Rick anda de um lado para o outro, com as mãos na cintura, Ana o observa, mudando a direção dos seus olhos rapidamente para corrigir um erro de Carl, que está aprendendo a carregar e descarregar a glock 9mm, com a autorização dos pais.

– Relaxa Rick, eles já voltam.

O policial para e a olha - É… Tem razão. To nervoso por nada, só não quero que o grupo se separe mais ainda.

– Acho legal o modo que você se preocupa com a gente. É no geral e não um pouco com cada um, claro que com a Lori e o Carl é mais, mas eu acho legal.

Ele senta ao lado dela e observa Carl, no degrau de baixo recuar o ferrolho e sorrir ao ouvir o estalo que indica que a arma está pronta para uso.

– Acho que o mundo atual requer isso. Cuidado no geral.

Ana sorri e mexe no cabelo do Carl - Tá certinho moleque, continue treinando… A July, prima da Marie pensava igual. O instinto maternal dela era grande, mesmo ela dizendo que não gostava de criança. Ela se preocupava bastante, principalmente com a prima.

– Não pude conhece-la...

– Vocês iam se dar bem, ela tinha bem o seu jeitão.

Rick a olha de lado - Meu… Jeitão?

– É sabe… Organizado e líder.

– Líder?

– Uhum… - ela olha pra frente - Olha eles ai.

Rick segue o olhar dela para Daryl e Marie saindo, ela fala alguma coisa e ele assente olhando o chão.

***************

Rick resolve que o grupo deve voltar, e deixa Daryl no comando, o policial tem um faro muito bom e sabe quando pode confiar em alguém. Rick da sua arma a Lori e ela protesta, dizendo que não vai deixa-lo desarmado, ainda mais quando Carl vai junto com ele e Shane, Daryl pega um na calça e entrega a ela, isso deixa Andrea brava.

Lori parece abençoar o filho, Marie engata o braço com Ana e elas começam o trajeto logo atrás de Daryl, Drake fica por último fazendo a reta guarda.

– Quanto falta? - pergunta Andrea quando Daryl para, para o grupo pegar folego.

– Um pouco, vamos parar um pouco e já vamos.

– Antes que outro bando apareça… - ela olha Lori - pelo menos você tem um arma.

Lori a olha de cima - Você a quer? - ela estica a arma - Pega.

Andrea pega engolindo o orgulho, todos encaram aquela cena, Lori se senta num tronco caído.

– Eu nem consigo imaginar o que você está sentindo, mas quero que pare de cobrar tanto do Rick. Por que ele não parou, nem por um segundo. A culpa não foi dele…

Carol baixa a cabeça escutando a bronca.

– Ele está tomando as decisões difíceis por nós. E você não entende - ela se levanta e joga a mochila no ombro, indicando que devem continuar.

Isso aí, primeira dama. Pensa Ana quase batendo palmas.

***************

O grupo todos se vira e olha em volta ao ouvir um estrondo alto que faz os pássaros levantarem voo pela floresta.

Ana encara Marie e move os lábios formando “um tiro?” Marie concorda com a cabeça.

Drake e Daryl trocam olhares. - Foi longe - Drake diz.

– Vamos continuar - avisa Daryl voltando para a trilha.

– Isso foi um tiro - diz Lori

– Sim, ouvimos.

– Um tiro. Por que um?

– Podem tem encontrado um errante.

– Não tente me acalmar, sabe que Rick não correria esse risco por causa de um só, nem Shane. Teriam matado em silencio.

Carol olha o atual líder do grupo - Já não deveriam ter no alcançado?

– Não há que a gente possa fazer. Não dá pra nadar na mata atrás de ecos.

– Daryl, concordo com a Lori, não dá pra simplesmente deixar um tiro passar batido - diz Marie ao lado dele

– Não dá pra andar por ai - ele a encara bravo - Vamos continuar. Com certeza vão nos encontrar na estrada.

O grupo se move mas param para esperar Andrea que resolve falar com Carol.

– Sinto pelo o que está passando, sei como se sente.

– Acho que sim. Obrigada… Pensar nela, neste lugar sozinha, não saber é o que está me matando. Eu rezo pra ela não terminar como a Amy.

Andrea dá um passo pra trás e desvia o olhar, Marie abre a boca, tocou na ferida dela também.

– Ah, meu Deus, me desculpa. Foi a pior coisa que eu já disse.

– Não. Todos rezam para que isso não aconteça. Espero que isso ajude.

Daryl bufa e marcha até as duas - Eu vou dizer o que ajuda: procurar ela, envés de ficar parado rezando. A gente vai achar essa garota… E ela vai estar bem! Será que eu sou o único zen aqui? Meu Deus!

Lori e Marie se encaram trocando um sorriso, a francesa corre para o lado dele.

**************

– Tá muito longe? -pergunta Andrea com a voz falhada.

– Não, talvez um quilometro - responde Daryl

O grupo se silencia e continua andando, todos juntos, menos Andrea que desvia alguns metros.

– AHH!!

– Andrea! - Drake olha em volta e corre primeiro.

Antes que o grupo erguesse uma arma contra o errante que estava por cima dela, o som de um cavalo correndo chama atenção deles, até do cadáver que é atingido na cabeça por um taco de beisebol e jogado longe.

– Lori? Lori Grimes? - pergunta a moça em cima do cavalo.

– Eu sou a Lori.

– Rick me mandou aqui, você precisa vir agora. Houve um acidente, o Carl foi baleado.

Um frio percorre Lori, sua pressão baixa.

– Ele ainda tá vivo mas você tem que vir agora! O Rick precisa de você, anda!

Lori larga a mochila e se prepara para subir no cavalo.

– Wow, wow, wow - Daryl até tenta segurar o braço dela, mas ela se solta - Não conhece essa garota, não pode ir com ela.

A garota ignora o que ele disse e ajuda Lori a subir - Rick disse que há outros na estrada. Naquele engarrafamento. Vá para a estrada Fairburn, a 3km ao sul, caixa de correio “Greene”.

E então ela se vai. Deixando o grupo todo com a boca aberta, Andrea no chão, Daryl confuso, Ana chocada, Glenn paralisado e o errante se levanta.

– Cala a boca - Daryl rosna enquanto dispara uma flecha na cabeça do bicho.

Drake ajuda Andrea a levantar e continuam andando atrás do líder provisório.

***************

Marie fica por último dessa vez, pensando em Carl. Um tiro. Onde? Que calibre? Perfurou algum orgão? Quem tá cuidando dele? Quem atirou nele? Ela nem percebe quando chegam a estrada, passa por cima do murinho e vai para o trailer, se sentando à mesa e limpa as unhas roídas com a faca. Andrea entra logo em seguida, aparentemente, revoltada deixa a bolsa na cadeira e sai.

– A menina disse pra gente ir pra lá - diz Ana - Daryl, eu quero ir. Lori e Rick vão precisar da gente lá. Nem conhecemos essas pessoas.

Ele concorda com a cabeça, pensa a mesma coisa.

– Eu não vou. Não posso sair daqui ainda.

– Carol, o grupo está dividido - diz Dale encostada no trailer - estamos fracos e dispersos.

– E se ela voltar? Pode acontecer.

Andrea concorda com a cabeça - Se a Sophia voltasse e tivéssemos ido, seria horrível.

Daryl balança a cabeça - Tudo bem. Vamos amanhã cedo. Dá tempo de fazer um cartaz, deixar comida pra ela. EU vigio hoje a noite, fico no trailer.

– Se o trailer vai ficar também fico - avisa Dale

– Obrigado, aos dois.

Andrea ergue a mão - Eu também.

– Bom se todo mundo vai ficar…

– Você não, Glenn… Você vai. Leve a caminhonete da Carol - Dale fala gesticulando

– Por que sempre eu?

– Precisa achar a fazenda, encontrar os nossos e se assegurar de que está tudo bem, e o mais importante, precisa levar o T-Dog. Ele tem uma infecção muito séria. Se não for cuidado logo, vai morrer.

Daryl caminha até a moto e pega um pacote com vários potes dentro e alguns panos - Deixa seus trapos longe da moto do meu irmão - ele arremessa em Dale o pano sujo - Por que esperou até agora pra contar? Esse é o estoque do meu irmão. Cristal… Ecstasy… Não, não precisa disso, e alguns analgésicos muito bons. Doxiciclina. De primeira. Merle pegou gonorréia…

Marie aparece na porta do trailer - Eu vou com você, Glenn. Ana, Drake, levem o carro.

***************

– Caramba, eles tem luz - diz Marie descendo do carro com a Ruger Hawk na mão e a espingarda nas costas, eles caminham até os degraus de entrada.

– E agora? - pergunta Glenn - Tocamos a campainha ou… Sabe, tem gente morando ai.

Marie e T-Dog se encaram. O homem machucado e suado suspira - Acho que já passamos disso né. Precisar de permissão.

– Fecharam o portão quando vieram?

Marie pula e olha para a direita, a mesma menina do cavalo está sentada nas sombras encolhida.

– Oi. Sim, fechamos. Trancamos… Bom, legal te ver de novo. Já nos conhecemos.

– Afe… - Marie suspira - Viemos ajudar.

– Tem alguma coisa que possamos fazer? - pergunta T-Dog.

A menina se levanta e olha o braço dele.

– Não é uma mordida. Mas eu me cortei feio.

– Vamos olhar, vou avisar que chegaram.

Glenn abre a mochila - Temos alguns analgésicos, dei alguns pra ele, mas... caso o Carl precise.

A menina pega os frascos e abre a porta - Vou fazer alguma coisa pra comerem.

A moça os leva até um quarto, por um corredor estreito, os três param na porta, Carl está deitado sem camisa com uma bandagem no abdômen, do lado direito, ele sua, Lori e Rick estão ao lado.

– Estamos aqui… Se precisarem de alguma coisa - diz Marie

Rick os olha e balança a cabeça.

Lori ergue o rosto, com um pano nas mãos, ela chora - Obrigada…

Marie sente os olhos arderem, ela anda até os dois e se ajoelha entre eles, os puxando para um abraço - Ele vai ficar bem - depois se levanta e sai do quarto com Glenn e T-Dog.

***************

A moça que buscou Lori, Maggie, prepara ovos mexidos para o grupo, Marie pega seu prato e sai para a varanda, fechando as mãos sobre a boca e abafando o choro. Maggie e outra mulher, Patricia costuram o braço de T-Dog lá dentro, enquanto Rick e Lori rezam pela vida do filho.

Quando Glenn aparece, e vê que ela chora ela sai e entra na casa. É quando Lori está saindo do quarto, chorando.

– Meu Deus… Lori o que…?

– Vão fazer a cirurgia nele… e o Shane e aquele outro cara… não chegaram ainda.

– Lori você não pode deixar… Você - os olhos dela se enchem de novo e ela corre para dentro do quarto. Lori a segue.

Carl está deitado numa mes,a um abajur ilumina o corpo dele, o velho usa luvas e a Patricia também, a bandagem na barriga do garoto tem sangue o sujando, a imagem precária assusta Marie.

– Ei! Você não pode… Rick, não pode deixar que…

– Rick, Lori… - fala o médico com o bisturi na mão - É melhor saírem.

A boca da francesa treme, ela apanha uma luva de borracha e vesta - Se vai fazer isso quero ajudar com o que der.

– Você é médica?

– Sou esperta.

O velho a olha por alguns instantes, a respiração pesada de Rick é o único som que pode ser ouvido, mas Marie sente sua pulsação nos ouvidos. Quando Marie estava prestes a ganhar um resposta ou uma ordem, o barulho de um motor desfaz o silêncio no quarto. Rick corre para a janela - Graças a Deus…

O velho olha para Marie e Patricia - Fiquem aqui com ele.

Marie concorda com a cabeça e se curva sobre Carl - Vai dar tudo certo - sussurra - Você vai ficar bem.

Quando o velho voltou ele faz com que Marie se afaste, alegando que com os aparelhos, não vai precisar da ajuda dela ali, mas agradece mesmo assim. Marie sai da casa e encontra com Shane, ele esta sentado numa das cadeiras da varanda.

– Ei…

Ele a olha - Ah, você tá ai. Oi.

– Oi… O que aconteceu?

– A bala do Otis passou pelo cervo e atingiu o Carl. Eu sai com o Otis pra buscar os equipamentos e ele… Caramba, foi horrível, e eu não tinha o que fazer.

– Minha prima dizia, uma vida por outra…

Shane a olha, a boca entreaberta - Ela estava certa. Sua prima era uma grande mulher.

– É… Mas agora o Carl vai ficar bem.

– E sobre a Sophia?

– Nada.

Shane se move na cadeira e faz uma careta de dor.

– O que aconteceu?

– Eu cai, tive que pular uma janela bem alta.

– Posso dar uma olhada?

Ele estica a perna e Marie puxa a calça para cima - Você torceu feio. Minha maleta ficou na estrada, vou ver se Maggie tem alguma coisa.

– Espera… Deixa a cirurgia do Carl acabar.

– Tudo bem - ela se sena na frente dele, na cerca da varanda e tira do bolso um cigarro e um isqueiro.

– Não sabia que fumava.

– Eu não fumo.

– To vendo…

Marie sorri para ele com o cigarro entre os dentes. Shane deixa um sorriso escapar e então volta a olhar as árvores negras e os vagalumes piscando ao longe.