentes de ser assassinado quando o perigo parece eminente, e mesmo sem tem certeza alguma do que poderia acontecer, seu sentido de alerta fora um dos fatores que o mantivera vivo até esse momento, certamente ele não falharia agora. Os passos tornaram-se mais constantes até assumirem a forma de uma silhueta, que passou a descer as escadas de forma calma e despreocupada.

̶ Você é Rick Grimes? – Indagou Tom ao homem ainda em meio às sombras. Uma voz imposta, ecoando em meio à penumbra, sanou as dúvidas daquele que acabara de questionar.

̶ Olá, bem vindo a Alexandria!

Grimes desceu as escadas sorrindo amistosamente. O homem de aparentes quarenta e poucos anos trás em suas feições os sinais de que assim como Tom e os outros, também lutara pela vida durante todo esse tempo. O rosto magro, preenchido por algumas cicatrizes abaixo dos olhos pequenos e claros, se mostrava um pouco mais abatido por conta da barba rala que já começava a tomar conta de seu rosto, provavelmente ele barbeara-se há pouco tempo. Os cabelos castanhos claros, lisos e curtos jogados sobre a testa marcada pelos sinais de idade e cansaço davam a ele a exata imagem que um líder precisava ter, pelo menos era o que Tom achava. O casaco negro de inverno, fechado sobre uma camisa branca e a calça jeans com suas barras sobre uma bota preta, completavam o visual do homem que aparentemente era o mandatário daquele lugar. Por baixo das mangas longas, o detalhe mais importante da aparência de Rick pôde ser percebido por Price, sua mão direita fora amputada exatamente na articulação entre os ossos do carpo com o rádio e a ulna.

̶ Heath me avisou por alto sobre a chegada de vocês... – Disse Rick esticando a mão esquerda em sinal de cumprimento.

̶ Oi... – Responde Tom de forma tímida, aceitando o cumprimento em seguida – Sou Tom... Tom Price – O homem aperta sua mão fortemente, balança a cabeça de forma positiva e assevera em seguida:

– Me acompanhe, precisamos conversar...

Os dois se dirigem até a aconchegante sala de estar, com um gesto, Rick indica um lugar no sofá para Tom sentar-se, acompanhando-o de perto, o líder de Alexandria recosta-se em uma poltrona a frente de seu convidado.

̶ Aaron deve ter explicado a vocês sobre o que é esse lugar, e como nos esforçamos para mantê-lo assim... – Rick gesticula com o coto – Tudo isso que estamos fazendo agora pode parecer estranho, mas é para a segurança do nosso povo. Temos casas, água encanada e energia elétrica o suficiente para manter algumas lâmpadas acesas, o que já é grande coisa... Além disso, sei como é difícil conseguir comida aí fora... – O homem passa a ponta dos dedos levemente sobre o queixo, suas feições parecem mudar – Acredite, não estou aqui desde que tudo começou, assim como vocês eu já fiquei bastante tempo na estrada e sei bem o quão difíceis são as coisas por lá. Se escolherem ficar, não terão mais esses problemas... Apenas terão que cooperar, é claro...

̶ É nesse ponto que quero chegar... – Interpõe-se Tom – Você disse que já esteve na estrada, e pelo cotoco aí, com certeza você deve estar falando a verdade – Ele aponta para o antebraço direito de Rick – Mesmo assim, com todo esse lugar... – Tom gesticula agora com os braços abertos – Você convida pessoas estranhas pra cá? Se você viu o que eu vi lá fora, acharia todo esse papo muito esquisito...

Grimes sorri, apesar de toda a desconfiança do homem que se prostra a sua frente, Rick parece ver algo de valioso nele, como se tivesse a certeza que ele ‘é o cara certo para o trabalho certo’.

̶ Entendo suas questões... Cheguei com essas mesmas dúvidas aqui, mas com o tempo percebi o potencial desse lugar... Ainda tem muito a ser feito, e o motivo de recrutarmos mais pessoas é justamente o fato de querermos ampliar nossa comunidade, fazer de Alexandria verdadeiramente um lar! Isso... – Rick ergue o antebraço ausente de uma mão – É um sinal de que é preciso ter muito mais cuidado com os vivos do que com os mortos... Seguimos muitos protocolos por aqui, não colocamos qualquer um portão a dentro... – Ele agora abaixa o olhar em sinal de pesar – Tivemos problemas com alguns milicianos recentemente, sabemos o quanto as pessoas se tornaram perigosas, acredite, não estariam aqui se Aaron e Eric não tivessem certeza de que são de confiança... E eu dou bastante crédito para o crivo dos dois!

Tom respira profundamente, as palavras ditas de forma sempre segura pelo homem que em momento algum demonstrou animosidade, começavam a convencê-lo. Talvez estivesse na hora de baixar um pouco a guarda e deixar as coisas rolarem, dançar conforme a música. Após uma breve pausa, Price manifesta-se em forma de indagação:

̶ E como poderíamos ajudar?

Rick abre os braços brevemente e balança a cabeça de forma positiva antes de responder:

̶ Só preciso fazer algumas perguntas... – Tom concorda, Rick prossegue – O que você fazia antes do fim do mundo?

̶ Eu era soldador em uma fábrica... – Responde Tom – Trabalhava igual um cachorro vira-lata pra receber uma merreca no final do mês... – Um sorriso brota em seu rosto, ele percebe que chega a ser engraçado nos dias atuais parar para reclamar de salários – Enfim, fora isso, fazia alguns bicos... Fui ajudante em obras, carregava móveis para o caminhão de mudança, esse tipo de coisa...

̶ Imagino que você seja bom em eliminar errantes...

̶ Claro... – Tom bufa de forma irônica – Tínhamos o Goodwin e o Mike, mas os perdemos... – Suas feições se fecham novamente – O Doc, Vincent, nunca foi bom em enfrentar essas coisas, até perdeu uma perna pra um desses cabeças-ocas... O cara é bom, conseguiu cuidar do próprio ferimento! – Ele faz uma breve pausa – Amanda também me ajudava na limpeza do acampamento, quando precisávamos. Leah é só uma menininha assustada e Susie acabou de dar a luz... Foram tempos difíceis lá fora, senhor Grimes...

Rick ouve atentamente cada palavra dita por Tom, o interrogatório sumário, ao que tudo indica, deve fazer parte do já citado sistema de integração de novas pessoas. Para designá-los para as suas futuras funções, era antes preciso conhecê-los, saber quem eram e o que se tornaram, para espremer dali, o que cada um pode fazer de melhor.

̶ Acho que tenho o trabalho certo pra você Tom Price... Irá trabalhar na construção dos muros! Hoje em dia é um dos trabalhos mais importantes, estamos ampliando nossa comunidade, creio que em algumas semanas teremos casas o bastante para todos nós de forma individual – Rick para por poucos segundos – Por ora, terão que dividir a mesma residência, não se preocupe, todas elas tem dois andares e quartos suficiente para todos vocês... Amanhã cedo você deve se apresentar no portão de entrada, você responderá a Abraham a partir de agora, ele lhe ensinará tudo o que precisa saber sobre a sua função... – Tom nada diz, Rick sorri brevemente – Seja bem-vindo a Alexandria, Tom Price!

A noite chegou sem avisos e de forma fria e triste. O lugar, cercado por todos os lados, fechava-se em um silêncio quase sepulcral, apenas algumas pessoas seguiam caminhando pelas planas e estreitas ruas da comunidade, tentando dar as suas vidas uma normalidade que há muito se perdera, como se esses pequenos gestos fizessem todos os problemas vigentes desaparecerem. As casas, todas planejadas para serem exatamente umas iguais as outras, mais pareciam fazer parte de uma maquete ou uma daquelas cidades teste de bomba nuclear. As luminárias a frente das residências, altivas sobre os postes de ferro estilo século dezoito, tentavam manter-se acesas, iluminando pifiamente aquela minúscula região frente a um mundo inteiro tomado pelas sombras. Alexandria, assim como todas as cidades antes do caos, também tinha seus momentos rotineiros. O mandatário dali, Rick Grimes, seguia todas as noites com suas rondas pelas ruas e vielas, acompanhado de perto por uma mulher negra nem um pouco falante, vestindo-se com um uniforme semelhante ao de seu parceiro de guarda, com apenas uma diferença, no lugar da pistola sobreposta em um coldre na cintura, ela guardava nas costas uma katana samurai.

Tom estava de pé, a frente da casa que acabara de ocupar junto com o grupo, ainda tentando digerir tudo o que ocorrera em um espaço de tempo tão pequeno. Seus olhos dirigiam-se para o jardim, ainda tentando entender como tudo aquilo conseguira ficar de pé por tanto tempo. Ele já tinha se acostumado com a ideia de que tudo nunca mais voltaria a ser como era antes, e adaptar-se agora a essa nova forma de viver exigia dele uma força de vontade que Price julgava inexistente. Em seus devaneios, era como se o apocalipse tivesse ocorrido novamente, só que dessa vez, as coisas não estavam virando de cabeça para baixo, e sim, estranhamente se concertando, mesmo que o concerto fosse um remendo, que pode se romper a qualquer momento. Passos descompassados são ouvidos vindos de suas costas, a porta da residência é aberta, e por ela, Vincent, usando um calção azul marinho um pouco abaixo do meio das coxas e uma camisa de algodão branca, sai em direção ao amigo, ainda preso em sua própria confusão mental.

̶ Insônia? – O homem manca enquanto sua perna de pau bate sobre a calçada de pedra ao ritmo de seus passos.

̶ Tanto tempo sem dormir dá nisso... – Responde Tom, Vincent posiciona-se a seu lado – Ainda não consigo acreditar que tem uma cama me esperando...

Os dois sorriem, Vincent toma a palavra:

̶ A minha entrevista foi com aquela garota loira... – O cirurgião arqueia as sobrancelhas tentando lembrar-se do nome – Andrea! Ela deve ser a segunda no comando aqui... O xerife estava muito ocupado, no fim das contas, acho que você foi o único a tratar diretamente com o senhor Grimes...

̶ Você também ganhou um trabalho?

̶ Todos nós ganhamos – Redarguiu Vincent encarando as estrelas – Amanda ajudará a buscar suprimentos, vai revezar o posto junto com dois caras que não me recordo os nomes... Susie será professora, ficará com as crianças, acho que vai ser bom pra ela... Vai se sentir segura, terá tempo para o Jacob... – Uma breve pausa é feita – Eu vou ajudar a médica daqui, talvez nós revezemos os plantões, sei lá... Soube que ela tem uma assistente, talvez eu ajude ensinando ela – Ele aponta para a prótese – Tive sucesso fazendo isso com vocês.

̶ Eu vou lá pra fora... Ajudar na ampliação dos muros... – Tom inspira profundamente – Fazer o que venho fazendo durante todo esse tempo... – Um breve sorriso de canto de boca surge em seu rosto – Acho que não consigo mais ficar um dia inteiro sem ver aqueles patifes!

Os dois observam o céu por alguns minutos, sem nada dizer, apenas admirando a noite estrelada e a lua cheia que com adornos tal qual uma rainha, preponderava de forma vigora sobre as nuvens. A madrugada que já se fazia presente, recolhera todos em suas camas quentes e confortáveis, apenas aguardando a chegada do próximo dia. Antes de retornar a residência, Vicent recostou a mão sobre o ombro de Tom, proferindo logo em seguida:

̶ Percebeu? – Tom apenas virou o rosto na sua direção – Acho que o inverno chegou...

A madrugada para Price não deve ter durado mais do que duas horas, e desse tempo, ele provavelmente cochilara por apenas alguns minutos. O medo que rondava sua cabeça fazia-se presente na forma de pesadelos, que acabavam por lembrá-lo de todos os momentos ruins pelos quais passara. Rolando de um lado para o outro sobre as cobertas, o corpulento homem logo ergueu-se, desceu as escadas e deparou-se com Amanda, igualmente desperta, preparando café na cozinha. A mulher de pele negra aparentava já estar acordada há mais tempo, o corpo de naturais curvas acentuadas estava recoberto por um roupão branco, os cabelos negros e curtos, que já começam a protuberar em cachos, estavam molhados. Seus olhos amendoados fixavam-se no preparo do café, que espalhava o seu aroma por toda a parte. A mulher de quase quarenta anos parecia feliz, seu rosto demonstrava serenidade, até o ar que se respirava parecia mais ameno. Tom puxou uma das cadeiras próxima à mesa da cozinha e sentou-se despreocupadamente.

̶ Café? Nós temos café? – Indagou Tom surpreso. Sua mão passeava sobre a cabeça que já começa a ser tomada por alguns fios de cabelo. A barba espartana seguia apoderando-se de todo o rosto, cada vez crescendo mais.

̶ Olivia, a mulher que cuida dos suprimentos nos deu uma caixa... Temos um pouco de café e cereal, quer?

̶ Não, só café mesmo... Onde estão os outros? Ainda na cama?

̶ Susie ainda não desceu, deve estar amamentando o bebê... – Amanda serve duas canecas com o líquido quente, um agradável aroma desponta dos recipientes – Vincent e Leah ainda estão dormindo... No mesmo quarto e na mesma cama... – Ela parece querer salientar a última frase – Acha que pode estar rolando alguma coisa?

Tom recebe o seu café e não hesita em dar um longo gole, permitindo com que todas as nuanças da bebida percorram pela extensão de sua garganta.

̶ Não. Doc é o mais sóbrio de todos nós... – Ele pára brevemente para saborear mais um gole – Ele nunca faria nada com ela! O carinho entre os dois é diferente... O cara perdeu a perna pra salvar a loirinha. Depois de perder os pais, acho que é normal ela se ligar assim a alguém...

Amanda toma na mão sua caneca, senta-se ao lado do soldador e volta a falar, redirecionando o assunto:

̶ Vamos ter um dia longo... – Seu olhar demonstra apreensão – Vou ter que sair, acompanhar dois rapazes... Glenn e Heath... Vamos até Washington, é de lá que eles tiram os suprimentos, talvez fiquemos um dia inteiro fora...

̶ E como você está quanto a isso? – Inquieta-se Tom.

̶ Velhos hábitos nunca morrem... – Ela ergue sua caneca, os dois ‘brindam’ – Você também não fica atrás... Construção dos muros? Lá fora também é perigoso, aqueles cabeças ocas estão por toda a parte!

Situações perigosas são mais uma das coisas que se tornaram rotineiras, já fazem parte intrinsecamente da nova ordem mundial. A maioria da população está morta, e mesmo assim, continuam de pé, querendo levar consigo a minoria que insiste em seguir respirando. O perigo não é necessariamente algo ruim, pelo menos não nas novas circunstancias, o medo proveniente dele se mostra como o combustível que acaba por levar as pessoas a tomarem duas decisões em busca da sobrevivência: correr ou lutar. Se tais decisões forem tomadas de forma sábia, a longevidade da vida de uma pessoa pode ser prolongada por bastante tempo. As novas funções dadas a Amanda e Tom, que se mostram claramente perigosas, podem ser vistas apenas como uma extensão de tudo que eles próprios já fizeram para seguir vivos. Nada mais do que a socialização da barbárie, uma aceitação de modos e gestos que seriam vistos com ojeriza tempos atrás, mas que hoje não passam de mais uma forma de se fazer parte da grande célula que começa a ser moldada em Alexandria.

Ao aproximarem-se do portão, os dois que já estavam prontos para o exercício de suas tarefas, observaram que um aglomerado de pessoas já se encontrava por lá, todos segurando nas mãos algum tipo de arma, fosse ela um facão, barra de ferro, ou simplesmente um pedaço de madeira. A frente deles, um homem de cabelos vermelhos presos em um curto rabo de cavalo, pele branca e corpanzil, vestindo um casaco militar, discursava de forma veemente. Seu rosto tomado por um vasto bigode ruivo, estilo fumanchu, demonstrava que aquele gigante estava preocupado com algo, enquanto explanava a todos a importância do que estavam prestes a fazer.

̶ Como vocês podem ver atrás de mim – A voz grossa do homem fazia ser ouvida em toda a extensão do portão – Nosso recente tiroteio atraiu um bocado de atenção para o nosso caminho! – Atrás dele, com os braços esticados tentando alcançar o homem que erguia nas mãos recobertas por luvas um taco de baseball, um grupo de errantes começava a fazer volume, pressionando a entrada tentando penetrá-la – Será preciso fazer uma faxina! Temos o dobro de mortos-vivos do que costumávamos ter, e por isso não usaremos nenhuma arma de fogo... Não se esqueçam, o som atraí essas coisas! Façam o que for preciso... Arranquem as cabeças, arrebentem com os crânios, mas seja que porra for, façam silenciosamente! – O homem faz uma breve pausa – Precisamos ser rápidos, eles estão em maior número a cada dia que passa. Vamos formar duas equipes, uma cobrirá o lado direito e outra o esquerdo! Não deixem de cobrir a retaguarda, mantenham-se pelo menos uns cinquenta passos afastados uns dos outros! Entendido? – Outra breve pausa é feita – Então vamos lá! Pode abrir a parada aí!

Tom e Amanda que mal entendiam o que estava ocorrendo, surpreenderam-se ao receber de um homem desconhecido, um facão e um martelo, ele provavelmente estava responsável por armar todos ali. Ao lado deles, com uma expressão apreensiva, um jovem rapaz asiático de curtos cabelos negros escondidos sob um boné dos Jets, vestindo um casaco de mangas compridas e portando nas mãos um taco de críquete, balançava os braços como que tentando livrar-se da tensão iminente.

̶ Que porra tá acontecendo aqui? – Indagou Tom. O rapaz virou-se em sua direção e de forma amistosa respondeu:

̶ Ah... Vocês são novos aqui... Tivemos problemas com algumas pessoas mal intencionadas essa semana... Teve um tiroteio, e isso atraiu os bichos! – Ele ergue o taco brevemente – Vamos ter que limpar a bagunça agora! – Tom balança a cabeça de forma positiva, empunha o martelo firmemente e se põe pronto para o que vier. O rapaz asiático exprime um breve sorriso antes de finalizar – A propósito, me chamo Glenn!

O grito medonho oriundo das bocas putrefaças e fétidas dos mortos, pareceram se ampliar quando os portões foram abertos, o homem ruivo de corpo taludo, fora o primeiro a acertar uma das criaturas com o seu taco de baseball, quase arrancando a cabeça do patife com apenas um golpe, espalhando fluidos e massa cerebral por toda a parte. À medida que todos começaram a avançar portão a fora, o número de errantes foi diminuindo gradativamente, e com eles um rastro de sangue e corpos desmembrados começava a emoldurar o cenário. O grupo de exterminadores, formado por dez pessoas, logo se dividiu em duas equipes partindo cada um por uma lateral, tentando fazer daquilo um ataque sincronizado, com o objetivo de se verem livres de todos os monstros que pudessem ameaçar a segurança dos muros.

̶ Vocês não! – Gritou o chefe da operação, referindo-se a Amanda e Tom – Os novatos vão cuidar da entrada, eliminem qualquer bicho que se aproximar do portão, mas não se afastem! Podemos precisar de vocês quando voltarmos! Vamos, vamos!

Os dois então saíram por último, cerrando o portão e posicionando-se a frente das grades. Passaram a observar os grupos avançando sem muitas dificuldades até dobrarem a esquina e sumirem de seu campo de visão. Ali, do lado de fora, a espreita de um ataque eminente, Tom sentiu como se nada tivesse mudado, ainda parecia que estava à beira da estrada de guarda, sempre pronto pra fugir se um grupo muito grande se apropinquasse. Solitários, Amanda e Price, com suas respectivas armas em punho, tentavam cobrir todo o perímetro com os olhos, assegurando-se de que nada os intimidaria, porém, foram os ouvidos que os fizeram tremer na base e gelar a espinha. Um som gutural e uníssono, como uma orquestra do sétimo círculo do inferno, tomou conta de todo o ambiente de forma rápida e inesperada. O coral da morte logo tomou forma, e sem entenderem direito de onde e como surgiram, Tom e Amanda se depararam com um gigantesco grupo de errantes, que fugia da vista de tão grande, uma verdadeira manada. A frente do portão os dois misantrópicos isolados, mantiveram suas posições, como se de alguma forma pudessem segurar sozinhos o descomunal grupo de mortos vivos que se aproximava.

̶ Deus... – Exclamou Amanda visivelmente assustada – O que faremos Tom?

Price respirou fundo, deu um passo a frente e com o martelo preparado para o ataque, sussurrou para sua companheira:

̶ Corre pro portão, eu te dou cobertura... – A mulher o admirou com espanto – Vai logo Amanda, porra! – Gritou ele.

Tom acabara de decidir-se, entre correr e lutar, ele escolhera a segunda opção.


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Notas finais do capítulo

Hei!

Queria agradecer mais uma vez a você Menta! Muito obrigado por todo o apoio!
Espero que tenham gostado do capítulo, as coisas começarão a ficar bem mais interessantes... Até o próximo!