Narração de: Eric

—Eu não estou grávida!— Raquel gritou

No mesmo momento, Agnes soltou um berro baixo. A senti gemer e cair no chão. O que estava acontecendo?! Agnes gemia no chão e pôs a mão em sua roupa, estava suja de sangue.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Agnes abriu sua boca, fazendo um "O" perfeito. Ela caiu no chão e eu me joguei junto. Meus olhos exploravam a cena, tentando entender. Carl estava com o seu canivete suíço nas mãos, sujo de sangue. Ele tinha a machucado quando ela ficou entre nós. Chamei uma ambulância, tentando controlar minha voz. Desliguei e celular e toquei no rosto de Agnes.

—Por favor, não me deixe, não me deixe!— gritava

—Eu estou bem, Eric...— Agnes gemia

Olhei para Carl e ele assistia a cena. Fiquei descontrolado, meu coração acelerou. Fiquei com vontade de quebrar o pescoço de Carl naquele momento, mas eu fiz algo um pouco mai pesado que isso. Tomei o canivete de sua mão e o enfiei em sua barriga com toda a força que podia. Carl olhou para mim, pasmo. Aproximei minha boca de seu ouvido e sussurrei:

—Me desculpe Carl.

Ele caiu na calçada. Minhas mãos estavam sujas de sangue, de sangue de vingança. Eu o matei?! A ambulância chegou e levou Carl e Agnes dentro. Subi na ambulância que estava Agnes, Raquel me acompanhou. Agnes movia-se com fragilidade, como se fosse uma boneca dentro de um carro.

—Fique de olhos abertos...— agarrei sua mão e encostei em minha testa

Ela ficou inconsciente. Era tudo culpa minha! Eu não devia ter dormido com Raquel, eu não devia nem ter surgido na vida de Agnes! Nem mereço viver direito! Lembrei-me que Raquel gritou: "Eu não estou grávida!". Mas como assim não estava grávida? Nós dormimos juntos e aconteceu, pronto, fim de papo.

Olhei para Raquel, que olhava Agnes com tristeza.

—Explique tudo.— falei, do modo mais frio que consegui

—Explico tudo no hospital...

A ambulância parou e tiraram Agnes rápido do veículo. Tentei acompanhar, mas um aglomerado de médicos se juntaram em seu redor. Sentei na sala de espera, batendo os pés no chão, impaciente. Raquel sentou ao meu lado e explicou:

—Eu tinha quinze anos na época...

*Flashback de Raquel*

Eu era uma das meninas mais quietas da minha sala, mas o meu coração vivia entre batalhas. Nem sempre tive o corpo que possuo hoje, eu era magra demais, usava roupas mais cobertas e meus cabelos viviam presos. Observava Carl de longe, de como ele era bonito e eu sonhava em um dia namorá-lo. Minha amiga, Lúcia, vivia me apoiando para falar com ele, e declarar o meu sentimento de vez a ele, mas falar é mais fácil do que fazer não é?

Um dia, cansei de esconder o meu amor e declarei tudo para Carl. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu, num sorriso malicioso e que eu gostei bastante. Carl disse que namoraria comigo, para todo o sempre. Juramos amor eterno, bem... Pelo menos eu. Nunca fiquei tão feliz em toda a minha vida, conseguia sentir o meu coração batendo todos os dias sempre que o via.

Semanas depois do nosso namoro, vi Carl se agarrando com Lúcia no estacionamento da escola. Ele deslizava suas mãos nojentas pelo corpo da minha "amiga". Meu coração ficou despedaçado, quebrado em milhões de pedaços, como se fosse de cristal. Cansei de sofrer, cansei de sempre dar o braço à torcer para todos. Carl era o culpado de tudo, então decidi fazer ele passar pelo o que eu passei, só que bem pior.

*Fim do Flashback de Raquel*

—Então fingi dormir com você.— completou ela

—Fingiu? Mas eu acordei...

—Nunca aconteceu, eu simulei tudo. Precisava que você acreditasse.

Eu não sabia quem era mais doentio, Carl ou Raquel. Os dois se mereciam, eram dois loucos. Agarrei o pescoço dela com força e gritei:

—Você quase arruína a minha vida, fez Agnes se machucar, me fez a magoar... Por conta de uma vingança?!

Raquel tentava respirar. Eu queria muito fechar minha mão ali. Raquel gritou por socorro. Um segurança me segurou pelos braços, Raquel tocou no pescoço e bufou. Eu estava descontrolado! Chutei os ares e gritava um monte de palavrões para Raquel, até sentir uma leve picada no meu pescoço. Deslizei dos braços do segurança e deitei no chão.

—Sua... Desgraçada.

***

Acordei em uma maca. A única coisa que me lembrei assim que abri os olhos, foi de Agnes. Será que ela estava bem? Será que levou pontos na barriga? Levantei da cama e fui para a sua sala. A procurei muito, até achá-la. Ela já estava acordada, até sorria para a enfermeira. Quanto tempo eu dormi? Entrei na sala. Seu sorriso desapareceu. Sua barriga estava enfaixada. A enfermeira saiu da sala às pressas, deixando eu e Agnes sozinhos.

Sentei na cadeira. Falei toda a história, contei tudo sobre Raquel, sobre sua vingança, que eu e ela éramos vítimas. Agnes me olhou e disse:

—Eu já sei de tudo isso, Raquel veio aqui. Também sei que tomou sedativo.

—Eu...— cocei minha nuca— Isso eu também posso explicar. Eu só fiquei muio revoltado por... Por...

Agnes cerrou os punhos. Eu acho que ia apanhar, mas ela fez uma coisa que me surpreendeu mais ainda, ela me beijou, agarrando a gola da minha camisa para perto de si.

—Não sei se confio mais em você, Eric.— ela encostou minha testa na dela

—Não sou digno, realmente.

—Mas o que se pode fazer quando se ama uma pessoa demais?— perguntou

—Não sei... Me ajude a descobrir.

A beijei. A porta da sala de Agnes abriu. Wesley e um senhor entraram na sala e estufaram o olho quando nos viram. Acho que agora, eu ia passar pelo exame familiar, se não é que eu já tinha reprovado.

Wesley me olhou como quisesse me matar com metralhadoras ou coisa assim. O senhor me olhava do mesmo jeito, ele devia ter em torno dos seus cinquenta anos. Agnes sorriu, nervosa, como se tivesse sido pega fazendo uma coisa errada.

—Bem... Jorge, esse é Eric.— disse Agnes

—Eric?!— exclamou

—É... Eu sei que vocês não vão com a cara dele, mas... É minha felicidade agora.— disse Agnes

Wesley bufou e cruzou os braços, como uma criança mimada. Acho que vou ter que ralar para conquistar a família de Agnes.