Amora escrita por Loobs P


Capítulo 4
Capítulo 4 - Oh...




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Amora Tomielo. Meu interior contraiu-se ao ler aquele nome nas letras escuras da lista telefônica. O endereço estava bem ao lado, portanto anotei com as mãos trêmulas em um guardanapo com uma caneta emprestada por Erick.

— Vamos? — ele disse, sorrindo com seus olhos bondosos.

Meu único amigo se oferecera para levar-me até o endereço, alegando não ter nada melhor a fazer até o próximo voo em oito horas. Na verdade, suspeitei que ele estivesse preocupado com minha sanidade física e mental durante o possível reencontro.

Meu coração estava disparado no banco carona de couro do Audi preto alugado no aeroporto. Erick possuía o serviço de graça devido a sua posição dentro da companhia aérea, e disse para não me preocupar com dinheiro.

Ele digitou as coordenadas no GPS e pediu-me para que, desta vez, eu fosse o co-piloto. Nunca havia visto um apetrecho como aquele antes, mas esforcei-me ao máximo para ficar focado e indicar o caminho. Aquela droga sempre avisava para dobrar uma esquina quando já estávamos em cima dela!

Segundo os cálculos da máquina, chegaríamos dentro de vinte minutos. Cada segundo a menos era uma pressão maior que sentia em meu peito. A ansiedade me corroía, secando minha boca e encharcando as palmas de minhas mãos.

Dois minutos. Mirei-me no retrovisor do carro, indagando se Amora me reconheceria... O tempo fora cruel comigo. Não havia engordado por não haver fartura para tal, e meu rosto, enrugado, parecia um tanto puxado para baixo. Meu bigode continuava o mesmo, porém branco como a neve, assim como meus cabelos. Fora poupado da calvície, e mantinha meus cabelos sempre bem arrumados para trás com gel. Meu andar, outrora tão confiante, agora vacilava. Minha voz, enrouquecida. Meus olhos jamais demonstraram vivacidade novamente desde que ela se fora, o ar triste não permitia que fossem os mesmos.

Imaginava-a linda, como sempre fora. Nenhum peso da idade poderia diminuir sua inabalável beleza, tinha certeza de que eu a reconheceria em questão de segundos. Ela não possuía fotos de mim, mas eu ainda carregava a Amora de vinte e um anos em preto e branco no bolso da jaqueta.

Peguei a foto, sorri para ela mais uma vez e sussurrei:

— Estou chegando, meu amor.

O carro diminuiu a velocidade e a voz nada agradável do GPS anunciou que havíamos alcançado ao nosso destino. Várias casinhas geminadas de dois andares estreitas e espremidas, mas de aparência muito agradável, jaziam no endereço indicado. Havia um gramado bem verde comum a todas, e jardineiras lotadas de flores alegres enfeitavam as janelas. Era um lugar muito feliz, e isso me fez ter certeza de que estávamos no lugar certo.

— Aqui diz que é a casa oito, o que deve ser... a última. — analisou Erick enquanto estacionava o carro.

Descemos e caminhamos em direção à casa indicada. Porém, meu corpo parecia pesar mais a cada passo. A última não era nem um pouco a cara de Amora: a grama estava morta e em diversos tons de marrom. Não havia plantas nas jardineiras, e as paredes marrons da casa estavam desbotadas e descascando. O vidro da janela do andar de cima estava quebrada e a maçaneta era algo improvisado.

Achei que fosse desmaiar, minha mente correndo a mil enquanto tocava a campainha. Erick estava silencioso, como que imaginando o que acontecera à garota que eu havia tanto descrito. A julgar por minha idade, eu sabia o que ele pensava.

Recusava-me a pensar no pior e, ao perceber que a campainha não fazia som algum, soquei um tanto forte demais a porta. Estava descontando minha tensão naquele vacilante pedaço de madeira ruindo.

Sem resposta novamente, Erick lançou-me aquele olhar de pena que eu já estava farto de receber. Forcei-me a não chorar.

— Ela deve ter se mudado. — mentiu.

Neste momento, a porta se abriu e prendi a respiração. Um rapaz na casa dos trinta parou na soleira e nos olhou feio.

— O que é? — ele disse, antipático, em italiano.

Estudei seu rosto rapidamente e não encontrei absolutamente nada que lembrasse o rosto de Amora. O homem era feio, e ela jamais geraria um herdeiro que não fosse, no mínimo, agradável. Além disso, o fedor que sua casa exalava me deixava tonto demais para continuar procurando traços em comum com minha garota.

— Procuramos por Amora Tomielo — interveio Erick, uma vez que eu não estava com a menor vontade de me dirigir àquele ser desagradável.

A expressão dele se suavizou e ele encarou o chão, um tanto desconsertado. Pigarreou e evitou nosso olhar:

— Ela não mora mais aqui. A casa está em seu nome, mas... agora é minha.

— Onde ela está? — exigi, sem paciência.

Minha irritação com aquele homem se desfez no momento em que ele me lançou um olhar profundo de tristeza.


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Notas finais do capítulo

Respirem fundo UHAHUAUH