Transcendente escrita por Wina Hayate


Capítulo 4
Capítulo 4 - Passado


Notas iniciais do capítulo

Olá olá meus lindos! *-* Aí está um capítulo novinho em folha, agora o próximo só sai no final de semana :3
Desculpa se ficou muito grande e_e'
Beijos!



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Noite de sexta-feira ~ Paris

Pontier andava pela rua, era quase noite, podiam-se ver alguns raios de sol iluminarem as nuvens no céu. A caminhada da escola até sua nova casa era pouco mais de uma hora. Ela sorria de satisfação, finalmente era final de semana, não teria que enfrentar aquela escola fria e horrenda.

Mesmo depois de dois longo meses aqui no centro de Paris, Anne não tinha se acostumado, apesar de ser uma boa aluna – exemplar, eu diria- não tinha amigos. Ninguém ligava para ela. Tudo isso por causa da garota mais popular do colégio, que por azar, Anne derramou suco na blusa dela e daí em diante sua vida virou um inferno.

Entretanto, era uma garota forte, não ligava para os apelidos que deram, mas o que mais a machucava era quando falavam de seus pais e a chamavam de “órfã”. Não deixava ninguém a ver chorando, somente a madrugada era sua companhia, só ela via suas lágrimas escorrendo pela noite.

Eram dois meses de agonia para ela, seus pais atravessaram para o outro lado do plano por causa de um acidente de carro e agora foi obrigada a morar com sua avó. Anne a amava, mas sentia muita falta de seus pais ali perto dela, dos sorrisos, do cheiro da comida de sua mãe e das brincadeiras de seu pai. Ela não acreditava que sua vida tinha terminado bem ali naquela cidade, bem em frente do Arco do Triunfo e era naquela mesma cidade que reconstruiria sua vida. Tinha insistido tanto para não irem visitar aquele local e aquele fatídico acidente tinha acontecido.

Os olhos violetas vasculhavam as vitrines das lojas distraidamente, seu estômago reclamava pela fome, foi naquele ponto, perto do beco, que sentiu-se observada. Seus olhos focaram em um homem suspeito de cabelos negros atrás de si, em uma descarga de adrenalina, Anne correu para o beco e ouviu os passos dele atrás de si. Ela realmente achava incrível como sua paz acabava em questão de míseros segundos.

Saiu em uma viela escura, parecia o fundo de lojas e sem pensar duas vezes abriu uma porta de madeira e entrou no recinto. Percebeu pelo cantinho da janela que o homem olhava assustado para a porta e deu meia volta desistindo dela. Respirou aliviada e olhou onde estava. O lugar era muito bem decorado, uma pequena sala com cortinas vermelhas de veludo, um lustre que lembrava cristal e no centro da sala um sofá vermelho confortável.

– Ora ora o que temos aqui? – por puro reflexo e susto ela olhou para a porta do outro lado da sala, vendo um homem de cabelos brancos entrar.

– Desculpa senhor, é que um homem estava me perseguindo e acabei vindo parar aqui – ela mexia no cabelo por puro nervoso, mas aquele desconhecido a deixa ainda mais inquieta.

– É mesmo? – ele abriu somente um pouco a porta atrás de si – Armand, cancele as meninas de hoje a noite, tenho algo muito mais interessante aqui, os olhos dela se arregalaram em puro terror e virou-se para fugir daquele lugar, sendo impedida pelo rapaz – Vamos, não seja tímida.

– Me solta! Como você chegou aqui tão rápido?! – Anne se debatia tentando afastá-lo, seus pulsos eram esmagados contra a parede e o rosto dele estava bem próximo ao seu pescoço.

– Nem pensar, hoje você vai ser minha janta – ele a virava para si – Qual o seu nome?

– Janta?! ME SOLTA AGORA! – as lágrimas desciam copiosamente de seus olhos, aquilo fez o homem sorrir cada vez mais.

– Que escandalosa ela – assim que ele percebeu que ela iria chutá-lo a jogou no sofá ficando por cima da mesma impedindo que se movesse – Vou te ajudar, meu nome é Keita, Keita Finelix Bellacourt, nunca ouviu falar de mim?

– E eu deveria? – ela respondia com raiva na sua voz, aquilo era a gota d’água para ela.

– Sim, deveria, mas esse é o problema dos mundanos, nunca sabem com quem estão lidando – Keita se aproximou do pescoço dela inalando o perfume de sua pele – Deveria estar lisonjeada.

– Lisonjeada? Você é um pervertido! Me solta seu imundo! – as lágrimas não paravam de descer, ela tentava se soltar, mas as mãos dele pareciam ser feitas de aço.

– Fique bem quietinha menina bonita, prometo que só vai doer no início – ela viu o lampejo de prazer naqueles olhos azuis.

Por algum motivo que ela não entendeu, ela obedeceu. Sua mente gritava para que fugisse dali, corresse, mas seu corpo parecia não obedecer ao cérebro, tudo que ela conseguiu fazer foi arfar quando a língua dele passeou pela sua jugular e depois o grito irrompeu de sua garganta quando sentiu aquela dor aguda no seu pescoço. As presas tinham rasgado sua carne, não conseguia mais enxergar, seus olhos estavam ensopados por suas lágrimas. Perguntava-se mentalmente o que estava acontecendo e como seu dia de alegria tinha acabado.

Keita se deliciava com o sangue que invadia sua boca, era um dos melhores que havia provado tinha que admitir. Tinha cogitado em matá-la, mas depois que a provou mudou completamente de ideia, tinha que levá-la consigo, daria um bom preço no mercado negro.

Suas mãos afrouxaram dos braços dela só quando teve certeza que estava fraca, afastou-se do pescoço dela limpando os lábios com a língua e a olhou bem no fundo dos olhos.

– Não foi tão ruim assim foi? – o sorriso malicioso iluminava seu rosto.

– Cale... a boca... infeliz – ela não tinha forças para falar, tinha perdido muito sangue e tudo o que viu foram os olhos azuis tenebrosos a lhe encarar depois de apagar completamente.

*~*~*

Aos poucos seus olhos se abriram tentando focar, tudo que lembrava era daquele infeliz que tinha tomado seu sangue. Na verdade não se surpreendeu por ele ser um vampiro, sua avó dizia que na cidade tinha seres das sombras espreitando cada beco, cada viela, cada rua. Ahhh... sua avó, ela deveria estar louca a sua procura.

Finalmente seus olhos conseguiram focar algo, estava em um tipo de cela, em uma cama barata de ferro e as paredes feitas de pedra,mas o que mais lhe chamou atenção foram os barulhos, era tudo sonoramente mais alto como se tivesse caixas de som instaladas ali e captassem o som de fora. Foi aí que viu ele, aquele homem que ela agora tinha nojo, como ele pode se alimentar dela?!

– Como está se sentindo? – ele perguntou ainda sentado na cadeira.

– Não é da sua conta – respondeu ela rebelde.

– Claro que é minha garotinha bonita – ele levantou-se e foi até a barra da cela – Você me pertence, agora é minha vampirinha.

– Vamp-? VOCÊ ME TRANSFORMOU NO LIXO QUE É VOCÊ?! – em questão de segundos ela estava agarrada a grade horrorizada.

– Ahh não querida, eu nasci assim, você é inferior a mim, comporte-se na frente do seu dono, o lixo aqui é você não eu– ele ria de um jeito maligno.

– Não sou um cachorro! Você não é meu dono!

O que mais a deixava perturbada agora era ele, o cheiro dele, não conseguia negar... Era irresistível.

– Incrível, você é a primeira que discute comigo e que não sente fome de primeira – as presas dele cintilavam deixando sua feição assustadora- Não sei ainda se te vendo ou se fico com você, seu sangue é delicioso.

– Não sou sua, cale essa boca! - ele desviou os olhos dela.

– Tragam o garoto.

Anne não entendia o que se passava, sua mente se desligou quando sentiu o cheiro do rapaz, não lembrava-se de como ele era, de como entrou na cela, só lembrava da sua voz implorando para que não o matasse e dos olhos castanhos implorando para viver.

Keita a tinha destruído por dentro, era um monstro, tinha matado o garoto. Agora ela sabia, tinha matado ele.

*~*~*

Acordou em um quarto muito bem decorado, branco e dourado, a visão era como se estivesse dentro de um palácio. Estava deitada no que parecia ser uma cama dossel, ela se abraçou assustada com tudo aquilo.De repente a porta se abriu e ela viu a cabeleira branca, sabia que era ele. Se pôs de pé na mesma hora olhando-o nos olhos.

– Olá, olá minha garota – o sorriso dele era sempre o mesmo, de escárnio.

– Cadê ele? CADÊ ELE?! – era a última esperança dela, queria saber do garoto.

– Ele quem? Isso me magoou, como você pode pensar em outro além de mim? – ele fingia estar magoado e depois riu – O garoto? Você não lembra?

– Cadê ele? – Anne perguntou pausadamente com a voz carregada de ódio.

– Ora você não lembra? – Keita chegou perto dela, mas novamente seu corpo reusou a obedecê-la, sentiu a mão dele em sua cintura- Você o matou menina bonita.

– Não... – sua voz saiu falha.

– Sim, sim! Mas vamos deixar isso para lá! – ele batia palmas – Tenho um assunto a tratar com minha mais nova menininha – vendo que ela ficou calada prosseguiu – Essa é minha casa, você teve sorte de deliciosa, vai ser minha mais nova refeição.

– Prefiro morrer – sua voz era fria.

– Essa opção não existe para você – ele segurou o queixo dela, olhando-a nos olhos – Mas não é isso que quero falar com você, é outra coisa.

– E se eu me matar? – Anne odiava aquilo, odiava ele, odiava sua vida agora.

– Aí sua preciosa avó morre, olha que lindo! – ele ria se deleitando, aquilo a deixou assustada- Vamos ao assunto, meu irmão não pode saber da história verdadeira e nem de nada relacionado onde você estava entendeu?

– E você acha que vou te ajudar?!

– Claro que vai, acabei de falar na sua avó, seja qual for seu comportamento negativo sua avó morre entendeu minha garotinha linda? – ela assentiu deixando as lágrimas caírem – Boa menina! Qual seu nome?

– Não vou te dizer – ela sentiu a mão dele apertar seu queixo com força fazendo-a falar – Anne! Anne Pontier!

– Anne, que nome mais lindo – o sorriso de vitória apareceu nos lábios dele – Cativante, tenho coisas a fazer, trate muito bem as pessoas da casa viu e comporte-se bem! – ele falava animado depositando um pequeno beijo nos lábios dela – O almoço é meio-dia e a janta às sete, seja pontual An.

Aquele ato tinha deixado ela paralisada, ela só desabou no chão a chorar quando a porta se fechou, sua vida era realmente um inferno.

Depois de horas chorando, acabou adormecendo ali mesmo sentada no chão. Quando acordou já era noite e sentia um leve carinho na cabeça, aquilo era realmente estranho para ela. Keita nunca lhe faria carinho, nunca. Abriu os olhos encontrando os azuis bem clarinhos atrás de um óculos, o rapaz era a cara de Keita na verdade para ela era ele.

– Keita? O que ta fazendo?! Tira essa mão de mim! – ela sentou na hora.

– Desculpa, é que você parecia que estava tendo pesadelo enquanto dormia – os óculos dele caiam em seu nariz e a olhava embebido pela culpa- E Keita é meu irmão.

– Irmão? SÃO GÊMEOS?! – Anne se assustava e segurava o lençol com força.

– Somos sim – ele ria baixo.

– Que azar o seu ter nascido com a cara feia do teu irmão – ela relaxava, aquilo fez ele gargalhar mais alto deixando ela meio que constrangida.

– Desculpa se te assustei – o óculos parecia escorregar mais ainda e aquilo estava deixando-a fora do sério- Me chamo Kerberus e você é a Anne não é?

– Sou, prazer – ela abriu um pequeno sorriso.

A mente de Pontier trabalhava a mil, conseguiu ver que ele não era igual ao irmão. Eram opostos, ela conseguiu ver sinceridade nele e agora entendia o motivo de Keita esconder as coisas dele. Não iria tratá-lo como Keita, era como sua avó sempre dizia: “ Mesmo que tudo esteja dando errado sempre há uma luz”.

– Espera, como vim parar aqui na cama?! – ela perguntava saindo de seus pensamentos.

– Eu te coloquei na cama – Kerberus sorriu inocentemente – Ia ficar com dor na coluna se ficasse lá no chão.

– O-obrigada – ela gaguejava constrangida.

– Nada! – disse ele animado – Ah e sobre sua família, meus pêsames. Meu irmão me contou sobre o que aconteceu, você foi a única que sobreviveu ao acidente, sinto muito.

Aquilo parecia ter acertado ela em cheio, a mentira que Keita havia contado não deixava de ser uma mentira, de fato era a única que tinha sobrevivido e ele era o primeiro a prestar condolências a ela. Uma lágrima caiu e aquilo o deixou desesperado.

– Desculpa – Kerberus não sabia o que fazer – Você quer alguma coisa? Posso trazer pra você - ele tentava alegrar ela.

– Queria ouvir música – Anne disse sem jeito, de fato a música sempre a acalmava e ela queria ficar só.

– Vou trazer – ele sorriu e levantou da cama indo para a porta.

– Espera – ele olhou para trás – Vem cá rapidinho- sem entender ele foi até ela e agachou.

– O que houve?

– Seu óculos vai cair – ela ajeitava os óculos e sorria- Prontinho.

O rapaz corou e se levantou sorrindo deixando-a só. No decorrer dos dias Keita tomava seu sangue e a largava de lado. Anne passava dia e noite com Kerberus, conseguiram fazer um forte laço de amizade, se divertiam fazendo as coisas mais loucas possíveis dentro de casa.

Entretanto aquela noite chegou, Keita queria muito mais que sangue, ele queria ela por inteiro e ela não iria se render assim tão fácil. Kerberus não estava em casa, não podia gritar por ajuda. Quando conseguiu se soltar do aperto dele viu que próximo de si tinha um vaso grande e ele era sua salvação, conseguiu pegá-lo e tacar na cabeça do vampiro, que por sinal estava embriagado. Não havia uma única alma em casa e foi graças a isso que ela conseguiu fugir.

Correu por todas as ruas sem prestar atenção onde estava indo e acabou parando ali, no Arco do Triunfo onde sua vida terminou, onde seus pais morreram e onde sua vida reviveu, onde conheceu-o. Ethan Morgan.


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