Blue Jeans escrita por LuhCarneiro


Capítulo 2
Túnel de cores




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Depois do ato, ambos tiveram um breve cochilo. Ana Lua acordou assustada, olhou pro lado e viu Daniel seu lado. Escorregou as mãos pelos cabelos bagunçados e pensou sobre o que tinha acontecido. Olhou pra dentro dos lençóis e observou sua pele nua. Em suas coxas tinham grandes marcas de mordidas e seus pulsos tinham manchas roxas. Em todo seu corpo, as marcas eram presentes. Deu uma breve espiada em Daniel e viu a marca das suas unhas em suas costas e de mordidas no abdômen. Rapidamente, ela vestiu suas roupas, pegou suas coisas e foi embora correndo pra casa. Olhou no relógio e viu que estava na hora de ir pro trabalho. Colocou sua velha calça de jeans azul e uma camisa de manga pra esconder as marcas. E repetiu sua rotina de sempre. Dentro do ônibus foi pensando no que tinha acontecido. Ela lembrava de cada momento com clareza. As sensações eram tão fortes quanto no momento. Lua não acreditava ter perdido o controle tão fácil. Passou o dia distraída, pensando no que havia acontecido. Pensava em todos os movimentos realizados e todas as palavras sujas ditas. Acabou se queimando de café no meio da imaginação. Respirou fundo e quis abrir um buraco no chão pra enfiar a cabeça. "Nunca mais vou encará-lo!" ela pensou. Se sentia suja e irresponsável. Se dispôs até a fazer hora extra com medo de voltar pra casa. Estava escurecendo e ela voltou pro seu apartamento. Sentindo-se aliviada por não tê-lo encontrado. Ana Lua era uma menina difícil de entender. Seus desejos raramente batiam com a razão. Sentada na varanda, fumando seu cigarro, Lua riu de si mesma. Olhou pra baixo e viu Daniel, com a mesma cara mau humorada de sempre, com seu poodle. Achou a cena engraçada. Um cara com expressão mau humorada, de camisa de banda e um poodle. Deu uma leve risada e continuou observando. Mas logo voltou pro seu cigarro. Brincava de fazer bolinhas com a fumaça. Ficou assim por uns 10 minutos. Olhava as luzes da cidade como se fossem vastas estrelas num céu. Ouviu um som de guitarra, encostou a cabeça na parede e percebeu que era no 505. Reconheceu o trecho de Seasons in the Abyss. Sentou no chão, encostada na parede e ficou cantando enquanto ouvia o som do outro lado. O som parou com uma campainha. "Alguma guria deve ter vindo visitá-lo" Lua pensou. Se levantou e voltou pra varanda com seu cigarro. Alguns minutos depois, bateram na porta. Irritada, Lua foi se arrastando atender. Pulou pra trás quando viu Daniel.
— O que foi, viu fantasma?
— É... não. Só não esperava que fosse você.
Daniel deu uma leve risada e voltou a encará-la.
— Seu apartamento é legal.
— Obrigada.. o seu também é muito legal.
— Eu comprei pizza. Está afim de ir comer comigo?
— Por que está me chamando?
— Se não quiser eu posso comer ela toda sozinho.
— Eu vou.
— Então vamos.
Lua trancou a porta de casa e foi pro apartamento vizinho. Respirou fundo antes de entrar. Voltando a cena do crime. Ela observou o local. E sentou no sofá. O Daniel foi pegando refrigerante, a cerveja e os papeis. Eles começaram a conversar. Mas Lua se segurava, ainda estava pensando em tudo que aconteceu.
— O que você tem?
— Eu só.. não estou totalmente sã do que aconteceu ontem.
— Não gostou?
— Ao contrario, eu gostei muito. Não tem como não gostar.. de tudo aquilo – Ana Lua corava a medida que falava e fica mais nervosa. Daniel caiu na gargalhada com a reação dela — Eu só preciso que seja mais devagar. Não gosto quando as coisas saem do meu controle.
— Fique tranquila, eu entendo você. Então devo cancelar o pedido de sair amanhã?
— Não, não cancele. Eu quero sair com você. Faz muito tempo que não saio com ninguém.
— Por que? Dormiu e só acordou agora?
Lua olhou com cara de desdém para ele que retribuiu com uma risada e bebeu um gole da sua cerveja.
— Eu só não tive muito tempo. Muitas coisas pra resolver — Ana Lua deu um gole na cerveja em suas mãos.
— Queria te perguntar uma coisa. Por que veio pra cá? Na sua identidade estava que você nasceu no Rio.
— Sim, eu morava lá com meu pai – ela tomou outro gole – mas ele morreu.
— Meus pêsames...
— Relaxa, eu superei. Foi difícil, mas ele não estava agindo como um pai fazia um tempo.
— Meu pai morreu quando eu tinha 11 anos de overdose.
— Sinto muito.
— Eu também – Daniel deu um sorriso de canto – acabei me tornando uma continuação dele. Vivendo do mesmo jeito, fazendo as mesmas coisas.
Lua o observava e tentava entender sua mente. Parecia tão complicada mas tão simples ao mesmo tempo.
— O que você fuma fora cigarro?
Ela olhou pra ele de forma estranha, ficou um tanto sem reação.
— Eu só fumo cigarro.
— Quero te apresentar algo então.
Daniel entrou no corredor, provavelmente pro seu quarto. Ana Lua estava curiosa, como sempre. Poderia ser a nova Alice do País das Maravilhas de tanta curiosidade. Daniel voltou com um pacotinho na mão com uma cartela dentro. Ele abriu com cuidado. Parecia com uma cartela com pequenas figurinhas quadradas. Lua observava, nervosa e curiosa. Daniel estendeu a cartela pra ela que pegou com cuidado.
— Pegue uma e coloca na língua.
— O que vai me causar?
— Um alivio e uma loucura sem fim — Daniel dizia com um sorriso nos lábios.
Como ele disse, ela fez. Pegou uma figurinha com um floco de neve estampado. Logo depois, Daniel fez o mesmo. Com o tempo, ela começou a entender a loucura. Seu coração acelerou. As listras da parede começaram a se mexer e ganhavam tons fortes de cores vivas. O quarto crescia e tudo parecia incrível. Tudo começava a girar e ganhar cor. Lua sentia um forte cheiro de acetona. Ouvia altas guitarras tocando sem ver nenhuma. Ela sentia todos os seus sentidos se esvaindo e não era ruim. Ela pura liberdade. As cores se misturavam ganhando novos tons e tudo de movia com movimentos circulares. Daniel segurou a mão dela e a puxou pra fora de casa. Fechou a porta e desceram correndo as escadas que pareciam se mover. Foram correndo pela rua como se fossem livres de todo o mundo. Lua se assustou ao ver uma árvore falando com ela. Ela ganhava braços e rosto, se gesticulando como uma pessoa. Ela tinha a sensação de alegria sem fim. Largando a árvore de lado, começou a ver uma briga de enormes cogumelos vermelhos. O céu que um dia foi negro tinha tom de arco-íris. Ela e Daniel rolavam pelo chão que girava tão rápido que não conseguiam ficar em pé. Lua ganhava cor aos olhos de Daniel. Seus instintos estavam eufóricos e fora de lugar. Uma explosão de sentimentos e pensamentos surgiam entre eles. Eles dançavam ao som de uma música que existia apenas em seus pensamentos. E no meio da dança, sem noção de saber o que fazia, Daniel puxou Lua e a beijou de forma bagunçada. A sensação era de grande movimento e de sabor. Eles provavam o colorido da boca um do outro. Pintavam toda a sensação. Eles pareciam rodar em uma roleta enquanto se beijavam se saber. Estavam inquietos e não sabiam o que fazer. Pararam o beijo e começaram a rir. Aos poucos voltaram a correr pelas ruas da madrugada. Mal sabiam onde estavam, apenas estavam. E gostavam se sentir o que sentiam. Riam por rir e eram livres por liberdade. Não se sabia o que pensavam ou que sentiam ao certo. Mas o não saber ainda deixava mais interessante. Atravessaram um túnel sem fim e sem rumo. Não tinham vontade de voltar. E naquele momento, eles sentiam que estavam vivos enquanto todos pareciam mortos. O tempo passou e junto a ele o efeito da droga. No fim, se encontraram sentados em um banco na rua, largados. Respiraram fundo e tentavam entender como pararam ali. Lua nunca tinha se sentindo tão intensa como naquele momento.
— O que achou?
— Incrível. Foi intenso e curioso. Eu não tenho palavras.
— Eu também sempre fico sem palavras quando volto. Gosto da sensação de estar livre. Da sensação de estar completo.
— Eu nunca me senti assim em toda minha vida. Nunca me senti tão viva.
— Agora você entende porque me viciei nisso.
Lua sorriu. Ambos se levantaram e começaram a andar nas ruas que então pouco tempo estavam tão quentes e se tornaram tão frias novamente. Andavam na rua empurrando um ao outro. Brincando como duas crianças no verão. Com todas provocações e brincadeiras, era inegável a atração entre eles. Se combinavam como peças de quebra cabeça. Tinham gosto de quero mais. E a sensação se expandia a cada passo. Até Daniel puxá-la pra ele. Sem perguntar, ele a beijou de forma intensa. Sua língua explorava cada canto da boca dela. E suas mãos exploravam seu corpo. A puxou pra um canto mais escuro, embaixo de uma árvore. Ele apertava os fartos seios de Lua com desejo. Segurava seu cabelo com vontade. Queria explorar cada pedaço dela. Lua o encostou na arvore e ajoelhou na sua frente. Abriu o zíper do jeans preto e pegou em seu membro rígido com certeza do que queria. Começou a chupá-lo com agilidade e desejo. Brincava com a língua em toda sua extensão. Dava leves mordidas e fazia movimentos de ir e voltar. Cada vez mais rápido. Cada vez com mais vontade. Até ela sentir o líquido quente escorrendo em sua boca. Ela o olhou com expressão de satisfação e engoliu o líquido leitoso. Ela se levantou e Daniel a prendeu contra a parede.
— Agora é sua vez.
Com o zíper da calça dela aberto, Daniel escorregou as mãos por dentro da calcinha. Seus dedos eram habilidosos e certeiros. Conforme os movimentos, ela se sentia umedecer. Começou a soltar leves gemidos e Daniel sussurrou ao ouvido dela.
— Shh. Não faça barulho.
Lua, por sua vez, parou os gemidos e começou a morder o ombro de Daniel. Conforme mais prazer ela sentia, mas forte ela mordia. Ele acelerava os movimentos e a olhava com extremo prazer. Gostava do que via e do que causava. Dando força e vontade aos movimentos, sentiu Lua se remexer. Seus quadris quase se moviam sozinhos de prazer. Pouco depois, sentiu o liquido quente escorrer em seus dedos. Ana Lua havia parado de morde-lo e soltava um suspiro. Daniel tirou os dedos dela e os observou. Lua fechava sua calça, um tanto corada com a situação. Ele lambeu os dedos com um sorriso sarcástico.

Lua fechou a porta de casa e ficou encostada nela por um tempo tentando entender a explosão de sensações que Daniel lhe causava. Talvez entenderia mais tarde, quando fossem ao bar juntos. Ele lhe causava anestesia. Ela esquecia das coisas e se divertia. Até mesmo com as grosserias. Fazia tempo que ela não se sentia assim, livre. Ela se jogou no colchão e pensou sobre tudo que aconteceu. Percebeu o quanto a vida é insana e sem sentido. Já era noite quando ela acordou. Se levantou e tomou um banho demorado. Abriu a geladeira e ficou encarando-a sem saber o que queria. Acabou pegando um refrigerante de uva e tomando no gargalo. Olhou as horas e foi terminar de se arrumar.

Ana Lua foi andando pela calçada procurando o lugar. Quando olhou pra frente viu um bar diferente. Tinha gente com camisa de banda e tocava rock as alturas. Ela deu uma risadinha ao olhar o lugar e pensou "Tão Daniel que me assusta". Lua o viu sentado em uma das mesas de metal, tomando a cerveja de sempre. Ela se aproximou e sentou a mesa com ele. Ela pediu uma cerveja também.
— Você veio.
— Não, eu sou um holograma bebendo cerveja — ele disse arqueando a sobrancelha.
— Ogro! – Ana Lua disse com um sorriso sarcástico nos lábios. Acendeu um cigarro e o tragou.
— Não sou ogro. É o meu jeito.
— Seu jeito ogro de ser.
— Ogros nadam, eu não. Eu não nado — disse Daniel, estalando os dedos.
— E qual é o sentido disso? Por que ogros nadam? E qual é o problema deles nadarem?
— Eu sei lá, cara. Não tenho preconceitos.
Ambos riram das palavras sem noção dos dois que continuaram conversando por um bom tempo. Falaram sobre tudo que se pode imaginar: música, astrologia, comida, discos, clima, cachorros, bebida, drogas, bandas, dinheiro, filmes e muito mais. Uma melodia começou na tocar e os dois se alertaram. Eles conheciam a música e olharam um pro outro. Alguns casais surgiram, a maior parte vestidos de preto e de roupas de banda, e começaram a dançar lentamente "Miss you, love" do Silverchair.
— Você gosta?
— Sim, eu gosto dessa música.
— Então vem cá.
Daniel a puxou pela mão e começaram a dançar como os outros casais. De jeito desajeitado e sem ritmo. Ana Lua ria baixo, encostou a testa na dele e sussurrou.
— Apenas me acompanhe.
Desajeitados, no meio do desajeito eles se ajeitaram. Arrumaram um ritmo próprio com ligação conjunta. Daniel se sentia uma conexão e olhava nos olhos de Ana Lua, fazendo-a corar. Ele abriu um sorriso. O melhor sorriso em anos. Lua conseguia ver a alma escura dentro dos olhos dele. Existia um feixe de luz dentro dele. Algo diferente e intenso mas ao mesmo tempo agradável.
— Está tentando ver algo nos meus olhos?
— É, estou.
— Minha alma é tão preta quanto meu café. Você não vai ver nada.
Ana Lua ressentiu. Não quis retrucar. Apenas continuou na sua, dançando lentamente. Continuaram assim até a música acabar. Beberam mais algumas cervejas e foram pra casa com o dia quase amanhecendo. Daniel olhou pro céu.
— Vem, rápido.
Ele puxou Lua e foram correndo pelas escadas do prédio até chegar na laje. Sentaram no beiral com cuidado e vivenciaram um lindo nascer do sol. O dia nascia preguiçoso entre nuvens. Eles conseguiam sentir o sol. Eles sabiam que estavam vivos. Mas nenhuma sensação era forte como o sol. Era um espetáculo natural. Os pássaros começavam a voar e cantar pelos fios de eletricidade.
— Gosto de ver os pássaros assim. Livres, sem gaiolas.
— Eu queria ser um pássaro. Poder voar pra onde quisesse. Viver voando sem medo e sendo livre. Conhecendo cada canto — Ana Lua olhava fascinada para eles — Você me lembra um corvo.
— Um corvo? Por que?
— Mesmo com suas penas negras consegue ser gracioso e encantador. Andando perdido pelo céu. Apenas vagando sem porquê. Seu vôo é inesperado e de forma repentina, você caiu do meu lado.
— É uma boa comparação.
Daniel começava a observar as pessoas que saiam de suas casas.
— Gosta de observar as pessoas?
— Sim. Gosto mais de observá-las do que falar com elas. É fascinante pra mim. É interessante ver como elas se sentem ou como vivem. Cada uma com seu jeito.
Eles continuaram olhando e observando o dia nascer. Começava a chover naquele dia tímido. Os dois foram pro meio da laje e começaram a correr e brincar na chuva. Feito duas crianças. Chutavam poças de água. Depois de um tempo, começaram a descer as escadas pro quinto andar. Encharcados de chuva mas vivos.
— Ainda bem que hoje é domingo, como eu iria trabalhar assim? — disse Lua rindo. E Daniel sorriu junto.
— Acho que hoje você vai pra sua casa e não pra minha.
— É, hoje é minha casa — Lua desviou o olhar pra baixo — Obrigada pela noite. Eu me diverti muito. Fazia um tempo que não ria assim.
— Eu também gostei — Daniel abriu a porta, deixando um feixe aberta e se aproximou dela — Devagar, certo?
— Sim. Devagar.
O coração de Ana Lua acelerava e palpitava como um passarinho. Os lábios dele se aproximaram dos dela. Ela não tinha ação. Daniel tinha um jeito misterioso e secreto. Algo que ninguém sabia, só ele. Lua não se importava o que ele tinha feito. Ele fazia ela sentir. E ela não queria perder isso. Quando os lábios dela encostaram nos dele, ele pulou pra trás. Quando ela abriu os olhos, viu o poodle dele chorando e pulando no colo dele. Lua não conseguiu conter a risada. Daniel também ria e segurava o poodle.
— Acho que alguém sentiu saudades de mim.
— Eu também acho. Vai lá cuidar dele. Bom dia, Daniel.
— Bom dia, Ana Lua.
Ambos entraram em seus apartamentos. Ana Lua era curiosa. Queria conhecê-lo melhor. Ela sentia que ele tinha algo misterioso. E novamente, ela não sabia dizer o que ele causava a ela. Era como as drogas que ela provou com ele mas, muito mais gostoso, prazeroso e intenso. A essência dele era forte. Seu gosto era único. Quando ela fechava os olhos podia senti-lo. Ela sentia seu toque. Sentia seus lábios. Isso tudo era irresistível pra ela. Ele se tornou como uma droga que alucinava ela. Lua se sentia viciada. Ela apenas tinha a vontade de sentir daquilo novamente. Talvez ele não fosse o cara pra ela. Mas ela não ligava. Ela só queria sentir.


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