Poemas de Sangue escrita por Nanda


Capítulo 6
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelo incentivo mais uma vez! Comentários nos fazem feliz! :)



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Metal contra as nuvens - Legião Urbana [ watch?v=IDTs12pcvOM]

Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos

É a verdade o que assombra
O descaso que condena,
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes,
O corpo quer, a alma entende.

Capítulo 6 - Descobertas

Ele estava surpreso. Muito.

– Você não pode ter... - ele fez uma pausa, recuperando um pouco o fôlego - Aprendido isso só lendo.

Ela sorriu e pôs um dedo na cabeça.

– Digamos apenas que eu recordo com facilidade.

Ele fez uma careta, deitando-se na grama. Tinha acabado de lutar praticamente de igual pra igual. Na verdade quase levara uma surra. De uma garota. Uma garota pelo menos um palmo menor que ele.

Ela se sentou ao seu lado confiante.

– Você é realmente bom. Seu pai luta? - perguntou curiosa.

Ele fechou os olhos, balançando a cabeça negativamente.

– Professor? Treinador? Segurança?

– Não - disse abrindo os olhos, fitando-a com cautela.

– Então?

Sasuke se sentou não desviando o olhar sequer um segundo.

Sakura sentiu um calafrio, enquanto seu estômago gelava e seu cérebro queimava enquanto se recusava a pensar na hipótese que não quis reconhecer. Não quis falar em voz alta.

– Meu pai é policial.

Um segundo depois ela estava de pé, afastando-se dele em terror absoluto. Pavor em cada célula do seu corpo. Tão, tão frio. Por que estava tão frio?

Dispersou o pensamento com um tapa mental e enterrou o pânico, obrigou-se a pensar.

– Policial - repetiu. Sentia-se como se tivesse levado um soco, percebeu enquanto respirava calmamente, recuperando o controle. Olhou em volta. Pensou em como Sasuke se aproximara dela. Como ela o havia trazido para sua casa. Como ele lutava. Soltou uma risada histérica, antes que pudesse se controlar. - É claro que seria um policial. Um maldito policial.

– Sakura... Você está pálida - disse se aproximando preocupado, enquanto ela voltava a se afastar. - O que foi?

Ela sacudiu a cabeça.

– É por causa dele que você está aqui? Ele te pediu pra me vigiar?

– Do que você está falando? - deu um passo pra se aproximar novamente.

– Afaste-se! - A voz dela chicoteou, enquanto tomava uma posição defensiva.

– Está bem - disse ele, sentando-se novamente na grama fresca, estendendo os braços, mas mantendo-se alerta. - Quem é ele?

A respiração descompassada, parecia se estabilizar pouco a pouco, enquanto ela se esforçava pra pensar com clareza.

Sua mãe. Precisava falar com sua mãe. Precisavam sair dali. Fugir o mais depressa possível. Ela sabia. Desde o início. Mas nem ela esperava que ele as descobrisse tão rápido. Um súbito aperto no peito a tomou quando seu olhar cruzou com o de Sasuke. Tão rápido. Sasuke parecia genuinamente confuso. Talvez ele ainda não soubesse, afinal. Ainda. Talvez ainda tivessem tempo. Teriam que ir embora de novo. Começar de novo. Não acabava nunca.

– O que está acontecendo, Sakura? - perguntou Sasuke, ficando impaciente.

– Eu tenho que falar com a minha mãe - disse se dirigindo para a porta, sarcasmo cobrindo cada palavra, contrastando com um sorriso fosse triste. - Parece que nossa temporada aqui acabou. E em tempo recorde. Você devia ir pra casa e se puder me fazer esse favor, não conte ao seu pai sobre mim.

Ele a puxou pelo braço, imobilizando-a contra a porta, quando ela tentou se soltar.

– Eu perguntei: O que está acontecendo?

– Você não sabe? - perguntou irônica, mas os olhos brilhavam de curiosidade e... esperança?

– Não, Sakura, eu não sei - disse rezando por calma - por que você só não diz de uma vez?

Ela ficou em silêncio, pesando os prós e contras.

Estou cansado de andar em círculos aqui, sabe? - explodiu. - Por que você não deixa que eu te ajude? Você pode confiar em mim, droga! Eu venho tentando te mostrar isso desde o começo, mas eu estou sempre pisando em ovos quando se trata de você.

Sakura respirou fundo.

– Seu pai. Há quanto tempo ele sabe que eu estou na cidade?

A expressão dele se tornou confusa. - Eu conversei com ele ontem. Citei você, uma garota na escola com quem eu havia discutido e tinha ficado chateado. Ele queria saber porque eu estava chateado e eu falei de você por alto.

Sakura se contraiu, sua voz um sussurro. - Ele já deve estar à caminho.

– Quem? - perguntou frustrado.

Ela deu um sorriso amargo.

– Meu pai.

Ele afrouxou o aperto e ela o empurrou, abrindo a porta entrando em casa.

Ele a olhou confuso e a seguiu pra dentro.

– Você... Você está fugindo do seu pai?

Ela deu uma risada de escárnio, enquanto se voltava pra ele.

– É, garoto gênio - zombou amarga - nem todos tem suas casinhas brancas com cerca de piquete e um quintal cheio de flores.

Ele agarrou seu braço firmemente e sacudiu-a, fazendo-a soltar um gemido doloroso.

– Pare de falar de mim como se eu não entendesse! Você não sabe nada sobre mim.

– Nem você, Uchiha.

Ele respirou fundo, procurando ficar calmo.

– Por favor, Sakura - pediu entre dentes, aquilo era difícil. Pedir.

Ela refletiu por um segundo, olhando dentro dos olhos dele.

– Bem, que se dane - disse repentinamente exausta, soltando seu braço e se jogando no sofá, cansada.

Ele sentou-se ao seu lado, atento.

Ela respirou fundo, enquanto tomava fôlego. Só tinha contado aquela história uma vez pra alguém antes e ainda se lembrava. Mas se ele queria tanto saber... Era até melhor, já que provavelmente ele faria o mesmo que o outro.

– Meu pai era policial - quando Sasuke abriu a boca, ela estendeu a palma aberta para silenciá-lo. - Por favor, só fale quando eu acabar está bem? Já é complicado o bastante sem nenhuma interrupção.

Ele assentiu. Ela continuou, enquanto um sorriso triste aparecia em seus lábios.

– Quando tinha dez ele me levou ao seu trabalho, sabe? Eu pensei que ele era como um super herói, só que melhor... - ela voltou o rosto para ele, enquanto o sorriso morria. - Era o meu herói.

Sasuke segurou sua mão e ela olhou surpresa. Não pena, ela percebeu, apenas compreensão. Ele parecia... Entender de alguma forma. Mas ele não sabia de nada ainda. Quando soubesse iria embora. Desviando o olhar continuou.

– Nós éramos felizes. Mas eu sempre via mamãe preocupada, e não entendia porque. Os anos passaram, eu tinha quatorze anos e ele começou a chegar mais tarde do que de costume. Sempre de mau-humor. Ele brigava e gritava. Minha mãe chorava, quando pensava que eu não estava vendo. Eu ficava nervosa. Brigava na escola, discutia com os professores e minha mãe parecia cada vez mais cansada.

A respiração dela se acelerou e Sasuke apertou sua mão, ouvindo atentamente, em silêncio absoluto.

– No meu aniversário de quinze anos as coisas ficaram piores. Ele não apareceu na festa. Mamãe ficou muito brava e quando ele chegou estava bêbado. - A voz tremeu enquanto ela recordava a cena tão vívida em sua cabeça, como se estivesse lá. - Minha mãe gritou e foi a primeira vez que ele bateu nela.

Os olhos de Sasuke ficaram sóbrios de pesar e indignação por tudo o que ela tinha tido que passar.

– No dia seguinte, ele pediu desculpas. Chorou. Disse que sentia muito, estava tendo dificuldades no trabalho. Os chefes queriam que ele fechasse um caso. Muita pressão. Nunca aconteceria novamente.

Sakura deixou seu olhar cruzar com o de Sasuke.

– Alguns anos mais tarde minha mãe descobriu que ele estava envolvido em um esquema de corrupção.

A história não era bem essa, ela sabia, omitira certos detalhes, como o fato de que a mãe já sabia e era chantageada pelo seu pai para ajudá-lo, e havia sido ela a quebrar a segurança do computador, embora não soubesse do que se tratava na época. Tinha sete anos quando hackeou o sistema do pai. Sua mãe a fez jurar que nunca faria aquilo novamente. E nunca contar ao pai o que podia fazer.

– Ele ficou furioso quando minha mãe o enfrentou. Violento, ameaçador. Então ele ficou tranquilo novamente. Minha mãe ficou desconfiada e começou a procurar novas informações, afinal havia uma juíza ou promotora, que estava no pé dele e agora ele aparecia do nada normal novamente. Até feliz. Tinha alguma coisa errada. Então descobriu que além de continuar a fazer parte do esquema... Eles, com a ajuda do meu pai, haviam sem dúvida, assassinado a mulher. As coisas começaram a declinar quando o marido dela, um policial, descobriu o esquema e começou a desmontá-lo. Ele não conseguiu, claro. Era muito grande, mas foi longe o bastante pra ser um incômodo para os planos deles. Conseguiu pegar alguns membros. Meu pai foi investigado e ficou furioso, brigou com o superior e perdeu o distintivo, embora nunca tivesse ficado provado o envolvimento dele. Minha mãe tentou denunciá-lo algumas vezes. Agressão, pelo menos. Mas ele descobriu e nós fugimos desde então. Ele tem "amigos" influentes e da última vez que ele nos achou foi ruim - ela se encolheu. - Muito ruim.

– Quem foi a promotora? - perguntou Sasuke, congelado no lugar. - Qual era o nome dela?

– Eu não sei. - Era verdade, sua mãe havia enlouquecido quando percebeu o que ela era capaz de fazer. Tentava lhe dizer apenas o necessário e sempre a mantê-la à margem. - Minha mãe disse que eu já sabia demais. Como se um pouco mais de informação fizesse alguma diferença - rolou os olhos. - Agora que você já sabe pode sair? E lembre-se do que eu disse sobre não falar com seu pai até estarmos fora daqui. Isso é importante, eu...

– Eu não estou indo a lugar algum, Sakura.

Sakura olhou para ele chocada.

– O quê?

– Até parece que eu vou te deixar ir embora. Vocês não podem passar a vida toda fugindo. Meu pai pode ajudar.

– Será que você não entendeu nada do que eu disse? Você não pode se envolver. Além do mais, meu pai tem contatos na polícia! Se isso vazar ele vai estar aqui em menos de 48 horas.

– Meu pai não...

– Olha eu não tenho tempo pra isso. Se você não quer ajudar, fala logo com ele, eu tenho que ligar pra minha mãe.

– Eu vou esperar até que ela chegue e vamos discutir isso.

– Isso o quê? Nada disso tem a ver com você! Nem sei o que você ainda está fazendo parado aí. Devia ter ido embora como... - ela apertou os lábios para impedir o nome dele de sair, enquanto os olhos se arregalavam um pouco. Isso estava saindo do controle. Simples assim, e era hora de acabar de uma vez com aquilo. - Olha Sasuke, não leve a mal, você é bem legal. Não precisa ficar aqui ou se preocupar, ok? Mesmo. Está tentando ser gentil e eu entendo, mas não é necessário.

– Não. Não entende não. Eu gosto de você. Eu nunca gostei de ninguém como gosto de você.

Ela deu um passo para trás, horrorizada pelas palavras. Ele gostava dela? ELE gostava DELA? Mas como inferno isso foi acontecer? Ela gostava dele. Ou começado a gostar, percebeu apavorada. Já reconhecia os "sintomas". Como podia tê-lo deixado se aproximar tanto?

Ele praguejou. Não pretendia dizer daquela forma. Na verdade ele já tinha visualizado na cabeça uma forma. Embora, não estava muito certo do que sentia, ou melhor, do que fazer com isso. Tudo que sabia é que se sentia bem perto dela. E que pretendia continuar perto.

Todo o tempo não parecia o bastante. Apavorantemente verdade. Ela o fazia diferente, percebeu. Ontem se pegara vendo um filme e desejando que ela estivesse ali para fazerem comentários e brincadeiras sobre os personagens. Não conseguia pensar na possibilidade dela simplesmente não estar mais lá. E nem uma semana havia passado. Não gostava dessa necessidade de contato ou da influência que ela parecia exercer sobre ele, mas já era meio dependente dela, ainda que só o pensamento o enervasse.

– E-eu tenho que ligar pra minha mãe - disse afastando-se rapidamente para pegar o telefone.

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– Sakura o que está acontecendo? Você sabe que estou no emprego há pouco tempo. Não posso sair assim... - ela viu Sasuke no sofá e se voltou pra Sakura com a sobrancelha arqueada.

Sakura corou com a expressão no rosto da Haruno mais velha.

– Mãe... O pai de Sasuke... Ele é policial.

A mãe empalideceu visivelmente e pegou Sakura pelos ombros firmemente.

– E você o trouxe a nossa casa? Sakura o que você estava pensando?

– Eu não sabia... eu...

– Senhora - Sasuke se aproximou com o cenho franzindo. - Eu sou...

– Não me importa quem você é garoto! Seu pai já sabe sobre nós? Ele sabe sobre algo?

– Eu não disse nada! - explodiu, fazendo-a piscar. - Eu juro. Apenas tinha comentado sobre uma garota nova. Só.

Não era toda a verdade, mas então, ele sabia que se dissesse o resto elas estariam correndo dele. Naquele momento aquilo era o que poderiam saber.

Um segundo se passou e a respiração da mãe de Sakura voltou a normalizar, enquanto a mente trabalhava rapidamente.

– Eu sei que deve ser um pouco tarde pra isso, - arriscaria, decidiu - mas eu me chamo Uchiha Sasuke - completou observando atentamente a expressão da mulher mudar.

Os planos de fuga congelaram em sua mente enquanto encarava o garoto à sua frente, sua mente se recusando a acreditar. Com o horror e o choque estampados no rosto.

– Uchiha - ela repetiu mecanicamente.

– O que houve, mãe? - perguntou Sakura vendo o fluxo de emoções passarem pelo rosto da Haruno mais velha.

Sasuke falou, ainda com os olhos fixos na mãe dela.

– Foi a minha mãe que o seu pai matou, Sakura.


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