Acordei no dia seguinte com o despertador. Olhei a hora e me assustei me arrumei rapidamente e desci.

–Bom dia papai! – Esther disse enquanto comia.

–Bom dia. Quem te arrumou?

–A tia Lilá. Tia Maria disse pra deixar você dormir – ela falou, sujando um pouco a boca com leite – Já acabei.

–Vai escovar os dentes, depois pode ir direto para o carro.

Ela desceu da cadeira e foi direto para o banheiro, terminei o café e fui ajudá-la. Levei-a para a escola e a deixei na frente da sala, e saí. Quando cheguei à empresa, Sophie me esperava do lado de uma loira que provavelmente era Elsa e Bunny.

–Querido, você poderia me explicar o que eles quiseram dizer com “mudança de escritório”?

–Isso nós decidimos ontem. São muitas coisas pra marcar aqui, e você recém entrou. Achei melhor colocar você em um lugar menos agitado, e Elsa tem mais anos de experiência.

–Então me acha incompetente?

–Não, não foi isso que eu quis dizer.

–Ele quis dizer que o escritório principal é o mais agitado, e sinceramente, você é muito avoada pra trabalhar aqui. Por um tempinho vai ficar trabalhando comigo, depois pode trocar de novo com Elsa, não é?

–Claro – Elsa respondeu simplesmente.

–Se é assim... – Sophie suspirou – Ainda tem o jantar na sua casa?

–Esse eu não desmarcaria por nada – sorri, virei para Bunny e disse – Já achou companhia?

–Já sim, e você está olhando para ela – ele fez um gesto exagerado apontando Elsa – A garota aqui topou sair com o velho. Bom, já que temos tudo resolvido, vamos trabalhar!

Ele saiu arrastando Sophie, enquanto eu ria abertamente e Elsa deu apenas um risinho.

–Bom, aqui estamos. Sophie preferia trabalhar na mesma sala, mas se quiser podemos te colocar em outra...

–Acho que essa está ótima – Elsa sorriu – Bom, acho que tenho algumas coisas para aprender. Quais ligações devem passar na frente de todas?

–Da escola e de casa. Ah, e se a diretora da escola ligar precisando de mim, pode até interromper uma reunião ok?

–Sim, senhor.

–Mais uma coisinha, me chame de Jack. Senhor me faz sentir velho.

–Ok se... Jack – o telefone tocou, e na mesma hora ela atendeu. Mal deu tempo de chegar à mesa pra largar uns papeis quando ela me chamou de volta – Da escola, querem falar com você.

–Obrigado – peguei o da minha mesa mesmo, e na hora a diretora começou a falar.

–Senhor Frost, perdão por interromper seu dia de trabalho, mas Esther está se acabando em lágrimas aqui, e diz que quer falar com o senhor, será que poderia buscá-la?

–Sim, eu poderia falar rapidinho com ela?

–Sim, sim. Esther! – ela chamou – Seu pai quer falar com você.

–Papai? – ela pediu com a voz chorosa.

–Oi meu amor, já vou te pegar. O que aconteceu?

–Um menino começou a zombar da minha mochila, ai todo mundo começou a me zoar. Só que a Ju se irritou e gritou com eles, aí piorou.

–Bom princesa, já vou estar aí ok? Aguenta mais um pouquinho.

–Tá bom, mas vem rápido papai, não quero ficar aqui – ela falou com a voz manhosa. Garanti que chegaria rápido antes de desligar. Virei para Elsa, que já organizava suas coisas na mesa, digitando rapidamente e ao mesmo tempo marcando as reuniões em post its (se vocês não sabem o que é, é aquele treco amarelo que se marca coisas importantes).

–Elsa, vou precisar sair rapidinho, se alguém me procurar avisa que já volto.

–Sim senhor... Ah, desculpe, sou tão acostumada – ela corou, ficando quase da cor do post it rosa que tinha na mão.

–Sem problema – sorri – Ah, você já conheceu a Esther?

–Só pelas fotos da sala do senhor Bunny, ele baba pela afilhada – ela falou sorrindo também, já voltando à cor normal.

–Em pouco tempo volto – falei de novo, pegando as chaves.

Num tempo recorde, cheguei à creche. Entrei e achei Esther e Julia na entrada, e também senhora Jones, mãe da Julia.

–Ah, Jack, já achei que não vinha mais – ela falou seca. Podia ser a mãe da melhor amiga da minha pequena, mas nunca fui com a cara dela. Desde que descobriu que a mãe de Esther não vivia com a gente (na verdade, nem o casamento era oficial, foi só uma noite de diversão (palavras dela (N/A: parênteses dentro dos parênteses ‘-‘))), ela nem quis saber de deixar Julia dormir na nossa casa, mal deixou as duas continuarem conversando.

–Desculpem pela demora – falei dirigindo-me para a diretora e para Esther, que veio com mochila e tudo me abraçar. Abaixei-me para pegá-la no colo, levantando logo depois com minha princesa escondendo o rosto na curva do meu pescoço. Já sentindo algumas lágrimas em meu ombro, a abracei preocupado.

–Na verdade, já terminamos por aqui, já falei com o menino que começou a farra, e depois vou conversar com a mãe dele. Perdão por interromper vocês, mas realmente, não sabia a quem recorrer – a diretora se desculpou depois.

–Não me interrompeu em nada, já esse aí... – Luisa (nome da mãe da Julia) falou me olhando torto.

–Mamãe não fala assim do tio Jack, ele é muito legal! – Julia falou, recebendo um olhar que com certeza a mandava calar a boca.

–Como tudo já está resolvido por aqui, já estamos de saída – Luisa falou antes de arrastar Julia para fora, que gritou um “Até amanhã” para Esther. E foi depois que elas saíram que ouvi um soluço vindo da minha princesa.

–Calma amor, vai ficar tudo bem – a abracei.

–Posso ficar com você papai? – ela pediu me encarando.

–Claro que sim minha flor, vamos lá pra empresa, podemos pegar um brinquedo lá em casa.

–Mas eu não gosto da Sophie...

–A Sophie foi trabalhar com o tio Bunny, tem uma menina nova trabalhando comigo.

–Tem ainda aquela boneca lá na sala? – ela pediu esfregando os olhos.

–Tem sim, você quer aquela? – pedi.

–Quero sim – ela falou um pouquinho mais feliz.

–Então vamos – disse a pondo no chão, onde ela correu direta para o carro.

–Senhor Frost? – a diretora chamou – Você acha que ela vai ficar bem?

–Tenho certeza – eu sorri – Pelo menos eu vou tentar ao máximo para que ela melhore.

–É tão bom ver pessoas assim. Trabalho com muitos pais que não estão nem aí para os filhos, e é tão bom ver que, pelo menos, alguns se importam de verdade. E não ligue para o que a senhora Jones diz, Esther é uma menina maravilhosa, uma das melhores alunas, e o senhor com certeza é o pai mais aplicado que essa escola teve o prazer de conhecer.

–Obrigado – falei, sendo interrompido por Esther gritando do lado do carro.

–Vamos logo papai! – ela falava pulando no lugar.

–Calma aí! – falei rindo. Abri a porta e ela logo subiu no banco, coloquei o cinto nela e fui para o banco do motorista. Como ela tinha decidido ficar com a boneca que estava no escritório, fui direto para lá.

–Esther! – praticamente todo mundo gritou e ela, com seu jeitinho todo meigo, acenou, sorriu e até abraçou as pessoas que conhecia melhor.

–Pronta pra conhecer a nova secretária do papai? – pedi para ela depois que todos voltaram a trabalhar.

–Sim – ela falou animada.

Abri a porta, já sabendo que ela ia disparar para frente da mesa.

Dito e feito, em um segundo ela estava do meu lado, em outro já tinha chegado à mesa de Elsa.

–Oi! – ela disse.

–Oi! Você deve ser a famosa Esther, acertei? – Elsa falou sorrindo.

–Sou sim! Como você se chama? – Esther pediu ficando na ponta dos pés, apoiada na mesa.

–Meu nome é Elsa – ela falou ainda sorrindo.

–Você é bonita – Esther falou.

–Obrigada! Que menina fofa! – ela falou a última parte olhando para mim.

–Minha menina é uma princesinha – falei sorrindo. Peguei Esther no colo e comecei a rodar, arrancando uma risada gostosa dela, e Elsa nos observava sorrindo. A pus no chão quando o telefone tocou, indicando a hora de voltar ao trabalho. Sentei na cadeira, com ela e sua boneca sentadas numa mesinha que tinha por ali, para quando precisava a trazer (sim, não a deixava em casa quando estava doente, sim, sou um pai babão), e assim começou um dia longo de trabalhos. Logo nas primeiras horas já tinha duas reuniões marcadas, mais três catálogos para conferir e um velho para acalmar.

–Sim senhor, tenho certeza que tudo ficará pronto no tempo previsto – falei pela terceira vez – Não, juro que vamos conferir um a um para ter certeza da qualidade do produto. Sim, eu entendo... Ótimo, te avisamos quando ficar pronto. Obrigado – desliguei. Mais um minuto falando com esse cara e juro que iria matar ele no dia da entrega.

Finalmente o horário do almoço chegou. Levei Esther para casa e fiquei por lá mesmo, ajudando as meninas com os preparativos para a festa.

Seria a noite mais especial da minha vida.